quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

MS - Passarinhando pelos terras sul-mato-grossenses

Espero que esse post transmita toda a "mágica" que eu senti durante a realização dessa viagem. Ao tentar colocar meus pensamentos e sentimentos em palavras aqui é como se eu estivesse viajando de novo. Então, venha junto, viaje comigo!!

Dando continuidade à recente mega expedição que fiz ao Mato Grosso DO SUL, cuja primeira parte literalmente terminou em pizza - rs rs rs  (leia mais pelo link -> MS -Serra do Amolar e a I Expedição a bordo do Lord do Pantanal), vou fazer alguns esclarecimentos iniciais antes de contar como foi a viagem propriamente dita. Ah! Leia até o final, tem poema e homenagem! Larga de preguiça, vai ... rs rs rs

A beleza escandalosa das araras vermelhas no Buraco das Araras


Eu sou nascida no extremo oeste paulista, em Presidente Prudente/SP, a quase 600 km da capital, onde resido atualmente. Em vista de sua proximidade com o Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, (100 km mais ou menos), cresci com mais afinidades sul-mato-grossenses do que paulistas. Por exemplo: apreciar tereré, bebida típica feita com a infusão da erva-mate (Ilex paraguariensis) em água fria ou gelada foi um dos costumes que adquiri e que infelizmente hoje deixei de lado. No entanto, ainda guardo, com carinho, a minha bombinha e, junto dela, imensas saudades das "rodinhas" de amigos nos finais de tarde escandalosamente quentes da minha cidade. (consumidores de tereré entenderão).


Às vezes meu cérebro me trai e eu me refiro ao Mato Grosso do Sul simplesmente como Mato Grosso, pois quando criança eu conheci um único Mato Grosso. Hoje dou umas engasgadas na hora de falar: Mato Grosso DO SUL (mil perdões, sul-mato-grossenses). O surgimento da ideia de desmembrar ambos iniciou-se nas primeiras décadas do século XX, porém somente em out/1977, concretizou-se.

O Mato Grosso do Sul está localizado no sul da região Centro-Oeste do Brasil e tem como limites Goiás ao nordeste, Minas Gerais ao leste, Mato Grosso ao norte, Paraná ao sul, São Paulo ao sudeste, Paraguai ao oeste e sul e a Bolívia ao noroeste. Do lado sul-mato-grossense fica o município de Bataguassu, de onde continua a BR-267, e do lado paulista, fica Presidente Epitácio, onde acaba a rodovia Raposo Tavares - SP-270.  Um dos meus passeios preferidos quando criança era ir até a divisa dos dois Estados passear pelo "Figueiral" (Balneário ou Parque Figueiral), localizado no entorno da ponte que divide SP e MS.

Depois de me tornar "passarinheira" estive uma vez no MS (2012) a convite (quase uma intimação) do amigo Tony Moura, pecuarista e empresário, que eu conhecia dos autódromos e pistas de corridas. Você pode ler como foi essa maravilhosa viagem por meio do link -> Um santuário chamado Pantanal.

Fazia tempo que eu vinha ensaiando uma nova ida ao MS para tentar algumas aves raras e lifers (aves que nunca avistei). O convite para conhecer a Serra do Amolar foi o impulso que faltava. Eu precisava encaixar a segunda parte que se daria em terra. Atendendo meu pedido, um bem planejado roteiro foi enviado pelo guia naturalista Victor do Nascimento para minha apreciação.

Vitinho, como é mais conhecido, é nascido e criado no Pantanal, mora na Serra da Bodoquena, em Bonito. Conta com mais de 20 anos de experiência guiando observadores de vida selvagem. Especializou-se se em observação/fotografia de aves. Eu acrescento a esse currículo do Vitinho a palavra GRANDE AMIGO, pois ao final dessa expedição, ele e sua esposa Daiani Scapini tornaram-se dois queridos do meu coração. O site do Vitinho pode ser apreciado clicando neste link 

Quando contatei o Vitinho estava difícil compatibilizar nossas agendas. Qualquer roteiro possível teria que ser intercalado com o Avistar Campo Grande. Não tinha como fazermos tudo antes do Amolar nem após. Uma equação que a super Daiani resolveu e que resultou num roteiro hiper bem bolado.

Vitinho sabia que o desafio de me guiar era grande e confessou que no início estava bastante apreensivo. Dos 17 lifers espalhados pelo Estado inteiro, apenas sete eram prováveis, pois a maioria era ave migrante ou ocasional ou não era época adequada. Dessa "enorme" lista, subtraia-se dois, que foram clicados na Serra do Amolar. A gente acabou focando em algumas subespécies e em fazer fotos mais bonitas dos bichos que cruzaram o nosso caminho (melhoraifers).

Poderia ter focado mais nas subespécies*, lembrando que não fiz o "dever de casa" corretamente, como preleciona o amigo Fabio Olmos. Não estudei as subespécies (que começarei a chamar de "sub-lifer") ou futuras espécies (que doravante chamarei de "future-lifer"), verdade, mas não me sinto culpada por isso, afinal quase nunca esses estudos ou informações são disponibilizadas para mortais observadores, ficando restritos aos meios acadêmicos e aos "deuses do Olimpo".

Sou obrigada a concordar com o meu mestre Guto Carvalho, esse tipo de informação precisa ser disponibilizado de maneira fácil e acessível a todos, algo como um "mercado futuro de espécies”, onde pesquisadores e observadores trocariam informações sobre futuros splits**, facilitando os registros e documentação das espécies objeto de estudos. Isso sim ajudaria e muito a ciência cidadã se desenvolver e, dessa forma, tornaria a cooperação mais justa, já que muitas fotos dos fotógrafos de aves são cedidas para os cientistas ilustrarem e enriquecerem seus trabalhos.

*Subespécie: nível intermediário de diferenciação evolutiva entre duas populações com ancestrais comuns. Ou seja, essas duas populações são oriundas de uma só que se espalhou por um território e, em um determinado momento, veio a ficar isolada reprodutivamente por alguma barreira geográfica ou ecológica, e assim, essas populações separadas passam a trilhar caminhos evolutivos diferentes, podendo se diferenciar morfologicamente, ecologicamente ou comportamentalmente.

**Splits: trabalhos que propõe a separação de subespécies ou populações antes consideradas como sendo um único táxon em duas ou mais espécies válidas, tem usado as diferenças na vocalização, além dos caracteres morfológicos e sequenciamento genético como argumentos determinantes à separação das espécies, os famosos "splits".
(by Ricardo Gagliardi - Wikiaves)

Mas chega de blá-blá-blá e "bora" contar, a seguir, como foi cada dia.

20/11/2018 - terça-feira

Eu e Vitinho tomamos café e seguimos até a locadora, onde a simpática atendente Regina fez todo o processo de entrega do veículo. Carro novinho, um Duster quase igual ao meu, exceto pela cor e ausência de computador de bordo. Eu e Regina batemos muito papo. Ela já trabalhara com o amigo e passarinheiro Marco Antônio Lemos e ficou muito feliz em me conhecer. Malas no jeito, despedidas, seguimos caminho pra Miranda onde começaria minha nova aventura.
 
