*Amizade: substantivo feminino - sentimento de grande
afeição, simpatia, apreço entre pessoas ou entidades. (Google)
Eu vou contar sobre a última, porque foi curtinha e mexeu
muito comigo.
Desde que cheguei do Uruguai no final de agosto estou
tentando ir fotografar o famoso bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus
candicans). Essa ave é ameaçada de extinção. No Brasil, sua ocorrência é bem
restrita. Só foi vista nos Estados de
Goiás e Mato Grosso do Sul, na reserva do Parque Nacional das Emas e agora no
Triângulo Mineiro no Estado de Minas Gerais. Ano passado estive no PARNA das
Emas com a intenção de vê-lo, mas um escorregão numa parte mal conservada de
uma das trilhas me levou ao hospital e tive que ficar de repouso. Proibida pelo
médico de passarinhar, o jeito foi retornar à Brasília com a amiga Fernanda,
perdendo a oportunidade de vê-lo.
bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans) |
Por conta de vários problemas de agenda meus e do guia e amigo Cal Martins, essa viagem veio sendo protelada por meses.
Finalmente conseguimos compatibilizar nossas agendas e
combinar um roteiro, incluindo outros dois lifers que eu desejava muito
fazer. Então meus três objetivos principais eram o bacurau-de-rabo-branco
(Eleothreptus candicans), o andarilho (Geositta poeciloptera) e o que vinha me
dando uma canseira danada, o papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis) ou "pmc",
bicho que já me fez procurá-lo em diversos lugares nos anos anteriores (Itirapina,
Brasília, Mato Grosso e até Argentina/Uruguai) sem sucesso.
Este ano, decidi viajar, a princípio sozinha com o Cal,
depois resolvi convidar alguém que topasse essa aventura. Chamei minha antiga
"parça de crime", Viviane de Luccia, que não podendo ir, me falou pra
chamar a amiga Leila Esteves. Eu conhecia a Leila, mas nunca passarinhamos
juntas pra valer, apenas uma saída para uma pelágica em setembro de 2014 na
Ilhabela. Expliquei pra ela quais eram as metas da viagem e os locais que eu
teria que ir para achá-los. Dois deles eram lifers para ela.
A Leila pediu um tempo para pensar e logo depois
confirmou sua ida. Ela me repassou desejos de ver outras aves na região onde
iríamos e eu repassei para o Cal compatibilizar com nosso roteiro. Fizemos as
combinações de praxe, porém eu não sabia, nem fazia ideia do que estava por
trás desse "tempo para pensar".
Sou passarinheira faz sete anos, ou melhor, sou fotógrafa
de passarinhos. Com o passar dos anos, principalmente após minha
aposentadoria em 2015, comecei a viajar bem mais e a fotografar cada vez
mais espécies novas (já expliquei como faço isso em palestra transcrita aqui no
Bloguinho).
Isso me fez ficar bastante conhecida no nicho passarinheiro. Eu e Guto Carvalho brincamos que sou celebridade de nicho, ou melhor de bicho. Fato é que meu nome ficou conhecido. Bom ou ruim, isso é apenas fato. Dizem que tornei-me um mito. Querida por alguns e nem tanto por outros. A gente jamais vai ser unanimidade. kkkkkkkk
Li essa frase em algum lugar e achei muito legal: "A
transposição do mito para a vida cotidiana não se faz sem ironia." Os mitos se formam a partir de opiniões
pessoais. Ele representa a imagem de conquista e sucesso almejado por quem o
idolatra e admira. Geralmente as opiniões sobre o mito transcendem a verdade,
os fatos reais. Depois que as pessoas acreditam nas informações em torno do
mito, fica difícil mudar isso e restabelecer a verdade.
Pois sim, falei tudo isso, embora eu não concorde em ser
considerada um mito, muitas opiniões se formaram a meu respeito. E pelo jeito
nem todas muito positivas.
O fato de estar entre os primeiros colocados no ranking
do site Wikiaves como detentora de um grande número de espécies fotografadas é
fruto de muita busca e superação. Isso é consequência das muitas viagens que faço com os excelentes guias que temos. Eu faço isso porque eu gosto, porque curto viajar e
fotografar e ponto.
