terça-feira, 2 de março de 2021

RN - A bandeirinha que faltava

Agora em março completa um ano que retornei da minha primeira grande expedição atravessando o Atlântico. Passei duas semanas na África do Sul (veja como foi clicando aqui). E eu achando que 2020 seria o ano das grandes aventuras, só que não. Esse ano continua tão complicado como o ano passado, por razões que nem gosto de pensar. Estou tentando fazer tudo do jeito mais normal possível, talvez como dizem por aí, um novo normal.

RN - Do Mar ao Sertão 

Eu tinha (tinha não, tenho ainda) planos de fazer uma expedição chamada Amigos e Aves do Nordeste, começando em Salvador, subindo de carro todo o Nordeste, ir conhecendo amigos virtuais, revendo os já conhecidos, sempre passarinhando com eles. A ideia era pra acontecer em 2020, assim que descansasse da chegada da África. Surpreendida pela pandemia, fui obrigada a suspender a ideia. Já havia inclusive entrado em contato com alguns amigos para materializar esse sonho. Eu queria muito fotografar no Rio Grande do Norte, único Estado que faltava para completar as 27 bandeirinhas do meu colete de fotografia (meu objetivo sempre foi clicar pelo menos um passarinho em cada Unidade Federativa do Brasil).

Como eu disse no meu último poema no Bloguinho II: "... nem sempre as coisas acontecem como a gente gostaria..." 

Mas como sou uma pessoa de muita sorte, no final do ano passado surgiu uma oportunidade para completar a bandeirinha faltante. Em outubro o amigo Fabio Olmos disse que estava planejando e organizando uma saída pelágica em Natal/RN. Eu lembro de dizer apenas: "topo", mesmo sem conhecer os detalhes. Em novembro de 2020, o biólogo Rafael Lima (de Mossoró) criou um grupo no WhatsApp reunindo algumas pessoas que iriam participar dessa saída, só assim pude me inteirar dos detalhes.

Só ressaltando, pelágica sem o Fabio Olmos não tem graça, o cara sabe tudo de aves marinhas, além de  conhecer muito de cerveja. Ele e sua esposa Rita Souza são ótimas companhias. Aliás, Rita é quem mais avista as aves no oceano. Sabe aquele pontinho preto lá no horizonte, pois sim, é a Rita quem vê, nos mostra e ainda identifica.

Eu já havia trocado ideia com o Rafael Lima em janeiro de 2020, após indicação do amigo Thiago Zanetti de João Pessoa/PB, sobre a minha ideia de fazer a expedição Amigos e Aves do Nordeste. Ele seria meu guia no Rio Grande do Norte. Também já havia sido contatada por dois amigos no RN antes disso tudo: Marcelo MauxEugênio Oliveira, dizendo que havia um lifer meu no Seridó: o famigerado e espevitado joão-chique-chique (Synallaxis hellmayri). O Marcelo era um dos que iriam com a gente na saída pelágica.

De repente, depois de muita ideia trocada, lá estava eu arrumando malas para a expedição que começaria em mar e terminaria no sertão. Resolvi ir um pouco antes para Natal com vistas a poder embarcar descansada e minimizar possíveis enjoos e mal-estar com o balanço do barco. 

Gostaria de ter aproveitado para encontrar todos os amigos e amigas de Natal e cidades próximas, e até dos Estados vizinhos, no entanto, devido à pandemia, evitei fazer isso pra não virar uma grande festa e aglomeração. Isso tudo ficou relegado para a próxima ida quando for possível realizá-la com segurança.

No final essa viagem à Natal foi uma grande experiência e um presente que eu me dei. Gostaria de dedicar essa postagem a todos que me acompanharam e também aos amigos do Rio Grande do Norte, em especial ao Assis Barbosa (in memoriam) e Sônia Furtado, que sempre buscaram mapear as aves de cada município do Estado, o que muito me ajudou em meus estudos da ocorrência das aves por lá. Dois companheiros inseparáveis que tanto enriqueceram a avifauna potiguar. Seguem abaixo momentos de Assis e Sônia (fotos do arquivo pessoal do perfil do Assis no Facebook)

Assis Barbosa (in memoriame Sônia Furtado (arquivo pessoal de Assis Barbosa)

Bora lá conferir como foi cada dia? Essa é uma história cheia de detalhes, contada a partir de milhares de fotos e palavras, todas saídas das minhas lentes e do meu coração.

*28 de janeiro 2021 - quinta-feira*

E quando vejo já estou indo para o aeroporto de Guarulhos com todos os cuidados possíveis, usando três máscaras o tempo todo, sentada na primeira fileira. Como diz o meu amigo Marco Cruz, eu estava parecendo um "ET phone home".

Eu, mascarada no aeroporto. Meus pezinhos e o céu azul no avião

PHONE HOME - E.T. Remixed

A viagem foi muito tranquila. O amigo Marcelo Maux fez questão de me buscar no aeroporto. Destaco desde já que ele foi meu guardião praticamente o tempo todo. Espero um dia retribuir toda atenção e carinho que recebi dele e sua família. Como disse a eles: mi casa, su casa! 

Cheguei no Hotel Porto do Mar em Natal e no balcão fui recepcionada pelo senhor Jackson Tavares. Sem saber que ele era o proprietário, entabulamos uma agradável conversa sobre observação de aves e o que eu tinha vindo fazer no Estado. Foi empatia instantânea. E quando vi, eu, ele e sua esposa d. Sonia já conversávamos o tempo todo. O assunto?  ... passarinhos. O sr. Jackson providenciou o que tinha de melhor pra mim e para os meus amigos - que chegaram no dia seguinte e também se hospedaram lá, inclusive café de madrugadinha nos dias que permanecemos no hotel. 

Consegui arrumar minhas coisas no quarto e tomar um banho. Uma linda lua cheia deu uma piscadinha para mim na varanda do meu quarto e pediu uma foto, fazendo com que qualquer cansaço da viagem ficasse relegado a segundo plano. 

