domingo, 15 de fevereiro de 2015

DF - Brasília - o cerrado e seus passarinhos

30/10/2014 (quinta-feira)


Desde julho/2014 que eu vinha pensando em ir para Brasília, queria rever os grandes amigos que lá deixei desde 2003, quando me mudei para São Paulo. 

Assim que surgiu a oportunidade eu me programei para ir. Queria aproveitar também para ver os bacuraus de lá e o famoso Tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis). 

Reservei os primeiros dias para reencontrar os amigos. Esses reencontros são fantásticos e sempre nos reservam muitas alegrias. Um happy-hour ali, um almoço aqui, um café da tarde acolá e muita conversa jogada fora. Tem coisa melhor que isso?

Aliás, é algo que vou aproveitar para comentar aqui: Essa foi uma das viagens mais legais do ano. Primeiro porque pude matar as saudades da minha irmã de coração, a Laurinha. Também pude matar a saudade da turma de amigos que não via há muito tempo. E depois porque fiz uma das passarinhadas mais gostosas do ano. Só de ser no DF, lugar que foi meu lar durante tantos anos, já foi bárbaro.

João e Laura
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Reunião com as amigas Laura, Carla, Líbia e respectivos familiares
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Eu, Laura, Flavinha e família muito querida
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Eu, Haroldo, Silvana e João em pé - David, Marisa, Pedrinho e Ana Paula sentados
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

02/11/2014 – (domingo)


Havia combinado com a amiga Fernanda Fernandex sair passarinhar no domingo (02/11) e na segunda (03/11), tendo como guia o Jonatas Rocha. A gente tinha alinhavado a passarinhada pelo Facebook, mas faltavam alguns detalhes que só combinamos no sábado à noite. No domingo a Fernanda me apanhou e encontramos com o Jonatas na Flona Brasília.

Eu adoro o cerrado e sua vegetação exuberante. Sempre amei o cerrado,  mesmo quando nem me imaginava vir a ser uma observadora de aves. Sua flora e avifauna são riquíssimas. Geralmente a luz para fotografar é mágica e proporciona um festival de fotos espetaculares.

Fernanda e Jonatas
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Acordamos bem cedo e seguimos para o mato. O frescor e o aroma da manhã traziam um encanto sem igual. O corpo e a mente são tomados por um sentimento de tranquilidade x expectativa impossível de traduzir em palavras.

E lá vamos nós começarmos a “caça”. Munidas com nossas câmeras e pesadas lentes, lá estávamos, eu e Fernanda abaixadas atrás de uma moita a espera da nossa “primeira estrela”... Em poucos minutos o Jonatas colocou na nossa frente a Sanã-castanha (Laterallus viridis). 

Havia duas, uma era mais exibidinha e ficou desfilando de um lado para outro. São muito graciosas. 

Ela dava alguns passinhos, parava, nos espiava e atravessava correndo. Foi ganhando confiança e ficando curiosa e chegou a caminhar de mansinho em nossa direção. Depois corria e se escondia no meio do mato. Foi muito divertido.

Sanã-castanha (Laterallus viridis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Seguimos nosso caminho e paramos para contemplar dois Papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta). É uma ave campestre que habita os capinzais altos, úmidos ou secos, a meia altura e se alimenta de insetos, vivendo em pequenos bandos. 

Encontra-se ameaçada por perda de habitat. Ficamos extasiados com a beleza e graça desses pequeninos. Além de fazermos muitas fotos bonitas, ficamos um tempão só observando o comportamento do que parecia ser um casal.

Papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Papa-moscas-do-campo (Culicivora caudacuta)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Uma Corruíra-do-campo (Cistothorus platensis) não estava muito interessada em fazer poses para nossas lentes e ficou observando nossa movimentação de longe mesmo. A gente até “pediu” para ela vir mais perto, mas como ela não nos atendeu, deixamos de lado e a nossa atenção se voltou para o Canário-do-campo (Emberizoides herbicola). 

Bastante exibido, não parava de posar para nossas câmeras. Foi um momento muito descontraído e gostoso. Ainda avistamos e registramos a Maria-cavaleira (Myiarchus ferox), o Tempera-viola (Saltator maximus), o Bico-chato-de-orelha-preta (Tolmomyias sulphurescens). Nenhum era lifer para mim, mas eu adorei contemplar pelo caminho tamanha variedade.
 
Canário-do-campo (Emberizoides herbicola)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Mais um pouco e eis que surge um Tucão (Elaenia obscura), desses que eu brinco, não tem cor de nada e a identificação é fogo. Se não estiver acompanhada de um bom guia, ou não gravar a vocalização, esquece, nem gaste clique. 