Quem não me conhece ou nunca passarinhou comigo não tem ideia do porque disso tudo. Sou uma pessoa que já passou por muitas coisas na vida (um dia você vai ler tudo isso no meu futuro livro: Memórias Secretas de uma Passarinheira), inclusive um AVCi, que me colocou entre a vida, a morte/ou uma cadeira de rodas.
Fotógrafa de passarinhos fotografa flores também |
Quem não me conhece ou nunca passarinhou comigo não tem ideia do porque disso tudo. Sou uma pessoa que já passou por muitas coisas na vida (um dia você vai ler tudo isso no meu futuro livro: Memórias Secretas de uma Passarinheira), inclusive um AVCi, que me colocou entre a vida, a morte/ou uma cadeira de rodas.
Enfim, há um preconceito sobre isso muito grande. E o
fato de eu resolver viajar sozinha, me poupando de aborrecimentos que já tive
durante algumas viagens de grupos, reforça esse "pré-conceito" sobre
a Silvia Linhares.
Eu clicando florzinhas by Leila Esteves |
No fundo, no fundo, sou um docinho, desde que seja tudo combinado antes e o respeito impere. Sou uma fotógrafa antes de ser observadora, não das melhores, mas daquelas que se sente tão feliz em produzir uma foto bonita quanto registrar um lifer. Gosto de aves, todas elas.
E detesto
gente maldosa que insinua nas redes sociais que todos os fotógrafos de aves só querem
saber de lifers. Saem vomitando conceitos e preconceitos como se fossem donos
absolutos da verdade. Devem ter seus motivos e experiências ruins pra falarem
isso. É bom sempre lembrar que é preciso ter respeito à individualidade. E não julgar sem conhecer. Você não está dentro da pessoa para entender os "porques" dela. Mas vai esperando, Deus
perdoa e eu anoto os vacilos tudinho numa planilha de excel. kkkkkkkkkkkk
Diferente do que "acham", eu sou daquelas que
fotografa tudo pelo caminho enquanto eu e o guia procuramos os meus lifers. De quero-quero
à rolinha-do-planalto, de buraqueiras a florzinhas. De mamíferos a insetos. De paisagens
a pessoas. Nada passa batido aos meus olhos e lentes. E a questão é a seguinte:
primeiro cumprir as metas. O que está ao redor vem em segundo plano, mas jamais é desprezado.
E com a Leiloca (já estou íntima kkkkkk) não foi diferente. Quase que a Leila deixou de aceitar um convite meu por conta de comentários feitos a meu respeito. Eu ia lamentar muito se ela não tivesse aceito, mas mais que isso, ela ia lamentar, pois iria deixar de fazer seis lifers cascudos, um passeio deliciosamente recheado de muitas risadas e histórias pra contar e o pior: ia deixar de me conhecer melhor e derrubar o mito que se formou ao meu redor.
Lifers da Leila:
papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis)
andorinha-de-dorso-acanelado (Petrochelidon pyrrhonota)
curiango-do-banhado (Hydropsalis anomala)
bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans)
socoí-vermelho (Ixobrychus exilis)
papa-lagarta-de-asa-vermelha (Coccyzus americanus)
Mas o mais bacana foi saber de tudo isso durante a nossa
viagem. E para completar, ela escreveu isso pra mim depois que chegou na casa
dela:
“Ao som do bem te vi e do vento insistente tento aqui
relembrar onde essa história começou. E sim foi com um convite completamente
inesperado que me deixou em uma saia justa: ir ou não ir? Eis a questão. Se eu não for por causa dos comentários que já tinha
ouvido acerca dela nunca iria saber se seria ou não verdade. Se eu fosse corria
o risco de desperdiçar meu tempo, dinheiro e humor e nunca iria saber quem ela
é de fato.
Na duvida resolvi arriscar. E como diz o ditado: quem não
arrisca não petisca!!!
E confesso que ouvir meu coração foi a melhor decisão que
tomei porque pude constatar o quanto estava errada na opinião que tinha formada
a respeito dela!
