quinta-feira, 15 de julho de 2021

SP - Expedição "Água Prometida" - Em busca de aves pelágicas

albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos)
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Amanhecendo na Água Prometida 🌞
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Nesse post, vou abordar um pouco do que é uma saída ou passeio pelágico. Mas o que vem a ser pelágico? É um adjetivo que diz respeito ao mar. A palavra pe·lá·gi·co deriva do latim pelagicus. Relativo ao pélago (profundo, longe das costas) ou ao alto mar (ex.: peixe pelágico) = peixe marítimo, do oceano profundo.

No meio da observação de aves é comum a gente ser convidada para uma saída pelágica em busca de aves marinhas que dificilmente você consegue ver em terra. As aves marinhas são aquelas espécies que se adaptaram com grande eficiência ao ambiente marinho e têm como habitat e fonte de alimento o mar. Podem ser divididas em aves marinhas costeiras - encontradas geralmente próximas aos continentes, e aves marinhas oceânicas ou pelágicas, essas, via de regra, costumam ser encontradas em alto-mar.


Embora a gente vá até o alto mar, fora dos limites de um município, eu posto as fotos das aves no Wikiaves tendo por base a cidade onde o barco inicia a navegação. Veja abaixo um exemplo. 

Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Fotos feitas com GPS em alto-mar terminam por indicar genericamente "Litoral Brasileiro", ficando muito vago quando você faz uma busca por critérios de localização. É um jeito estranho do sistema colocar uma ave no nosso território, se vc for pesquisar encontra até codorna-amarela no Litoral Brasileiro,📌 ainda mais tendo em mente que a extensão do nosso litoral é de 10.959 km. Enfim, decidi fazer assim e pronto. Ponto. 😜

Nessa viagem que vou descrever, as listas foram abertas pelo mestre Fábio Olmos e compartilhadas com a nossa turma. Você pode acessá-las ao final deste post. Tem fotos da galera toda, o que fez com que essas listas ficassem ainda mais ricas. 👏👏👏👏

Muito antes de eu adotar a fotografia de aves como paixão, por incrível que pareça e por conspiração do Universo, eu já tinha feito meus primeiros registros de aves marinhas. Meu primeiro encontro com essas aves pelágicas nem teve objetivo de ver aves, pasme: foi para fazer uma matéria de turismo para uma revista de automobilismo, a convite da minha amiga Camila Maluf. Naveguei uma semana por mares patagônicos e vi muitas aves, além de milhares de coisas incríveis. Nem sonhava em ser fotógrafa de aves na época. Naquele momento estava sendo enfeitiçada e nem sabia. 😍😄 

Editado em 10/06/2022 - Veja link para o post aqui

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Acompanhe a seguir um resumo de como foram as minhas saídas pelágicas até chegar na última, que deu origem a esse post.

25/03/2010 - Patagônia (Chile e Argentina)

A minha primeira vez na Patagonia, em relação às aves, fiz fotos sem ter a mínima noção do que estava fotografando, exceto os pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus). Ah! Esses foi amor à primeira vista. 💗 🐧🐧🐧

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Durante este cruzeiro pela Patagônia, além dos milhares de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) - 120 mil aproximadamente - eu ainda registrei, "mal e porcamente" petrel-gigante-do-norte (Macronectes halli), mandrião-chileno (Stercorarius chilensis) e albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), entre outras. 

Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Mas na época quando fiz um fotolivro da viagem, eu escrevia nas legendas frases do tipo: ave na pedra, ave voando e assim, sucessivamente. Foi só apenas quando me tornei uma observadora de aves a partir de 2011, que, fuçando as fotos nos HDs e com a ajuda dos amigos Fabio Olmos, Bianca Vieira, Claudia Brasileiro, Paulo Fenalti e Alex Lees, eu acabei descobrindo quem eram.

15/09/2014 - Ilhabela/SP

Minha primeira saída oficial para ver aves pelágicas foi em 2014. Naveguei a bordo do barco Paraíso com os amigos Viviane de Luccia, Mônica Ruiz, Leila Esteves, Marco Guedes e Guto Carvalho, sob o comando do fotógrafo e guia Octávio Campos Salles. A única coisa que me lembro foi quando abriram o isopor com as iscas para atrair as aves, com forte cheiro de peixe podre, eu passei a vomitar até não aguentar mais. 😨😝🐟

Aí meu espírito só retornava quando as aves pulavam ao redor, então eu fotografava e, em seguida voltava a me encostar. Dá uma moleza incrível e uma vontade de ficar de olhos fechados e voltar para terra imediatamente. Mas no final, apesar de tudo, foi uma pelágica bastante produtiva. Vimos bastante aves, quase todas eram novidades para mim naquela época, sendo a cerejinha do bolo um bobo-pequeno (Puffinus puffinus). 

