quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

VE - Enfim, Gran Sabana!

Enfim, Gran Sabana!


“Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.” (autor desconhecido)


Estava com saudades dos meus textões? Pois é, faz tempo que não tenho tempo para parar, sentar e escrever. O ano de 2024 foi um ano muito intenso para mim, com muitas mudanças, principalmente internas e atividades mil se sobrepondo umas às outras.

Vou tentar colocar meu bloguinho/diário pessoal em dia, a começar pela última viagem do ano, feita em dezembro 2024. “Enfim, Gran Sabana!”

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Esse post contém uma dedicação muito especial. A expedição à Gran Sabana foi inicialmente desenhada e oferecida pelo meu amigo Francisco Diniz que, infelizmente, deixou essa vida prematuramente.

Aonde você estiver Chiquinho, saiba que cada ave que eu fotografei, sentia que seu espírito estava ali ao meu lado, torcendo por mim como da primeira vez que passarinhamos juntos.

Cada fim de tarde exaltava uma esperança. As nuvens sobre os Tepuis, ao longe, ora azuis, douradas ou avermelhadas, insistiam em cobrir o horizonte, tornando minha estadia tão emblemática quanto meu pensamento. Era mágico! Indescritível!

A “manteiga” aqui vai ter que fazer uma pausa para continuar esse texto, pois nesse exato momento, as lágrimas turvam minha visão e um nó invisível aperta minha garganta. 🫠😮‍💨😪

(pausa)

Se você gosta de rock & roll, vou deixar um vídeo da minha banda preferida a seguir, só dar play e ouvir aqui mesmo, enquanto continua lendo. Eu tenho certeza que se os integrantes do The Hu Band conhecessem os Tepuis iam querer fazer esse clip lá e não na  terra deles, a Mongólia.


Esse meu desejo de conhecer a Gran Sabana tem história! É cheia de sonhos até a sua realização. Está mais pra seriado, com muitas temporadas e incontáveis episódios. 😆😆😆

Lá nos primórdios de 2014, já com as “antenas passarinheiras” ligadas, ao ver algumas belas postagens sobre as aves dos tepuis por alguns amigos, fiquei com vontade de conhecer o Monte Roraima e a Gran Sabana.

Lembro que tudo começou quando eu vi a foto do amigo Fabio Olmos no Wikiaves: um lindo anambé-dos-tepuis (Pipreola whitelyi), antigamente chamado de anambé-de-whitely. Deu aquela coceirinha na barriga de vontade ir.

O amigo capixaba Almir Jacomelli, que eu conheci por intermédio da amiga Claudia Brasileiro, biólogo, gestor ambiental, fotógrafo amador da vida selvagem, cervejeiro, restaurador de florestas, como ele se intitula, promovia, na época, expedições à Venezuela e ao Monte Roraima e Fábio foi um dos seus primeiros clientes.

Tentei fazer parte de um dos grupos que ele conduziria ao Monte, mas, infelizmente, nunca dei sorte. Sempre fiquei no “quase”. Sabia que seus parceiros eram os guias de turismo Tensing, da Roraima Adventure e Francisco Diniz da Makunaima Turismo.

Aí, quando finalmente eu consegui agendar uma data e estava tudo certinho pra minha ida, houve o rompimento da barragem em Mariana/MG e Jacomelli foi contratado pela Vale para fazer a restauração e compensação dos danos causados pelo fatal acidente tendo que cancelar as expedições pré-agendadas.

Eu cheguei a ver com o guia André di Grassi a possibilidade de fazer essa viagem com ele, mas também não rolou.

O amigo Jacomelli me passou o contato do Francisco Diniz, seu parceiro e guia de turismo de Roraima, para me levar ao Monte. Este estava em plena ascensão como guia de observação de aves em Roraíma. Final de 2017 eu combinei com o Francisco de ir primeiro para Roraima, onde eu tinha muitas *aves novas (*lifers) para fazer.

Por sugestão dele, agendamos para março de 2018 nossa expedição à Roraima. Um pouco do significado dela na minha vida está contado aqui

Em 2019 eu e o já super amigo Francisco, a quem hospedei em minha casa algumas vezes, combinamos fazer uma expedição à Sierra de Lema na Venezuela e ao Apiaú em Roraima

Em nossos bate-papos a gente sempre comentava muito sobre o assunto. Combinamos para dezembro de 2019, mas problemas de saúde do Francisco e entraves políticos na fronteira venezuelana nos impediu de concretizar a tão desejada expedição.