Regina e eu

Vitinho e eu... partiu Miranda!!!!!

No caminho fizemos várias paradas para fazer red-ball-lifers (ou seja, acrescentei novos municípios (bolinhas vermelhas) ao meu mapinha no site Wikiaves).


Em Terenos fomos em busca de uma raridade: o caboclinho-do-sertão (Sporophila nigrorufa). Havia bandinhos de "sporophilas". Vimos muito de longe um bem "parecidinho" com ele. Vitinho adentrou o mato para tentar fazê-lo se aproximar, só que com a passagem de uma moto muito barulhenta na estrada  (argh!!!), os bichinhos desapareceram como que por encanto. Decidimos seguir nosso caminho e passar na volta. Ainda fizemos algumas paradas para fotografar uns bichinhos simpáticos.

Sporophila não identificado (editando: de acordo com o Vitor Piacentini é só um caboclinho mesmo rs rs rs) 

Aves feitas em Terenos

Ainda paramos em Dois Irmãos do Buriti, onde registrei um bando de tachã (Chauna torquata), uma marreca-cabocla (Dendrocygna autumnalis) e fiz um lindo melhoraifer: maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis). 

Já em Anastácio cliquei só um para marcar um pontinho vermelho: joão-de-barro (Furnarius rufus).

Aves clicadas em Dois Irmãos do Buriti e Anastácio

Após todas essas paradas, finalmente chegarmos à Pousada Nativos em Miranda (clique aqui para saber mais), onde pude, durante minha breve estadia, desfrutar, além do conforto, também do carinho e simpatia dos donos da pousada D. Cecilia, Seu Antônio e a sobrinha deles Thaís

D. Cecília, eu, Thaís e Seu Antônio

Eu tenho a estranha mania de me sentir em casa em determinados lugares onde as pessoas ficam muito próximas a mim. E não foi diferente na Nativos. Sentávamos sobre a sombra de uma frondosa árvore onde eu tomava um café ou cerveja geladinha e jogava muita conversa fora. A pousada fica dentro do perímetro urbano, o que muito facilitou a nossa vida, em relação às refeições, supermercado, farmácia, caixa eletrônico e postos de combustível.

O meu chalé, de uma simplicidade funcional e acolhedora, bem decorado e confortável, era muito mais do que eu precisava. No piso superior a cama. Embaixo, uma sala, cozinha e banheiro. Quem me conhece sabe que eu ia fazer muito pouco uso da cozinha, apesar de espaçosa e confortável, mas dessa vez foi diferente, acabei usando para preparar lanches apetitosos para mim e para o Vitinho. Havia uma linda decoração com aves pelo chalé, o que me deixou encantada.

Nativos by Silvia

Fotos by Nativos (oficial)

O sol estava alto ainda e o tempo muito quente, afetando tudo e todos abaixo dele, inclusive eu. Mas passarinheiro que se preze, num arrega fácil não. Num local muito perto da cidade, Vitinho conhecia um provável ponto de um dos possíveis lifers a fazer: o alegrinho-do-chaco (Inezia inornata). Não deu outra, depois de um tempinho, lá veio o "alegrinho alegrar" a minha vida e a do meu guia.
 
alegrinho-do-chaco

Havia mais bichinhos em volta e cliquei, como sempre faço, todos eles. Teve Sovi (Ictinia plumbea), beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura), bagageiro (Phaeomyias murina), guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster), entre outros.

O destaque ficou para o casal de curió (Sporophila angolensis) e dos papagaios (Amazona aestiva) voando sobre nós. Fico tão extasiada quando vejo esses bichinhos livres, soltos e felizes na natureza.  Não sei que tipo de sentimento egoísta e mórbido leva uma pessoa a ter prazer em manter aves confinadas em gaiola. Isso sem contar a crueldade do processo que vai da apreensão do bichinho na natureza até seu destino enclausurado. Dizem que é cultural...Meu conceito de cultura é bem diferente disso. Sou mais pela frase: "quem ama não prende".


Era o que tínhamos para o dia.

Nem nos demos conta que a hora estava passando rápido, já era meio da tarde e o estômago estava lá nas costas, nos alertando que era hora de comer. Após almoçar, eu precisava descansar da viagem e de todas as emoções do dia.

E é assim que é bom: uma vida baseada em muita emoção e amizades. São as recompensas mais do que especiais pelas escolhas que fazemos. Ser Birdwatcher não é para qualquer um. Mas quem se torna um não larga disso nunca mais.

Conversa vai, conversa vem com D. Cecília e Vitinho, resolvi que já era hora de dormir. O dia seguinte, com certeza seria intenso.

Após um gostoso e refrescante banho, caí na cama feito anjo e apaguei.

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

e-Bird - Terenos 
e-Bird - Anastácio 
e-Bird - Miranda 

21/11/2018 - quarta-feira

Acordamos cedo e após um delicioso café da manhã na pousada, seguimos passarinhar. Vitinho mostrou todo seu conhecimento, atraindo com a boca a maioria dos bichos que eu queria, sem precisar usar o tradicional play back. Comecei com um lifer a muito desejado: a garrincha-do-oeste (Cantorchilus guarayanus), que chegou a dar mole, mas sempre por milésimos de segundos preciosos.

garrincha-do-oeste (Cantorchilus guarayanus)

Depois foi hora do show de um casal de um bicho que não é muito fácil de clicar: o chororó-do-pantanal (Cercomacra melanaria), que desta vez colaborou como nunca para a foto.
 
chororó-do-pantanal (Cercomacra melanaria)

O desfile de aves não parou por aí. Era bicho que não acabava mais. Tive na minha frente o capacetinho (Microspingus melanoleucus), aracuã-do-pantanal (Ortalis canicollis pantanalensis), risadinha (Camptostoma obsoletum obsoletum), chincoã-pequeno (Coccycua minuta minuta), juruviara (Vireo chivi), choró-boi (Taraba major major), balança-rabo-de-máscara (Polioptila dumicola), entre outros.
 
Diversas aves

Teve até um baita melhoraifer, bicho que só tinha visto mal e rapidamente em 2011 em Poconé: joão-do-pantanal (Synallaxis albilora) que desta vez abusou da pose. Fez compensar eu ter pulado a cerca e pisado na água para poder registrá-lo.
 
joão-do-pantanal (Synallaxis albilora albilora)

Seguimos para outro ponto. O Vitinho manifestou preocupação, pois para ver um dos meus lifers mais desejados, talvez tivéssemos que adentrar uma área bastante alagada e ele não sabia se seria possível devidos às fortes chuvas que andaram caindo. Era um dos meus principais "alvos" da viagem: o rabo-branco-de-barriga-fulva (Phaethornis subochraceus).