Vimos também alguns albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos), atobá-pardo (Sula leucogaster) e os piratões do mar: os tesourões (Fregata magnificens), que apareciam para roubar os peixes das demais aves. 

Foto: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

05/07/2015 - Florianópolis/SC

Fizemos uma deliciosa e produtiva excursão em Santa Catarina, organizada pela Seledon Turismo, então dirigida pelos amigos Maicon Mohr e Juliana Marcelino. Estavam nessa saída os amigos Carmen Bays, Rubia Mohr, Roberto Gadotti, D. Úrsula, Luísa Garcia Prado, Vanusa Möller e Vilson Wruck fizemos um monte de fotos incríveis, sob o comando do guia e amigo Adrian Rupp.

Avistamos albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos), mandrião-parasítico (Stercorarius parasiticus), mandrião-chileno (Stercorarius chilensis), atobá-pardo (Sula leucogaster), tesourão (Fregata magnificens). Vimos também trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea), gaivotão (Larus dominicanus) e um pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) perdido, mas que era novidade para muitos dos participantes.

Foto: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

24/07/2016 - Peruíbe/SP

Essa foi mais uma excepcional expedição pelágica organizada pelo amigo Fabio Barata (Mochileiros Hotel e Pousada). Navegamos pelo litoral de Peruíbe/Itanhaém (indo até Parque Ilha da Queimada Grande). Foram usados dois barcos. Participaram os amigos Fabio Barata, Elen Dias, Fabio Olmos, Rita Souza, Andrea Ferrari, Carlos Gussoni, Norton Santos, Nelinho Camargo, Gustavo Pinto, Vivian Robinson, Luiz Carlos Ramassotti, Sidinei Rampin e Caio Olmos.

Foto: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Conforme observação do mestre Fábio Olmos na lista que ele compartilhou (clique aqui para visitar esta lista)📌: "Saída pelágica organizada por Fabio Barata (Mochileiros Hotel e Pousada). Coordenada de início deste trecho 24 graus 26'48.2'S, 46 graus 46'33.3''W; coordenada de término 24 graus 28'41.3''S, 46 graus 42'12.1.3''W. Temperatura da água inferior a 18C, resultado de uma língua de água fria com muita clorofila se projetando desde o Rio da Prata até ao norte de Ilhabela. Tempo bom, com sol, mas com previsão de frente fria chegando no final da tarde. No final deste trecho nos deparamos com um grande grupo de aves pousadas na água, empapuçadas pelos peixes descartados por um arrasto de camarão."

O mais legal dessa viagem, além dos "trucentos" albatrozes que vimos, foi fotografar um mandrião-do-sul (Stercorarius maccormicki) com anilha coreana em um indivíduo marcado nas South Shetland, perto da Queimada Grande, conforme o Fábio pode verificar a partir de uma foto que fiz.

Além desse mandrião especial, ainda vimos mandrião-chileno (Stercorarius chilensis), mandrião-antártico (Stercorarius antarcticus), centenas de albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos), pardela-preta (Procellaria aequinoctialis), petrel-gigante (Macronectes giganteus), atobás-pardo (Sula leucogaster) e tesourões (Fregata magnificens), Também avistamos trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea), trinta-réis-real (Thalasseus maximus) e trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus).

Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

02/03/2017 - Patagônia Chilena

Esta foi mais uma das maravilhosas expedições que participei. Ela foi organizada pela SLOW TRAVELERS, do amigo Antonio Jimenez, cujo foco era uma saída para observar baleias. A bordo da deliciosa e confortável embarcação Forrester, passamos dias navegando pelos intrincados fiordes da Patagônia sob a orientação do guia Francisco Martinez Vidal.

Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Embora eu goste de baleias e elas são praticamente incontáveis nos mares patagônicos (juro que vi mais de 1000 rabinhos delas mergulhando 😱😋), eu ficava sempre com um olho no mar e outro no horizonte em busca das minhas amadas aves. 