Em 2020 veio a pandemia de COVID19 então e tudo ficou paralisado. Eu ainda sonhava com a expedição ao Apiaú e Sierra de Lema. Francisco e eu ainda trocávamos muitas ideias sobre isso bem como sobre coisas da vida, mas cada um fechado dentro do seu mundo pandêmico.

Em janeiro de 2021, o amigo Norton Santos me convidou para ir ao Apiaú procurar a sonhada corujinha-de-roraima (Megascops roraimae). Ele inclusive criou um grupo para discutirmos essa possibilidade. Não lembro o que houve, talvez por que estávamos aguardando as vacinas da COVID19, acabou que, mais uma vez não deu certo.

Chiquinho não estava bem, sua saúde atravessava uma fase bem difícil, porém cada passo que ele dava dentro das suas tentativas de recuperação, ele fazia questão de me informar.

Os dias foram se passando, a pandemia chegou ao final e passamos a vivenciar um “novo normal”.

Em 2023 Chiquinho passou por um episódio marcante. Perdeu seu pai. Pediu mais uma vez que eu o hospedasse durante o Avistar. E assim o fiz, mas percebi que ele ainda estava tentando se reequilibrar, tanto na parte física quanto emocional, embora fosse o mesmo ser iluminado que eu havia conhecido em 2018.

Em março de 2023, o amigo Fábio Olmos conversou comigo sobre a possibilidade de eu integrar um grupo para passarinhar em La Escalera/Sierra di Lema na Venezuela.

Ele me explicou o porque não valia a pena eu ir até o cume do Monte Roraima, e que seria melhor ir apenas até a Gran Sabana, onde as passarinhadas eram mais simples, sempre de carro. O grupo seria composto por ele, sua esposa Rita Souza, Fernando Pacheco, Albert Aguiar e eu. Fechamos o pacote com a Makunaima, tendo Francisco como tour lider, para novembro de 2023. Em algum momento houve desistências e substituições no grupo inicialmente formado.

Francisco me disse que ia fazer um teste do roteiro com o pessoal do COA/RR antes, pois nunca tinha passarinhado por aquelas bandas.

Com tudo planejado para novembro de 2023, um fato muito doloroso marcou o mês de outubro: Francisco nos deixou. Neste fatídico dia, Francisco me passou o contato do guia local e também do responsável pela logística da expedição programada (Ivan Tepedino e Ricardo Brassington) e disse pra eu conversar direto com eles, caso quisesse mais informações.

Diante deste fato, cancelei minha ida para Sierra de Lema, uma vez que não me sentia emocionalmente capaz de realizar a viagem. Fabio e Rita encararam fazer a expedição a partir de orientação do sócio do Francisco, o Helio, da Makunaima.

O trip report do Fabio Olmos sobre o sucesso da expedição foi decisivo para que eu pensasse em fazê-la no futuro. Veja o relato aqui.

Posteriormente, quando fui à Boa Nova/BA em novembro/2024, eu recebi um belo relato do meu amigo baiano Roberval Santos, que tinha feito a expedição com Ivan e Ricardo. Ele me repassou preciosas dicas, o que só aumentou minha vontade de ir.

Ronilson, o presidente do COA/RR 


Mas como tudo começou a se desenhar em 2024 até tornar-se realidade? 

Foi num grupo no Wapp sobre aves que eu e o amigo até então virtual, o presidente do COA/RR (Clube dos Observadores de aves de Roraíma), Ronilson Cavalcante, conversávamos, que surgiu o assunto sobre meu desejo de voltar à Roraima e ir até a Venezuela também.

Ronilson Cavalcante
Arquivo pessoal Leila Esteves

Trocando ideias com ele sobre as aves da Gran Sabana e Apiaú, contei minha saga todinha (essa do capítulo anterior), mencionando todas as tentativas frustradas até então.

Eu disse que estava pensando em pedir aos venezuelanos Ivan e Ricardo para realizar a Expedição planejada em 2023. Ele manifestou vontade de participar também.

Nos primeiros meses de 2024 eu já estava com a agenda lotada e de malas prontas para uma viagem à Cuba e Colômbia (que ainda irei descrever aqui), além de várias participações em eventos regionais onde iria ministrar palestras.

Por isso pedi auxílio a ele nas negociações das datas com Ivan e Ricardo. Também trocamos ideia e pensamos em mais três pessoas para nos acompanhar, já que a expedição fora desenhada para cinco pessoas.

Surgiram muitos nomes, mas decidimos por três amigos que nós dois já conhecíamos. Duas delas minhas mana-amigas Viviane de Luccia e Leila Esteves e o outro o Climério Brito, com quem Ronilson tinha ido ao Monte Roraima dois anos antes.