Lembro bem como foi: encostei o carro numa entradinha e descemos. De repente o Vitinho ouviu o bichinho cantar, mas não conseguia localizá-lo. Pediu que eu gravasse o som com meu pequeno gravador. Ele foi perscrutando a mata e descobriu o bichinho, me posicionou e aí foi foto que não acabava mais. Ele estava no escuro, bem próximo à borda e só tinha um buraquinho que dava para vê-lo. Fui lentamente me aproximando e consegui fazer foto de quadro cheio. Deu até para tirar um galhinho da frente. rs rs rs

Eu clicando o pequenino, by Vitinho

Uma hora parei alguns segundos para entregar a chave do carro para o Vitinho apanhar algo, e bem naquele instante o danado se espreguiçou todo e eu perdi o clique. Sabe quando você fica aperreada que só, mas num arreda pé e nem desiste. Continuei a clicar na esperança que ele repetisse o display. E depois de "nunseiquantoscliques" ele fez "aquilo" de novo. Foi a despedida. Antes de adentrar para o fundo da mata, ele me deu esse presente, foi como um adeus. Não voltou mais. Eu chorei de emoção.

 Momento de pura emoção quando ele se espreguiçou todo antes de adentrar a mata.

O duro desses "nunseiquantoscliques" que a gente faz quando vê tanta coisa legal é na hora de selecionar e tratar as fotos... Pensa no absurdo de 25.495 fotos em 12 dias e  transformá-los em apenas 7.682 depois. Trabalho de louco. Mas quem disse que os amantes das aves não são todos loucos.

Fluxo de trabalho: antes e depois de olhar dia por dia, foto por foto

Isso tudo aconteceu das 7 às 9 da manhã. E o que fazer? Lifers possíveis de Miranda "checked".
Florzinhas? Borboletas? "checked"


Então falei pro Vitinho: eu tenho muita vontade de ir visitar a amiga Roberta Prudente e conhecer  a famosa Fazenda San Francisco, de propriedade da família dela. Vitinho conseguiu falar com ela e lá fomos nós em direção à San Francisco, que não estava longe de onde a gente se encontrava.

Mal chegamos e uma coruja-buraqueira (Athene cunicularia) veio nos receber na estrada, bom prenúncio para o nosso dia. Parecia estar dizendo: pode entrar, vocês são bem vindos - é por ali.  


Bem antes de chegarmos à sede um quero-quero (Vanellus chilensis) leucístico (quase todo branco) rendeu bonitas fotos. 


Roberta nos esperava e assim que chegamos foi nos mostrar as instalações. Eu não conseguia parar de fotografar dum tanto de ave que tinha ao nosso redor, entre elas destaco o cardeal (Paroaria coronata), ema (Rhea americana), periquito-de-cabeça-preta (Aratinga nenday), aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus acuticaudatus), peitica (Empidonomus varius), pássaro-preto (Gnorimopsar chopi) e o difícil de encontrar chupim-azeviche (Molothrus rufoaxillaris).


Roberta fez a gentileza de nos mostrar a fazenda à bordo de um carro próprio para safari, onde, de cara, dois gaviões-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus unicinctus) estavam pousados lindamente. 

Roberta, eu e Vitinho 

Foram muitos cliques, alguns de bichinhos bem comuns para mim, mas não menos bonitos ou interessantes. Havia também muitas borboletas e um raro veado-mateiro (Mazama americana). 

veado-mateiro (Mazama americana)

O destaque ficou por conta do casal de martim-pescador-grande (Megaceryle torquata), do ninho de coleiro-do-brejo (Sporophila collaris melanocephala), de um lindo chorão (Sporophila leucoptera leucoptera) e de um corucão (Chordeiles nacunda nacunda) que deu mole no meio da estrada, tudo isso clicado sem descer do veículo.


Uma deliciosa comida pantaneira nos aguardava. Pudemos colocar o papo em dia com a Roberta e depois caminhar mais um pouco em torno das edificações, onde araras-canindés (Ara ararauna), gralhas-picaça (Cyanocorax chrysops chrysops), filhotes de emas e de aracuãs-do-pantanal (Ortalis canicollis pantanalensis) nos brindavam com suas performances.

Show mesmo deu um surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui behni) se alimentando e um catatau (Campylorhynchus turdinus unicolor). Fora um outro tanto que não mencionei aqui, mas que você pode olhar na minha lista no e-Bird ao final do relato deste dia.


Já estava na hora de voltar, e Roberta nos acompanhou por uma parte da fazenda onde ainda pude admirar três filhotões de tuiuiú (Jabiru mycteria) e alguns outros bichinhos. A despedida ficou por conta das milhares de marrecas-cabocla (Dendrocygna autumnalis) numa lagoa na saída da fazenda e de umas iraúnas-grande (Molothrus oryzivorus) parasitando o gado.


Roberta nos convidou para retornar e participar da focagem noturna, mas o cansaço era tão grande, que eu só pensava em tomar um belo banho e dormir o mais rápido possível. E foi o que eu fiz logo depois de lanchar na pousada.

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia


22/11/2018 - quinta-feira

Acordamos cedo e fomos brindados com um delicioso café da manhã e com o carinho da d.Cecília. Em seguida, saímos explorar os arredores da cidade.

Vitinho tomando o desjejum

Selfie com D. Cecília e Família, mais o Vitinho

Eu queria muito fazer pelo menos um lifer no dia, pra dar aquela animada. Cheguei até a ver tiriba-fogo (Pyrrhura devillei), porém, foto ruim, no escuro e de longe. Vitinho, todo confiante, me disse, despreza esse lifer, que em Bonito eu te garanto uma linda foto dele. Bom, ficou guardadinha, vai que ... nunca se sabe...mas quem sabe, sabe, né...continue lendo e vai entender porque ele disse isso. rs



Na parte da manhã eu fiz fotos de 32 espécies, a maioria comum, mas pude melhorar e muito a minha foto do rapazinho-do-chaco (Nystalus [maculatus] striatipectus), da aratinga-de-testa-azul (Thectocercus acuticaudatus acuticaudatus), bichoita (Schoeniophylax phryganophilus phryganophilus), curutié (Certhiaxis cinnamomeus russeolus) e noivinha-branca (Xolmis velatus), e teve mais um monte de bicho legal.



Clicando o rapazinho-do-chaco

Como eu disse no início, eu não fiz o dever de casa direito, portanto não conhecia as subespécies que seriam interessantes encontrar no local. Fui clicando tudo, aparecia chance de foto, pelo sim, pelo não, mandava ver. Não tenho certeza se estou citando aqui no bloguinho a subespécie correta, porque as descrições de algumas ssp e suas respectivas regiões são um pouco confusas para mim. O HBW, embora meu inglês seja o básico do basicão, se tornou um bom aliado. Por sugestão do amigo Fabio Olmos vou começar a usar o IOC - World Bird List e tentar ampliar o meu aprendizado. A filosofia dele é "Quanto mais você sabe, mais você vê."

