segunda-feira, 6 de junho de 2022

Chile e Argentina - Diário de Bordo - Patagônia (Terra do Fogo)

Era para ser uma postagem pequenina só com a incorporação do material original que virou fotolivro impresso. Quando vi, tinha criado um novo e prazeroso "monstrinho". Quase um novo livro. Se não quiser ler tudo e apenas ver o material que foi impresso, vá direto ao final. Mas se quiser ver histórias e imagens inéditas sobre a expedição, continua lendo aqui.

Nada na vida acontece por acaso. Nada mesmo! Ao trocar mensagens com dois amigos super queridos esses dias (a chilena Carolina Yañez Rismondo - @carito.aventurera e o grande ornitólogo Fábio Schunck - https://fabioschunck.com.br/site/quem-sou/), constatei duas coisas: minha atual vocação é ser uma facilitadora de amizades, como disse o Fábio, e eu acrescentei que meu talento é para a arquitetura, pois adoro construir "pontes" entre as pessoas. 

A segunda coisa que senti durante esse bate-papo foi saudades imensas do Chile e em especial da Patagônia, onde já estive algumas vezes e só consegui relatar uma delas aqui no Bloguinho, a que fiz em janeiro de 2017.

Com um cafezinho do lado, resolvi relembrar e sentir o gostinho novamente de como foi cada dia dessa minha primeira ida ao "fim do mundo" que aconteceu em 2010. 😱😱😱

Foto: arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Foto: arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares


Minha primeira viagem à Patagônia em 2010 foi relatada em um fotolivro impresso, que guardo com carinho aqui na minha estante junto com a Revista Cavallino que publicou uma matéria com minhas fotos.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Esta forma de contar a história de uma expedição, nascida a partir desse mencionado fotolivro, com muitas fotos, textos e pesquisas, molda minha escrita até hoje, conforme você pode observar nos meus posts atuais. 

No caso dessa primeira expedição, eu fiz listas históricas das aves que fotografei e inseri no e-Bird anos depois da viagem e com a ajuda de amigos na identificação das espécies. Veja link aqui ⬅

Apesar do meu contato com as aves me reportar à minha infância, o tornar-se observadora de aves contumaz, conforme costumo salientar em minhas palestras, somente se deu a partir de 2010 após a minha viagem à Patagônia, e de 2011 quando oficialmente passei a fazer parte do CEO - Centro de Estudos Ornitológicos.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Doze anos depois e a partir de agora, vou reescrever o livro nesse post, copiando algumas coisas e criando impressões atualizadas das minhas lembranças. Fique atento: em azul itálico textos extraídos do livro e sem itálico, textos atuais. 

Há fotos novas que não foram usadas no livro também. Só lembrando que eu não usava celular para selfieCamila Maluf (@camiladmaluf), minha querida amiga e parceira dessa e de outras viagens de trabalho, me fotografava e eu fotografava ela, sempre com câmeras. Para fotos das duas juntas a gente pedia o favor de alguém por perto.

Lembro que até então meu equipamento era uma Canon XSi e três lentes, uma Canon 55-250mm, uma Canon 18-135mm e uma Tanrom 17-50mm. Para essa viagem, adquiri uma Canon 7D e uma lente L - uma 70-200 mm f.2.8. Sequer imaginava como meu mundo fotográfico ia mudar depois disso.

O livro começa assim: 

"Se alguém me dissesse que um dia eu iria fotografar a região mais austral do planeta, eu não acreditaria. Mas isso aconteceu...Fui surpreendida pelo convite da minha amiga Camila Maluf , então editora da Revista Cavallino e Chefe de Equipe CRT (GT3) para acompanhá-la em um cruzeiro de expedição à Patagônia (Terra do Fogo) com a finalidade de produzir fotos para a revista.

A simples ideia de viajar por rotas marítimas lendárias, onde os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram e se misturam às histórias de marinheiros, naufrágios, povos desbravadores e paisagens de tirar o fôlego me fez ficar ansiosa e cheia de expectativas."

Só lembrando: Ansiedade é meu nome oculto do meio 😂😂😂😂.

"Navegando pelo Estreito de Magalhães e Canal Beagle, o Mare Australis passou por intricados fiordes onde magníficas paisagens se revezavam num esfuziante conjunto de formas e cores.

Passeios especiais, pré-programados, eram realizados durante o trajeto por meio de botes infláveis, onde podíamos apreciar de perto todas as maravilhas da Terra do Fogo, incluindo fauna e flora inigualáveis.

Os melhores momentos da nossa viagem estão registrados neste livro, imortalizando, dessa forma, as belíssimas paisagens e as fascinantes experiências que desfrutamos ao longo de todo o percurso. Um banquete divino para os meus olhos e minhas lentes!"

a capa
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Folder distribuído no navio
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

23/03/2010 - terça-feira - São Paulo/BR -> Ushuaia/AR

Nossa ida prevista para o início de março havia sido suspensa por causa do terrível terremoto de 8,8 graus que assolou o Chile no dia 27 de fevereiro de 2010. Foi considerado o maior tremor no país desde 1960. Em seguida, outros tremores foram registrados – de magnitudes que variaram entre 5,2 e 6,9 graus na escala Richter. O terremoto desencadeou inclusive um tsunami, além de ceifar milhares de vida. 

Não se tinha noção dos próximos acontecimentos. A Agência que cuidava da nossa ida propôs uma nova data e Camila me consultou explicando os riscos, mas era do tipo pegar ou largar, pois era final da temporada (que vai de outubro a março). Fora desse período as condições de tempo fazem com que muitos lugares sejam fechados para visitação. Eu concordei, apesar dos riscos. 

Já havia ido numa loja e adquirido roupas usáveis na Patagônia, muitas que uso até hoje, como as segunda-pele e fleece. 

Saímos de São Paulo e fizemos conexão em Buenos Aires para chegar em Ushuaia. A viagem começou colorida. Chegamos bem tarde no nosso destino inicial e a empolgação era tanta que não senti nenhum pouco de cansaço e ainda fui passear com a Camila.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares


24/03/2010 - quarta-feira - Ushuaia/AR


"24/03/2010 - Nosso primeiro dia foi em Ushuaia - capital da Província da Terra do Fogo, conhecida como a cidade mais austral  do mundo (La ciudad más austral del mundo) ou a cidade do Fim do Mundo (La ciudad del Fin del Mundo).

Seu nome da cidade provém do idioma indígena yámana: us (ao fundo) e uaia (baía) e se pronuncia em castelhano, como duas palavras separadas, us-uaia.

A cidade foi fundada em 12 de outubro de 1884, sobre as costas do Canal de Beagle, e é rodeada pelos montes Martial e Olívia, da cordilheira dos Andes, e pelos férteis e belos vales glaciais."