Hoje aqui quero te pedir sinceras desculpas por ter feito
um julgamento sem bases.
Te conhecer pessoalmente foi incrível e agora posso dizer
sem medo de errar que você é uma pessoa maravilhosa. Uma princesa! Alegre,
espontânea, focada! Uma passarinheira profissional mas que sabe levar tudo com
leveza e alegria. Que soube superar seus desafios sem em um momento sequer
ficar de mau humor. Ao contrario: de riso farto foi seguindo em frente.
Hoje o que tenho a dizer é que mesmo que não tenha mais a
chance de passarinhar com você aprendi grandes lições de vida e a mais
importante de todas é de não fazer pré-julgamentos. Primeiro conhecer,
conhecer....e continuar a não julgar mas sim tentar entender o porque e tolerar
pois somos seres imperfeitos.
Obrigada Silvia Princesa por ter me dado essa
oportunidade. O único problema agora é que tive que abrir mais uma
caixinha no meu coração pra te colocar lá. E esse lugar agora é só seu💖 Fique com Deus
querida e seja muito muito feliz porque você merece!”
Já está me imaginando em lágrimas né, pois acertou em
cheio. Não é todo dia que a gente recebe um feedback honesto e verdadeiro
desses.
E mesmo antes de ler esse feedback dela, escrevi isso no
Facebook quando cheguei:
8 de novembro às 07:24
#Bomdia ☕🍃🌷😎
O destino tem umas coisas muito loucas. De repente por
obra dele, vc se vê passarinhando com um pessoa que até então conhecia muito
pouco. E descobre que essa pessoa é encantadora. No desenrolar da viagem de 3
dias e 1812 km parecíamos amigas de infância. De buraqueiras a espécies
ameaçadíssimas, aventurando-se sob chuva, poças d'água intermináveis e muitos
risos, encerramos ontem uma passarinhada mega feliz. Eu só tenho a agradecer
essa amiga por ter me acompanhado nessa louca aventura com o guia e super amigo
Cal Martins até Uberaba. Eu sinto que ganhei uma irmã, da qual me orgulho
muito. Obrigada Leila Esteves. Espero poder repetir aventuras como essa muitas
vezes.🐦🌷🍻😋💚🍃
E para finalizar esse assunto, vou deixar um poema de
Bráulio Bessa - Do Lado Esquerdo do Peito (para Milton Nascimento)
Ah! Tá! Você entrou aqui para saber como foi a viagem,
né? Então Vamos lá.
04/11/2018 - Domingo
Eu e Leila saímos de São Paulo depois do almoço e fomos
direto para a Eco Pousada em Dourado, onde D. Ana, a proprietária nos atendeu
muito cordialmente.
À noite lanchamos no Bar do João Coxinha, um lugar bem transadinho com chopp artesanal e tudo.
Fomos dormir e só lembro que o vento estava açoitando as árvores violentamente durante a madrugada. Entre o sono pesado e a lucidez eu pensava como ia estar o tempo na manhã seguinte.
Poucos dias antes, o amigo José Dionísio Bertuzzo havia me alertado sobre o risco de atolamento no local do bacurau, mesmo com carro 4x4. Agora pensa, meu Ruber (Duster) é 4x2. E como dizem por aí: segura na mão de Deus e vai.
À noite lanchamos no Bar do João Coxinha, um lugar bem transadinho com chopp artesanal e tudo.
Fomos dormir e só lembro que o vento estava açoitando as árvores violentamente durante a madrugada. Entre o sono pesado e a lucidez eu pensava como ia estar o tempo na manhã seguinte.
Poucos dias antes, o amigo José Dionísio Bertuzzo havia me alertado sobre o risco de atolamento no local do bacurau, mesmo com carro 4x4. Agora pensa, meu Ruber (Duster) é 4x2. E como dizem por aí: segura na mão de Deus e vai.
05/11/2018 - segunda-feira
Acordamos 4:30h e, após um delicioso café servido pela d.
Ana, fomos apanhar o Cal. Para não perder o costume, errei umas três vezes o
caminho até a casa dele, e numa das vezes passei até em frente e não me dei conta.