E é sempre gostoso ver uma ave e fazer uma foto bonita dela, não importa qual. Foi muito legal clicar a marianinha-amarela (Capsiempis flaveola flaveola), o picapauzinho-escamoso (Picumnus albosquamatus albosquamatus), o pica-pau-pequeno (Dryobates passerinus olivinus), o  arapaçu-de-cerrado (Lepidocolaptes angustirostris angustirostris) e o tucanuçu (Ramphastos toco albogularis), entre outros.


A dureza em campo, para mim, é conseguir compatibilizar os nomes mantidos atualmente pelo Wikiaves com os do e-Bird, uma vez que não estão uniformizados. O Reinaldo Guedes podia ajeitar isso. E que venha a nova lista CBRO logo e os dois fiquem iguais. Eu confesso que peno um bocadinho, principalmente com os picapauzinhos. Não sou ornitóloga, não tenho cabeça boa para guardar nome científico, sendo que, para mim, os nomes populares são os mais fáceis de decorar, mas quando não se tem um padrão único nem pelos entendidos, o melhor mesmo é contar com alguém do teu lado que saiba. Esse é um dos motivos para eu procurar sempre escolher bons guias, que sabem dizer o popular, o científico e quando não sabem tem um app para consulta na hora. Fica a dica, viu?

Ainda na parte da manhã tive um encontro emocionante: um lindo tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) fez poses para minha lente. O Vitinho me orientou a aproximação. Pediu que fosse caminhando bem lentamente, sempre a uma distância segura. Ver esse sujeitinho de meias brancas é um daqueles momentos que as pernas ficam moles e as lágrimas escorrem pelo rosto. Não tem como se segurar. Dá vontade de dar um "bicoto" na ponta do narigão dele. 

 tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)

Retornamos à cidade, almoçamos e descansamos. Estava muito quente e protelamos a saída à tarde até umas 15 horas. Seguimos direto para uns arrozais nas imediações da cidade, onde o Vitinho achava que podia ter bicho legal.  Nos arrozais, havia muito bicho, mas tudo longe e entranhado, o arrozal estava bem alto, dificultando a visualização. Destaque para a maguari (Ciconia maguari), bicho que gosto muito e não consegui a foto que gostaria, infelizmente. Parecia que no horizonte um grande temporal estava se formando.

Aves nos arrozais

Andamos mais um pouco e pude fazer foto muito bonita do arapaçu-beija-flor (Campylorhamphus trochilirostris lafresnayanus), casaca-de-couro-amarelo (Furnarius leucopus assimilis) e gralha-picaça (Cyanocorax chrysops chrysops), dentre outros.


O Vitinho me levou conhecer o Refúgio da Ilha Ecolodge. Um lugar muito acolhedor e agradável. Demos uma breve passada, somente para conhecer as instalações. O dia já estava findando e mesmo assim os comedouros estavam lotados de pombas e periquitos. Fiz algumas fotinhos legais do periquito-de-cabeça-preta (Aratinga nenday) e da bela pomba-galega (Patagioenas cayennensis sylvestris). Já está nos meus planos voltar e ficar mais tempo explorando esse lugar divino.



Refúgio da Ilha

Mas as maiores emoções do dia estavam por vir. Todo dia passavam sobre nossas cabeças muitos papagaios (Amazona aestiva) e o Vitinho só dizia com seu jeitinho calmo: "eles estão indo para o dormitório, ou então, saindo dele. Se você quiser, depois a gente vai lá um dia". Foi como oferecer bala pra criança. O local fica nos arredores de Salobra, um distrito de Miranda. Hoje era o dia ou nunca. Bora!!!!

Chegamos lá e ficamos aguardando. Um por do sol cinematográfico de um lado ia encerrando o dia, e a lua cheia nascendo do outro, avisando que logo mais seria noite. E passava um ou outro papagaio... cheguei a ver duas ou três maracanãs-de-colar (Primolius auricollis), curicacas (Theristicus caudatus) e algumas araras-azuis, estas nem deu foto.




A noite começou a cair sobre a gente e milhares de papagaios, fazendo uma algazarra única, começaram a chegar. Era um espetáculo para os olhos e a mente, porque foto nem dava mais. Só umas composições com a lua, nuvens e papagaios bem malucas. Fiquei ali até quase não aguentar mais. Apesar do cansaço extremo, eu relutava em deixar aquele cenário único.

O sol se pondo

A noite chegando

Eu estava respirando poesia. Suspirava pelos olhos, ouvidos e coração. Veja a seguir algumas imagens que fiz com o celular.


Fiquei parada um tempão, só observando, até que a fome bateu feio e decidimos que era hora de partir. Tínhamos que arrumar as malas, pois pretendíamos sair cedinho para Campo Grande, passando por Terenos, para tentar os caboclinhos novamente.

Ah! Durante o decorrer do dia teve foto de florzinha também...


Depois de chegar na pousada, tomar um banho, ajeitar a mala, ainda ficamos um bom tempo de papo com D. Cecília e Thaís no jardim, até que o cansaço me dominou e eu pedi licença e fui "desmaiar".

Afinal tinha chão pra rodar e, embora, em muito bom estado, as estradas do MS, não são nem de longe parecidas com as rodovias paulistas que estou acostumada, como a Bandeirantes, Castelo Branco, Ayrton Senna, etc.

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

e-Bird - Arrozais de Miranda 
e-Bird - Refúgio Da Ilha

23/11/2018 - sexta-feira

Às 6:30h D. Cecília nos esperava com uma mesa de café dos deuses. Eu estava sendo tratada como uma princesa e minha vontade era ficar e desfrutar mais tempo daquele acolhimento todo. D. Cecília realmente é um ser iluminado. Mas a gente tinha que ir, o tempo estava piorando e ameaçava um grande temporal, chuva a muito esperada pelos moradores da cidade.


Saímos assim que terminamos o café. E então a chuva desceu, desceu como nunca vi, a ponto de eu procurar pontos de parada na estrada, esperar diminuir um pouco para prosseguir com segurança. Eu quase não conseguia enxergar um palmo na frente do nariz. Foi tenso, só isso que posso dizer.

Foto by Vitinho

A pista é de mão dupla e os carros, principalmente caminhões que passavam por mim, além do vácuo na lateral do carro, jogavam um spray de água, tornando tudo à minha frente invisível. Controlei o pânico e fui muito devagar, parando sempre que tinha oportunidade e achava necessário. Tomava um café, respirava fundo, aguardava diminuir a chuva e seguia.
 