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Antes do embarque aproveitamos para conhecer Ushuaia e visitar, no extremo oposto da cidade, o "Museu Marítimo y ex presídio".

Nesta legendária prisão, agora transformada em museu (Museo del Presidio), pudemos conhecer um pouco da história da cidade. Há estátuas de cera e painéis com a história dos criminosos mais famosos que foram enviados para aquele lugar.

Esta cadeia é o símbolo da colonização de Ushuaia. Começou a ser construída em 1902 e foi concluída em 1920. Foi fechada em 1947. Hoje em dia a maior parte ainda está conservada em seu estado original.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Apesar do presídio nos mostrar um lugar deprimente, que remetia-nos a muito sofrimento e agonia, era carregado de histórias e arte e fazia-nos refletir um bocado.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Vi e registrei muitas coisas legais. Destaque para um quadro na parece que no futuro, mesmo sem eu imaginar, seria muito útil para o meu aprendizado. Pinguins!!! Hoje tenho quatro das espécies do quadro abaixo. E espero um dia ter muito mais.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Durante nosso passeio, registrei tudo que achava bonito: flores que sempre amei, paisagens, locais, edificações, comidas, bebidas. 

Fotografei também duas espécies de aves, só porque as achei bonitinhas. Nem tinha ideia do que eram. Hoje sei que era um casal de gansos e uma gaivota: kelp goose (Chloephaga hybrida) e dolphin gull (Leucophaeus scoresbii). 

No livro impresso, feito em 2010 mesmo, quando elas eram mencionadas eu escrevia na legenda simplesmente "ave na orla", "ave voando" ou pior: apenas "pato". 😂😂😂😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Após o passeio nos dirigimos ao Porto Ushuaia para embarque.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Nosso navio na época


O Mare Australis é um navio de 73 metros de comprimento, com 64 cabines, que podem acomodar 140 passageiros. As  cabines são confortáveis, decoradas com padrões náuticos, possui 1 banheiro bem funcional, 2 camas e 1 grande janela onde belas paisagens se sucedem durante a navegação.

Oferece todos os elementos básicos para uma estadia agradável, sem elementos supérfluos. Nada de internet, celular ou televisão. O Mare Australis possui 1 elegante sala de jantar, 2 lounges com bar, além de 2 pavimentos exteriores ideal para fumantes e fotógrafos afoitos como eu.

Como entretenimento a bordo, são ministradas palestras sobre a fauna,  flora e glaciologia, sobre os locais a serem explorados, bingo, desfile, sorteios, aula básica de coquetelaria e de nós náuticos. O navio ainda conta com uma pequena boutique para que os passageiros adquiram souvenirs.

Mare Australis - uma cidade flutuante ...
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Cidade de Ushuaia - vista de dentro do navio zarpando
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Após as boas vindas do Capitão, foi ministrada pela guia Carolina palestra de segurança e vida à bordo (obrigatória). Um coquetel nos aguardava. Um show de tango obrigou-nos a lembrar que ainda estávamos em terras argentinas. Os passageiros à bordo, proveniente de vários países, aplaudiam, euforicamente, cada passo mais ousado do casal de dançarinos.

Na sequência do show, fomos convidados para nos dirigir ao Salão Patagônia, onde todas as refeições durante a expedição seriam servidas.

Ao fim de cada refeição podíamos ir à sala de jogos, ao bar, ao convés, à ponte ou assistir a palestras com exibição audiovisual sobre o passeio seguinte ou sobre o ambiente geográfico, flora e fauna locais.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

As refeições eram servidas pontualmente. O menu era bastante diversificado e deliciosas comidas nos esperavam, sempre regadas a bons vinhos (argentinos ou chilenos).

No decorrer das tardes, podíamos bebericar licores, café ou chocolate quente acompanhado de biscoitos finos em um dos lounges.

Lembro do garçom Victor, extremamente gentil e prestativo, que não podia nos ver chegar e já vinha servir um delicioso vinho ou quitute. Ele também gostava muito de nos contar histórias e de ouvir as nossas histórias sobre carros e corridas.

Os lugares nas mesas eram demarcados com os nomes dos passageiros. A organização buscou juntar pessoas da mesma nacionalidade na mesma mesa e com isso pudemos fazer novos amigos. 

O interessante nessa primeira noite foi uma dessas pessoas virar para mim e dizer: eu conheço você.  E eu: Como assim? Ela: dos autódromos, pois meu irmão é piloto e já vi você fotografando lá! Mundo pequeno né? 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Paulo e Rosa, Adriana e Beto, Mari Clair e Luis, Camila e eu
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

25/03/2010 - quinta-feira - Passeio da manhã: Cabo Horn/CH


25/03/2010 - Chegamos ao "fim do mundo". Abaixo do Cabo Horn somente a imensidão azul do oceano e a Antártica. Foi um dos momentos mais marcantes da viagem. Cabo Horn é o ponto mais ao sul da América do Sul. Localiza-se na Ilha de Hornos, no arquipélago da Terra do Fogo, na porção pertencente ao Chile. Dos grandes cabos é o que se encontra mais ao sul e compõe a parte norte do Estreito de Drake.

É também o divisor dos oceanos Pacífico e Atlântico. A navegação ao redor do Cabo costuma ser inclemente, com fortes ventos de até 200 km/h açoitando constantemente a região.

Muitos escreveram sobre a passagem do Cabo Horn, mas ninguém mais célebre que Charles Darwin no livro sobre "A Viagem do Beagle de 1832", relato de sua expedição que resultou na publicação de "A Origem das Espécies".

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Chegamos ao amanhecer, após enfrentar ventos fortíssimos e ondas bastantes turbulentas. O balanço era incessante. Na noite anterior fomos orientadas para não deixar nada solto sobre os móveis do quarto, e também manter a porta do banheiro fechada. Abaixo nossa cabine.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A chegada até a terra era feita por meio de botes infláveis denominados zodiac. Embarcavam em torno de 10 pessoas em cada um. Era bastante difícil manter o equilíbrio dentro deles na hora de fotografar, pois você tinha que soltar as duas mãos das cordinhas onde se segurava. Um verdadeiro remelexo pra cá e pra lá. Tenso, mas divertido! 🙄😳😅

os zodiacs
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Pouco antes de desembarcar
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

É preciso ter sorte para desembarcar no Cabo Horn. Nem sempre há situação favorável para isso. O tempo muda em velocidade supersônica. Nesse dia tivemos sorte. Ocorreu tudo como previsto. Pude, mesmo tremendo toda, registrar o desembarque de alguns zodiacs antes do nosso. Sim, mesmo no fim do mundo tinha fila. 😂😂😂 Depois do desembarque, havia uma longa e  íngreme escadaria para chegar até o farol. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

O farol visto do Monumento do Albatroz
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu dentro do farol
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

De lá, após percorrer um caminho de madeira e algumas escadarias, chegamos ao monumento do Cabo, representado por um albatroz, obra do escultor José Balcells.