Se uma baleia e uma ave atravessassem juntas na frente das minhas lentes, adivinha quem eu escolheria fotografar: se disse ave, acertou. Mas tinha hora que eu conseguia fotografar as duas ao mesmo tempo. Era a glória para mim. Mas às vezes a suposta baleia era só uma pedra. 😄😄😄😄

Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

E ainda ganhei um prêmio das mãos do Capitão Roberto Mansilla, quando consegui registrar, um petrel-gigante (Macronectes giganteus) com o nosso navio ao fundo. A "intriga da oposição" afirmou que o Capitão caiu de encantos por mim e por isso escolheu minha foto como finalíssima. Como a votação foi secreta, nada tenho a declarar. 🙈🙉🙊 Mas adorava quando o Capitão me perguntava quando retornávamos ao barco: "Silivia", te gustó el paseo?

Abaixo, no Forrester, recebendo meu prêmio direto das mãos do capitão Roberto. Meu petrel como melhor foto de fauna e Luiz Pires como melhor foto de paisagem. O gostoso é que nessa época a gente podia se abraçar pra valer. 🙌

 Fotos da premiação by Leila Medeiros Florêncio.

Esta é a foto que recebeu o prêmio (não, no dia, ela não tinha minha logomarca 😁)
Foto: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Meu grande amor pelas aves ficou evidente quando descemos numa ilha onde havia um ninhal de albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris) no paredão. Apesar do pânico extremo de alturas e penhascos, eu não queria voltar para o navio de jeito nenhum. Estava totalmente encantada. Cheguei a derramar lágrimas de tanta emoção. Esse amor contaminou alguns dos participantes, que hoje se tornaram grandes observadores do nosso meio. E para finalizar a minha manhã com chave de ouro, ganhei uma pena de albatroz do marinheiro Luis Zavala Tellez. 😍
 
albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris)
Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Ganhando uma pena de albatroz do Luis Tellez

No mar havia muitos petréis-gigante (Macronectes giganteus), gaivotões (Larus dominicanus) e mandriões-chileno (Stercorarius chilensis), inclusive brigando por comida. Era engraçado assistir as disputas.

Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

E foi buscando por aves o tempo todo que consegui uma raridade: um pequenino petrel-mergulhador (Pelecanoides magellani), mesmo passando longe, deu para capturar algumas imagens. Destaque também para os pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) e uma linda pardela-preta (Procellaria aequinoctialis) que resolveu dar o ar da graça, sempre cheia de charme.

Revendo as fotos dessa viagem, vi que ela merece um post à parte. Farei isso assim que sobrar um tempinho.

albatrozes-de-sobrancelha, petrel-gigante, mandrião-chileno, 
petrel-mergulhador, pinguim-de-magalhães, gaivotão e pardela-preta 

Fotos: arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

19/10/2019 - Ilhabela

Quando estava em viagem pelo Acre em setembro de 2019, recebi um convite do meu amigo Guto Carvalho para participar do Festival de Aves de Ilhabela. A saga está detalhadamente contada aqui no bloguinho e você pode ler tudo clicando aqui.📌 Tempos bons aqueles, sem pandemia, que a gente podia abraçar apertadinho e andar por aí sem medo.

Um dos atrativos finais era fazer uma saída pelágica até as proximidades da Plataforma de Mexilhão (pertencente à Petrobrás), a 130 km do centro de Ilhabela, lugar com até 172 metros de profundidade, onde de acordo com os especialistas (no nosso caso o Fabio Olmos), os bichos marítimos migratórios e cascudos estariam nos esperando. 

Acompanhada pelos amigos Rita Souza, Fabio Olmos, Guto Carvalho, Patrick Inácio Pina, Cayo Môra, Patricia Martins Belo, Paulo Oliani, Tatiane Araújo e mais um monte de gente legal, a bordo do Barco Capitão Ximango, fomos conduzidos pelo Capitão Gustavo, Pedro e Marcelo, por águas profundas até bem perto do nosso destino.😭 Só posso dizer que não chegamos até a "Água prometida", o que deixou a gente com gostinho de quero mais.

Chegada registrada pelo querido Julio Cardoso.