Ronilson, além de ter se tornado um grande amigo, foi pessoa essencial no sucesso dessa expedição. Devo muito a ele. Espero que a gente possa participar de mais expedições como esta.

E com essa frase abaixo termino este capítulo: “Quando encontrar um obstáculo grande na vida, não desanime, pois com tempo ele se tornará pequeno. Não porque irá diminuir, mas porque você irá crescer. (autor desconhecido)

Gran Sabana & Sierra de Lema (La Escalera)


Você deve ter ficado confuso ao me ver mencionar tantos nomes de lugares até aqui. Vou explicar melhor do que se tratam. 
(informações pesquisadas no Google, extraídas do site hike - venezuela e wikipedia.org/wiki/Gran_Sabana).

A Gran Sabana é uma região natural localizada no sul da Venezuela, no Planalto das Guianas, na parte sudeste do Estado de Bolívar, estendendo-se até a fronteira com o Brasil no Estado de Roraima. 

As montanhas, planícies e florestas da Gran Sabana são protegidas pelo Parque Nacional de Canaima. Fazem parte de uma das formações geológicas mais antigas do mundo, remontando a mais de dois bilhões de anos.  

ilustração by Peter Leibfarth 
arquivo do site hike - venezuela

É uma área de cadeia montanhosa com tepuisNo idioma Pemon, tepui significa “A Casa dos Espíritos”. Tepui é um tipo de meseta especialmente abrupta, com paredes verticais e cimo geralmente plano, composta de quartzito e arenito com leitos de ardósia, característica do chamado Escudo das Guianas.

arquivo do site hike - venezuela

As principais atrações da região para "turistas normais" dGran Sabana são a Lagoa de Canaima, com o seu gigante Salto Angel - considerada a maior cachoeira do mundo - e a caminhada até o topo do Monte Roraima, em 2810 metros, o mais alto dos tepuis e o ponto de tríplice fronteira entre Venezuela, Brasil e Guiana.

Já a Sierra de Lema é um agrupamento de montanhas e planaltos situada ao norte da Gran Sabana e que marca a divisão de drenagem entre as bacias de drenagem do rio Caroní e do rio Cuyuni. Está parcialmente dentro dos limites do Parque Nacional Canaima e abrange uma série de tepuis proeminentes. 

A amplitude de elevação da Sierra de Lema é de cerca de 150–1.650 metros acima do nível do mar. A paisagem ondulada e florestada de La Escalera ("A Escadaria") também faz parte da Sierra de Lema. Há florestas úmidas intactas ainda.

Para os observadores de aves, a Sierra de Lema é um lugar de muita riqueza ornitológica. 

A cidade mais importante da região é Santa Elena de Uairén, que fica a 15 quilômetros da fronteira venezuelana-brasileira. Tem uma população de aproximadamente 30.000 habitantes e é o ponto de partida para expedições sejam lá quais forem seus objetivos.

Estive em Santa Elena de Uairén em 2018 apenas para registrar uma ave e colocar uma bandeirinha no meu colete de fotografia.

11 dez 2024 - quarta-feira


Passemos ao diário da expedição. Após tudo combinado, "simbora" contar como foi cada dia dessa expedição.

Eu preparada para ir para o aeroporto
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Meu voo saía às 18:00 horas de São Paulo, com chegada prevista em Boa Vista em torno de meia noite e pouco, lembrando que o fuso horário de Boa Vista segue o Horário Padrão do Amazonas: Boa Vista, RR (GMT-4), ou seja aqui em São Paulo 20:31h, lá 19:31h.

Um probleminha no embarque fez com que o tempo de conexão em Brasília fosse encurtado, não sobrando tempo sequer para uma refeição. Mas pelo menos fiz uma boa ação. Ajudei uma mãe venezuelana com seu filho, desesperada de medo de embarcar e voar. Eu consegui acalmá-la e os levei para a fila de embarque junto comigo.

No meu voo Brasília-Boa Vista tive a honra de sentar-me ao lado de um judoca roraimense chamado Endryw Henrique da Silva Malheiros. Ele havia faturado o primeiro lugar nos Jogos Sul-Americanos Escolares 2024 e voltava da Colômbia feliz e orgulhoso com suas medalhas.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Puxa papo daqui, puxa papo dali, também na minha fileira estava a simpática Secretária de Obras de Boa Vista, Deusiana Ferreira Costa Gouveia. Conversamos por um tempo e depois ainda consegui dormir um pouco.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Uma grande aventura me aguardava.