Este monumento data de 5 de dezembro de 1992 e é uma homenagem a todos os marinheiros que morreram na tentativa de encontrar um caminho fora de suas costas rochosas e driblar as forças implacáveis da natureza. 

O duro era conseguir fotografar o monumento sem ninguém ao lado, as pessoas faziam fila pra fazer selfie

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

O monumento visto do farol
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

"I'm an albatross"
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Retornando ao navio
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E no final do passeio ganhamos um certificado, que até hoje guardo com muito orgulho e carinho por aqui. Ele atesta que eu estive no fim do mundo!!!! ❤️🙏

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E depois do monumento do Albatroz, era a hora de registrar o primeiro albatroz de verdade, mesmo sem saber que era ele. 😂😂😂

Abaixo foto de um albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), seguido por um imperial cormorant (Leucocarbo atriceps), petrel-grande-do-norte (Macronectes halli) e uma ave não identificada que estava no mastro do nosso navio. As demais foram identificadas pelo amigo e grande ornitólogo Fabio Olmos posteriormente e bota posteriormente aí. 😂😂😂😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares


25/03/2010 - quinta-feira - Passeio da tarde: Baía Wulaia/CH


25/03/2010 - No segundo passeio conhecemos a Baía Wulaia, localizada na Ilha Navarino ao longo do Canal Murray na Terra do Fogo na região do Chile. A Baía pertence ao município de Cabo Horn. É um lugar rico em histórias e lendas. Wulaia foi descoberta em 1830 pelo navegante inglês Robert Fitz Roy e visitada depois pelo naturalista Charles Darwin, que teve contato com os índios Yámanas que habitavam a Baía - hoje infelizmente extintos.

Nosso passeio da tarde seria desembarcar e conhecer a Baía Wulaia. Havia duas opções para escolhermos: a caminhada forte e a caminhada suave. Escolhemos fazer a caminhada forte. Hoje já não sei se daria conta. 😂😂😂😂

A primeira opção necessitava muito preparo físico, pois enfrenta-se uma subida íngreme por entre bosques magalhânicos onde crescem lengas, coihues, samambaias, entre outras espécies, até chegar a um mirante. Nosso guia Rodrigo foi nos mostrando e contando o que era cada coisa que encontrávamos pelo caminho. Entendi parte, pois ele falava apenas espanhol (mas Camila traduzia o que eu não entendia). 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

o guia Rodrigo
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Em compensação a esse esforço, lá no alto fomos presenteados com uma magnífica visão. Nosso enorme navio parecia um brinquedo visto lá de cima. Também conseguíamos ver a água caindo do céu longe dali, em um espetáculo surreal.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Nesse passeio também é possível apreciar o habitat de castores. Vimos um deles e também parte da destruição que eles são capazes de fazer. Durante o passeio nosso guia foi falando dos problemas que essa espécie causa nas florestas patagônicas. Aproveitei o momento atual para pesquisar um pouco mais sobre isso.

Os castores são roedores semiaquáticos da família Castoridae. O que ocorre na Patagônia é o Castor canadensis, também conhecido como castor-americano, nativo da América do Norte. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Constroem grandes represas para fazer suas moradias subaquáticas, se protegerem das intempéries e criar seus filhotes. Eles se valem dos seus poderosos dentes incisivos para cortar o caule de árvores, que depois de derrubadas são arrastadas até as suas barragens. Por isso são chamados de “engenheiros da natureza”.

As represas construídas pelos castores modificam, literalmente, as paisagens. Rios mudam seus cursos, trechos de florestas desaparecem, áreas secas ficam inundadas depois de formadas as suas represas.  


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Foi visando o valioso mercado de peles que, em 1946, o Governo da Argentina resolveu introduzir a espécie na região da Patagônia e na Terra do Fogo.

Ao contrário de seus habitats naturais, onde a espécie é predada por lobos, coiotes e até ursos, no Extremo Sul da América do Sul praticamente não existem predadores deles. 

Na década de 1960, foram encontrados os primeiros castores no lado chileno da Terra do Fogo. No início da década de 1990, começaram a ser avistados castores na Península de Brunswick, na região continental do Chile. Os animais conseguiram vencer a nado as fortes correntezas do Estreito de Magalhães e aumentaram assim o seu território.

Cortadas pelos castores, a maioria das árvores não volta a brotar e acaba morrendo. Os locais com grandes populações de castores formam um cenário fantasmagórico com milhares de tocos de árvores mortas.

Há vários anos que os Governos da Argentina e do Chile vêm criando planos mirabolantes para o extermínio de dezenas de milhares de castores a fim de conter os inúmeros problemas ambientais criados pelos “invasores”, porém nunca conseguiram levar as ideias avante.

(fonte: blog de FERDINANDO DE SOUSA - veja a excelente matéria na íntegra aqui)

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

O ponto mais alto onde chegamos foi o "ponto alto do passeio". Fomos orientados a fazer alguns minutos de completo silêncio para ouvir os sons da natureza, com destaque para os "ventos uivantes" e estrondos de gelo trincando. Depois disso fiquei só fazendo foto atrás de foto.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A caminhada suave previa uma visita ao extenso sítio arqueológico existente nas cercanias do Museu Stirling, local esse que abriga fotos, utensílios de cozinha e de caça, uma canoa e painéis que contam a história dos Yámanas. Lá do alto da caminhada forte podíamos ver o Museu. Mas só fizemos esse passeio quando do nosso retorno à Ushuaia.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

No final do passeio uma mesa foi montada e uísque com gelo glacial milenar e chocolate quente foram servidos à vontade. Era só decidir o que mais apetecia o paladar no momento. Qualquer coisa para ativar o corpo congelado pelo vento era bem vinda.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Quando retornávamos ao navio, vi golfinhos pela primeira vez na vida. Eles saltitavam ao redor dos nossos botes. O duro era conseguir fotografar com o bote em movimento e tanta gente se mexendo dentro dele para vê-los. 


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E foi assim que o nosso primeiro dia terminou. Com cores pintando o céu e as montanhas nevadas ao fundo de uma forma indescritível. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

26/03/2010 - sexta-feira - Glaciares Piloto e Nena


A Patagônia me marcou por sua imprevisibilidade. Às vezes desabava uma chuva forte o que impactava nossos passeios, depois o céu se abria e o sol brilhava de doer na vista. Apesar de ser final de verão e comecinho de outono, o frio intenso já estava se anunciando. Bem vindos à Patagônia! 