Havia albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos), muitos atobás-pardo (Sula leucogaster), pardelas-sombria (Puffinus puffinus), antigo bobo-pequeno, e enfim, uma novidade para mim: alma-de-mestre (Oceanites oceanicus), vista e apontada pelo querido amigo Guto Carvalho. Embora muito longe, voando ligeiro, deu registro.

Albatroz, atobá, pardela e fragata (tesourão)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

alma-de-mestre (Oceanites oceanicus)
Fotos Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

E foi esse gostinho de quero mais que levou o Fábio Olmos e o Fábio Barata a planejarem a nossa última saída, que logo-logo começarei a contar como foi. Mas aguenta firme que vou mencionar apenas mais duas que faltam.

07/12/2019 - Valparaíso - Chile

A convite da amiga Claudia Brasileiro fizemos um não menos fantástica saída pelágica, desta vez no Chile, com saída a partir de Valparaiso, comandada pela Albatross Birding, do amigo Fernando Segovia. Um absurdo a quantidade de bicho na nossa frente.

Eu, Claudia e Fernando
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Essa viagem está contada em detalhes aqui no Bloguinho e depois você pode ler e saber como foi, clicando aqui. 📌

Naquela manhã registramos seis espécies de albatrozes, sendo que cinco eram novidades para mim. Abaixo você poderá ver eles nesta sequência: albatroz-das-ilhas-chatham (Thalassarche eremita), albatroz-de-salvin (Thalassarche salvini), albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), albatroz-real (Diomedea epomophora), albatroz-real-do-norte (Diomedea sanfordi) e buller's albatross (Thalassarche bulleri). E a última foto é um pouco das aves aguardando por mais petiscos.

Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Sabe aquelas pardelas bonitinhas que geralmente aparecem em pelágicas? Então...Vimos quatro espécies delas. Às vezes um escurinho na ponta do bico era o que as diferenciava. Juro, se não fosse o pessoal da Albatross Birding ajudando, eu jamais saberia que uma era uma e a outra era a outra, exceto as de pezinhos rosa, essas eu sempre sabia, ou pensava que sabia. 😁😁😁😁😁

Veja a seguir as quatro espécies e tire suas conclusões: westland petrel (Procellaria westlandica), pardela-preta (Procellaria aequinoctialis), pink-footed shearwater (Ardenna creatopus) e pardela-escura (Ardenna grisea) antigamente chamada no Brasil de bobo-escuro (Puffinus griseus).

westland petrel, pardela-preta, pink-footed shearwater e pardela-escura
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

gaivotão, gaivota-de-franklin, trinta-réis-de-bico-vermelho, alma-de-mestre,
falaropo-de-bico-grosso, red-legged cormorant e guanay cormorant
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

31/01/2021 - Natal/RN

Essa também está contada aqui no bloguinho (acesse pelo link aqui)📌. A pelágica foi bem aquém do que esperávamos, o engraçado que a única ave que rodeou o barco o tempo todo era novidade pra mim. Essa saída pelágica foi organizada pelos amigos Fabio Olmos e Rafael Lima, porém o dono do barco não cumpriu a parte que lhe cabia em providenciar as iscas para atrair as aves. Nesse dia, a turma foi formada por mim e pelos amigos Fabio Olmos, Rafael Lima, Rita Souza, Claudia Brasileiro, Rodrigo Agostinho, Marcelo Maux e o ornitólogo François.

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Durante a navegação apareceram duas aves voando relativamente perto e para minha sorte e felicidade, era um lifer para mim: bobo-grande ou cagarra-grande (Calonectris borealis). Fora isso, ainda vimos duas fragatas ou tesourão (Fregata magnificens) e nada mais. No dia seguinte avistamos as mesmas aves do dia anterior e apareceu uma novidade para alguns: vários atobás-grande (Sula dactylatra).

Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

11/07/2021 - São Sebastião/SP

Finalmente vou contar um pouco sobre a última, que é o objetivo desse post. 

Enfim, em meio a essa louca pandemia, recebi um convite para participar de mais uma saída pelágica, a nona da minha vida. Ela era bem significativa, pois nosso destino era o que pretendíamos ir em outubro de 2019: a Plataforma do Mexilhão. Para nós a "Água Prometida". Uma saída puxada, com horas intermináveis de balança pra um lado, balança pro outro (balanço este que perdura por dias no seu cérebro e no seu corpo), mas de muitos risos e brincadeiras, coisa mais do que necessária nesses tempos sombrios, e o melhor, de muitas aves. 