12 dez 2024 - quinta-feira


Ronilson me aguardava no aeroporto de Boa Vista, deixando então de ser amigo virtual para ser amigo presencial. Fomos direto para a casa dele, onde uma cama também me aguardava. 🥱

Eu viajei pronta para passarinhar. Tirei a parte mais pesada da roupa e dormi um pouco, ainda hoje me pergunto: como fiz para “dormir 8 horas em apenas 3”? 😁🥱😲


A gente iria acordar muito cedo para tentar ver um falcãozinho migratório que passa todos os anos por Boa Vista. Passamos no Kantinho da Konchita antes para tomar um café antes de buscar as mana-amigas Leilinha e Vivi num hotel próximo.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

O famigerado falcãozinho, que eu dava como certo fazer pelo menos um registro, chamado Esmerilhão (Falco columbarius), infelizmente, não "deu as caras", deixando-nos a "ver navios".

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Tomamos café novamente na casa do Ronilson, já valorizando o nosso presente: os lindos bonés do COA/RR que ele nos presenteou

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

O mais engraçado era a lógica do Ronilson no diz respeito ao sal e açúcar na casa dele. Para enganar os "bichinhos" ele disse trocar os potes. No de sal tem açúcar e no de açúcar tem sal. Se engana os bichinhos não sei, mas as visitas com certeza. 🧂🪳🕷️🫙😆

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Por fim saímos comprar galochas, pois de última hora, fomos surpreendidos pelo nosso guia Ivan dizendo que iríamos passar por lugares alagados e necessitávamos de botas de borracha.

Em seguida aguardamos o motorista de táxi pré-contratado, com sua Spin de 7 lugares que iria nos levar e buscar em Pacaraima, cerca de 215 km de Boa Vista. Pacaraima fica na fronteira com a Venezuela.

O combinado era viajarmos com bagagens reduzidas (uma maleta ou mochila e mais o equipamento). Já seria apertado se... se o motorista não desse uma de espertinho e resolvesse levar no espaço reservado para nossas bagagens mercadorias encomendadas por alguém de Pacaraima ou da Venezuela. 😣🥸😂😂😂

A parte engraçada foi a Leilinha dando uma enquadrada nele, dizendo que ele ia ter que entrar na divisão do valor total cobrado. A cara que o sujeito fez foi impagável. Parecia estar vendo alienígenas. 👽🤢😂

Eu ri de doer a barriga. Ele pareceu estar querendo pular fora e nos deixar na mão. Para solucionar o impasse rapidamente convenci o Ronilson a irmos no carro dele. Assim fizemos e seguimos confortavelmente em dois carros.

Óbvio que passarinheiro é e sempre será um “ser insaciável”.

Por sugestão do Ronilson, iríamos fazer um desvio no caminho, indo até Amajari antes tentar ver um ibis chamado trombeteiro (Cercibis oxycerca) na beira da estrada, já que era um lifer* para o Climério, Viviane e Leila.

*lifer = ave nova nunca avistada pelo observador

E lá fomos nós com os carros carregados, parando em todos os alagados em busca dessa raridade. Mas não demos sorte e o jeito foi seguir até Pacaraima, onde no dia seguinte iríamos nos encontrar com os nossos guias Ivan e Ricardo que vinham nos buscar na pousada onde iríamos pernoitar.

Chegamos ao entardecer. Às 17:30h eu fiz uma foto na porta da Pousada Makunaíma, onde nós íamos passar a noite.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

De repente Leila lembrou que sua garrafinha térmica havia ficado no carro do taxista, aí vai o Ronilson, nosso "resolve-tudo", ligar pro cara, que pra nossa sorte ainda estava em Pacaraima. Foi uma festa quando ele trouxe a garrafinha e entregou a ela.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Coloquei minhas coisas do confortável quarto e desci para me encontrar com a galera. E como disse passarinheiro é tudo insaciável, olha eu fazendo foto de passarinho com celular.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

À noite saímos comer uma pizza. E no retorno à Pousada, tomei um banho quentinho e desmaiei de sono.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Leila Esteves


13 dez 2024 - sexta-feira

 
Esse foi o dia mais intenso de todos. Um misto de ansiedade e expectativa nos dominava. Mesmo assim, tudo era motivo de muito riso. Tomamos café logo cedo contando os minutos que antecediam nossa partida para a Venezuela.

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Após o check-out, descemos com as malinhas para receber nossos guias que chegaram para nos buscar. Um deles, o Ivan Tepedino, é um guia experiente de observação das aves venezuelanas, inclusive havia guiado alguns amigos brasileiros meus recentemente e me foi muito bem recomendado. 