Parada no Rancho do Pescador em Anastácio 

De tanto ver água, eu estava assim, tal qual o desenho ... rs rs rs  - Parada no Auto Posto Varzea Alegre - Terenos

Às 12:21h eu entreguei o carro são e salvo na locadora Movida. Não é por nada não, mas a experiência com chuva (clique aqui para saber mais poucos dias antes de eu ir pra lá, junto com o Cal Martins e a amiga Leila Esteves me ajudaram a manter a calma nessa hora. Sem contar que o Vitinho é a paciência em pessoa. Ele não dirige, mas é um excelente navegador e foi indicando o melhor caminho pra chegar até a locadora.

Carro entregue à Regina e equipe

Eu peguei uma condução para o hotel aonde eu iria ficar duas noites durante o Avistar Campo Grande e o Vitinho foi encontrar-se com sua querida Daiani em outro hotel.

Almocei no hotel mesmo e fui descansar da grande tensão sofrida com o enorme temporal que nos assolou a manhã toda. A abertura do evento seria no fim do dia. Uma galera teve que pousar em Cuiabá por causa do temporal. Foi tenso. A Márcia Costa, autora do livro Vamos passarinhar? que iria ficar no mesmo hotel que eu, foi uma das que não conseguiu chegar no horário previsto.

Por volta das 18 horas um carro com amigos passou me apanhar para ir ao evento. 

O AVISTAR Campo Grande
Capital do Turismo de Observação de Aves

Para quem não sabe o Avistar Campo Grande é um evento regional, filhote do maior evento de observação de aves do Brasil, que acontece anualmente todo terceiro final de semana de maio em São Paulo - SP - o Avistar Brasil. Ressalte-se que o evento Avistar busca ir além da observação de aves, unindo ciência, turismo e cultura (com palestras, danças, exposições fotográficas, lançamento de livros, sessões de autógrafos, programação infantil e muitas oficinas correlatas, seja de ilustração, fotografia ou variadas tecnologias, entre outras).

Eu participei como expositora e palestrante

Minhas fotos

Como palestrante

Asas pra que te quero? PRA VOAAAAAARRRRRR!!!!

O evento aconteceu no âmbito de um dos parques urbanos mais bonitos que já conheci: Parque das Nações Indígenas, precisamente no Museu das Culturas Dom Bosco.


Foto by Edson Moroni

E o Avistar Campo Grande foi grande não só no nome, mas em sua realização. A cerimônia de abertura contou com a presença do prefeito Marquinhos Trad e da secretaria Municipal de Cultura e Turismo Nilde Brun, do  representante da organização Avistar Brasil, Guto Carvalho, e das amigas Neiva Guedes (Instituto Arara Azul) e Simone Mamede (Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo).


24/11/2018 - sábado

Cheguei muito cedo, pois fui convidada para participar do Cunhataí Guyra, um grupo de mulheres observadoras de aves que compartilham suas experiências e olhares. Uma espécie similar ao quadro das Birding Ladies, que organizei durante 5 anos consecutivos no Avistar Brasil. Foi uma delícia compartilhar minha experiência com o próprio grupo e com o público. Uma ideia muito feliz das meninas.



Após essa apresentação, foi uma festa o reencontro com vários amigos, e também com novos amigos, daqueles que a gente só conhece de Facebook. No quadro abaixo aparecem os amigos Agnes Maltzahn, Guto Carvalho, Maristela Benites, Suzana Arakaki, Márcia CostaFernandinha Reverdito, Simone Mamede, Bruno Arantes Bueno, Jéssica e Willian Menq, Eduardo Leão Cabral, Marco Antônio Lemos.


1 - Eu, 2 - Mauro, eu e Agnes, 3 - Vitinho, eu e Daiani, 4 - André, Jessica, eu e Willian

A minha palestra A magia de Passarinhar estava prevista para acontecer logo após o almoço às 15:20h. A amiga Agnes Maltzahn me "sequestrou" e me levou almoçar em seu apartamento, onde Mauro, seu esposo e meu amigo nos aguardava. Trazemos juntos a experiência de uma viagem que fizemos à El Calafate em 2015. Um elo de amizade que nunca se desfez, apesar da distância. Este almoço deixou na memória momentos preciosos.

Almoço com o querido casal Maltzahn 

Entrevista para o amigo Edson Moroni, um dos organizadores do evento.

 

Eu ia e vinha do hotel com a nova amiga, a escritora Márcia Costa. Ela iria passarinhar com a Simone Mamede pelos lados de Bonito também, após o Avistar. No final da tarde, fui surpreendida com o pedido das duas solicitando que eu abrisse espaço no meu roteiro pós-Avistar para mais uma pessoa.

O roteiro programado pelo Vitinho fora desenvolvido exclusivamente para mim. Conversei com Daiani e Vitinho, pois já haviam feito as reservas, além disso, eu não queria comprometer o trabalho que o Vitinho havia planejado. E juntos decidimos que não haveria problemas. O combinado foi o seguinte: a gente manteria a programação tal qual fora desenhada. Expliquei para a Márcia qual seria o esquema e ela topou. A Daiani conseguiu alterar as reservas incluindo a Márcia na pousada onde eu iria ficar, a Pousada Olho d´Água em Bonito.

Combinamos o horário de saída no domingo. Eu não tinha certeza se participaria dos eventos no domingo pois precisava descansar para pegar estrada. Não me recordo se saí para confraternizar ou não no sábado à noite. Mas lembro de ter ganho uma linda camiseta Avistar Campo Grande da Bruna, que vinha com o namorado  buscar a gente todo dia para levar ao evento. 

25/11/2018 - domingo

No domingo acordei super tarde, coisa que não fazia a um bom tempo. E muito inspirada.
Escrevi e publiquei o seguinte texto no Facebook:
"E aí você acorda tarde no quarto do hotel, porque precisava descansar bastante, uma vez que vai pegar estrada logo mais. O despertador entoa uma canção do antigo grupo TheAnimals "The house of the rising sun"Ainda de olhos cerrados, você começa a se lembrar dos sonhos que acometeram sua cabeça enquanto esta repousava sobre o macio travesseiro. Havia um par de olhos escuros e sorridentes que pareciam velar pelo seu sono. E lábios se aproximavam dos seus como um colibri pareia com uma flor. A pele quente e morena se aconchegava ao seu corpo aquecendo a alma e deixando uma maravilhosa sensação de bem estar... inigualável ...
Hummm... suspiro...Chamo isso de encontro de almas. 
Almas afins, que se buscam no infinito. 
Queria não ter acordado para descobrir que era só um sonho. Que o calor sobre mim era apenas uma fina manta, e que tudo num passou de saudades e desejos que algo assim acontecesse.
Só que não... bora arrumar as malas e pegar estrada com os amigos e esquecer que esse pacotinho de amor está por aí perdido em algum lugar, talvez sentindo-se do mesmo jeito que eu.
Um dia quem sabe nossos caminhos se cruzarão e poderemos transformar isso em realidade. Enquanto isso, que venham os passarinhos..."