Seguimos pra Itirapina, local que eu estivera outras
vezes sempre com um calor infernal, de passar mal. Mas não dessa vez. Estava
friozinho, até pedia uma blusinha. Um vento forte cortava o ar. Fiquei só imaginando
se isso iria atrapalhar ou não o encontro com o primeiro dos nossos alvos.
Eu estava torcendo para tudo dar certo e o papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis) aparecer dessa vez. Andamos pelo meio do cerrado e o Cal achou ter ouvido uma resposta do bichinho, porém nem sombra dele. Bateu uma sensação de déjà vu, que nem faz ideia.
Vai ver que era só um tico-tico-do-campo (Ammodramus humeralis) nos confundindo. Andamos por outras bandas e nada. Enquanto o Cal procurava o "pmc", eu e Leila, além das flores, clicamos outros bichinhos como o galito (Alectrurus tricolor), carcará (Caracara plancus), batuqueiro (Saltatricula atricollis), bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) e a guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster).
Quando chegamos em Itirapina - Cal, eu e Leila |
Eu estava torcendo para tudo dar certo e o papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis) aparecer dessa vez. Andamos pelo meio do cerrado e o Cal achou ter ouvido uma resposta do bichinho, porém nem sombra dele. Bateu uma sensação de déjà vu, que nem faz ideia.
Vai ver que era só um tico-tico-do-campo (Ammodramus humeralis) nos confundindo. Andamos por outras bandas e nada. Enquanto o Cal procurava o "pmc", eu e Leila, além das flores, clicamos outros bichinhos como o galito (Alectrurus tricolor), carcará (Caracara plancus), batuqueiro (Saltatricula atricollis), bico-de-veludo (Schistochlamys ruficapillus) e a guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster).
Aves em Itirapina |
Flores em Itirapina |
O Cal resolveu acreditar em seus ouvidos e seguir seus instintos. Retornamos ao local onde iniciamos, e após alguns minutos, quem apareceu? O "pmc", finalmente. Quase não acreditei, e de repente, entre um clique e outro, lágrimas desceram pelos meus olhos e eu comentei isso com o grupo. Só lembro do Cal, entre risos, virar pra mim e dizer: deixa pra chorar depois, se concentra nas fotos".
Foi o que fiz. E o bichinho, embora não tenha se aproximado pra uma foto de quadro, era muito mais lindo e menor do que eu tinha imaginado. E até cliquei ele numa florzinha, pena que tinha galhinhos na frente.
papa-moscas-canela (Polystictus pectoralis) - sem crop à esquerda e com crop à direita |
Cara de felicidade depois de clicar o pmc |
Objetivo atingido, seguimos nosso caminho até Uberaba onde o próximo lifer nos aguardava. No caminho nos divertimos nos postos de gasolina buscando red-ball-lifer, ou seja clique de passarinho em uma cidade para ganhar um pontinho vermelho no mapa pessoal do Wikiaves. Muito bate papo, risos e brincadeiras tomaram conta dos nossos espíritos durante os nossos deslocamentos. Viagem mais divertida impossível.
Chegamos em Uberaba e fomos almoçar num lugar super
gostoso chamado Restaurante D'Familia. Ao final da refeição, descansamos em
redes embaixo das árvores.
Eu by Leila Esteves |
Eu e Cal by Leila Esteves |
Eu e Cal checando as redes sociais by Leila Esteves |
Em seguida o Cal nos conduziu direto ao local onde fica o famoso bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans), só que esse iríamos tentar ver apenas quando escurecesse.
O dia estava cinzento, com a estrada toda encharcada. O
Cal era meu navegador e a Leila o "zequinha". *Sempre tive
curiosidade de saber porque usavam o termo "zequinha" para designar o
caroneiro nas trilhas de rally. Dizem que é por causa do macaquinho que ia
escondido no porta malas do carro Mach 5, do desenho Speed Racer.