Depois conheci Kelly e Rafael, esposa e filho do Marcelo e partimos pro restaurante Mangai jantar a comida deliciosa que eu já conhecia de outras unidades da rede. Foi uma noite deliciosa, com muito bate papo. Falamos do ensino a crianças, uma vez que Kelly é pedagoga e diretora de pré-escola e eu já atuei com isso lá no meu comecinho de vida adulta. Todo mundo sabe que adoro falar às crianças sobre aves e meio ambiente. Além de tudo o filhinho deles, Rafael, de 5 anos, é um encanto de criança, além de muito inteligente, é bem carinhoso. Realmente um serzinho incrível.

Rafael (arquivo pessoal Marcelo Maux)

*29 de janeiro 2021 - sexta-feira*

Acordei, tomei café, circulei pelo jardim do hotel, que estava praticamente vazio, em busca de passarinhos. Tinha uns bichinhos bem comuns, mas não menos encantadores. Destaque para o beija-flor-de-garganta-azul (Chlorestes notata) nas Ixora rei (flores vermelhas), alegrando e muito o meu dia. 

As listas no e-Bird podem ser acessadas no final de cada dia relatado. Se preferir ver pelo site Wikiaves, esse é o meu perfil - clique aqui => Silvia Faustino Linhares

Aves nas dependências do hotel

Da janela do meu quarto

Uma vista de tirar o fôlego
Dei um pulinho na praia ali perto (sem lenço e sem documento e muito menos câmera 😂😂😂😂). Tomei um belo banho de água salgada, energizando, dessa forma, o meu corpo e a minha alma. Depois, quando retornei, tomei uma geladinha sozinha e comemorei o dia.

tim-tim para mim

Orientada pelos simpáticos funcionários do hotel, almocei no restaurante Tábua de Carne, bem pertinho. Comida boa, vista linda, funcionários muito atenciosos. 

Logo em seguida fui avisada pelo Fabio que ele e a Rita haviam chegado e estavam na piscina. Tomei mais uma gelada com eles e até bem-te-vi com celular eu fotografei, uma vez que deixei a câmera no quarto. 

Rita e Fabio

Bem-te-vi com celular

À noite nós três jantamos no Tábua de Carne e depois fomos preparar nossas coisas para a saída no dia seguinte.
 
Eu, Fábio e Rita

Fiz minha primeira listinha no eBird com aves do Rio Grande do Norte e me permiti colocar no colete de fotografia todas as bandeirinhas dos Estados do Brasil. Enfim, primeiro objetivo da viagem conquistado!

Um dos meus coletes


e-Bird
Acesse o link => Natal--Praia de Mãe Luiza

*30 de janeiro 2021 - sábado*

A Cláudia Brasileiro e o Rodrigo Agostinho chegaram durante a madrugada. Logo bem cedo, após um café da manhã bem leve, o Marcelo passou com o Rafael para me buscar. Os dois casais Claudia & Rodrigo, Rita & Fabio nos seguiram em outro carro até o Iate Clube do Natal (é "do" mesmo). Lá chegando juntou-se ao nosso grupo, além do capitão do barco e um tripulante, um biólogo francês, chamado François. Tomei um comprimido de Meclin para suavizar o passeio, caso o mar estivesse revolto. E estava. Havia muitas ondas altas e com breve intervalo, mesmo assim navegamos milhas mar adentro até alcançarmos a profundidade julgada ideal para nossa busca.

Embora o Rafael tenha repassado ao dono do barco todas as instruções que o Fabio dera para preparar o engodo, bem como a quantidade necessária, o pedido foi ignorado. Ele trouxe apenas um saquinho pequeno de peixes, insuficiente sequer para começar a pelágica. Tentou justificar seu fracasso em nos atender, sem sucesso. O Fabio ficou muito bravo e com razão. Com isso, não se sabe se não havia aves por perto por motivos diversos ou se a falta de engodo foi quem prejudicou nossa saída.

Saindo para alto mar

Durante a navegação apareceram duas aves voando relativamente perto e para minha sorte e felicidade, era um lifer para mim: bobo-grande ou cagarra-grande (Calonectris borealis). Fora isso ainda vimos duas fragatas ou tesourão (Fregata magnificens) e nada mais.

bobo-grande (Calonectris borealis) e fragatas ou tesourão (Fregata magnificens)

Marcelo e o Rafael, participando pela primeira vez de uma saída pelágica, passaram mal no início, mas depois de dormirem um pouco, ficaram bem e aproveitaram o resto da saída. Realmente não estava muito fácil, sem bichos pra clicar, mar revolto, sem engodo para atrair as aves ... Enfim, era o que tínhamos para o momento. 

Claudia e Rodrigo 

Marcelo clicando e se equilibrando como dava

Marcelo, eu e François, e não segura não pra ver (arquivo Claudia Brasileiro)

Voltamos frustrados, embora eu, Marcelo e Rafael tenhamos fechado o dia com lifer. Marcelo ainda fez lindas fotos dos golfinhos e peixes-voadores que passaram pela gente.

Peixes voadores (Arquivo pessoal Marcelo Maux)

Golfinho (Arquivo pessoal Marcelo Maux)

No fim do dia, nos reunimos no Restaurante Tábua de Carne, jantamos e dormimos cedo. Marcelo aproveitou a noite para providenciar um balde igual o Fabio tinha recomendado ao dono do barco.

Aguardando os comes e bebes

as bebidas - só a cerveja era minha, eu achei os drinks bonitinhos.

meu jantar "gourmet"

e-Bird

Acesse o link => Natal - saída pelágica

*31 de janeiro 2021 - domingo*

Mesmo esquema do dia anterior. Café bem cedinho, enquanto aguardava o pessoal fiz uma foto do sol nascendo nas dependências do hotel. Pouco depois, Marcelo chegou com o Rafa para irmos para o Iate Clube novamente.

Bom dia, Dia!