Ricardo Brassington, parceiro de trabalho do Ivan, é o responsável por toda a logística da nossa expedição, inclusive os deliciosos lanches da hora do almoço no meio do mato. Juntos formam uma excelente e prestativa dupla.

Fizemos algumas fotos do grupo, enquanto Ricardo colocava nossas bagagens no carro.

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Leila Esteves

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Passamos pela fronteira com tranquilidade. Ricardo conhecia todas as pessoas dos postos policiais de checagem de documentos. Percorremos mais 15 km até a primeira cidade no país vizinho, Santa Elena do Uiarén, onde fizemos uma paradinha básica para comprar umas coisitas, como por exemplo umas latinhas de cerveja.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Leila Esteves

Fizemos ainda algumas rápidas paradas, uma para foto numa placa e outra numa ponte para apreciar uma cachoeira.

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Leila Esteves

Chegamos na pousada onde íamos nos hospedar pelos próximos dias. Um lindo lugar chamado Rápidos de Kamoiran

O local oferece um excelente serviço de atendimento, comida deliciosa, quartos relativamente confortáveis, com banheiros, porém atente para esse detalhe: não há chuveiro elétrico e a água no local é realmente bem gelada. 

Por isso, logo ao chegar do mato eu já tomava banho, pois se esperasse o corpo esfriar ficaria inviável, aí só no lencinho. 🥶🧊🙃😅

Além disso a conexão wi-fi e energia eram limitadas. Mas não vi problema nenhum em ser assim. Quando a energia se desligava eu já estava no décimo sono. E acordar era quando ela era religada. Wi-fi? Prá que? Eu só preciso de sossego e passarinhos. 

Fizemos uma foto com a bandeira do COA/RR enquanto nossas coisas eram descarregadas, todos já prontos para ir para o mato atrás dos passarinhos.

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Ganhamos do Ricardo uma sacolinha contendo lanches e sucos para nosso rápido almoço no mato antes de passarinhar a tarde toda.

Arquivo pessoal Leila Esteves

Apesar de não fazer ideia do que faríamos o resto do dia, partimos passarinhar e demos muita sorte nesse dia.

Inauguramos a passarinhada com uma das aves mais lindas e esperadas: o belo e emblemático dançador-de-crista (Ceratopipra cornuta).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Logo um bando misto de aproximou e foi um desfile de “aves novas” para mim:

No quadro abaixo podemos ver nessa sequência:
caraxué-dos-tepuis (Turdus murinus),
saíra-pintada (Ixothraupis guttata),
saíra-de-barriga-amarela (Ixothraupis xanthogastra), e
dançador-do-tepui (Lepidothrix suavissima).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Abaixo mais quatro "aves novas":
joão-do-tepui (Cranioleuca demissa),
ferreirinho-ferrugem (Poecilotriccus russatus),
abre-asa-do-tepui (Mionectes roraimae), e
brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Parecia até um sonho. Além deles ainda registramos muito bem, com foto de quadro a subespécie de saíra-de-cabeça-preta (Stilpnia cyanoptera whitelyi), que não era novidade nem para mim nem para Viviane. Eu havia registrado o casal nas montanhas de Santa Marta na Colômbia em abril de 2024, só que foi a subespécie Stilpnia cyanoptera cyanoptera.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Ainda vimos sabiá-una (Turdus flavipes), fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster), sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), piuí-boreal (Contopus cooperi) e curica (Amazona amazonica). Muitas aves locais são subespécies das que ocorrem em grande parte do resto do Brasil, então é sempre bom ter pelo menos o registro.

De repente nosso guia Ivan deu um alerta, atravessando a pista lá “embaixo” uma raridade pouco avistada no mundo ornitológico. 

Ou melhor quase nunca avistada, fomos o primeiro grupo a registrar um tepui tinamou (Crypturellus ptaritepui) atravessando a estrada, pelo menos na plataforma e-Bird. 

Basta conferir no e-Bird para entender o que estou dizendo. As fotos que eu fiz são sofríveis, mas o avistamento valeu um tesouro.

Foto com crop
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Foto sem crop
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Mas quando se tem muitas aves passando ao mesmo tempo, a gente fica meio doido da cabeça e não foca da forma necessária, ou melhor, a d. câmera e sua operadora não focam e a segunda fica estressada. 😆😵🥴🤬

Isso aconteceu comigo neste dia. Um pula-pula-de-duas-fitas (Myiothlypis bivittata roraimae) deu as caras e por mais que eu tentasse, só deu uma “meleca” de foto. Sabe como os pula-pulas são né? Não é à toa esse nome. Perdi de fazer pelo menos um registro razoável e postável no Wikiaves dessa ave nova. Quem nunca né?