Após acordar, assim que subi para tomar café, foi esse o visual que me deparei. Como havia dito o Capitão Gustavo, dessa vez eu não paro antes da plataforma nem por decreto. E cumpriu sua promessa, só parou quando chegamos ao lado da famosa "torre" na Água Prometida.

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Por esse motivo vou chamá-la de Expedição "Água Prometida". Ela foi organizada pelo amigo Fábio Barata junto com o Capitão Gustavo Ximango, com total apoio dos amigos Marcelo e Patrick Pina e assessoria do mestre Fabio Olmos. Participaram dela, além de mim, os amigos Elen Dias, Fabio Barata, Fábio Olmos, Rita Souza, Patrick Pina, Luciano Lima, Eduardo Super, Fabio Schunck, George Strozberg, Eduardo Bergo, Marco Silva, Ananda Porto, Daniel Alfenas, Braulio Carlos e Eduardo Gelli. Imagina só: três Fábios e três Eduardos a bordo. 😄😂😄😂 

Algumas pessoas eu já conhecia presencialmente, outras apenas pelas redes sociais. Foi hiper mega super legal, porque hoje podemos dizer que a nossa amizade agora tem presença, olho no olho, corações e mentes e muitos albatrozes para relembrar. Só não teve abraços por conta da pandemia. 😍😍😍

Foto: Arquivo pessoal Patrick Pina

Partimos no dia 10, no sábado, às 20 horas, no Píer São Francisco, que fica na cidade de São Sebastião. Ao todo navegamos quase 28 horas. Foram 266,58 km, contando ida e volta. Como eu iniciei a contagem um tempo depois que a gente já tinha saído do píer, acredito que dá um pouquinho mais. 

Paradas estratégicas foram necessárias para atrair as aves e/ou fotografar baleias que por venturam cruzavam nosso caminho. Nosso tempo estimado de chegada seria às 21 horas de domingo, mas por conta de empolgação e paradas não programadas, chegamos por volta de meia noite.

Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares
 
O Fabio Barata criara um grupo no wapp com as pessoas que participariam da saída. Infelizmente alguns amigos tiveram que desistir e foram substituídos já próximos da partida. Mas vai ter próxima e espero que todos eles possam participar.

Eu, Fabio, Rita e o amigo Odair (um dos que precisou desistir) tínhamos combinado de ir no meu carro. Saímos de São Paulo às 13 horas. Fizemos um único "pit stop" pelo caminho. Dessa forma, chegamos com folga e sem atropelos.

Eu, Rita e Fábio
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Chegando em São Sebastião estacionei meu carro no quintal da D. Terezinha, que fica em frente ao píer. Ela tem parceria com o Capitão Gustavo, o que muito facilitou nossa vida. Aguardamos todos chegarem num restaurante chamado Guaroça, que fica ao lado, onde aproveitamos e comemos algo antes de embarcar.

Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Após o Gustavo estacionar, melhor dizendo, atracar o barco no píer (acho que preciso de um dicionário portuário pra poder escrever as coisas direitinho 😄😄😄😄), nós levamos nossas coisas para dentro do barco. 

Foto: Arquivo pessoal Gustavo Ximango

Eu coloquei as minhas sobre um dos beliches que ficam no porão, mas já tinha brincado com o Patrick,  tirando par ou ímpar para saber qual de nós iria pedir pra dormir no quarto do capitão. Brincadeirinhas à parte, a coisa era séria. Atrás do leme tem um beliche. Dormir ali seria melhor do que no porão. Mas havíamos combinado, eu Fabio e Rita, de levarmos sacos de dormir para dias bem frios e dormir no convés. Muitos fizeram isso, pois o barco tem dois conveses, um superior e um inferior. O Barata e a Elen dormiram no convés central. Casal que dorme unido no convés permanece unido para sempre. 😍💑

Foto: Arquivo pessoal Patrick Pina

O Capitão Gustavo disse que eu podia dormir de boa na casa do leme. Mas como eu fiquei conversando até tarde com a galera, fiquei com vergonha de incomodá-lo e me ajeitei no beliche do porão. Detalhe, dormi pela primeira vez de máscara e totalmente fechada dentro de um saco de dormir, quase morri de calor, acordei suando em bicas várias vezes. O Patrick dormiu no convés superior e disse que viu estrelas, literalmente 😋💪. Na próxima vez, farei isso.