Seguimos para o porto com grandes expectativas. O capitão do barco enviou um substituto para pilotar o barco. Acho que ficou com receio que caíssemos de pau nele. 😂😂😂😂

Dessa vez tinha mais engodo, graças ao Marcelo, que providenciou dois baldes e uns restos de peixes. O mar continuava revolto, mas ninguém enjoou ou vomitou. 

os baldes sendo preparados

um dos baldes em ação

Mesmo assim poucas aves nos deram atenção. O mar podia estar para peixes, mas para aves não. Estavam lá as mesmas do dia anterior e de novidade alguns atobás-grande (Sula dactylatra). O show ficou por conta de duas fragatas (tesourões) mergulhando para apanhar o engodo. As fotos desse dia ficaram bem mais bonitas. Apareceu também uma gaivota-alegre (Leucophaeus atricilla), mas o balanço do barco estava tão forte, que quando eu me equilibrei pra clicar, ela já tinha sumido.

Aves em alto mar

A bela foto que o amigo Marcelo Maux
fez da gaivota-alegre (Leucophaeus atricilla)


Havia ainda muitos golfinhos e peixes-voadores para nos distrair. Eu nem tentei clicar, estava bem difícil manter-se equilibrada, mas o Marcelo, já estava até sentando na amurada do barco para clicar. Parecia que era sua 11ª pelágica e não a primeira 😂😂😂😂

Peixes voadores (Arquivo pessoal Marcelo Maux)

Golfinho (Arquivo pessoal Marcelo Maux)

A turma toda reunida, assim que retornamos do passeio. 

Ao aportar, ainda clicamos alguns bichinhos nos arredores do Iate Clube e fomos premiados com um lindo por do sol.


Um jantar de confraternização no Farol Bar, reunindo todos nós na praia Areia Preta, fechou nossa noite e nossa pelágica.

e-Bird
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Natal/RN ‐ Saída Pelágica
Natal pelagic -- fishing buoys
Natal/RN - Saída Pelágica II
Iate Clube de Natal/RN

*01 de fevereiro 2021 - segunda-feira*

Nesse dia havia planejado com Marcelo e Rafael que sairíamos cedo para Lagoa Nova, onde o amigo Eugênio nos aguardava em sua casa de campo. Uns dias antes, atendendo a pedidos da Claudinha, alteramos os planos para acompanhá-la até a praia de Pipa, uma vez que, por causa de compromissos de trabalho, Rodrigo precisaria antecipar seu retorno. Claudia não queria ir sozinha, então decidimos acompanhá-la e atrasar um pouco nossa chegada na casa de Eugênio.

Eu fui de carro com a Claudia após o café da manhã. Combinamos que o Marcelo e o Rafael nos encontrariam um pouco mais tarde. 

Eu e Claudinha

Enquanto aguardávamos, eu e Claudia fomos admirar a paisagem de cima das falésias, depois tomamos banho de mar, batemos muito papo regado a muita cervejinha gelada e petiscos deliciosos. 

Eu by Claudia Brasileiro

Claudinha "by eu"

Pipa


Os meninos chegaram, ainda ficamos mais um pouco, petiscando e tomando banho de mar. 

Claudia, eu, Marcelo e Rafael na Praia do Madeiro (foto by Claudia com meu celular)

Depois fomos a um restaurante indicado pelo Marcelo em outra praia para almoçarmos. O nome dele é Amor Restaurante e Tapiocaria e fica na Praia do Amor. Um amor de lugar ❤❤ 😂😂😂😂

E que amor de comida! Nosso almoço light!

Claudia ainda desceu as longas escadas para tomar um último banho de mar antes de retornar ao hotel. Emprestei meu guardião pra ela 😂😂😂😂, Marcelo desceu com ela a interminável escadaria até o mar. Só de olhar fiquei com preguiça e nem cogitei descer. Eu optei por um banho de chuveiro e retirada da areia e sal do corpo, porque ainda tinha muito chão até nosso destino.



O último banho de mar da Claudia. (Arquivo pessoal de Claudia Brasileiro)

Claudia seguiu de volta para o hotel e nós para Lagoa Nova. No caminho paramos algumas vezes para fotografar aves, ampliando meus pontinhos vermelhos no mapa no Estado, os quais chamo de red-ball-lifer. Rafael sabia muito sobre todas as aves no caminho, seus olhos de águia e ouvidos antenados, aliados a um bom binóculo, não deixavam escapar nada. 

Aves pelo caminho

Chegamos no finalzinho da tarde em Lagoa Nova. Fomos calorosamente recebidos pelo casal Eugênio e Dulcimar Oliveira. Um farto lanche nos aguardava. Ah! Um aparte, meus dois anfitriões são da área médica e receberam vacina para o COVID19. Não viraram jacarés, não. 😂😂😂😂 Depois de um banho, um pouco de conversa jogada fora, fomos todos dormir. 

Arquivo pessoal de Eugênio Oliveira

Arquivo pessoal de Eugênio Oliveira

A gente estava se preparando para descansar quando o amigo Eugênio nos chamou para ver a lua, que semi encoberta mostrava todo seu charme e carisma. Um brilho e desenho diferenciados de tudo que eu já tinha visto! O sertão realmente é incrível!

 
e-Bird
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Tibau do Sul/RN
Santo Antônio/RN

*02 de fevereiro 2021 - terça-feira*

Acordamos cedo e um café substancioso nos aguardava. E lá vamos nós para uma missão quase sagrada... sagrada, tensa, mas super divertida. Era uma questão de honra para o amigo Eugênio que eu fizesse um lifer em suas terras.

O Seridó (fonte: Wikipedia) é uma região interestadual localizada no sertão do Nordeste. Oriunda da antiga região da "Ribeira do Seridó", abrange vários municípios dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba. No entanto, outros municípios costumam se identificar como "Seridó" ou seridoense, o que agrega um total de 54 municípios, sendo 28 potiguares e 26 paraibanos. O Seridó potiguar apresenta a melhor qualidade de vida do interior nordestino. 

Segundo classificação do IBGE, oficialmente integram a região do Seridó Potiguar os seguintes municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Caicó, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas. No entanto, social e historicamente, são ainda integrados ao Seridó os municípios de Bodó, Cerro Corá, Florânia, Jucurutu, Lagoa Nova, Santana do Matos, São Vicente e Tenente Laurentino Cruz. 