Obs: foto feita na cidade de Miranda no dia 22/11/2018)

Eu, Vitinho e Márcia, às 12:35 já tínhamos pego o carro na Movida do Aeroporto e seguimos rumo a Bonito. Almoçamos pelo caminho. Fui aprendendo um pouco mais sobre minha nova amiga: pessoa inteligente, vivaz, meiga, de riso fácil e sempre muito prestativa. Sua alegria era contagiante. Brindava-nos com seu bom humor o tempo todo. E isso fez toda diferença. Foram dias intensos e incríveis. 

Vitinho, Márcia e eu

Fui fazendo red-ball-lifer pelo caminho. Valia o que a gente achava cada vez que ultrapassávamos os limites de um município. Às 14:44h foi Sidrolândia, às 15:32h foi Maracajú, às 16:24h foi Nioaque e 17:15h Guia Lopes da Laguna. Alguns eram lifers para a Márcia e ela vibrava muito com cada bichinho novo. O alto astral reinava entre nós três e foi assim até o final.   
   

Aves pelo caminho

Chegamos na transição da tarde para noite em Bonito, com pouquíssima luz, mas já "laifando". Tudo isso graças ao Magic Vitinho, que colocou-nos frente à frente com a tiriba-fogo (Pyrrhura devillei). Praticamente no quintal da sua casa. Elas vem dormir ali, bem no finalzinho do dia. Ele bem que tinha me dito em Miranda. Mas calma, depois desse dia, a tiriba ainda deu muito mais show. E ainda teve araçari-castanho (Pteroglossus castanotis) e arapaçu-do-campo (Xiphocolaptes major)


Márcia e eu, by Vitinho, clicando as tiribas-fogo na altura dos olhos

tiriba-fogo (Pyrrhura devillei), araçari-castanho (Pteroglossus castanotis) e arapaçu-do-campo (Xiphocolaptes major)

E nessa oportunidade eu pude conhecer o Ronald Anta Rosa, artista e vizinho do Vitinho, onde em seu jardim eu pude clicar um belo girassol, flor que tanto amo. Eu vi uma camiseta e uma caneca lindas no Recanto Ecológico Rio da Prata e quando fui conferir, adivinha de quem era a ilustração? Do Ronald. Amei tanto que trouxe para casa.

A casa do Ronald ao fundo (acabei não fazendo selfie com ele, mas fiz da casa rs rs rs)

Apaixonante esse girassol. Minha cor preferida.

Ilustração do Ronald

Logo em seguida fomos para a Pousada Olho D'Água (clique aqui para mais informações), super bem localizada, com um belo jardim, um pessoal bem prestativo, muito confortável, e com uma coisa excelente, almoço e jantar servidos no capricho. Adorei o lugar. E ainda deu para passarinhar em seu quintal nos dias subsequentes.

Meu quarto (foto by Silvia Linhares)

Fotos by site oficial

E assim terminou o primeiro dia da nossa aventura.

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

 e-Bird - Sidrolândia 
 e-Bird - Maracajú 
 e-Bird - Nioaque 
 e-Bird - Guia Lopes da Laguna 
 e-Bird - Bonito 

26/11/2018 - segunda-feira

O dia começou cheio de promessa, mesmo antes do café, eu e Márcia já estávamos clicando no quintal da Pousada Olho D'Água. Uma jovem curicaca (Theristicus caudatus), imitando uma dama antiga, fez muitas poses para a gente. Um caburé (Glaucidium brasilianum) deu o ar da graça, mas não afugentou o joão-de-barro (Furnarius rufus), o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), o sabiá-branco (Turdus leucomelas), nem o lindo sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), que continuaram suas vidas nem aí com o pequeno predador. Após o delicioso desjejum, partimos buscar o Vitinho na casa dele, que era bem pertinho.


Em seguida fomos para Bodoquena. Em uma manhã pra lá de proveitosa fizemos fotão da saíra-de-papo-preto (Hemithraupis guira), do urubu-rei (Sarcoramphus papa), gavião-pato (Spizaetus melanoleucus), entre outros mais. Um bando de tiriba-fogo (Pyrrhura devillei), veio ver o que estava acontecendo, que agito era aquele.

Aves em Bodoquena

Minha felicidade ficou por conta de conseguir finalmente fazer foto linda do anu-coroca (Crotophaga major). Essa vai parar na parede. E teve subespécie, uma choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens paraguayensis), cujo macho é esbranquiçado, muito diferente do que eu já vira.


Após o almoço, descansamos e fomos conhecer a Fazenda Bonanza, para fazer uma avaliação do lugar para birdwatching. É um lugar bastante agradável, onde fizemos a festa com um casal de udu (Momotus momota). O pouco tempo que tínhamos disponível não foi suficiente para concluir uma avaliação. Ganhamos bolo feito na hora.

Udu


Voltamos para Bonito com a intenção de ir de novo ao condomínio onde Vitinho morava e fazer melhoraifer da tiriba-fogo (Pyrrhura devillei). Espera...espera sentado... porque ainda era cedo e num é que valeu a pena. Foto de pôster. De encher o quadro e os olhos, inclusive de água. Cheguei a brincar com o Vitinho e Márcia dizendo que "tinha garrado nojo" da bichinha. Agora eu me considerava plenamente "laifada".

Tiriba-fogo

Convidamos o Vitinho para jantar com a gente na Pousada a fim de comemorarmos o dia delicioso. Vitinho ouviu a caburé (Glaucidium brasilianum), imitou seu piado e num é que ela veio e se mostrou toda faceira. O dia fechou com chave de ouro.

Caburé

Nosso brinde aos bichos do dia

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

e-Bird - Bonito - Pousada Olho D'Água  
e-Bird - Bodoquena

27/11/2018 - terça-feira

O nosso roteiro previa uma saída às 04h00 para Porto Murtinho (a 215 KM). De comum acordo, fizemos algumas alterações. Mais acertivas impossível. Foi um dos dias mais espetaculares de todos. Resolvemos passar a manhã no Buraco das Araras, em Jardim e a parte da tarde conhecer o Recanto Ecológico Rio da Prata.

O Sr. Modesto Sampaio, proprietário da “Fazenda Alegria”, possui um local que considero uma das maiores bênçãos da natureza, cujo dedo humano só veio enriquecer esse local. No meio da fazenda há uma dolina, formação geológica resultante do desmoronamento de blocos rochosos, hoje denominado Buraco das Araras. Possui mais de 100 m de profundidade. Nele temos a chance de ver como em nenhum lugar as araras-vermelha (Ara chloropterus) e muitas outras aves que ali fizeram seu lar.

Foi em 2011, quando comecei a fotografar aves, que o hoje amigo Octávio Campos Salles venceu o concurso Avistar Brasil com uma foto das araras feita no Buraco das Araras, foto que me encantou e me fez desejar conhecer o lugar. Cheguei a publicar aqui no Bloguinho (clique aqui no link). Desde então era um sonho para mim conhecer esse lugar. Não sei porque demorei tanto a ir. Agora é fazer planos para voltar todos os anos.