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Vendo meu estado irritado, o Ivan disse algo do tipo: Tranquila, "Silivia", esta ave es común y la veremos en muchos sitios. 

Eu respondi que muitos guias já haviam me dito que uma ave era comum e fácil de ver e ela não apareceu nenhuma vez mais. E foi o que aconteceu com esse pula-pula-de-duas-fitas.

Enfim, seguimos, fazia anos na minha vida que eu não via tanta ave nova num dia só e perder de registrar uma espécie era o de menos.

Esse dia tinha muito o que comemorar, não só eu, mas o grupo todo.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

E também para guardar esse momento Leilinha fez essa foto minha com o Ivan. Espia a carinha de felicidade dos dois.

Arquivo pessoal Leila Esteves

Mas o sonho não acabou por aí. Toda vez que pensei em ir para Roraima e ou Venezuela, o meu cérebro só vislumbrava uma ave da família que mais gosto. Alguém adivinha qual?

Sim, uma coruja. Das 25 que ainda existem no Brasil, só me faltavam duas, e uma delas podia estar por ali, bem pertinho de mim. Será? 🦉🦉🦉🦉🦉

Eu fiquei de pernas bambas quando o Ivan falou que a gente ia esperar escurecer um pouco e tentar a tão almejada logo mais. Era o meu principal target da viagem. Justo nessa tarde eu nem pensei em levar minha big hiper super lanterna. Mas Ivan e Ronilson estavam prevenidos.

Só lembrando que esse dia era uma sexta-feira 13, dia de lua cheia. Felizmente, a crença de que esse dia costuma trazer azar é pura superstição. Há até quem evite passar embaixo de escadas, quebrar espelhos e até abrir o guarda-chuva dentro de casa de medo. 🌕🍀🤷🤷‍♀️1️⃣3️⃣

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Mas eu, que sou discípula de algumas amigas bruxinhas digo e afirmo: Sexta-feira 13 com lua cheia traz sorte no amor, e quem tem amor no coração tem é sorte pra dar e vender, inclusive com as aves, principalmente corujinhas.

Todo mundo brinca que eu sou bruxinha e encantadora de aves, mas no fundo eu só aproveito os benefícios que me são oferecidos pela natureza e pelos bons guias.

E assim, sob a luz do intenso luar, por volta das 19 horas, entramos na mata escura e ficamos em absoluto silêncio. Eu sequer respirava. Ivan fez sua mágica e de repente, depois de um tempo, eis que ela surge à frente das nossas lentes.

E foi assim que a minha tão desejada, sonhada, almejada ...

Olha o suspense ... 

Sim – a corujinha-de-roraima (Megascops roraimae) olhou para mim e fez pose para nossas lentes.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Apesar de não contar com a minha amada lanterna, tentei fazer o melhor possível. E a bichinha colaborou. Acho que sentiu nossa energia boa e todo nosso amor por ela.

Mas nem todos fizeram ela nesse dia. Viviane, por já ter fotografado ela em 2015 numa das expedições do Jacomelli e, sentindo dores fortes nas costas, disse que voltaria ao carro e lá nos aguardaria com o Ricardo.

O carro estava um pouco distante do espaço onde estávamos, um pouco mais do que ela deduziu. Estava chuviscando e ela colocou uma capa semitranslúcida esbranquiçada.

Depois nos contou que ao ver carros e motos passarem por ela, curiosos, colocava o capuz, abaixava o rosto e tentava andar mais rápido.

Com isso começamos a brincar com ela do porque todo mundo se afastou rapidinho, na verdade, correram de medo dela. Era a "mulher de branco". 💨🤍

by bing create por minha solicitação

Não sei se na Venezuela tem, mas no Brasil, a lenda da mulher de branco tem várias versões e manifestações. É considerada uma figura misteriosa que aparece em estradas desertas, assustando os viajantes, caminhoneiros, etc.

Apesar de nossa preocupação com a Vivi no dia, essa história nos deixou rindo até dizer chega por muitos dias.

Mas o maior problema é que ficamos mal-acostumados com tanta ave nova e foto bonita nesta primeira tarde. Estava enfim realizado o sonho de todo fotógrafo observador de aves.

14 dez 2024 – sábado


O sábado amanheceu chovendo. A chuva deu uma trégua e logo após o delicioso café da manhã, onde desfrutamos de deliciosas arepas*, saímos em busca de passarinhos.