Integram o Seridó Paraibano os municípios de Baraúna, Cubati, Frei Martinho, Juazeirinho, Junco do Seridó, Nova Palmeira, Pedra Lavrada, Picuí, Salgadinho, Santa Luzia, São José do Sabugi, São Mamede, Seridó, Tenório e Várzea.



Etimologia: Há divergências quanto à origem do topônimo Seridó. Segundo o folclorista e historiador Luís da Câmara Cascudo, vem do linguajar dos tapuias transcrito como "ceri-toh" e que quer dizer "pouca folhagem e pouca sombra", em referência as características da região. No entanto, existe o fato de que os colonizadores eram cristãos-novos, descendentes de judeus, os termos "sarid" e "serid", seriam oriundos do hebraico, que significaria "sobrevivente" ou "o que escapou".

Uma musiquinha em homenagem a essa linda terra

Seridó Caicó Currais Novos - Grupo Labareda de Forró

 

Voltemos à nossa missão. Logo depois do café, lá fomos eu, Eugênio, Marcelo e Rafael atrás do meu lifer: para quem não é do meio, deixa mais uma vez eu explicar o que significa lifer - é a espécie de ave que o observador vê pela primeira vez, ou seja, o novo pássaro, ou New Bird, como se diz no exterior. No Brasil, por enquanto (até que saia a nova lista do CBRO - Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos) temos 1.919 espécies de aves listadas e que podem ocorrer em nosso território. Dessas até chegar no RN, eu tinha 1.609. Depois de fazer uma em alto mar, partimos pra busca de registrar a 1.611ª em terras potiguares, melhor dizendo, em terras seridoenses.


Lá vamos nós atrás do joão-chique-chique

Nosso alvo principal era o joão-chique-chique (Synallaxis hellmayri). A etimologia do nome científico desse belo pássaro de acordo com o Wikiaves é o seguinte: synallaxis vem do (grego) synallasis, que era uma das ninfas Ionides; e hellmayri é uma homenagem ao ornitólogo austríaco Carl Eduard Hellmayr.

Na mitologia grega, Synallaxis era uma das irmandades de ninfas das águas que habitavam Kytherus, um rio, da região de Elis no oeste da península do Peloponeso. Os nomes individuais das ninfas Ionides eram: Calliphaea, Synallasis (ou Synallaxis), Pegaea e Iasis). Meu amigo Victor Castanho disse que tem tudo a ver, porque na mitologia as ninfas fogem de todos e nunca se deixam ser avistadas por humanos!

Olha só, para mim o significado de Synallaxis é um pouco diferente: para mim é um espevitado, que não para quieto, tem pacto com o inferno, afronta a paciência de qualquer um e nem sempre permite uma boa foto, por vezes, só um borro-lifer, ou sequer isso. 😂😂😂😂 É assim que eu vejo um Synallaxis quando eu vou fotografar, um verdadeiro diabinho. 👇

joão-chique-chique (Synallaxis hellmayri)

Editando para acrescer a homenagem em forma de ilustração ao joão-chique-chique, feita por um amigo e jovem passarinheiro de 13 anos, o Bryan Ballack, de Bom Jesus do Galho/MG.




E para ajudar, fotografar na Caatinga não é nada fácil. Embora eu adore esse bioma incrível, sua composição não facilita a vida dos fotógrafos. É complicado tanto quanto fotografar na densa mata atlântica ou amazônica.

Uma aulinha agora. O principal ecossistema da região é a Caatinga do Seridó, vegetação de transição entre o campo e Caatinga Arbórea, com árvores de porte médio e baixo, e abundância de cactos e manchas desnudas. Ainda está presente na região a Floresta Subcaducifólia (tipo de vegetação caracterizado pela dupla estacionalidade climática: uma tropical e uma subtropical, alternando entre épocas de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas e períodos de seca invernal). 

Caatinga vem do tupi: ka'a [mata] + tinga [branca] = mata branca, é o único bioma exclusivamente brasileiro. Este nome decorre da paisagem esbranquiçada apresentada pela vegetação durante o período seco: a maioria das plantas perde as folhas e os troncos tornam-se esbranquiçados e secos.
 
Eu e a Caatinga

galhinhos e mais galhinhos!

E vou te contar, bote galho seco e esbranquiçado aí. Nem os irmãos Daniel e Gabriel Mello ou Thiago Toledo devem conseguir tirar esse tanto de galhinhos que permeiam as fotos feitas nesse ambiente. E isso quando você consegue focar entre os milhares de galhinhos que surgem na frente da ave. 

Mas para meu gosto, é aí que reside a beleza da foto, retratar a ave mostrando o ambiente que ela vive. Raramente eles saem no limpo, e quando isso acontece, digo que foi sorte e muita perseverança. Quando se mora no local e se pode sair sempre para procurar a mesma ave, a oportunidade da foto perfeita acaba surgindo. O que não foi o meu caso, embora minha anfitriã tenha me pedido para mudar a passagem e ficar uns 3 meses (juro que não faltou vontade), eu tinha apenas 3 dias para tentar e muita coisa pra conhecer. Mas veja só como sou uma pessoa de sorte.

A saga para registrar o joão-chique-chique começou com o toque do play-back, preciso e moderado, orquestrado pelo Rafael na beira da estrada. É praticamente impossível adentrar a caatinga. Em poucos minutos o bicho respondeu. Em seguida começa a dança dos galhinhos. 

Ele chegou e permaneceu pulando de um lado pra outro, sempre protegido por milhares de galhinhos. Eu cheguei a uma conclusão: os galhos, folhas e cipós é que atravessam a frente do passarinho - são todos uns exibidos e querem aparecer na foto. Simples assim. O "joão" permaneceu se movimentando entre a altura dos olhos e chão. Às vezes atravessava para o outro lado da estrada feito um raio, ou embrenhava no fundo da mata. 

Veja um pouco das tentativas que fui fazendo. 