Poças d'águas enormes e assustadoras me deixaram
apreensiva. Algumas eu passei sem medo, outras pedi arrego e retornei. O Cal baseado
em sua experiência, ia me dizendo: vai firme, vai pelo meio, pelo canto
direito, esquerdo, ou então, volta que não vai dar. Muitas vezes, descia do
carro e caminhava pelas poças para ver como estava a profundidade e a firmeza.
Eu fiquei orgulhosa de mim, porque o medo desses lugares assim sempre me
assombrou, mas fui tirando de letra. Foi uma tarde muito intensa.
Cal e Leila |
De perdiz
(Rhynchotus rufescens) fujona à ninho de coruja-buraqueira (Athene
cunicularia), de cochicho (Anumbius annumbi) embaixo de chuva ao
papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta) fotogênico, de galito (Alectrurus
tricolor) bem distante à tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa) de encher o
quadro, o dia foi passando. Muitos Sporophilas (cabloclinhos e parentes) pelo caminho ganharam
nossa atenção.
Passamos a tarde rindo e fazendo palhaçada, além de é lógico, ficar comendo muitas besteiras que compramos pelo caminho. Eu sempre digo, Minas é pra gente fazer regime de engorda, é muita coisa gostosa pra comer (ia dizer besteira aqui, mas me contive kkkkkkkk).
A chuva ora dava trégua, ora vinha com tudo, mas no final da tarde, fomos presenteados com um lindo arco-íris.
A chuva ora dava trégua, ora vinha com tudo, mas no final da tarde, fomos presenteados com um lindo arco-íris.
Um presente do céu (com o celular) |
Um presente do céu (com a tele) |
Cal, Leila e eu |
Aqui tinha uma corujinha, ia ser "a foto", mas ela voou antes ... |
Deixei muito piloto de rally no chinelo (brincadeirinha).
Durante o dia já era ruim, imagina o sufoco à noite. Mas quando você tem um
super guia, com cartas na manga, é melhor não duvidar. Tudo sempre dá certo.
Ficamos rodando e o Cal procurando pares de "zoinhos" brilhantes no mato com a lanterna. E pimba, um par de olhinhos, e lá vai a gente correndo pelo mato cheio de morrinhos escorregadios, debaixo de chuva. E num é que havia um bacurau pousadinho num galho. Porém não era o Eleothreptus candicans. Era o curiango-do-banhado (Eleothreptus anomalus). Todo molhado e encolhidinho, fez pose bonita pra foto. Era lifer pra Leila e fiquei muito feliz por conseguirmos um bichinho tão calminho e próximo para clicar.
Foto by Leila Esteves |
Ficamos rodando e o Cal procurando pares de "zoinhos" brilhantes no mato com a lanterna. E pimba, um par de olhinhos, e lá vai a gente correndo pelo mato cheio de morrinhos escorregadios, debaixo de chuva. E num é que havia um bacurau pousadinho num galho. Porém não era o Eleothreptus candicans. Era o curiango-do-banhado (Eleothreptus anomalus). Todo molhado e encolhidinho, fez pose bonita pra foto. Era lifer pra Leila e fiquei muito feliz por conseguirmos um bichinho tão calminho e próximo para clicar.
Continuamos nossa saga e mais um par de olhos chama a
atenção do Cal, parecia uma fêmea do Eleothreptus candicans, mas era outro
Eleothreptus anomalus. No terceiro par de olhos, eu disse pro Cal, vou ficar no
carro se for o E. candicans você acena com a lanterna e eu vou. A Leila
concordou e não desceu também. Era só um bacurau-tesoura.
Roda, roda, roda, e o Cal resolveu passar num outro ponto
que conhecia. E a gente molhada, suja de barro, cansada, mentalmente afetada
(eu estava num ponto que confundia direita com esquerda). Resolvemos ficar no
carro enquanto o Cal procurava o danado.
O combinado era o Cal fazer círculos com a lanterna. E lá estávamos nós duas no maior bate-papo, falando de criaturas, bonitinhos / ordinários, princesos e pacotinhos de amor, quando círculos luminosos se sobressaíram do meio do mato.
Pensa duas loucas correndo, cada uma com sua lanterna e câmera, pisando o mato cheio de buracos, morrinhos e muitos espinhos... eu juro, só vi isso na volta, porque na ida, eu parecia um zumbi disparado. Quase tomei um tombo feio, mas me equilibrei e parti disparada, transpondo a "trancos e barrancos" o que faltava para chegar ao ponto. Pareciam quilômetros intermináveis. Só pensava em chegar antes do bichinho empreender fuga.
O combinado era o Cal fazer círculos com a lanterna. E lá estávamos nós duas no maior bate-papo, falando de criaturas, bonitinhos / ordinários, princesos e pacotinhos de amor, quando círculos luminosos se sobressaíram do meio do mato.
Pensa duas loucas correndo, cada uma com sua lanterna e câmera, pisando o mato cheio de buracos, morrinhos e muitos espinhos... eu juro, só vi isso na volta, porque na ida, eu parecia um zumbi disparado. Quase tomei um tombo feio, mas me equilibrei e parti disparada, transpondo a "trancos e barrancos" o que faltava para chegar ao ponto. Pareciam quilômetros intermináveis. Só pensava em chegar antes do bichinho empreender fuga.
E cheguei. Lá estava o bichinho, com sua cauda branca
reluzindo na noite. Brilhando feito joia no escuro devido às gotas de chuva nas
suas peninhas. Lindo, o mais lindo de todos, a meio metro do chão, pousado num
galhinho. Paradinho, pronto pra ser clicado por Silvia Linhares e Leila
Esteves. Fizemos até selfie depois de clicar o bichinho e conferir as fotos.
Eu me senti agraciada. Procurei um superlativo de felicidade aqui pra descrever mas não há tradução para um momento desses. Só sei dizer que a sensação do suor sob a capa de chuva, o cheiro de chuva, do mato molhado ainda, a tensão de como configurar a câmera o melhor possível, o brilho nos olhos e o tremor das pernas ainda estão presentes quase uma semana depois.
bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans) |
Eu e Leila e o bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans) |
Eu me senti agraciada. Procurei um superlativo de felicidade aqui pra descrever mas não há tradução para um momento desses. Só sei dizer que a sensação do suor sob a capa de chuva, o cheiro de chuva, do mato molhado ainda, a tensão de como configurar a câmera o melhor possível, o brilho nos olhos e o tremor das pernas ainda estão presentes quase uma semana depois.
Feliz com o resultado voltamos pra cidade onde paramos
pra comer numa lanchonete já por volta de 23:30h. Eu estava tão passada que
estacionei o carro mal e porcamente. Rimos muito disso. Até registrei isso. Em seguida fomos para
o Hotel Camaro, local de atendimento prestativo e muito confortável. Dormi
feito anjo.
Foi um dia tão intenso que não parecia que tínhamos saído de madrugada de Dourado. Parecia que estávamos passarinhando fazia mais de 3 dias.
Foi um dia tão intenso que não parecia que tínhamos saído de madrugada de Dourado. Parecia que estávamos passarinhando fazia mais de 3 dias.
Clique aqui para ver minhas listas com fotos
Ou, caso preferir, clique no meu perfil do Wikiaves
06/11/2018 - terça-feira
Acordamos cedo e, após o café, seguimos para Sacramento,
onde o Cal sabia pontos do nosso terceiro alvo: o andarilho (Geositta
poeciloptera). No caminho um quiriquiri (Falco sparverius) de encher o quadro
animou o dia. A chuva cessara e em pouco tempo, o andarilho já estava no meu
cartão. Eu não fiz fotão padrão Instagram, mas ficou super legal. Missão dada, missão cumprida, como disse a Leila.
No caminho três lindas curicacas (Theristicus caudatus),
algumas noivinhas-branca (Xolmis velatus) e muitos pintassilgos (Spinus
magellanicus) fizeram nossa alegria.
Demos um chego rápido no Parna da Serra da Canastra.
Infelizmente nossas pretensões de explorar o Parna, talvez avistar um
lobo-guará, foram abortadas devido a uma enorme cratera cheia de água,
impossibilitando nossa passagem. O jeito foi estacionar e andar um pouco.
Nenhum passarinho se apresentou pra uma boa foto. Mas as florzinhas... ah! As florzinhas! Quanta poesia me inspiraram... E que paz!!!!
Nenhum passarinho se apresentou pra uma boa foto. Mas as florzinhas... ah! As florzinhas! Quanta poesia me inspiraram... E que paz!!!!
A Canastra é linda |
Dali seguimos para a cidade de Conquista tentar um lifer
para a Leila, o estrelinha-preta, que não apareceu. Fiz red-ball-lifer e fotos do Ruber Ramphocelus (Duster), que estava IMUNDO!
Dado o adiantado da hora pegamos rumo pra Dourado, só parando para comer e abastecer.
Chegamos no final da tarde e não havia vaga para nós duas na Eco Pousada, então dormimos no Hotel da Katia, tão bom quanto, embora ambos sejam bastante simples. Eu e Leila fomos ao Bar do João Coxinha, que era só virar a esquina, onde tomei um chopp, comi umas guloseimas e batemos muito papo. E ainda corujamos no caminho até o bar . kkkkkk
Quando cheguei no hotel, tomei um banho quente, cai na cama e desmaiei.
Lá no fundinho, Leila e Cal buscando o estrelinha-preta |
Escrevendo meu nome no carro, by Leila Esteves |
Dado o adiantado da hora pegamos rumo pra Dourado, só parando para comer e abastecer.
Chegamos no final da tarde e não havia vaga para nós duas na Eco Pousada, então dormimos no Hotel da Katia, tão bom quanto, embora ambos sejam bastante simples. Eu e Leila fomos ao Bar do João Coxinha, que era só virar a esquina, onde tomei um chopp, comi umas guloseimas e batemos muito papo. E ainda corujamos no caminho até o bar . kkkkkk
Uma corujona... qual a espécie? |
Quando cheguei no hotel, tomei um banho quente, cai na cama e desmaiei.
Clique aqui para ver minhas listas com fotos
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07/11/2018 - quarta-feira
Acordamos bem cedinho, tomamos café, pegamos o Cal (desta
vez não errei o caminho) e fomos para Boa Esperança do Sul tentar um lifer da
Leila, o socoí-vermelho (Ixobrychus exilis). Bichinho raro e difícil. Enquanto ela e o Cal
aguardavam o bichinho responder e se mostrar, eu fiquei clicando os bichinhos
ao redor. Fui clicando tudo que via e fiz uma listinha considerável.
A freirinha (Arundinicola leucocephala) e a maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus) vão até virar quadro de tão lindas que estavam. De quero-quero (Vanellus chilensis), coruja-buraqueira (Athene cunicularia) à picapauzinho-escamoso (Picumnus albosquamatus), nada escapou dos meus olhos e ouvidos atentos.
A freirinha (Arundinicola leucocephala) e a maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado (Myiarchus tyrannulus) vão até virar quadro de tão lindas que estavam. De quero-quero (Vanellus chilensis), coruja-buraqueira (Athene cunicularia) à picapauzinho-escamoso (Picumnus albosquamatus), nada escapou dos meus olhos e ouvidos atentos.
Enquanto isso o Cal e a Leila entraram no brejo em busca
do socoí, e depois de um tempão, lá vem eles sorridentes, socoí-vermelho (Ixobrychus exilis) checked. Tão bom ver essa expressão feliz no rosto de alguém. Nos abraçamos e
fomos rodar em outros cantos.
Em busca do suiriri-cinzento (Suiriri suiriri) e papa-lagarta (Coccyzus melacoryphus), encontramos um ninho de quiriquiri (Falco sparverius) no alto de um poste com dois "menininhos quiriquiri" nele. Foi o momento mais terno depois do ninho das corujinhas no primeiro dia.
Cal e Leila atrás do socoí-vermelho |
E olha a foto da Leila Esteves no meio dessa brenha toda que ela e o Cal entraram. |
Em busca do suiriri-cinzento (Suiriri suiriri) e papa-lagarta (Coccyzus melacoryphus), encontramos um ninho de quiriquiri (Falco sparverius) no alto de um poste com dois "menininhos quiriquiri" nele. Foi o momento mais terno depois do ninho das corujinhas no primeiro dia.
Mas o show mesmo ficou por conta de duas seriemas (Cariama cristata). Bravas com a nossa presença na localidade, se inflavam toda e partiam em nossa direção, como se isso fosse nos assustar. Foi hilário demais. E rendeu boas fotos.
Retornamos à Dourado onde procuramos o
papa-lagarta-de-asa-vermelha (Coccyzus americanus), lifer para a Leila também.
Ele respondeu bem, mas não saiu da brenha, deu foto mais ou menos, mas deu.
Já na cidade, fomos levar o Cal em casa e aproveitamos
para tomar um café oferecido pela mãe dele. Nem dava vontade de ir embora. Despedimos
e picamos a mula, como se diz no popular. No caminho viemos conversando muito,
parecíamos amigas de infância.
Paramos num Graal, após lancharmos, já na saída do posto,
vimos umas coisinhas muito fofas. Uma família de corujinhas - coruja-buraqueira (Athene cunicularia). Lá fomos nós
fotografar as corujinhas, o que sempre causava muita surpresa na Leila, cada vez que eu
parava para isso, porque ela nunca imaginou que Silvia Linhares fosse capaz de
parar para bichinhos comuns.
Pegamos um belo congestionamento em Campinas o que nos
fez chegar um pouco mais tarde do que prevíamos em São Paulo. Ah! São Paulo,
que amo apesar de tudo, embora seu trânsito me deixe o estômago revirado. Pronto.
Carro sujo na garagem, pronto para o próximo crime. Ficará me aguardando até eu
voltar da próxima viagem. Kkkkkkkkkkk
Congestionamento na Paulista, quase em casa... |
Na garagem, conferindo os Km rodados |
Termino com uma foto de borboleta que significa para mim leveza, liberdade e transitoriedade!!!!
Mt legal o relato Silvia!! Só foto de alto nível como sempre! Parabéns!
ResponderExcluirObrigada Gabriel, fico feliz que tenha gostado.
ExcluirAhhhhhh, quanta coisa linda, fotos, essas são consequência de uma viajem maravilhosa e bem proveitosa e que você sabe bem realizar, parabéns minha princesinha !!!!!!!!!!
ResponderExcluirObrigada querido Anderson. Fico muito feliz que tenha gostado da postagem.
ExcluirQue aventura maravilhosa minha amiga e muito bem relatada como sempre. Parabéns
ResponderExcluirObrigada meu amigo Odair, muito legal ter seu comentário registrado.
ExcluirSi Prin me deleitei com cada palavra, cada foto, video! Quanta paixão no que faz!!! Quanto esmero, quanto carinho!!! A viagem foi maravilhosa e agora ficou linda com seu relato. Adorei tudo e obrigada pelas palavras lindas e carinhosas ditas a mim!!! Simplesmente encantada!!!! Bus
ResponderExcluirFoi uma das melhores viagens do ano. Se eu tivesse ido sozinha talvez não fosse tão alegre. Você, Leila, além de pé quente, tem um riso contagiante.
ExcluirSempre envolvente em seus relatos!
ResponderExcluirObrigada Daniel.
ExcluirGrande Silvita!!!! Super relato. :-*
ResponderExcluirObrigada Marquito.
ExcluirMuy interesante y hermosísimas imágenes!
ResponderExcluirEl Eleothreptus candicans, conocido en guaraní como yvyja'u moroti, está en mi lista de deseos hace bastante tiempo. Es posible encontrarlo en Paraguay en la Reserva Natural del Bosque Mbaracayú y espero tener la oportunidad de fotografiarlo esta temporada. Saludos y gracias por compartir tus experiencias en el blog.
Gracias Guillermo.
ExcluirSilvia, Parabéns pelo detalhes do texto, lendo é como estivesse ao lado de vcs nesta viagem, passando por todas situações descritas. Espero poder conhece-la um dia!
ResponderExcluirMuito bom o seu relato, Silvia. Uma road trip bem proveitosa e divertida. Peguei várias dicas. Obrigado pelo relato.
ResponderExcluirObrigada.Fico muito feliz com seu comentário.
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