*As arepas são um alimento de origem pré-colombiana; muito tempo antes da chegada dos colonos, não se sabe exatamente a data, os nativos já as consumiam. Trata-se de um pãozinho achatado preparado com farinha de milho pré-cozida, água, sal e um pouco de óleo. Servidos com uma variedade de recheios diferentes.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Saímos todos animados e eu jurando que teríamos um dia com tantas aves fáceis, na altura dos olhos, com boa luz, como no dia anterior. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Leila brincando com uma corda que ela achou na frente dos quartos
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

foto com camiseta personalizada
Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Viviane de Luccia

Só que nem todas as aves dos nossos desejos eram fáceis. O primeiro a ser mostrado estava muito no alto, mais de 30 metros, tinha cor de nada, e não “garrava” foco de jeito nenhum. 

Ressalte-se que até hoje ainda estou no 10x0 com minha nova câmera mirrorless Canon R7. Eu nunca sei se a culpa é dela ou minha. A gente nem sempre consegue "conversar" direito". 😂😂😂

Mal e porcamente saiu um borrãozinho do chorozinho-de-roraima (Herpsilochmus roraimae). E quando dava foco... ai ai ai. Numa dessa eu fui ficando craque em focar bundinha de passarinho.

Olho ele lá no centro, um pouco acima do sinal do laser do guia.
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Depois de um crop (recorte) enorme, eu finalmente consegui fazer um registro. 

Esclarecendo, quando a gente diz "fiz apenas um registro" significa uma imagem que só serve para identificar a ave e postar. 

Quando dizemos fiz uma foto, fotão ou fotaço, significa que conseguimos fazer algo bem  melhor que um borrão e que nos enche de orgulho como fotógrafos.

Abaixo um registro do difícil chorozinho com crop (recorte) e a seguinte mostrando o tamanho do recorte.

com crop (recorte)
Arquivo pessoal Silvia Linhares

a mesma foto sem crop - assinalando o crop no aplicativo
Arquivo pessoal Silvia Linhares

No caminho, vimos um gavião diferente, ao longe o que parecia um gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus), mas na realidade era um gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus), o que não deixou de ser um importante registro, lifer para o Climério.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Em seguida fomos para um lugar muito ensopado, alagado, difícil de se locomover e muito apertado para conseguir fotografar um bichinho que pelo pouco que conheço de sua família, as antpittas - Grallariidae, sem ser cevadas, não costumam facilitar.

O início do caminho já bem alagado, mas aberto ainda e fácil de caminhar.
Arquivo pessoal Leila Esteves

As lindas fotos que fiz pelo Equador, Colômbia, Peru e Brasil dos gralarídeos (família Grallariidae) foi porque eles foram educados de forma a não temer humanos, conquanto ganhassem um petisco em troca. Alguns ganham até nome, como Cidão, María, Andreíta, Shakira, Willi, etc e atendem pelo nome quando chamados.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Mas são realidades diferentes. O minúsculo torom-de-peito-pardo (Myrmothera simplex) da Sierra de Lema não viu nosso chamamento como algo positivo.

Entendo que ali naquele tipo de floresta, no meio da Serra, fica difícil treinar uma ave que é sempre tão arisca como esta.

Confesso que quando vi o local percebi que as chances de fotos eram mínimas, mas ia tentar.

Cheguei a ouvir a “assombraçãozinha” cantar, gravei o som, vi seu vulto, e depois nada. Só lembro de que disseram que ele passou correndo do outro lado, e não sei quem deles, além do Ronilson conseguiu um borrão do carinha.

Depois entramos mais pra dentro da mata, onde o "alagado engolidor de pés" estava nos esperando de boca aberta. Embora eu tenha noção que estava dentro de uma floresta rica e linda, cheia de musgo, de uma beleza ímpar, meu cérebro e meus pés só me pediam para sair dali.

Só consigo lembrar dos meus pés me dizerem: “saí dessa vida, Silvia, você está nos matando de dor com essas galochas novas. Aqui tá cheio de plantas carnívoras e elas vão devorar os nossos dedos“.  😹🙈🙉🙊😹😵‍💫🥴🦶🦠

Nem dois lifers nesta trilha me fizeram relaxar, as fotos ficaram horríveis, pois eu sequer conseguia firmar as pernas do chão ou os braços de tanta tensão. Ainda bem que em outro momento deu bom.

Mas pelo menos a plantinha foi lifer. Drosera roraimae é uma espécie vegetal pertencente à família Droseraceae, endêmica da região dos Tepuis e Gran Sabana, na Venezuela. São carnívoras.

as carnívoras Drosera roraimae
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Hoje dou risada ao lembrar de tudo isso, mas no dia, só pensava em chorar e voltar pro carro.