Patrick em seu "quarto decorado com estrelas"!
Foto: Arquivo pessoal Patrick Pina

Mesmo assim a noite passou rapidinho. Já amanhecendo, senti o cheiro de café sendo coado e de pronto, me levantei. Quando cheguei no convés, Marcelo já tinha arrumado todo o balcão com os comes e bebes. Segura daqui, se equilibra dali, peguei meu café ☕ e fui admirar a tão sonhada torre começando a ser iluminada por uma divina luz dourada (a golden light). Com direito a selfie e tudo mais.

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Tomei bastante café para acordar, me empanturrei de bolos e frutas e me preparei para fotografar. O dia estava propício para a fotografia - sem chuva, sem sol forte, sem calor ou frio excessivos, o mar estava super calmo, até demais, de acordo com o Capitão Gustavo.

Algumas aves já nos rodeavam. O Fabio Barata e o Patrick, ajudados por um voluntário, o amigo Eduardo Super, super mesmo, começaram a distribuir o café da manhã para elas, feito com descarte de resto de peixes, mariscos e camarões. Inclusive tinham que manter o "comedouro" abastecido e amarrado ao barco. Sim, as aves do mar, adoram comedouro. Ao sentir o "gostoso" cheirinho do café da manhã, as bichinhas vinham "voando", literalmente. E às vezes acabavam tomando na cabeça. Os meninos tinham uma "super" pontaria. Coitadas!!!!! 😄😄😄😄😄

Na sequência abaixo: o comedouro, aves acertadas na testa, Patrick, Super e o Baratones injetando ar nos peixinhos para que flutuassem e as aves pudessem encher a pança.

Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares e as duas últimas (Super e Barata) by Patrick Pina.

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Rapidamente alguns albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris) e albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) se acomodaram para o banquete. O primeiro albatroz ninguém esquece, nem o décimo, centésimo ou milésimo. Eles são enternecedores e ao mesmo tempo divertidos. Seu jeito engraçado de pousar já foi até contado em desenho animado que você pode assistir a seguir.

Pouso Sem Repouso (Gooney's Goofy Landings)
       

Eu gosto tanto, mas tanto, dos albatrozes que fiz até selfie com eles ao fundo.😎 O Patrick até fez fotinhas minhas enquanto clicava essas preciosas aves. E o Capitão Gustavo até me deu uma forcinha pra eu não desequilibrar (mais do que já sou 😂😂😂😂) enquanto fotografava.

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Foto: Arquivo pessoal Patrick Pina

Foto: Arquivo pessoal Patrick Pina


E falando neles, olha eles aí. 👇👇👇👇

albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

E como não podia faltar uma história nessa viagem, essa teve uma, mas seu script eu só descobri na segunda-feira. Eu estava um pouco frustrada por não ter visto nenhuma espécie nova, já que a expectativa pela "Água prometida" era grande. Até falei para o Barata que era a primeira vez que voltava de uma pelágica sem "laifar".

E como não domino muito os nomes das aves pelágicas, que inclusive mudam de nome até científico, fiquei meia boiando. Como eu já disse, a princípio pardela é tudo igual. E albatrozes bem parecidos 😄😄😄

Eis que chega até nós um Puffinus, depois outro, era um tal de Puffinus pra lá, Puffinus pra cá.

Puffinus é um gênero de aves da família Procelariidae, que inclui as espécies conhecidas pelos nomes comuns de pardelas, bobos e também o frulho, espécie comum nos Açores. São mais de 23 Puffinus, ou eram pois alguns deixaram de ser Puffinus para serem Ardenna

**Ardenna é um gênero de ave marinha, também da família Procellariidae, que compreende um grupo de espécies de cagarras de médio porte. Por muito tempo, elas foram incluídas como Puffinus, mas esse gênero foi dividido com base nos resultados de uma análise filogenética do DNA mitocondrial. 

Isso é só um detalhe na observação de aves 😋😁😁. Eu tinha mesmo é esperanças de ver uma pardela, não qualquer pardela, mas a pardela-de-óculos (Procellaria conspicillata). Era a única que estava no meu cérebro. Cheguei a sonhar com ela, mas como ela não era um Puffinus, fiquei tranquila esperando. 