Da minha parte eu só posso repetir o que eu disse no dia no Facebook: "E hoje foi dia de araras...não foi uma passarinhada comum, foi uma experiência de vida". Eu realmente me senti abençoada com os amigos Edson Moroni, Marcia Costa e Vitinho e dos novos amigos Seu Modesto, Fernanda Trevizan e Amanda Maciel no Buraco das Araras.


Eu by Vitinho

Sim, é uma experiência para toda vida, um momento único, que você contempla, seja pelos olhos ou pelas lentes e não enjoa de con·tem·plar ou seja "olhar muito tempo e com atenção", eu diria, "com o coração". E foi assim minha manhã, lógico que teve outros bichinhos por lá que mereceram nossa atenção, mas as araras... ah! ... As araras... (suspiro longo) - duro mesmo foi escolher qual a melhor foto para virar quadro aqui em casa.

Eu e Márcia by Vitinho

... elas pousadas ...

... elas em voo...

... outras aves no Buraco delas...

Eu poderia aqui ficar horas falando sobre o local, mas vou deixar um documentário em vídeo e um link para uma matéria que por si só dizem muito mais do que eu poderia dizer.

Quer conhecer um pouco mais sobre o Seu Modesto e o Buraco das Araras ? Então assista esse documentário, mas aviso, deixe um lenço ao lado, pois tenho certeza que você, assim como eu, irá chorar de emoção.

Filmado por Paula Webster e dirigido por Michael Webster, traduzido por Ana Cláudia de Almeida.


Há também um lindo material produzido pela jornalista Suzana Camargo -> Clique aqui para saber como seu Modesto recuperou o lar das araras-vermelhas.

Após o almoço, a convite da querida Simone Coelho, fomos conhecer o Recanto Ecológico Rio da Prata (clique aqui para mais informações). O Recanto é um lugar muito especial, uma fazenda de propriedade da Simone e Eduardo Coelho, localizada na cidade de Jardim/MS.


Embora a principal atividade do Recanto seja a flutuação em águas cristalinas, nosso objetivo era conhecer o local e tentar observar algumas aves. Ao chegar lá fomos recepcionados pela Nádia, uma bióloga e funcionária do local, que fez uma tour com a gente, mostrando como é o funcionamento do local, desde a produção orgânica de verduras à fabricação artesanal de doces, inclusive o maravilhoso doce de leite que fui agraciada ao me despedir da galera.


Existem muitas trilhas interpretativas pelas matas ciliares bem preservadas, onde temos as chances de ver e ouvir as aves e outros animais silvestres. As trilhas nos levam a um imenso rio de águas cristalinas, um verdadeiro e rico aquário natural, onde podemos contemplar dourados, pacus, piraputangas e curimbas, conforme Nádia nos mostrou. Eu fiquei foi morrendo de vontade de entrar naquela água, cujo calcário no fundo a faz ficar totalmente cristalina. Foi difícil resistir e não pular dentro. Da próxima vez não vou perder a oportunidade.



E quanto às aves, o horário e o calor não estavam muito propícios. Fizemos algumas bem bonitas, mas o destaque ficou para um bichinho que eu só tinha uma foto bem ruinzinha que fiz em Minas Gerais. Dessa vez, deu fotão: cisqueiro-do-rio ou fura-barreira (Clibanornis rectirostris)

Olha a minha carinha depois de clicar o cisqueiro-do-rio...

Outras aves durante a caminhada pelo Recanto

Nosso passeio até o pier

Assista o vídeo a seguir e fique como eu nesse momento: babando com essas águas enquanto "asso" no calor do meu escritório em casa. São Paulo - 36° no momento.


No fim de tarde fomos circular e procurar bichinhos pelas bordas da estrada. Fiz red-ball-lifers e primeiros registros fotográficos no site Wikiaves para o município de Caracol da tiriba-de-testa-vermelha (Pyrrhura frontalis) e do andorinhão-do-temporal (Chaetura meridionalis), que foram identificados com a ajuda do querido amigo Vitor Piacentini.


Terminamos o dia com um lindo por-do-sol na cidade de Bela Vista. Retornamos cansados e fomos direto jantar e depois descansar.

A tarde em Bela Vista, literalmente uma bela vista...
Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

e-Bird - Buraco dasAraras 
e-Bird - Rio daPrata, Jardim 
e-Bird - Caracol
e-Bird - Bela Vista 


28/11/2018 - quarta-feira

Acordamos e saímos passarinhar pelas cercanias de Bonito. Era muito legal ver a felicidade da minha amiga Márcia ao realizar os desejos de fazer determinado lifer. Tudo virava festa pra ela. E eu a acompanhava na alegria, fosse a mais simples corruíra a uma belíssima tesoura-do-brejo fazendo display e se equilibrando ao vento em um fino galhinho. Sempre vi essa tesoura em fios elétricos, e foi uma delícia vê-la dessa forma. 

tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa)

Foram muitos bichos legais, dentre eles destaco sovi (Ictinia plúmbea), pica-pau-de-topete-vermelho (Campephilus melanoleucos), pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus lineatus), maitaca (Pionus maximiliani), suiriri-cinzento (Suiriri suiriri), noivinha-branca (Xolmis velatus), tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa), bentevizinho-de-asa-ferrugínea (Myiozetetes cayanensis) e corruíra (Troglodytes aedon). 


No meio da manhã foi a vez da Estância Mimosa nos receber. Respondendo a mais um convite da amiga Simone Coelho fomos conhecer a sua propriedade em Bonito (clique aqui para saber mais). 

Eu, Thyago Sabino e Vitinho

Acompanhados pelo gerente Thyago Sabino, percorremos os arredores da sede para registrar as espécies de aves do local, com destaque para aracuã-do-pantanal (Ortalis canicollis), surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui), rapazinho-do-chaco (Nystalus [maculatus] striatipectus), seriema (Cariama cristata) e três espécies de arapaçus: arapaçu-verde (Sittasomus griseicapillus), arapaçu-do-campo (Xiphocolaptes major), arapaçu-de-cerrado (Lepidocolaptes angustirostris).


Um dos momentos mais legais foi ver a Márcia realizando o grande sonho de registrar a seriema de pertinho, momento que eu pude acompanhar do outro lado enquanto ela disparava um clique atrás do outro da bela na passarela...

Márcia sentada clicando a seriema que passou bem no meio das duas.

E assim terminou a nossa manhã, retornamos à pousada Olho D'água, onde almoçamos e nos despedimos do nosso querido amigo e guia Vitinho, que não mediu esforços para que a expedição inteira fosse um sucesso, mostrando as belezas e aves sul-mato-grossenses dentro do possível. 