Um pouco mais e consigo ... será... sai galhinho, sai galhinho 😂😂😂😂

E o amigo Eugênio só registrando a saga (foto by Eugênio Oliveira)

Depois de ter conseguido um registro razoável, passamos a procurar outros bichinhos que saltitavam no local. Eis que o danadinho do joão, sobe um pouco e, curioso se põe no limpo, quase na altura do olho. Não deu tempo nem de pensar, foi só focar e clicar. Pronto, lá estava eu e meus amigos comemorando com um sorriso no rosto e muita vontade de sair pulando e abraçando. Devido à pandemia foi só toquinho de mão mesmo. Ainda fizemos alguns bichinhos pelo caminho, mas o tem-farinha-aí (Myrmorchilus strigilatus), que eu queria muito ver de novo, nem sombra. 

A foto dele que mais gostei - meu lifer nº 1.611 no Wikiaves (nº baseado na atual lista do CBRO)

Olha só a carinha de felicidade do meu anfitrião
(arquivo pessoal Eugênio Oliveira)

Felicidade pouca era bobagem (arquivo pessoal Silvia Linhares)

Já no caminho de volta para o almoço, uma paradinha pra registrar flores pelo caminho. 


De repente eu vi um anu-branco (Guira-guira), lindamente pousado. Pedi para pararmos e logo o Rafael, com sua percepção super aguçada viu que ao lado, numa matinha, estava rolando uma aglomeração de passarinhos. Aí nos juntamos e entramos para a festa também. Sabe aquele drama de se servir num self-service, que tem dezenas de comidas gostosas à disposição? Tipo isso! Era muito passarinho junto. Juro que não sabia qual eu clicava primeiro.


Pensa só... qual desses ia querer clicar primeiro? Maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus), papa-moscas-do-sertão (Stigmatura napensis), periquito-da-caatinga (Eupsittula cactorum), pica-pau-anão-da-caatinga (Picumnus limae), choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus), choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus), balança-rabo-de-chapéu-preto (Polioptila plumbea atricapilla), alegrinho (Serpophaga subcristata), sebinho-de-olho-de-ouro (Hemitriccus margaritaceiventer wuchereri), vite-vite-de-olho-cinza (Hylophilus amaurocephalus)tico-tico-rei-cinza (Coryphospingus pileatus) e outros que você pode ver no link das listas no final do relato desse dia.

festa de passarinhos ...

Voltamos para casa quando o calor começou a apertar. O mais legal quando a gente retorna é ver o Zeus, o "filho canino" dos nossos anfitriões. Ele nos recepciona com latidos na varanda e só para quando "seu pai" entrega o chapéu passarinheiro pra ele, que ele leva carinhosamente pra dentro e deposita sobre o sofá. Absurdo! 😂😂😂😂

Zeus

Zeus

A querida Dulcimar nos aguardava com petiscos e cerveja geladinha para espantar o calor e comemorar. Afinal ninguém é de ferro, principalmente depois que passa dos 25 (anos e não graus). 😂😂😂

 
Eu by eu (self-timer)

Rafa, Marcelo, Eu, Dulcimar e Zeus (arquivo pessoal Eugênio Oliveira)

Mas quem disse que passarinheiro para. Quando vejo lá vou eu clicar as centenas de flores (e até frutinhas no quintal) e bichinhos que visitam os bebedouros, comedouros e plantas do jardim do Eugênio e Dulcimar. Destaque para a fêmea do besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) visitando os cactus coroas-de-frade (Melocactus bahiensis).

As flores do jardim

besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) 

Fotos que fiz no quintal dos meus anfitriões

Após um almoço farto, muito bate-papo e um breve descanso, saímos para fotografar aves de novo. Outra festa, apesar do calor.

Final do dia, um belo lanche e muita prosa jogada fora. Eu falo pouco né? Mas o Rafael fala mais do que eu, só que em pensamento, porque quase não se ouve a voz dele. 😂😂😂😂

Nessa noite Dulcimar perguntou se eu topava participar de uma entrevista na rede de TV e internet local para falar sobre observação de aves no dia seguinte. Eu disse o que sempre digo quando recebo um convite bacana: topo!

e-Bird
*03 de fevereiro 2021 - quarta-feira*

Logo cedo eu saí pelo quintal procurando flores e passarinhos pra clicar. Aproveitei para registrar a casa e algumas plantas. Eram 6 e pouco e o tempo estava encoberto, mas chuva que é bom, nada!. 

Um pouco do jardim

A suíte no fundo do quintal. É minha! Eu vi primeiro! 😂😂😂😂 (brincadeirinha)

O comedouro ainda vazio. Ah! Passarinhos preguiçosos! 

 A casa bem no centro, com sua imensa varanda. 

Depois do café altamente engordativo e alegre, saímos pra ver passarinhos pela área rural de Lagoa Nova. Conseguimos lindas fotos da caburé (Glaucidium brasilianum), uma fofa, embora os demais passarinhos não "pensem" assim. Dois corrupiões (Icterus jamacaii) e outras lindas aves coloriram nosso dia. A estrela do dia foi o difícil garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris). Acabou saindo no limpo por alguns milésimos de segundo para eu registrá-lo.


Marcelo, sentado no banquinho esperando algum passarinho

Eu me encantei mesmo foi com uma libélula dourada (Erythrodiplax famula) - Reddish Dragonlet, que ficou fazendo pose para a minhas lentes. Parecia uma jóia lapidada com esmero. 

Eu queria muito fazer uma ave num cactos e sabe quem se ofereceu? Um lindo sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris). Também descobri pedras lindas entre as flores. (pedra é outra de minhas paixões).
 
uma linda libélula

o sabiá no cactus

flor delicadíssima x cristal bruto

Ao voltar para casa, fiz uma foto de quadro do filho da Céu (Maria do Céu, auxiliar da minha anfitriã). Disse-me ela que ele não costuma sorrir. Mas eu pedi um sorriso e ele me atendeu. Cliquei outro carro de boi, porque essa cena é raríssima de se ver aqui no sul e eu a acho muito significativa. Ela conta um pouco de como é o modo de vida do sertanejo.


