terça-feira, 26 de abril de 2016

Os fantasminhas da floresta. Passarinhando em Joinville/SC

Vamos falar de Joinville/SC. Não foi a primeira vez que fui até lá fotografar aves. Já tinha estado lá em outra oportunidade, a convite da grande irmã de coração Carmen Bays, onde vi espécies raras e fiz muitos fotos legais. 

Nos últimos tempos o amigo passarinheiro Vilde Florêncio, além de excelente fotógrafo, tem encontrado pontos super quentes para fotografar bichos difíceis. Aqueles que eu chamo de fantasminhas da floresta. O processo foi trabalhoso. Ele ajeitou um cenário, o mais natural possível e passou a por grãos para os bichos. Eles vem em busca de alimentos e se expõem para fotos. Mas ele foi além, criou abrigos camuflados, com banquinhos, onde é só sentar, armar o tripé, a câmera e esperar. A espera pode ser cansativa, mas os bichos vem. Uma hora vem. Aí é só clicar.

Abrigo camufladíssimo (foto by Vilde)
19/02/2016 (sexta)

Em fevereiro deste ano fui com o amigo Emerson Kaseker para Joinville. Chegamos na sexta na hora e fomos para o hotel. De lá o Vilde nos levou ao ponto quente onde "suas crianças" vem buscar os grãozinhos. Você senta, monta a câmera no tripé e aguarda. Não pode conversar nem ficar se movimentando. As aves só aparecem quando o silêncio é total.

Chegam com timidez, passinhos inseguros, olhando para todos os lados, pegam um grão e olham de novo, até ganhar confiança e começar a comer calmamente, mas sempre vigilantes.  Aí você pode fotografar a vontade. 

Apesar do calor insuportável, da umidade ao extremo e a paciência se esgotando, eis que chega o primeiro. Um inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus), tranquilo, então pude fazer fotos muito lindas dele. Quase um lifer, pois a foto que eu tinha, era um borrão, que não deu nem pra ver direito, lá em Águas da Prata. 

Não demorou muito e veio uma pariri (Geotrygon montana), uma das pombas mais bonitas que já vi, e foi uma oportunidade dupla, pois deu para fazer o macho e a fêmea. Depois uma saracura-do-mato (Aramides saracura) apareceu para comer. Essa ficou vários minutos parada, olhando ao redor como quem não quer nada..espantou todos os bichos menores que a gente queria ver. Já tarde, voltamos pra cidade, jantei e fui dormir, na expectativa de ver mais fantasminhas no dia seguinte. 

inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus)
pariri (Geotrygon montana)
saracura-do-mato (Aramides saracura
20/02/2016 (sábado)

Acordei cedo e fomos ver se as aves estavam mais colaborativas. Fazia muito mais calor que o dia anterior. Não rendeu o que a gente esperava. As belezas que costumam frequentar o local desapareceram. Para não dizer que não teve nada um pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis), um juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla) toda com as penas "descabeladas" deram o ar da graça.

juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla
pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis)
E pra ajudar a saracura-do-mato (Aramides saracura) voltou e espantou todas as aves ... No fim a pariri (Geotrygon montana), meio com dó de mim, deu as caras e só faltou dizer, "vai me fotografar? estou aqui pra te consolar". No fim do dia a contabilidade foi baixa, fiquei tristinha.

pariri (Geotrygon montana)
21/02/2016 (domingo)

Acordei cedo e fui encontrar no salão do café a amiga Carmem Bays e o amigo Adrian Rupp, que estavam hospedados no mesmo hotel. Foi super legal encontrá-los e tomar café da manhã com eles. 

Voltamos lá no domingo, pois como sempre digo, desistir é para os fracos. Logo no início a tovaca-campainha (Chamaeza campanisona) deu umas voltinhas rápidas pela passarela. Ficou pouco tempo e estava muito escuro. E quem apareceu? Quem? A sem-vergonha da saracura-do-mato (Aramides saracura). Ainda bem que se mandou rapidinho. Aí começou a chover e forte. O abrigo tinha algumas goteiras. Parecia que o dia ia ser perdido, só que não. Logo após a chuva, os bichos começaram a desfilar. Aí sim, a coisa começou a ficar pra lá de boa.

Primeiro o inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) cantou, depois apareceu timidamente, apenas dez clics e ele se foi. Espécie fotografada nº 1150. Ai como eu queria ver esse bichinho, é muito lindo, ficou poucos segundos no local, mas valeu pela realização do meu desejo.

inhambu-chintã (Crypturellus tataupa)
Não demorou muito, o inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus) veio se mostrar, ainda com gotículas de chuva em seu dorso. Só fotão. Um casal de pariri (Geotrygon montana) apareceu para a gente melhorar a foto. 

E quando a gente não dava mais nada, eis que o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus) deu as caras. Desconfiado, sorrateiro, belo. Bicho que há muito eu queria ver. Achei até que não ia rolar, mas o bichinho veio e desfilou na nossa frente. Ficou comendo desconfiado, depois fez que ia embora, mas se arrependeu, voltou e comeu mais um pouco. Logo em seguida já era hora de ir embora.

inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus)
jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus
pariri (Geotrygon montana) - fêmea
pariri (Geotrygon montana) - macho
E o que posso concluir? Que valeu cada uma das trinta e poucas picadas de pernilongo, borrachudo e mutuca, onde repelente nenhum conteve as investidas por sobre a roupa. Que não importou ter ficado horas e horas sentada de vigília, quase cochilando em alguns momentos, com um calor torturante, e nesse dia, com baitas goteiras na hora da chuva, na casinha camuflada preparada pelo Vilde. O resultado foi maravilhoso.

Enfim, foi um fim de semana super gostoso.

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2 comentários:

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