Era necessário aguardar o tempo melhorar para fazer as saídas pré-programadas. Enquanto isso a gente aproveitava para dormir um pouco mais ou então participava de alguma das atividades oferecidas.

Assistíamos palestras, onde aprendíamos um pouco mais sobre a geografia, história, flora e fauna do lugar. Teve até cursinho ensinando a "dar nó", 😂, melhor dizendo, a fazer nós 😂😂

Enquanto os guias Rodrigo e Pedro nos ensinavam a fazer nós de marinheiro, a guia Carolina só observava e ria. Era ela quem anunciava as atividades, os passeios e a "hora da boia".

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A hora da boia era um pesadelo, pois a gente ficava imaginando se depois caberia nas roupas e se teria forças para fazer os passeios. A comida era simplesmente maravilhosa! 😂😂😂😂 

Além dos drinks fantásticos havia guloseimas de todos os tipos. Havia algumas que eram verdadeiras obras de arte. Dava até dó de comer. 

Nossa turma de banquete era animada e cada refeição era a mais pura alegria.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Na Patagônia tudo é grandioso e fascinante. No passeio do dia iríamos conhecer e apreciar nossa primeira Geleira. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

... prontos para ir ver as geleiras de perto ...
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

26/03/2010 - Neste passeio conhecemos e apreciamos nossa primeira Geleira. Geleira ou Glaciar é a mesma coisa. A primeira é o termo usado em português brasileiro e a segunda no europeu.

Geleira é uma grande e espessa massa de gelo formada por camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo. É dotada de movimento e se desloca lentamente, em razão da gravidade, relevo abaixo, provocando erosão e sedimentação glacial.

Podem apresentar extensão de vários quilômetros e espessura que também alcança a faixa dos quilômetros. O gelo das geleiras é o maior reservatório de água doce sobre a Terra, e perde em volume total de água apenas para os oceanos.

Começamos com uma navegação pelo Fiorde Alacalufe, passando por incríveis cachoeiras, muito gelo na água, até alcançarmos os magnânimos Glaciares Piloto e Nena. Esses gigantes congelados originaram-se a mais de 50.000 anos, mantendo-se sempre em constante movimento. 

O gelo da geleira não é igual àquele que está no nosso congelador. Não se trata apenas de água congelada. Como a geleira força caminho entre rochas, seu gelo possui uma composição química que inclui partículas de minerais. 

O gelo glacial é criado sob pressão muito acima do normal e absorve todas as cores do espectro luminoso, com exceção do azul. O azul que vemos na geleira é a única cor refletida. Quanto mais compacto o gelo, mais azul ele é.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Ganhamos uma aula extra sobre gelo enquanto nosso zodiac ia navegando até as geleiras. 


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A primeira geleira a gente nunca esquece. A pergunta no ar era, com emoção ou sem emoção? Na Patagônia tudo é com emoção. Lembre-se disso quando for lá pela primeira vez. 😜🤪😱😯😂

E nossa primeira vez foi com muita emoção. Uma parte do gelo despencou estrondosamente na nossa frente, causando ondas que quase viraram o bote e derrubaram todos na água congelante. 

Nessa hora eu pensava mais no meu equipamento do que em mim. 🤣🥶 Sorte que os piloteiros eram muito hábeis e nos tiraram "facinho" de perto do deslizamento.  Nessa hora só nos pedem pra se segurar bem e manter a calma. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

um dos botes bem na frente do deslizamento
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

blocos de gelo gigantes flutuando após a queda
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Mas que eu e Camila ficamos apavoradas, ah! ficamos. Olha a minha carinha de "ai minha nossa!" logo que fomos para um lugar mais tranquilo. 🤪😱😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Depois que tudo voltou ao "normal", continuei fotografando numa boa, de cachoeiras gigantes à pedrinhas de gelo e à "patinhos", os mesmos já registrados outro dia: kelp goose (Chloephaga hybrida).

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

No final eu e Camila já estávamos apreciando tudo com mais calma e de boa. Ah! Se eu fosse cardíaca!!!! ???? O quê? 😂😂😂 Ah! É mesmo, eu sou! Bem lembrado!  😂😂😂 E se isso não me enfartou, acho que nada mais o fará! 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E para não nos deixar esquecer esse emocionante dia, da janela do nosso quarto era possível contar gelinhos para dormir. 😊😊😊😊

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares


27/03/2010 - sábado - Manhã: Isla Magdalena/CH


27/03/2010 - Nosso desembarque na Ilha Magdalena (Isla Magdalena) estava programado para bem cedo. Quando amanheceu, o céu presenteou-nos com tonalidades e luzes tão mágicas que meus olhos brilharam de emoção e minha câmera entrou em frenesi.

A Ilha Magdalena fica no Estreito de Magalhães, a 35 km de Punta Arenas/CH e é o lar de uma imensa colônia de pinguins magalhânicos (mais de 60 mil casais), que podem ser apreciados em caminhada através de uma trilha demarcada por cordas até o farol. Após longas jornadas no mar, os pinguins retornam, aglomerando-se em imensas e barulhentas colônias chamadas pinguineiras. Ali mesmo no aparente caos da superpopulação, conseguem achar a fêmea do verão anterior. São monogâmicos e ciumentos.

Durante a época de reprodução, que vai de setembro a fevereiro, os casais partilham a incubação e cuidados parentais. Os ninhos são construídos no chão à superfície ou em pequenas tocas. Expulsam os vizinhos intrusos na base dos gritos e bicadas. A fêmea põe 2 ovos brancos que levam entre 39 a 42 dias para incubar. Os filhotes são alimentados por ambos os pais durante os 2 meses seguintes, tornando-se independentes logo em seguida.

Com seu andar desengonçado, tombos e capotões, inúmeras vezes eles cruzavam a trilha bem a nossa frente. Você tem que tomar cuidado para não tropeçar num deles ou pisar num ninho por ventura existente dentro dos limites da trilha. Há risco de levar uma bicada se chegar muito perto. Em geral atravessam a trilha em direção ao mar em caravana e você tem que esperar todos passarem, caso contrário, eles retornam e aguardam você passar para continuar sua marcha. 

Bom, aqui foi o acontecimento que mudou a minha vida. Até então eu só conhecia de perto pinguim de geladeira. Ver pinguins tão de pertinho foi uma experiência única. Dessas que a gente pode contar mil vezes que os olhos sempre vão lacrimejar.