Brincando com os filtros do Photoshop


E eis que as corujinhas-buraqueira (Athene cunicularia) do quintal do amigo Eugênio estavam esperando a gente, tentei foto de longe e quis me aproximar, mas elas são tímidas e se esconderam no buraco tão logo perceberam minhas intenções. 

corujas-buraqueira (Athene cunicularia)
 
Após o almoço seguimos para Currais Novos, para participarmos da entrevista. Não tinha ideia do como seria, mas acompanhada dos "meus guardiões", eu me senti tranquila.

Arquivo pessoal do amigo Eugênio Oliveira

A gente se preparando para ir até Currais Novos
Arquivo pessoal da amiga Dulcimar Oliveira

Em seguida nos dirigimos ao prédio da Sidy"s TV e Internet. A Sidy’s foi a primeira operadora de TV e internet a cabo do Norte-Nordeste do Brasil. Idealizada há 28 anos pelo empresário Siderley Menezes, in memorian, a Sidy’s nasceu em Currais Novos e vem crescendo muito. Administrada pelos irmãos Siderley, Zoraya e Zayama, além da matriarca da família Silvia Jatobá, a Sidy’s é uma referência no Rio Grande do Norte em comunicação regionalizada. A imagem do Sr. Siderley Menezes (in memoriam) abaixo diz tudo para mim (extraída do arquivo pessoal da filha no Facebook)

Sr. Siderley Menezes (in memoriam)
(extraída do arquivo pessoal da filha no Facebook)

Fui recebida pela simpática Zayama de Menezes, que disse que naquele dia seu pai estaria aniversariando se fosse vivo. Ficamos todos emocionados. Em seguida, fomos conduzidos à sala onde seria feita a transmissão ao vivo. 



Eu estava do jeito que tinha chegado do mato pela manhã e super zen por ter visto tantas belezas que a natureza oferece. O simpático jornalista Ismael Medeiros foi quem fez a entrevista comigo e com Doutor Eugênio, como é chamado por lá. Foi muito descontraída e bem conduzida pelo Ismael. Em decorrência dela ganhei muitos seguidores no Instagram e pedidos de amizade no Facebook. Você pode conferir a seguir. (vídeo recebido da Sidy's TV e autorizado a postar no meu Canal no YouTube)

ENTREVISTA COM SILVIA LINHARES - SIDY'S TV INTERNET

Making of registrado por Marcelo Maux

Making of registrado por Marcelo Maux

Making of registrado por Marcelo Maux

Dr. Eugênio, eu e Ismael
Making of por Marcelo Maux

Como eu tinha reclamado dos meus joelhos, o amigo Eugênio me levou até a clínica de propriedade dele e do seu filho Dr. Eugênio Filho, eleito Fisioterapeuta Destaque de 2020. Ele é o cara cuja filosofia é muito show: "Ajudo pessoas a viverem sem dor". O Dr. Eugênio Filho examinou meus joelhos, coluna, braços, equilíbrio, etc e me deu preciosíssimos conselhos pra viver sem dor. Enquanto isso Dr. Eugênio Pai fazia o making of do minucioso exame.
 
Recebendo os conselhos após o exame


À tarde, um pouco cansada de toda a agitação do dia, nós seguimos até Cerro Corá, uma cidade próxima, onde nos encontramos com o passarinheiro Alexandre Modesto. Ele nos levou em um local bem bacana para poder fotografar papagaios e outras aves. 

Foi bem gostoso poder conhecer esse local e fazer  novos amigos. Amizade é o ponto mais alto das minhas saídas em campo.

Fui recebida por um representante dos caprinos muito sorridente (😂😂😂😂 invenção minha). 


Eu, Marcelo, Rafael, Alexandre e Eugênio 

Os papagaios que fomos ver não deram muita chance de fotos boas. Passaram sem boa luz, muito alto e muito longe. O acesso ao dormitório deles era muito difícil e devido ao horário deixamos para uma próxima oportunidade. O mais legal é poder constatar que eles continuam firme e fortes, apesar de sofrerem perseguição e crueldade por parte dos seres "des"-humanos. 

Ainda ficamos um tempo nos divertindo com as aves ao redor. E como brinde recebi um por-do-sol de tirar o fôlego.

Aves de Cerro Corá
 
Fechando o dia

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Lagoa Nova - área rural
Cerro Corá - RN

*04 de fevereiro 2021 - quinta-feira*

Nesse dia nós começamos cedo como sempre. Paramos um pouco na área rural mais ou menos perto da Serra de Santana em Lagoa Nova. Depois seguimos para Currais Novos encontrar com o amigo Tiago Elis, que eu já conhecia virtualmente no grupo de WhatsApp que o Eugênio havia criado para a gente conversar sobre os detalhes da viagem.

Paramos para clicar a Pedra do Sapato (não confundir com pedra no sapato 😂😂😂😂). Conforme o ângulo consegue se ver um sapato. Esculpida pela natureza, localiza-se à margem da estrada que liga Lagoa Nova à Currais Novos. O local é chamado de Malhada da Areia. É muito interessante olhar o equilíbrio perfeito da pedra que serve de suporte ao "sapato". Incrível.


Pedra do Sapato

Em seguida fomos para um lugar chamado Trangola, próximo a Totoró. Ao fazer anotações no celular, costumo fazer ditado para a inteligência artificial que transcreve em seguida. Ela não conseguia escrever Totoró nem Trangola, ficando assim (rindo até 2030), olha só: "lugar chamado tô toró, não, é trolla toy toy, você não entendeu né, totororo e patrola" 😂😂😂😂


Tiago, Rafa, Marcelo, Eugênio e eu

Antes de chegar em Trangola registramos bichos bem interessantes como um bando de casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata), um ninho de fim-fim (Euphonia chlorotica) começando a ser construído e alguns chupins-azeviche (Molothrus rufoaxillaris). Em Trangola o show ficou por conta do lugar que é muito bonito, do bacurauzinho-da-caatinga (Nyctidromus hirundinaceus) e de um Gibão-de-couro (Hirundinea ferrugínea). Não demos muita sorte com as aves. Estava muito quente e os bichos estavam com preguiça de aparecer para a foto. Ou ficavam muito no alto ou bem escondidos.