E tomamos até um susto né, Patrick, quando ao longe vimos uma voando e a frente dela era clarinha e no desespero toca clicar para descobrir que era apenas uma pardela-preta (Procellaria aequinoctialis), que depois ficou com dó da gente e fez pose de Instafoto e quadro na parede. E, Patrick, olha nossa pardela-de-óculos aí 👇

pardela-de-óculos (Procellaria conspicillata)

Lá pelas tantas uma graciosa e diminuta pardela veio enfrentar o batalhão de albas para conseguir seu café da manhã. De nome bobo-grande-de-sobre-branco (Puffinus gravis) no Wikiaves ou pardela-de-barrete (Ardenna gravis) no eBird, essa lindeza para mim não era tida como novidade, até que...

Até que na última segunda-feira pós-pelágica, ao aceitar o compartilhamento das listas do Fabio Olmos, vi que meu número de espécies no eBird acresceu um número. Ãnh!? Como assim? Fui verificar e quase caí para trás, eu tinha uma nova pardela na minha lista. 😁

Pela primeira vez fiz um "lifer" sem sequer imaginar que estava fazendo um. Coisa boa né? E foi maravilhaifer,📌 conforme um dia eu descrevi num texto no bloguinho = lifer com fotos maravilhosas!!!

pardela-de-barrete (Ardenna gravis)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Mas minha desatenção não tem desculpa porque eu tinha em mãos o excepcional Guia de identificação: Aves do Rio Grande do Sul dos amigos gaúchos Fernando Jacobs e Paulo Fenalti, aliás elogiadíssimo por todos a bordo, principalmente na parte que diz respeito às aves marinhas.
Você pode adquirir um exemplar no site Aves do Sul📌

Nessa hora ainda vimos um bobo-pequeno (Puffinus puffinus) ou pardela-sombria. A alma-de-mestre (Oceanites oceanicus) compareceu, mas nem chegou perto, só vi o registro do Fábio Schunck, de muito longe, eu acho. Ainda bem que não era mais novidade pra mim.

O show ficou por conta da pardela-preta (Procellaria aequinoctialis), super fotogênica. Primeiro passou voando meia tímida, mas quando chegou, "chegou - chegando" e não economizou na pose. Como eu disse, foto de quadro!

pardela-preta (Procellaria aequinoctialis)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

O mais engraçado era ficar vendo os atobás-pardo (Sula leucogaster) e os tesourões (Fregata magnificens) roubarem o peixe dos albas e pardelas. Uma verdadeira batalha aérea. 

 atobás-pardo (Sula leucogaster)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

 tesourão (Fregata magnificens)
Fotos: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Também tivemos momentos de pura emoção ao avistar baleias. Para o meu desgosto não consegui ver nenhuma saltando, ficou só no sonho mesmo. Quem sabe numa próxima, né? Vou usar fotos do Fábio Olmos e do Fábio Schunck porque as minhas ficaram horríveis. 

minha melhor foto de baleia 😁😁😁😁😜🐳🐳🐳
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Fotos: Arquivo pessoal Fábio Olmos

Fotos: Arquivo pessoal Fábio Schunck

O almoço foi bem tranquilo e a tarde também correu tranquila, ninguém passou mal. O cansaço do corpo após uma noite não tão bem dormida como eu gostaria, mais a tentativa de me manter equilibrada no barco começaram a cobrar seu preço e pedir um descanso. Só que o experiente Capitão Gustavo, achou um jeito de nos reviver. 

Ele tinha pescado um atum 🐟 logo cedinho e preparou um delicioso sashimi, que não só me renovou as forças, mas quase fez com que tivessem que me tirar à força da frente do prato. Ô treco bom, sô! Só faltou mesmo uma cervejinha pra acompanhar. Que na próxima tenha o dobro dessa delícia (promessa é dívida, né, Patrick?)

Fotos: Arquivo pessoal Patrick Pina e Silvia Faustino Linhares

Patrick exibindo o nosso manjar dos deuses
Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Durante o retorno algumas pessoas resolveram deitar e dormir um pouco, eu fiquei de papo com os amigos. Às vezes um assunto sério, às vezes só "zueiera".