Mas esse foi especial. Cantou, se exibiu, se aproximou sem receio da gente. Acho que as aves da Flona são todas muito amigas do Jonatas. Parecem vir reverenciá-lo quando ele aparece. Sorte nossa.
 
Tucão (Elaenia obscura)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Sorte mesmo, pois não demorou muito tempo, sabe quem o Jonatas nos mostrou? Ele, o cinzentinho, pequenino, irriquieto, mas tão desejado e esperado. Com vocês a estrela do cerrado: Tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis). Para tranqüilizá-lo, eu e a Fernanda nos sentamos no chão e nos mexemos bem pouco. 

O local era bem escuro, quase uma caverna vegetal...eh eh eh , comecei com ISO 2000, mas depois um raio de sol iluminou o palco do bichinho e pude ir baixando. Ficamos bastante tempo por ali, e o bichinho estava nem aí para a gente, estava forrageando e de repente cantou, cantou tanto que até o Jonatas ficou abismado...lógico que isso me custou uns carrapatinhos nos tornozelos..."ossos do ofício" rs rs rs ...
 
Tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Tapaculo-de-brasília (Scytalopus novacapitalis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Foi uma manhã divertidíssima. Paramos para um descanso e aproveitamos para fazer um lanchinho básico no meio do mato. Após esse pit-stop, seguimos por vários lugares procurando aves interessantes, mas o ponto alto da nossa passarinhada ainda estava por vir: os bacuraus. 

No meio da nada, embrenhada no mato, achei uma toalha rosa e o Jonatas disse: é do Júlio Silveira, ele perdeu quando veio aqui...morremos de rir da toalha rosa e pelo fato de tê-la achado...e assim, vamos colecionando histórias.
 
Eu, Fernanda e Jonatas
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Eu, Fernanda e Jonatas
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Jonatas e a toalha do Júlio Silveira
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Porém tínhamos que esperar escurecer. Enquanto isso, um casal de Sanhaçu-de-fogo (Piranga flava) nos deixou de queixo caído ...O cerrado é mesmo uma caixinha de surpresas.
 
Sanhaçu-de-fogo (Piranga flava) - macho
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Sanhaçu-de-fogo (Piranga flava) - fêmea
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Até a Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) mostrou toda sua fotogenia nesse dia. E antes que as luzes da tarde nos abandonassem, um Chibum (Elaenia chiriquensis) e um Tico-tico-de-máscara-negra (Coryphaspiza melanotis) me fizeram ficar saltitante de felicidade. 

Afinal os dois eram lifers para mim. A luz estava muito ruim, o lusco-fusco não é bom para fotografar aves. Com flash ou sem ele, é um desafio conseguir uma foto boa. Mas era o que tinha para o momento.

Coruja-buraqueira (Athene cunicularia)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Tico-tico-de-máscara-negra (Coryphaspiza melanotis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Já escuro, hora de ir atrás dos bacuraus. Porém, um pouco antes, avistamos no alto de uma árvore um ninho de Acauã (Herpetotheres cachinnans) com filhotes. Não quisemos assustá-los, então só fizemos umas duas fotos e seguimos nosso caminho.
 
Acauã (Herpetotheres cachinnans)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

O primeiro a ser localizado foi o Bacurau-de-rabo-maculado (Hydropsalis maculicauda), de acordo com o Jonatas, o mais difícil deles. Ele deu baile, foi de um lado para o outro, fazendo a gente se deslocar muito. 

De repente o Jonatas localizou seu poleiro. Fomos chegando com jeitinho, sempre orientadas pelo Jonatas e ficamos muito pertinho do bichinho, coisa mais fofa do mundo. Foi emoção demais.
 
Bacurau-de-rabo-maculado (Hydropsalis maculicauda)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Seguimos para o segundo, num ponto onde o Jonatas disse que era território do Curiango-do-banhado (Hydropsalis anomala). Esse nem teve graça (brincadeirinha). 

O Jonatas localizou-o, iluminou e nos aproximamos o tanto que quisemos, sem molestar o bichinho,  lógico. Foi tão fácil e rápido que nem acreditei. Mais um fofinho para a coleção.
 
Curiango-do-banhado (Hydropsalis anomala)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Fernanda e eu e o Curiango-do-banhado (Hydropsalis anomala) by Jonatas
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

No retorno, o Jonatas avistou um Bacurau-chintã (Hydropsalis parvula), que também era lifer para mim. Paramos e sob sua orientação chegamos do ladinho dele. Fizemos uma foto mais linda do que a outra. Cheguei perto de 22 horas ou mais na casa da minha querida amiga Laura. Dormi feito anjo.
 