eu e os meninos

Eugênio fazendo foto de todos nós

As aves de Trangola

 foto do arquivo pessoal de Eugênio Oliveira

Partimos para o Açude do Totoró que é magnífico. Na entrada do Geoparque do Seridó, no Pico do Totoró, há um guia de aves em forma de placa, resultado do trabalho dos apaixonados por aves e pela Caatinga, entre eles os amigos Eugênio e Tiago. 

by Eugênio Oliveira

by Eugênio Oliveira

by Marcelo Maux

No açude havia centenas de aves aquáticas, embora estivessem distantes para fazer fotão, era muito prazeroso assistir o movimento do bando misto ali no local. Desde frangos-d'água-comum, pernilongos-de-costas-negras, ananaís, jaçanãs, irerês, carão, garças, quero-queros, etc. Nas árvores ao redor, havia bandos de tiês-caburé vocalizando, uma lavadeira-de-cara-branca se alimentando, mas o destaque mesmo foi a recepção feita por duas corujas-buraqueiras um pouco antes.


 
Marcelo, Rafa e eu by Eugênio Oliveira

Pedra do Caju


Aproveitei para fazer algumas fotos com um pouco mais de poesia. 

Eu e Eugênio fazendo fotos ao redor (by Marcelo Maux)

A casa sem janelas... (começo e fim ... e muitos enfins...)

moradores locais pescando

O mais bacana lá é que havia muitos barquinhos amarrados formando composições lindas e eu lembrei da amiga potiguar seridoense Leila Florêncio cujas fotos de embarcações em geral sempre me fascinaram. Conversando com ela descobri que ela trabalhou a vida inteira com o amigo Eugênio, e que ele também é um amigo do coração dela. Fica aqui a minha homenagem para a amiga Leila. Na próxima vez que eu for vamos fazer uma festa, sair clicar muitas aves e barquinhos. Já avisa Sérgio.

Com saturação de cores no Lightroom

Com saturação de cores no Lightroom. 

No final da tarde voltamos à casa do amigo Eugênio, onde eu tinha a sensação de estar há centenas de dias. No quintal da casa havia muitas aves e dava para fazer fotos muito lindas. 

Tomei banho e saí na varanda e de repente lá estava o Marcelo frente aos cactos coroa-de-frade com a fêmea de besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) vindo se alimentar nas florzinhas cor-de-rosa. 

Não tive dúvida, puxei outro banquinho e sentei ali também, acompanhando o ir e vir da princesinha alada, o que me rendeu fotos maravilhosas. 





Eu e Marcelo - foto arquivo pessoal de Eugênio Oliveira

Depois andei pelo quintal todo. Fiz fotos de quadro do azulão (Cyanoloxia brissonii), cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) e golinho (Sporophila albogularis), entre outros. Acho que foram as fotos mais bonitas da viagem.

 azulão (Cyanoloxia brissonii)

cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana)

golinho (Sporophila albogularis)


Eu tinha visto o lindo piu-piu ou tem-farinha-aí (Myrmorchilus strigilatus) apenas em Poço Redondo/SE. E no Seridó tem é muito dele. Canta o tempo todo. Mas pensa num sujeitinho difícil. O mais engraçado que quando você cisma de fazer fotão do bicho, ele não facilita. 

Já no último dia em Lagoa Nova, sem conseguir uma fotinha dele nem pra remédio, eis que estou próxima a um dos comedouros e ele me aparece assim, do nada, a menos de 2 metros de distância, do lado de fora da cerca. Óbvio que conseguir foto sem galhinhos na frente naquele ambiente era pedir demais. 

Lembro que eu levantei devagar do banquinho e tentei me posicionar melhor para esperar uma mágica, só que ele, quando me viu, não quis saber de conversa. Se mandou. Tentamos play-back depois, mas nada. Ficou para quando eu voltar. Essa foi a única foto dele que fiz. Era para ser foto de quadro, se não fossem os galhinhos.  😂😂😂😂 ah! Os galhinhos ....


O dia finalizou colocando cores no horizonte de tirar o fôlego, de tons de azul primeiro e depois tons dourados, divinamente orquestrados. Merecia uma linda comemoração.



Comemorando o dia, as aves e a nossa amizade  (Fotos by Dulcimar Oliveira)

Já cansada e com sono, após muita conversa e comilança, fui organizar a mala para poder voltar no dia seguinte para Natal, onde embarcaria no amanhecer do dia 06 para casa.

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*05 de fevereiro 2021 - sexta-feira*

Dia de levantar, tomar café e chorar. Porque despedidas sempre são dolorosas e me fazem chorar. Não que eu não adore voltar pra casa, mas saber que vou ficar longe das pessoas que conquistaram meu coração é sempre um momento muito delicado para mim. Até Zeus ficou tristinho com minha partida. Ficou na varanda vigiando minhas malas com carinha de "cachorrinho sem dono", na tentativa de me convencer a ficar. 😍😍😍😍


Mas isso não foi nada diante do que veio depois. Ganhei raiva da minha anfitriã. 😃😃😃😃 Espera, eu explico melhor: ela me deu, entre outras guloseimas, pacotinhos de deliciosos biscoitinhos pra levar na viagem, chamados Raiva. Esse é o tipo de raiva que quero ter na vida. 😃😃😃😃 


E para completar, Dulcimar me chamou e entregou um livro intitulado Seridó - Paisagens de um Sertão Encantado. Mas não foi só isso. Dentro do livro havia uma dedicatória. Mas não era uma dedicatória qualquer. Ela criou um Acróstico com meu nome (abaixo transcrito). As lágrimas que já vinham ensaiando para sair dos olhos, não se contiveram e desceram face abaixo feito cachoeira. Foi esse o ápice da nossa despedida.

O livro, o acróstico e eu e a amiga Dulcimar

Acróstico de autoria de Dulcimar Oliveira.
 
S ol a brilhar
I magens de vários
L uares a nascer
V ida intensa
I ndo e vindo por aí
A manhecerá

L eve e Solta
I ntensa por amor
N ada de fases obscuras
H oje é dia
A gora é só viver
R eal ou imaginário
E spreitando aquele flagra
S erenamente no Sertão do Seridó!