O assunto que mais comentamos foi a necessidade de marcarmos novas saídas pelágicas. E depois de muito pensarmos nos destinos, combinamos que a próxima saída pelágica será para as bordas da terra plana. Já estou imaginando como vai ser, mas quero passar pela África antes. Só seguir em linha reta, sempre avante, né, Capitão? Liga o piloto automático e pronto. Só para na borda pra não cair, mesmo que tenha sereia ou passarinho lá embaixo acenando. 😂😂😂😂 

O Ximango navegando pela Terra Plana

E vamos ter cartão fidelidade para viajar a bordo do Ximango. O Fábio Olmos já deu nome: Xi-milhas. Aí dependendo você pode ser prata (dá direito a dormir no porão), ouro (dá direito a dormir nos conveses), diamante (dá direito a dormir na casa do leme). A cada dez saídas pelágicas você ganha uma. Aliás eu já adquiri o meu cartão. Ficou tão bonitinho, super personalizado. 

Falando sério, espero poder sair sempre para alto-mar, pois as surpresas sempre são garantidas. Como bem disse o amigo Marco Guedes, numa mídia minha: "Parabéns Silvia, sonho de pelágica. Ainda mais considerando que boa parte das aves que ainda temos que ver está no oceano." - detalhe: o Marco é o nº um no Wikiaves, com 1.614 espécies fotografadas (Lista CBRO 2015).


E entre risos e muita beleza cênica retornamos ao nosso ponto de partida, cansados, mas satisfeitos com o resultado da expedição. 😍🐳🐦🌞🌙

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Foto: Arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Desembarquei como se tivesse meia bêbada, e estava, mas de sono. Tirei o carro do estacionamento, fomos para o hotel ali pertinho e tomei um rápido banho quente, enquanto o mundo se movimentava sob meus pés e as paredes pareciam teimar em me tirar para dançar. 😂😂😂

Caí na cama e dormi quase que de imediato. No dia seguinte, voltamos bem cedo pra Sampa City, pois Fábio tinha compromissos inadiáveis por aqui. Um pouco de congestionamento pra variar e pouco depois estávamos em casa. 

Concluindo: foi uma experiência incrível. Só posso agradecer a todos que organizaram essa expedição, principalmente ao amigo Fabio Barata, que abraçou com fé para que essa empreitada fosse um sucesso. Obrigada a todos que estiveram presente, por fazer dessa expedição um marco na observação de aves do nosso país e um dia de luz nesses sombrios tempos pandêmicos. Como eu disse, fui surreal tomar café ao lado da torre, ver aves tão bonitas e desfrutar de tudo de bom que a vida pode nos oferecer. 

😍☕🍺🐟🐤🐧🐳👊👐 Que venham mais saídas como essa!!!!!

Caso prefira ver as fotos das aves no meu perfil do Wikiaves acesse aqui📌 ou acesse as listas a seguir.


eBird - Veja aqui as listas do dia 

Dom 11 jul 20210 - 6:24h
https://ebird.org/checklist/S91665288📌

Dom 11 jul 2021 - 07:26h
https://ebird.org/checklist/S91665285📌

Dom 11 jul 2021 - 08:36h
https://ebird.org/checklist/S91686099📌

Dom 11 jul 2021 - 10:33h
https://ebird.org/checklist/S91665282📌

Dom 11 jul 2021 - 11:38h
https://ebird.org/checklist/S91665256📌

Dom 11 jul 2021 - 13:46h
https://ebird.org/checklist/S91665250📌

Dom 11 jul 2021 - 13:58h
https://ebird.org/checklist/S91665246📌

Dom 11 jul 2021 - 15:48h
https://ebird.org/checklist/S91730105📌

Dom 11 jul 2021 - 16:26h
https://ebird.org/checklist/S91665255📌

 

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5 comentários:

  1. Ainda bem que tem o bloguinho da Silvia pra gente sentir um pouquinho da sensação desse passeio incrível! Quero muito estar presente na próxima querida!!

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    1. Querida Dani, tenho certeza que vc teria adorado estar com a gente. Obrigado pelo carinho e pelo comentário.

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  2. Adorei ler o seu relato Silvia
    Que turma especial
    Que maravilha de pelágica
    Parabéns pelo lifer :)
    Grande abraço!!!!!

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  3. Ler esse bloguinho... sobre estas pelágicas é como re-navegar! Que escrita deliciosa. Parabéns amiga, por eternizar esses momentos incríveis os escrevendo e ilustrando com imagens. Tantos as belíssimas quando as intimistas, do celular. Bjo enorme!

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Obrigada por visitar meu Bloguinho!