Acordamos muito cedo, o sol ainda não tinha nascido. Era "de noite" ainda. Parecia que ia ser um dia bem bonito, de sol e muita caminhada. As expectativas do passeio eram iguais aos primeiros dias, mas mal sabia eu o que ia resultar ao longo dos anos seguintes. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Na chegada eu e Camila fizemos as fotos de praxe na placa de Bem Vindos. Como eu disse, eu não usava celular para fotos na época, só câmeras mesmo. Então uma fotografava a outra.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Estava programado para subirmos até o farol no alto da Ilha, onde, ao longo do caminho, 120 mil pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) se espalhavam. 

Fomos instruídos para caminhar sempre dentro dos limites da trilha, demarcada por cordas e mesmo assim, era pra tomarmos cuidado, pois os pinguins iriam nos atropelar sem aviso (para não dizer o contrário).  😂🐧😂🐧😂

as trilhas ladeadas por cordas
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A maioria dos pinguins estava acordando. Outros já haviam acordado, mas cochilavam em pé. Alguns sequer tinham saído da toca, mas outros, mais espertos, já nadavam e iam em busca do seu café da manhã. 

O dia havia amanhecido com tons rosados que aos poucos foram se misturando a cores laranja e azul, propiciando, dessa forma as fotos mais lindas do mundo. E vou te contar, os bichinhos sabiam ser fotogênicos.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Sabe quando os portões da creche se abrem para o recreio e a molecada despenca a correr desengonçadamente? Essas era a minha sensação quando os via, aos bandos se dirigindo para a festa na água. Eu estava mais do que encantada, estava enfeitiçada. Só não sabia que esse feitiço jamais iria ser desfeito.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Os pinguins aos bandos na praia
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Love is in the air
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Havia até penetra na festa dos pinguins. Era um gaivotão (Larus dominicanus), penso eu, porque eu nem me preocupei em fotografar ele direito. Ele saiu de enxerido. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu e Camila parecíamos duas crianças. Eu não conseguia dar dois passos sem dar uma saraivada de cliques. E olha que nem tinha dedo nervoso como hoje.

...olha o brilho nos olhos da criança... 😂😂😂
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Aí chega aquele momento de inspiração. Você olha para trás e vê sua amiga e pede para ela não se mexer. Foi assim que fiz minha foto "Penguins in Abbey Road".

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

montagem que fiz a partir da minha foto acima
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu nem consegui acompanhar o guia e o grupo de passageiros até o farol, pois estava difícil interromper as clicadas e seguir em frente. Quando vimos, o guia estava retornando e chamando todo mundo para ir embora. Alguns já estavam embarcando. Mas não resisti e fui fazendo mais algumas fotinhas durante a volta.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Aglomeração - naquela época podia 😂😂😂😂
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Ei, ei, esperem por mim... tô indo, tô indo ...😁😁😁😆

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Camila já estava no zodiac, só faltava eu...
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27/03//2010 - sábado - Punta Arenas CH


27/03/2010 - Desembarcamos em Punta Arenas, cidade portuária no Sul do Chile, no fim da manhã. Punta Arenas é a capital da XII Região. Está localizada na Península de Brunswick, nas proximidades do Estreito de Magalhães, na Patagônia.

Foi fundada em 18 de dezembro de 1848. Antes da abertura do canal do Panamá em 1914 foi o principal porto na navegação entre os oceanos Pacífico e Atlântico, por sua localização geográfica. Punta Arenas possui uma população do 150.826 pessoas (2008). Seus habitantes têm raízes européias, principalmente croatas, espanhóis, suíços, iugoslavos e galeses.

Sua economia é baseada, principalmente, em atividades portuárias e de serviços. É o ponto de partida para a maioria dos cruzeiros que tem como destino a Antártica.

É uma cidade muito limpa e movimentada. Possui belos edifícios e uma população bastante hospitaleira. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Desembarcamos em Punta Arenas no Chile, pois finalizara o primeiro trecho da expedição. (OBS: os trechos são vendidos separadamente, um deles inicia-se em Ushuaia e termina em Punta Arenas e o outro vice-versa). Como fomos a convite da Australis, (@australiscruises) nossa estadia incluía os dois trechos. 

Nos despedimos dos novos amigos, pois apenas eu e Camila embarcaríamos de volta para Ushuaia. Em seguida saímos conhecer a cidade, porta de entrada da Antártica, que é ainda um dos meus sonhos.

Lógico que fomos às "compritas" primeiro, afinal quem resiste a uma feirinha colorida no meio de uma linda praça ... 😂🎁🎁🎁😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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De tão feliz que fiquei com os pinguins, a minha amiga Camila vestiu um gorrinho de pinguim. Ficou o máximo e a embelezou ainda mais.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Durante nosso passeio cruzamos com elegantes integrantes da Marinha em trajes de galas e ficamos curiosas. Aí descobrimos que a cidade estava recebendo um grande evento marítimo.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Para comemorar o Bicentenário, que marcou o começo do fim do domínio colonial espanhol na região, as Armadas do Chile e Argentina se uniram para organizar o Encontro e Regata Internacional de Grandes Veleiros: "Velas Sudamérica 2010".

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Os veleiros zarparam no dia 7 de fevereiro (2010), do Rio de Janeiro, passando por vários lugares conforme quadro abaixo para terminar na cidade de Veracruz no México. (Fonte: Wikipedia)


Fonte: Wikipedia

O evento tinha por finalidade estreitar os laços de amizade e fraternidade entre todos os países participantes. 

Descobrimos que um dos veleiros atracados permitia visitação e seguimos até o porto. Foi um momento de muita emoção para mim e que me fez derramar muitas lágrimas (só de lembrar caiu um cisquinho aqui no olho 😪).  

A embarcação em questão era a chilena Esmeralda, nome da minha mamis, que eu perdi em 2005. Ver o nome da minha mãe ali mexeu muito com meu emocional. Passei a tarde com o semblante introspectivo, meio "jururu" como se diz por aqui.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Durante a visita eu pude clicar coisas inimagináveis. Havia uma carranca na proa e era uma ave. Só tempos depois eu soube que era um condor (Vultur gryphus). 

De acordo com meu amigo navegador e passarinheiro Julio Cardoso, este tipo de veleiro possui na proa um “mastro deitado” (*mastro colocado obliquamente na proa de um navio - fonte: Dicio) chamado Gurupés, cuja função é dar mais espaço e apoio para as velas. É onde as carrancas são encaixadas. Diz a lenda que isso é feito para afastar os maus espíritos e remonta a era dos Vikings.

Arquivo pessoal: Julio Cardoso

Conforme eu informei no post sobre minha ida à Colômbia, o condor é a ave nacional de 4 de 13 países de América do Sul, inclusive do Chile. Abaixo a mencionada carranca.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu confesso que o condor é uma ave significativa na minha vida de passarinheira. Depois você vai saber porque, tenha paciência e continue lendo.