E assim que fizemos check-out, eu e Márcia partimos para Campo Grande fugindo da chuva que ameaçava derramar suas águas pelas bonitas terras de Bonito, talvez sofrendo pela partida das duas passarinheiras, inclusive esta que aqui vos escreve. rs rs rs 

De todos os bichos que gostaria de ter visto faltou o pica-pau-de-barriga-preta (Campephilus leucopogon), maria-preta-do-sul (Knipolegus hudsoni) e suiriri-valente (Tyrannus tyrannus). Os três e mais alguns migrantes além de muitas subespécies especiais vão continuar na minha Wish List e ficarão para a próxima tour, que já está em planejamento.

Clique abaixo para ver a lista de aves do dia

e-Bird - Bonito 
e-Bird - Bonito -- Estancia Mimosa


Dia 29/11 - quinta-feira

E sempre tem o dia seguinte. É quando partimos de volta para o conforto do nosso lar. Mas, calma, ainda teve emoção. Porque sem terminar com emoção não tem graça. Tomei café e lá fui eu para o aeroporto. No caminho tive a impressão de ter cruzado com um carro com duas pessoas conhecidas e abanei a mão rapidamente, uma vez que estava atenta ao trânsito e gps, morrendo de medo de errar o caminho.

Sim, eram duas conhecidas, melhor, duas queridas: Simone Mamede e Maristela Benites. Elas fizeram o retorno e foram até a locadora onde eu estava devolvendo o carro para se despedir de mim. Foi assim que terminei essa tour, com o abraço carinhoso das amigas. 

Simone, eu e Maristela

Voltei pra casa muito feliz com essa multi expedição ao Mato Grosso DO SUL. Obrigada a todos os amigos pela carinhosa acolhida. Impossível citar todos, mas destaco em especial Thomaz Lipparelli e Marcelo Calazans pela grande ida à Serra do Amolar. Foi o pontapé inicial pra reencontrar velhos amigos e fazer novos. Agradecimento 

Ao casal Daiani Scapini e Victor Do Nascimento (Vitinho) que tornaram a expedição em terra um verdadeiro mar de cores e penas, deixo um grande e carinhoso abraço e gratidão eterna. 

Não posso deixar de citar os amigos Simone Mamede, Carlos Iracy Coelho Netto, Geancarlo Merighi, Marco Antonio Lemos, Guto Carvalho, Maristela Benites, Edson Moroni, meninas do Cunhataí Guyra, Ludmila Escobar, Suzana Arakaki dentre muitos outros queridos, que fizeram acontecer o grande evento Avistar Campo Grande

Queridos Agnes Maltzahn e Mauro Maltzahn, obrigada pelo carinho, almoço, dicas sobre água e etcs. Não parem de passarinhar. 

À Simone e Eduardo Coelho, muita gratidão pela oportunidade de conhecer novos e incríveis lugares.

Por fim, agradeço a nova amiga Márcia Costa pela companhia na última parte da expedição. Foi super 10 passarinhar na sua alegre companhia. 

Se eu for citar todos que de alguma forma fizeram parte do sucesso dessa viagem que começou no dia 13/11 e terminou no dia 29/11, eu não ia mais parar de escrever. Meu muito obrigada a todos. Foi um grande presente. Gratidão eterna

Homenagem ao momento mais contagiante de todos. Um viva ao patudo-narigudo de meias brancas mais simpático do pantanal e adjacências. Obrigada Dani (Danielle Mingatos) pela deliciosa cerveja Vienna lagger da Cia de Brassagem Brasil para homenagear o tamanduá-bandeira.


E no final não podia faltar um poema de passarinho by Silvia Linhares ou SiPrin, Leila Esteves

A flor e o passarinho

"Venha, passarinho, do meu néctar se embebedar,
Cante novas canções para minha alma acalentar,
Me dê um beijo barulhento,
Enquanto sacode suas penas ao vento,
Então prometo que deixo meus olhos você enfeitiçar.

Depois pode ir rapidinho,
Porque sei que você vai voltar,
Não ti quero cativo, tristinho,
És livre para cantar, ir e de novo pousar.

Embale meu poema com sua canção,
Deixe a esperança iluminar minha existência,
Renascer dentro de mim sem sofrência,
Dê um novo significado ao tempo que me devora,
Ao sorriso que por felicidade implora.

Faça com teu canto meu peito saltitar,
Que mesmo sem asas quer se por a voar.
Deixe me ficar enternecida,
Com todas as cores da aquarela,
E com elas colorir as pétalas da minha vida!"

(Foto e texto Silvia Faustino Linhares)


*
 Leu até aqui? Ufa! Você é meu herói! Aproveite e deixe um comentário (se der erro use o google chrome)
*
*
*


14 comentários:

  1. Adorei, Silvia! Não só as aves, mas as fotos do tamanduá e das flores. E o poema.
    Concordo com a questão de uniformizar as nomenclaturas no E-BIRD e WikiAves. Facilitaria bastante!
    P

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Cristina, fico muito feliz que tenha gostado. Tomara que em 2019 as nomenclaturas sejam padronizadas.

      Excluir
  2. Super lindo seu Diário de Campo!! É longo, mas necessário e bem feito!!! Foi um prazer e aprendizado passarinhar na sua companhia e do Master, Vitinho!!!

    ResponderExcluir
  3. Uau! Essa é a palavra que resume tudo. Agradeço por nos permitir viajar nesse mundo de aventura por meio dessa rica exposição de imagens e textos muito bem elaborados! Parabéns amiga

    ResponderExcluir
  4. Show, adorei seu blog, vou virar seguidor seu, muito obrigado por dividir tanta informação e fotos fantásticas. Obrigado

    ResponderExcluir
  5. Siprin cada vez te admiro mais!!!! Vc realmente é uma pessoa incrível!! Colaca em cada frase sua emoção de vida, de experiências!!!! Confesso que não li tudo (faltaram os links e as listas) mas o seu relato completo finalizando com o poema foi lindo!!!! Adorei esse poema!!! E nem preciso comentar sobre as fotos né? Lindas!!!! Feliz em conhecer você Siprin!!!! E espero, de coração, que um dia você seja brindada com um lindo "pacotinho de amor"!!!!

    ResponderExcluir
  6. Hi, sorry for posting here and please delete, but I couldn't find an email. Like you I am a retired nature enthusiast, and with my time am trying to create something beautiful. Being a programmer, I created a free 'app' for the birds of Colombia, where i retired, called 'Bird Data - Colombia' and I have also made this free app for Brazil. I was hoping to have permission to use a few of the photos you posted to eBird for this project. My email is tom@BirdPhotos.com . And I hope to visit beautiful Brazil again in 2019!!

    ResponderExcluir
  7. Parabéns, pelo blog muito rico em fotos e explicações, o poema e você uma pessoa nota dez, espero participar de uma de suas aventuras, abraço.

    ResponderExcluir
  8. Amei teu longo e rico relato! Adorei saber que foste tão feliz pelas bandas de cá! Desde já, torço pelos lifers que faltaram... Tens muitos amigos por aqui, mas podes contar também comigo! Admiração e respeito pelo teu lindo trabalho!

    ResponderExcluir

Obrigada por visitar meu Bloguinho!