Após a despedida, eu, Marcelo e Rafael partimos. Eu com o coração partido. Sei que um determinado amigo meu ao ler isso vai comentar: A Silvia é assim mesmo, é a rainha do drama. Ele só não faz ideia de como as coisas são intensas dentro desse coraçãozinho aqui, e o que escrevo ou falo não é nem metade do que sinto.

Fomos passarinhando pelo caminho. Em Currais Novos, paramos no Riacho Fechado e vimos muitos bichos legais. Destaque para o frango-d'água-carijó (Porphyriops melanops) e corucão (Podager nacunda). Seguimos caminho para deixar o Rafael em Mossoró. Cada cidade que eu passava eu queria marcar um pontinho vermelho, ou seja, registrar uma ave. Com isso fizemos dezenas de paradas. Mesmo assim, foi muito tranquila nossa volta. 



No caminho de volta, Marcelo encostou o carro e disse: Olha lá um beija-flor. Olhei, olhei, procurei e de repente, tomei um susto, era  Beija-flor gigante, só que de uma espécie que não vale pra listinha nem para postar no Wikives, mas valeu para o OBrA. 😂😂😂😂


Foram 20 municípios onde registrei pelo menos uma ave. Usei o GPS da câmera para facilitar o mapeamento e postar. Abaixo o resultado extraído do site Wikiaves de todas as cidades que passarinhei no RN. 


De acordo com as minhas 33 listas no eBird, abertas em campo, eu consegui registrar 97 espécies no Rio Grande do Norte.


Continuando nosso caminho, chegamos em Natal e fomos direto para a casa do Marcelo, onde a Kelly e o Rafael nos esperavam para um lanchinho. Depois de ver o Rafael brincar com o Elvis tentando montar um quebra-cabeça, eu ainda consegui descansar um pouquinho antes de ir para o aeroporto.
 
Elvis e Rafael


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8:38 AM - Currais Novos--Riacho Fechado
10:11 AM - Florania/RN
10:34 AM - Jucurutu/RN
11:02 AM - Triunfo Potiguar/RN
11:26 AM - Campo Grande/RN // Augusto Severo - RN
12:02 PM - Upanema/RN
1:54 PM - Mossoró/RN
2:33 PM - Açu - RN
2:40 PM - Itajá - RN
3:36 PM - Fernando Pedroza, RN
3:39 PM - Angicos - RN
4:12 PM - Caiçara do Rio do Vento/RN
4:20 PM - Riachuelo/RN
5:01 PM - Santa Maria/RN
5:34 PM - Macaíba/RN

As listas no e-Bird podem ser acessadas no final de cada dia relatado. Se preferir ver pelo site Wikiaves, esse é o meu perfil - clique aqui => Silvia Faustino Linhares

*06 de fevereiro 2021 - sábado*

Fiquei aguardando o embarque e na minha opinião, a Infraero deveria determinar às companhias, pelo menos durante a pandemia, o despacho gratuito de um bagagem, ou então a própria Gol fazer isso, porque o embarque do jeito que é hoje causa tumulto na hora de entrar no avião. As pessoas ficam desesperadas para embarcar logo porque querem, a todo custo, achar um lugar para a mala, com vistas a que ela fique perto de onde irão se sentar, e com isso desrespeitam a necessária distância de segurança na hora do embarque.

O voo foi tranquilo. Cheguei sem atrasos em Guarulhos. Segui direto para a Paulicéia Desvairada. Como sempre o corpo chegou bem e partiu para o primeiro café, no entanto, a alma ficou fazendo pirracinha no Sertão Nordestino e demorou-se a voltar para animar o corpo 😂😂😂😂

Enfim, foi mais que uma viagem, foi uma terapia, um tratamento super eficaz pra lidar com o estresse decorrente dessa monstruosa pandemia. Obrigada meus amigos queridos por tornarem essa expedição um bálsamo para amenizar a solidão que essa pandemia provoca.

Antes de fechar queria dizer que pessoas como vocês são a fonte de inspiração para eu gostar do que faço. Ter me tornado uma fotógrafa de aves é muito mais que um hobby. É uma forma de ser feliz e de suportar as agruras que às vezes a vida nos envia. 

Meu super obrigada a quem leu até aqui. 

Eu repito: quem tem amigos, café, cerveja e passarinhos pelo caminho, tem tudo na vida.

Até a próxima. 

22 comentários:

  1. Respostas
    1. kkkkkk Obrigada... gosto muito de escrever. Cada texto é a repetição da viagem. E o melhor é que viajo duas vezes.

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  2. Uau! Que viagem massa e que trabalhao da esses blogs meu Deus!!! Eheheehe. Parabens!!!bj

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  3. Parabéns, lindas fotos, que expedição maravilhosa!

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  4. Que Legal Silvia! Sempre batendo recordes pessoais... seu Blog é sensacional!

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  5. Não sei como você consegue passarinhar e ainda coletar tantos dados e fotos da viagem. O relato é tão gostoso que a gente nem sente que o texto é tão longo. Parabéns!

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  6. Eita nóis, é sempre uma viagem ler suas narrativas, nos coloca dentro da sua experiência, como sempre um show, DEMAIS Silvinha, parabéns novamente

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    1. Super obrigada, meu querido amigo. Fico demais feliz com sua opinião. E que passe logo esse mau momento do mundo para que a gente possa passarinhar mais.

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  7. Excelente trabalho! Belíssimas fotos! Parabéns guerreira!

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  8. Quantas aventuras... Parabéns pela expedição e pela conquista da tão esperada bandeira RN.

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  9. Silvia Linhares parabéns ,foi um prazer enorme te conhecer, saber um pouco da sua historia e dedicação a este mundo da observação das aves , sua trajetória é muito admirável... Esperando agora o dia de vc lançar seu livro :) ...Parabéns mais uma vez, sucesso pra vc

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    1. Eu digo o mesmo. Fico muito feliz com seu comentário. Obrigada não só por isso, mas por tudo. Grande abraço, Alexandre.

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  10. Uauu!! SENSACIONAL!! Que maravilhosa história vivida, Silvia.

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