Assim que reembarcamos no Mare Australis, a festança recomeçou. Agora já éramos "clientes antigas" e tanto o Capitão como os guias, garçons e demais tripulantes já nos conheciam e nos tratavam feito princesas. Isso resultava em muita paparicação e preparo de deliciosos drinks exclusivos para experimentarmos. 

Uma linda apresentação de dança folclórica chilena marcou nossa noite. Não me recordo direito, mas acho que o nome dessa dança era La Cueca, dança popular e tradicional de vários países da região andina, com ritmo animado, que é dançada em pares. É a dança nacional do Chile - fonte: google.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Eu, Capitão Enrico e Camila
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28/03/2010 - domingo - Baía Ainsworth/CH


28/03/2010 - Ancoramos na Baía Ainsworth onde se localiza o Glaciar Marinelli. O nome Ainsworth é uma homenagem ao Comandante do navio inglês "Adventure" que fez parte da expedição britânica de Phillip Parker King no início do século XIX.

A Baía possui uma vegetação exuberante e também serve de abrigo a elefantes-marinhos.

Os elefantes-marinhos são grandes mamíferos: a fêmea atinge 3,50 metros e o macho até 6,5 metros, pesando até 4 toneladas. A cabeça é grande, com olhos grandes e salientes e arcadas superciliares com pelos rígidos. Nos machos, o nariz alonga-se numa espécie de tromba, que originou o nome popular da espécie.

Os membros anteriores, apesar de robustos, não proporcionam bom rendimento em terra; os posteriores, muito fortes, com cinco dedos e fendidos ao meio, formam uma espécie de remo cada um.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Nesse dia não faltaram novas emoções. A baía em questão (Baía Ainsworth) estava forrada de elefantes-Marinho-Do-Sul (Mirounga leonina), cujo nome completo só sei certinho graças à plataforma iNaturalist, onde posto os mamíferos que fotografo. 

Nosso guia pedia para andarmos com cuidado, pois eles embora tinham um jeitão pacífico, eram briguentos e costumavam atacar quando se sentiam ameaçados. 

Eu me recordo de pensar que o macho dominante era maior que um fusca. O Wikipedia informa que as fêmeas são menores e alcançam cerca de 3,5 metros, enquanto os machos chegam a atingir 6,5 metros de comprimento, além de alcançar cerca de três toneladas e meia. Só lembrando que o fusca tem mais ou menos 1,5m de largura, 4,2m de comprimento e não chega a uma tonelada. 😱🙄🤔🤭😳

Bicho grande viu, mas me pareceu bem preguiçoso e tão sonolento quanto eu estava nesse dia.

Elefante-Marinho-Do-Sul (Mirounga leonina)
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Eu, bem longe deles
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Fora isso, a baía tinha um visual extasiante. O Glaciar Marinelli ao fundo deslumbrava os meus olhos e minhas lentes. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Saímos caminhar pelo meio da floresta, onde o nosso guia Rodrigo novamente deu uma aula sobre a flora local, mostrando frutos e outras plantas, de forma didática e interessante. O que me chamou a atenção foram as passarelas de madeira e sua acessibilidade.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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A gente se vai cansando tanto durante a caminhada que os olhos começam a ver coisas. De repente eu olho e vejo um monstro estranho na minha frente. Mostrei pra Camila e imediatamente caímos na gargalhada. 

Era um "dragão de pau". Um tronco quebrado, que na minha imaginação tinha focinho, orelha, língua, dentes e pata com unhas grandes. 😂🐉😂🐉😂🐉😂 E eu nem tinha tomado uísque ainda.

O que é a imaginação! Veja abaixo, pense e me conte nos comentários o que você vê (se for comentar anonimamente, não esqueça de colocar seu nome). 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Finda a nossa caminhada, novamente paramos no nosso "barzinho itinerante" e nos servimos de uma dose de uísque com gelo milenar, onde brindamos o sucesso da nossa viagem e aquecemos nossos corpos.

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28/03/2010 - domingo - Ilhotes Tucker


28/03/2010 - Nosso segundo passeio do dia foi a circunavegação para apreciar aves nos Ilhotes Tucker. Por possuírem ecossistemas muito frágeis, não nos foi permitido aportar nos ilhotes.

Ao nos aproximarmos das pequenas ilhas foi possível observar uma enorme colônia de cormorões. Os Ilhotes também abrigam colônias de barulhentos pinguins, mas não na mesma quantidade da Ilha Magdalena.  Avistamos muitas aves predadoras.

Gaivotas austrais, patos, chimangos ou tiuques e condores também são encontrados no local. Outra coisa que nos chama a atenção são os mexilhões azuis grudados nas paredes dos penhascos.

É um passeio um pouco desconfortável, pois enfrenta-se muita marola, vento e água do mar respingando no rosto. Mas a diversidade de aves é imensa e compensa as dificuldades na busca do melhor ângulo para fotografar.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Para quem não esteve na Isla Magdalena e não caminhou entre os 60 mil casais de pinguins, os Ilhotes Tucker eram um paraíso. Pelo que escrevi no livro em 2010 (vide em azul antes da última imagem) foi um passeio desconfortável e ao que me lembre, foi o lugar que menos gostei durante a expedição toda. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Como não era permitido descer do zodiac, ficávamos navegando ao redor dos Ilhotes. Balançava demais devido ao vento, que estava muito gelado, respingava água, no rosto, no corpo e no equipamento. Para ver o que? Passarinhos! Ah! Silvia, fala sério, você não gostou mesmo? 

Naquele dia não. Os mais bonitinhos que eram os pinguins e eu já tinha me esbaldado no dia anterior. Na realidade, eu não via a hora de voltar para o conforto do navio.

O que mais fotografei foram as paredes repletas de conchinhas grudadas, achava bem legal e diferente. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

 Ah! se fosse hoje. Não ia querer ir embora nunquinha. Fico pensando como a vida dá voltas. Como diz o ditado popular: a gente cospe pra cima e cai na cabeça. 

Mas teve histórias engraçadas esse dia. A simpática guia Paola nos conduzia no nosso zodiac. E de repente ela gritou olhando para mim (a única que estava com câmera e lente grande) eufórica e apontando para o alto, algo tipo: "mira, mira el cóndor, mira el cóndor, fotografa"

Eu olhei aquela ave escura, no alto, longe, parecendo um urubu e fiz alguns cliques, pois era o tipo de imagem que não serviria para ilustrar a matéria na revista nem para mais nada. (doce ilusão)

Pensa na minha cara, tempos depois quando eu descobri a importância dessa linda ave para a minha life-list. Abaixo a famigerada e desprezada primeira foto de 2010 e uma de 2017, ambas feitas no "TChile" da minha amiga Carolina Yañez.

condor (Vultur gryphus) 2010 e 2017
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

A história do patinho também foi engraçada. Quando a guia Paola viu um "patinho" nas pedras, ela ficou toda animada e pediu-me muito que eu fotografasse aquela coisinha irrequieta, sem cor e sem graça. Tanto patinho mais bonito no Parque Ibirapuera em São Paulo, pensei comigo na hora. 

Tentando ser simpática, fiz uma meia dúzia de fotos, quase sem conseguir foco daquele bichinho "pardacenta" que não parava quieto. Ela explicou para o grupo que aquela ave (que depois eu soube chamar-se marreca-pardinha (Anas flavirostris) e compôs minha life-list no futuro) era uma ave migratória e que tinha dois anos que ela não via por ali e que estava muito feliz com o retorno dela. 

marreca-pardinha (Anas flavirostris)

Hoje entendo perfeitamente a Paola, mas, no livro a "pardinha" virou apenas "pato" kkkkkkkkkkk 

Mas ainda bem que guardei fotos de todos eles. Formaram o conjunto dos primeiros lifers (algo que eu aprendi o que era só um ano depois), inclusive as de ocorrência em território brasileiro foram postadas no Wikiaves, plataforma que hoje integra o meu dia a dia e meus estudos ornitológicos.

chimango (Milvago chimango) e condor (Vultur gryphus)
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

kelp goose (Chloephaga hybrida) - mandrião-chileno (Stercorarius chilensis)
Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

imperial cormorant (Phalacrocorax atriceps) - magellanic cormorant (Leucocarbo magellanicus)
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kelp goose (Chloephaga hybrida) - pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus)
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29/03//2010 - segunda-feira - Estreito de Beagle/CH


Começamos o dia 29 com um convite para conhecer a casa de máquinas. Taí um trabalho a ser super valorizado, pois nossa segurança a bordo depende desses heróis anônimos que passam o tempo todo enfurnados, atentos a tudo que acontece ali dentro.


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Navegamos pelo Estreito de Beagle até nosso próximo destino. 

O Estreito de Beagle (ou Canal de Beagle) é um canal separando a Ilha Grande da Terra do Fogo de diversas pequenas ilhas ao sul. Sua parte oriental marca a fronteira entre o Chile e a Argentina, mas sua parte ocidental pertence ao Chile.

O Estreito mede aproximadamente 240 km de comprimento e sua largura mínima é de cerca de 5 km. O Canal deve seu nome ao navio britânico "HSM Beagle"

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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29/03/2010 - segunda-feira - Glaciar Pia


29/03/2010 - Navegamos pelo principal braço do Canal de Beagle até chegar ao Fiorde Pia. Desembarcamos próximo ao Glaciar de mesmo nome e caminhamos até um mirante para observar o cordão montanhoso de onde se origina o Glaciar e todo seu desenvolvimento até chegar ao mar.

Durante o tempo que permanecemos no local pudemos escutar o impressionante som causado pelo desprendimento dos grandes blocos de gelo caindo no mar.

Foi uma experiência fenomenal. A combinação de geleiras, bosque magalhânico e mar produziu imagens sensacionais. 

Abaixo algumas das minhas imagens preferidas dessa tarde esplêndida. Desta vez, apreciamos um glaciar com os pés no chão e não sentimos medo como no Glaciar Piloto e Nena, a bordo do zodiac

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu lembro dessa foto abaixo. Foi quando eu explicava para a Camila como posicionar uma pessoa numa foto. Ela ficou craque nisso. Mas o modelo ajuda né?! 😂😂😂😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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E não podia faltar uma saideira no nosso barzinho itinerante e muito menos uma comemoração.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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29/03/2010 - segunda-feira - Avenida das Geleiras


29/03/2010 - Durante uma hora e meia navegamos pela Avenida das Geleiras onde as imponentes montanhas de gelos são batizadas com nomes de Países.

Bebidas e petiscos típicos de cada País correspondente a cada uma das geleiras iam sendo servidos no Lounge na medida que passávamos por elas.

Cerveja e salsicha quando passamos pelo Glaciar Alemanha. Queijo e champagne ao cruzar a França. Pizza e vinho em homenagem à Itália. Croquetes e cerveja em frente à Holanda. 

Com o dia finalizando de forma mágica, foi a vez de registrar fotos do lado de fora dos agradáveis lounges durante a navegação. 

Enquanto eu ficava no convés fazendo as fotos e a festa rolava no lounge. Às vezes eu entrava um pouco para me aquecer e logo em seguida saia e acabava perdendo algumas explicações sobre o porque do nome da geleira ser esse ou aquele país. 


Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

O garçom Vitor, com pena de mim, levava até o convés guloseimas e bebidas típicas de cada um dos países, conforme expliquei em um dos parágrafos anteriores. Ele então fez uma foto minha e eu uma dele, quando passamos pela geleira Itália e ele estava me levando pizza e vinho.

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Abaixo as geleiras que registrei e na legenda de cada uma eu menciono as bebidas e comidas que o Vitor ia me servindo no convés enquanto eu fotografava, exceto na da Suiça, pois esqueci. O álcool que ingeri nas outras deve ter enevoado minha mente e me feito esquecer de anotar. 😂😂😂😂

Geleira Alemanha (cerveja e salsicha)
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Geleira França (queijo e champagne)
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Geleira Holanda (croquetes e cerveja)
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Geleira Itália (pizza e vinho)
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Geleira Suíça (Romanche)
(depois de tanto comer e beber, nem lembro mais o que foi essa 😂😂😂😂)
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30/03/2010 - terça-feira - Cabo Horn/CH


30/03/2010 - Novamente passamos pelo Cabo Horn. Chovia e ventava muito quando subi para o desembarque. Fomos informados que teríamos que aguardar melhores e mais seguras condições climáticas. Desisti e voltei para o quarto. Incrivelmente o tempo melhorou e assim que o navio começou a se afastar fiz algumas fotos de ângulos diferentes de quando zarpamos de Ushuaia. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Como o tempo não colaborou e também como já tínhamos descido e registrado o Cabo no trecho de ida, acredito que foi mais gostoso ficar na cama e depois caprichar no café. 

Para nos deixar mais feliz o Capitão Enrico nos convidou para conhecer a cabine de comando.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Depois Camila ficou apreciando os desenhos de uma das passageiras e eu fui para o quarto "trabalhar" um pouco no meu escritório improvisado.

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30/03/2010 - terça-feira - Baía Wulaia/CH


30/03/2010 - Baía Wulaia - Desta vez fizemos a caminhada suave, conhecendo a história do antigo assentamento indígena pela Guia Paola, que além do grande valor arqueológico, nos ofereceu um espetáculo visual de grande beleza pela sua vegetação exuberante e geografia ímpar.

Registrei Camila com a guia Paola logo na saída. O gorrinho de pinguim da Camila fazia um sucesso danado. E teve encontro de pinguins. Outra passageira tinha um gorrinho lindo também.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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No museu Stirling há uma placa de mármore branco colocada em 2009, ano do bicentenário de Charles Darwin. Ela comemora a passagem do cientista pelo lugar. Darwin aportou na Baía Wulaia em 23 de janeiro de 1833. Observar o cotidiano dos povos nômades chamados Yámanas que ali habitavam contribuiu para o desenvolvimento da sua Teoria da Evolução. 

Os Yámanas, yaganes ou tequenicas era um dos grupos étnicos indígenas do Cone Sul, sendo considerado o povo indígena mais meridional do mundo. Até fevereiro de 2022, existia apenas uma indígena yagan pura: Cristina Calderón, uma cidadã chilena que faleceu com 93 anos e vivia na Ilha Navarino. (fonte: Wikipedia)

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

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Os Yámanas viviam em ocas nas praias (veja foto abaixo), formadas por galhos e folhas secas. Era na Baía Wulaia que eles se abrigavam para suportar o rigoroso inverno da região. Fiquei imaginando um ser humano morando numa oca dessas e enfrentando baixíssimas temperaturas no seu dia a dia. 

Realmente a evolução do ser humano os adaptou ao seu meio. Eu teria congelado. E eles ficariam cozidos se nascessem na minha cidade natal, Presidente Prudente, cujo verão apresenta temperaturas de até 40 graus.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Mujeres Yamanas (fonte: Wikipedia)

Para completar nossa tarde, Paola nos mostrou um pouco da geologia e flora do lugar, inclusive o "el calafate", arbusto que nasce na região e produz uma pequena fruta da qual se fazem doces e geleias.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E mesmo para quem não conhecia nada de avifauna, alguns patinhos diferentes nadando por perto renderam fotos, mesmo sem luz adequada no local. Era o crested duck (Lophonetta specularioides), essa foi a primeira das 14 vezes que eu o registrei.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Era hora de retorno ao Fin del Mundo e fim da nossa expedição. Chegamos quase meia noite em Ushuaia onde encerrou-se nosso trabalho, ou melhor, passeio. Trabalho ou passeio? Difícil decidir.  🤣🤣🤣🤣

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

31/03/2010 - quarta-feira - Ushuaia/AR


Acordamos cedo e saímos perambular enquanto não chegava o horário da nossa partida para o Brasil. Uma linda lua cheia ainda insistia em se mostrar para a gente. Um pouco à frente nosso navio estava ancorado em manutenção para a sua próxima saída.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Visitamos o local onde o barco Saint Christopher está encalhado. Ele pertenceu à Marinha Real Britânica na Segunda Guerra Mundial. Construído em 1943, o rebocador de salvamento participou na guerra antes de ser vendido para ser usado comercialmente e depois encalhou no Canal de Beagle em Ushuaia. Tornou-se então um cartão postal da cidade. Ele ao fundo, e eu na frente brincando.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Eu e Camila achamos o carro dos Flintstones pelos arredores. E lógico que fomos experimentar. Do jeito que está o preço do combustível, em breve vamos ver ele substituindo todos os nossos automóveis. 😂😂😂😂

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Mais alguns bichinhos na orla foram clicados por minhas lentes e passaram a integrar a minha coleção de registros de aves atual. São eles kelp goose (Chloephaga hybrida), gaivotão (Larus dominicanus), magellanic cormorant (Leucocarbo magellanicus) socó-dorminhoco (Nycticorax nycticorax).

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

Abaixo as nossas fotinhos tradicionais na placa do Fin del Mundo.

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E para concluir nossa exitosa e abençoada expedição fizemos comemoramos com um brinde com um sorriso de orelha a orelha. (os sorrisos ficaram registrados apenas nas lembranças e perduram até hoje)

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

FINALIZANDO


Durante nossa navegação Camila havia distribuído exemplares da Revista Cavallino para alguns passageiros. Consegui registrar a espanhola Cristina Nistal e o guia Rodrigo folheando uma. Ficaram absolutamente encantados. 

Arquivo pessoal: Silvia Faustino Linhares

E abaixo a matéria na extinta revista Cavallino (nº 35), escrita divinamente pela Camila Maluf e ilustrada por fotos que produzi, e que deu origem a toda essa aventura que relatei minuciosamente.

Eu era fotógrafa de automobilismo na época. Dentre outras atividades, Camila era diretora da categoria de automobilismo que eu trabalhei posteriormente e também responsável pela publicação da revista Cavallino, destinada a proprietários de automóveis das marcas Ferrari e Maserati e apaixonados por automobilismo e carros de luxo. 

Hoje ela continua sendo uma querida amiga e a pessoa mais batalhadora, incrível e criativa que eu já conheci. Minha admiração por ela apenas cresceu com o passar do tempo. Só posso agradecer pela oportunidade que ela me proporcionou. Uma oportunidade ímpar que mudou a minha vida.

Arquivo pessoal: Camila Maluf

Arquivo pessoal: Camila Maluf

Arquivo pessoal: Camila Maluf

Como eu disse no início: o universo realmente conspira. Essa expedição foi o pontapé inicial para eu virar uma grande observadora de aves e alcançar um posto de destaque na atividade, inclusive o título de a número um do Brasil. 

Essas primeiras 14 espécies de aves registradas na Patagônia deram origem aos mais de dois milhares nesses doze anos de fotografia e observação de aves. Sem contar o quanto de coisa boa aconteceu por conta disso, o tanto de gente maravilhosa e de lugares incríveis que conheci.

Eu só posso desejar uma coisa: que a saudade dessa excursão cheia de mordomia se transforme em rotina nos próximos anos da minha vida. Que venham muitos amigos, muitos lugares lindos e muitos passarinhos. 

Eu não me canso de repetir: quem tem café, cerveja, amigos e passarinhos não precisa de mais nada.

E se você leu tudo ou se pulou e veio até o final, veja a seguir como foi o primeiro fotolivro que fiz. 
Meus contatos seguem abaixo.


Listas históricas das aves que fotografei e inseri no e-Bird anos depois da viagem e com a ajuda de amigos na identificação das espécies. Veja link aqui ⬅


Onde publico minhas fotos: clique -> https://linktr.ee/silviafaustinolinhares


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2 comentários:

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