Embora o Ivan fosse todo atencioso comigo nessas horas e eu já ter passado por dentro de florestas mais intransponíveis do que esta, algo deu errado comigo nessa manhã e achei que ia acabar desistindo de passarinhar pro resto da expedição, e se bobeasse até pelo resto da  vida (coisas de Silvia 😂😂🤪🫣).

Meus nervos de aço se estilingaram como borrachinha velha. Nessa hora eu só lembrava de um amigo meu que ao me ver descontrolada assim dizia que eu era a rainha do drama, mas que ele me conhecia e sabia que passava. 

Leilinha, que me conhece bem também, me abraçou no retorno da trilha e veio conversando comigo, o que me acalmou um pouco. Ressalte-se que o amigo Ronilson também me ajudou muito nessa hora.

Mas ao sair dali e irmos para um local mais tranquilo, aberto, com chão firme, tudo voltou ao normal. Ivan brincou muito comigo, me exorcizando com um galhinho, e, além disso eu pude tomar um café delicioso o que ajudou a repor as energias. 

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Leila Esteves


Logo depois que as energias voltaram, as aves também.

A pipira-olivácea (Mitrospingus oleagineus) deu show. Mas ela foi meia mal educada comigo e virou a bundinha também. 😂😂😂😂

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Depois vimos o lindo joão-de-roraima (Roraimia adusta), para mim uma das aves mais lindas do dia. Foi foto de quadro.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

E tome mais bicho bonito e foto boa, o fofo ferreirinho-ferrugem (Poecilotriccus russatus)  e a linda saíra-pintada (Ixothraupis guttata) voltaram para encher meus cartões.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Mas quem se destacou mesmo nesse dia foi a linda e colorida mariquita-de-cabeça-parda (Myioborus castaneocapilla).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Abaixo um momento do maravilhoso e delicioso do lanche preparado pelo Ricardo e servido no meio do mato com toda pompa do mundo. 

Se faltou algo? Sim, faltou eu levar uma calça com um número maior, pois ao longo dos dias, a minha estava choramingando ao tentar ser abotoada. 👩‍🦳😵‍💫😬👖⚖️

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Nessa tarde fomos a um jardim a céu aberto, lotado de flores e óbvio com beija-flores, inclusive o fofucho do asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus), uma novidade para mim. 

Só senti falta do desejado e esperado topetinho-pavão (Lophornis pavoninus). Uma vez que não havia floração neste jardim das preferidas dele, ele desapareceu do local e seguiu para lugares incertos em busca do seu alimento, conforme explicou o Ivan.

asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus)
Arquivo pessoal Silvia Linhares

Nesse local uma linda choca-de-roraima (Thamnophilus insignis) se fez de difícil, deu trabalho mas saiu um registro. Essas aves raramente facilitam o trabalho da gente. E com muitas aves para se procurar, não dava pra ficar perdendo tempo à mercê do humor dela. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Mas para compensar dois indivíduos de fura-flor-grande (Diglossa major) se alimentando na beira da estrada, encheu meus cartões. Essa era outra espécie que eu desejava muito ver e fotografar.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Alguns de nós queriam muito fotografar a linda saíra-de-cabeça-castanha (Tangara gyrola), mas essa não quis muita conversa e disse: - “ei, vão fotografar minhas colegas, num tô a fim de posar hoje não”. 

E acho que dia nenhum ela estava a fim, mas enfim, ... paciência né? Passarinho tem personalidade, uns são mais acessíveis e outros não. A gente aprende isso ao longo do tempo.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Outra ave que eu queria muito era o tico-tico-do-tepui (Atlapetes personatus). Ivan disse que era uma ave comum e com grandes possibilidades de encontrá-lo em todos os lugares. Mas até então nada dele, nem sombra.

Isso acabou virando tema para conversa e motivo de muita brincadeira. Eu virei a Tico-tico Lady, pois aonde parávamos eu já perguntava se ali tinha tico-tico (do tepui tá).

Quem fechou o dia com honras foi o casal de surucuá-mascarado (Trogon personatus). A fêmea deu foto de quadro.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Mas teve muita florzinha linda pelo caminho. Quem me conhece sabe que herdei o gosto da minha mãe por flores. A diferença é que ela as cultivava em vasos e jardins, principalmente orquídeas, e eu as fotografo na natureza. Depois pego cada foto e posto na plataforma iNaturalist.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


No fim do dia, ao retornarmos à Kamoiran e descemos até a cachoeira nos fundos, onde o rio que passa por lá dá nome à pousada. Tomamos uma relaxante cervejinha, entre um bate papo e outro e depois retornamos, jantamos e cama pra que te quero.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


15 dez 2024 – domingo


Mais um dia acordando muito cedo. