quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Dia dos pais: Eu, meu pai e a natureza

Tem um dito popular que diz "recordar é viver".  Então...a gente recorda com saudades apenas das coisas boas, ainda bem, né?
 
Nasci no interior de São Paulo (Presidente Prudente), assim como meu pai JOAQUIM FAUSTINO, que é filho de agricultores. Desde adolescente os interesses profissionais do meu pai sempre foram outros e não as terras dos meus avós. Ele muito cedo tornou-se advogado. Meus avós foram loteando as terras, e quando nasci havia apenas "a chácara". Não era qualquer chácara, era um local sagrado para nós, onde toda a família se reunia para festejar. Todo domingo o almoço era na casa da "Nona".  Meus avós tiveram dez filhos, e uns tantos cinquenta netos, nem entro no mérito dos bisnetos e tataranetos que já perdi as contas (riso). 

E nós, os netos, divertíamos sob e  sobre as árvores da chácara. Fartávamo-nos com as frutas. As jaboticabeiras e goiabeiras eram as minhas preferidas. Brincávamos de pique-pega em cima das árvores, principalmente das mangueiras. Sem noção de perigo. Nunca nenhum de nós se machucou gravemente. Mas levávamos algumas lambadas de vara de marmelo da "D. Giulia", (lê-se Diulia) minha avó, quando arrancávamos frutas verdes do pé e jogávamos fora depois.

Eu e meu pai no "Jardim da Silvia"


Esse preâmbulo é para mostrar minhas raízes na terra, muito além de eu ter nascido sob um dos signos da terra (sou de virgem). (risos). Quando meus avós morreram, a chácara foi vendida e hoje é um bairro cheio de casas enormes.

Mesmo tendo seguido uma área profissional intelectual, o amor pela terra do meu pai nunca desapareceu. Ele cultivou café nos anos 70 no Paraná. Era um dos lugares que eu adorava ir com ele. Muitas vezes ele pedia autorização da professora para me levar para o sítio durante a semana e eu saía no meio da aula. Puro êxtase. Ressalte-se que nunca fui reprovada de ano nem tirei notas vermelhas por isso.

Confesso que não me lembro das aves...apenas do cheiro do mato, do capim e dos pés de café - e óbvio, dos carrapichos grudados nas roupas e sapatos.

Um dos nossos passeios preferidos em família nos fins de semana era ir para Presidente Epitácio no Parque Figueiral (embaixo da ponte que une São Paulo ao Mato Grosso do Sul). Outro passeio que eu adorava era ir para as praias formadas às margens da represa hidrelétrica de Martinópolis. Lógico que nós, crianças, só pensávamos nas delícias proporcionadas pelas águas desses dois lugares.
Pescando em família  (Minha prima Carmen Lúcia, Tia Helena,
eu, meu irmão, minha mãe e de chapéu, meu pai

Outro lugar que eu e meu irmão amávamos ir era para a fazenda dos tios da minha mãe em Avaré, onde nos esbaldávamos em cima de um cavalo às margens da represa Jurumirim.

Aves? Confesso que nessa época ainda não tinha, infelizmente, olhos para aves. Quando muito, alguém nos mostrava uma coruja-buraqueira, e a gente achava o máximo. E tinha um momento especial: jogar pipocas aos pombos na pracinha da minha cidade nos finais das tardes de domingo. Rolava sorvete e a gente "pirava" de felicidade. Nascer e crescer no interior é algo que não tem preço. Só quem teve esse privilégio entende a dimensão do que estou falando.

Foi por meio desse convívio que o meu amor pela natureza se desenvolveu. Muitas águas rolaram. Em 1989 fui morar em Brasília, distante dos meus pais. Nessa época meu pai comprou um sítio a poucos km da cidade, onde ele e minha mãe passavam praticamente todos os fins de semana. Virou ponto de encontro da família (tios e primos) e altas churrascadas.

Ainda sinto o cheiro do pão feito pela minha mãe no forno de barro, que eu levava na mala quando voltava para Brasília  e gulosamente devorava durante a semana. Meu pai vendeu após o falecimento da minha mãe em 2005.

E era nesse sítio, que levava o pomposo nome de "Estância Esmeralda"  (nome da minha mãe) , que eu passava os fins de semana quando chegava de Brasília. Gostava muito e gosto ainda de flores, então eu criei no sítio o "Jardim da Silvia". Plantei muitas flores. E todos da família que iam para lá levavam uma mudinha de alguma planta para incrementar o Jardim da Silvia. Minha mãe ligava para me avisar que essa ou aquela planta tinha florido. E fotografava tudo.

Estância Esmeralda

Adorava sentar-me na beirinha da lagoa, sob a sombra de uma mangueira e ficar sozinha admirando a paisagem e o gado pastando.

Eu na beira da lagoa, clicada pelo meu pai..

Meu pai sempre gostou de criar gado e eu adorava caminhar pelos pastos ao lado dele ouvindo suas histórias tipo: - esse bezerrinho nasceu tal dia e é filho da "fulana", já tá pesando X quilos. Sim, minha mãe e ele batizavam todos os bois, vacas  e bezerrinhos. Havia também muitos cachorros - a gente se divertia muito com eles. Foi uma época muito bacana.

Meu pai dando manga para um bezerrinho

Hoje meu pai ainda mora Pres. Prudente em um apartamento e eu o visito de vez em quando. Na última vez em junho deste ano, meu pai me levou e acompanhou-me numa busca pela coruja-buraqueira albina que habita o Campus II da Universidade de lá. Ficamos a manhã toda e ele me ajudando a achar aves. - "Olha lá uma garça enorme" dizia ele todo empolgado. Não vimos a coruja, mas foi muito bom, levar meu pai, hoje com 75 anos para passarinhar pela primeira vez.

Garça-branca-grande que nós avistamos juntos

Já estamos combinando na minha próxima ida para Pres. Prudente um passeio pelo antigo Parque Figueiral em Porto Epitácio, com a finalidade de buscar as aves que um dia meus olhos deixaram passar em branco.

Acho que se não fosse o meu pai eu não teria tanto apego pela natureza como tenho hoje. Aqui fica registrada a minha homenagem a ele.

Feliz dia dos pais, Pai. Obrigada por tudo.

8 comentários:

  1. como sempre, vc., me emocionou, com o que escreveu, como escreveu, e as fotos, pra mim, nasce 1 escritora. Obrigada por dividir toda essa maravilha, conosco. Baci, Regina

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  2. Sílvia, acho que não tem homenagem melhor do que transcrever em palavras os momentos que você passou com seu pai. São momentos simples, mas, com suas palavras, tornaram-se inesquecíveis. Adorei. Beijos.
    Vera

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  3. Que lindo você compartilhar um pouco da sua vida, sua infância e adolescência com seus amigos, Sil ! eu também teria muito orgulho, não só dessa vivência maravilhosa de interior, mas, principalmente, das pessoas que compartilharam tudo isso com você:- sua família!!! e como é bom poder poder retribuir um pouco desse aprendizado de vida com todos, nas "reuniões anuais" mas,em especial com seu pai,apreciando e se deliciando com as coisas que ele te ensinou a ver com os olhos "do interior"..... Beijo grande aos 2!!! parabéns pelo texto! DINAH

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  4. Voce também me emocionou !!
    Lindo relato , com o qual me identifiquei muito!!

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  5. Lindo o que você escreveu, Sílvia!! Me fez relembrar da minha infância, também no interior. Realmente não tem preço esses momentos passados em lugares tão acolhedores, e com gente que amamos! Um grandei beijo prá você! Jane

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  6. Silvinha, infelizmente não nasci e nem fui criada no interior, no campo, no mato, mas consigo imaginar o quão maravilhoso seria!

    Há muitos anos sonho em morar no campo, acredito que ainda demore um pouco, mas sei que esse sonho ainda irei realizar!

    Seu relato me emocionou, sou muito manteiga!

    Que DEUS abençoe seu pai com muita saúde, e que você e sua família sejam sempre muito felizes!

    Beijinhos :))

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  7. Olá Silvia, que emoção senti quando vi e li o resumo da sua vida, vc é uma pessoa maravilhosa, com sentimentos lindos, e um amor pela natureza, apaixonante, sua fotos para mim são perfeitas...agradeço a Deus por conhecer vc, pois vc é a tia da minha Thaís....seu pai merece a homenagem.....um forte abraço......da Rosana

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  8. Puxa Minha linda, me emocionei.
    Principalmente por ter participado com você e seu pai, (meu irmão) desta sua narrativa.
    Quantos churrascos na Estancia esmeralda eu fui, muitos sem você, mas eu sempre que pude estava lá. Fico feliz com todas estas lembranças que também são minhas. Beijos no seu coração
    Tia e madrinha pina

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