Bacurau-chintã (Hydropsalis parvula)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

03/11/2014 – (segunda-feira)


Na manhã seguinte, seguimos para o Altiplano, um local no Lago Sul muito legal de passarinhar. Fomos recebidos pelo canto melodioso da Corruíra-do-campo (Cistothorus platensis), no entanto ela só ficava longe ou na contraluz, mas pelo menos melhorei o registro do dia anterior.
 
Corruíra-do-campo (Cistothorus platensis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Em seguida o Tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata) permitiu que fizéssemos fotos lindas.
 
Tapaculo-de-colarinho (Melanopareia torquata)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

O objetivo inicial seria o Bacurauzinho (Chordeiles pusillus) e esse não decepcionou. Sob a luz matinal do topo do morro, ele permitiu uma aproximação emocionante.
 
Bacurauzinho (Chordeiles pusillus)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Depois, descemos o morro e fomos até a parte baixa tentar mais aves. Algumas aves responderam bem, outras nem tanto. O Chibum (Elaenia chiriquensis) apareceu e pudemos, então, fazer fotão dele. Desta vez com luz bem bonita. O Campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens), cujo azul encanta só de olhar, deu um show a parte.
 
Chibum (Elaenia chiriquensis)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Seguimos para uma matinha e vimos algumas espécies bacanas. Um Fruxu-do-cerradão (Neopelma pallescens) chegou tão perto que não cabia no quadro da lente 300 mm e eu tive que me afastar. 
 
Fruxu-do-cerradão (Neopelma pallescens)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Estrelinha-preta (Synallaxis scutata), como todo synallaxis tem um gênio danado, adora ficar embrenhado. Ele apareceu rapidamente, sempre se escondendo, mas acabou me dando o gostinho de fazer foto, somando mais um lifer


Estrelinha-preta (Synallaxis scutata)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

O belíssimo Tico-tico-de-bico-amarelo (Arremon flavirostris) também queria participar da festa e veio ver o que estava acontecendo. Já estava passando da hora do almoço e resolvemos voltar. No caminho a Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata) mostrou sua linda crista para nossas lentes.

Tico-tico-de-bico-amarelo (Arremon flavirostris)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

De repente num fio, pousadinha, uma Peitica-de-chapéu-preto (Griseotyrannus aurantioatrocristatus) – eita nome científico grande - que era lifer para mim. 

Nem saí do carro e fiz fotão. Ainda tive que aguentar a Fernanda zoando comigo. “Como pode alguém que tem mais de 800 espécies clicadas não ter essa peitica”...uai...acontece...
 
Peitica-de-chapéu-preto (Griseotyrannus aurantioatrocristatus)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Na volta do Altiplano, seguimos para a Praça dos Cristais no Setor Militar Urbano. Existe um espelho d'água lá, com garças, socós, biguás, savacus e mais legal que isso, no buritizal ao seu redor, centenas de andorinhões-do-buriti fazem seus ninhos.

Logo na chegada, cliquei duas Marias-faceira (Syrigma sibilatrix) de forma magistral. Ô bichinho bonito. Havia muitas Garças-branca-grande (Ardea alba), Biguás (Phalacrocorax brasilianus) e um belo Sabiá-do-campo (Mimus saturninus).
 
Marias-faceira (Syrigma sibilatrix)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Maria-faceira (Syrigma sibilatrix)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Sabiá-do-campo (Mimus saturninus)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Ver os Andorinhão-do-buriti (Tachornis squamata) foi muito interessante. Os andorinhões entravam nos ninhos e saiam feito foguetes. Foi um final de passarinhada memorável. Com aquela luz de fim de tarde do planalto central. E Santa Clara não me decepcionou. Chuva? Só depois da passarinhada terminar.
 
Andorinhão-do-buriti (Tachornis squamata)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Andorinhão-do-buriti (Tachornis squamata)
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

A sinergia do nosso pequeno grupo, tanto o de Ilhabela que fui alguns dias antes (link aqui), quanto esse de Brasília mostrou como isso ajuda a atrair as aves. Não basta só um bom guia e um local legal. 

Lógico que isso é imprescindível, mas as boas energias ajudam muito na busca e encontro das aves. Elas parecem sentir que o ambiente não é tenso, é amigável, sei lá, quem sabe Freud explica lá do além. (risos)

Jonatas, Fernanda e eu
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Jonatas, Fernanda e eu
arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

O Jonatas Rocha é um guia muito tranquilo e atencioso, além de muito competente. Eu, ele e a Fernanda Fernandes passamos dois dias passarinhando e rimos muito das nossas trapalhadas...Até a próxima!!!



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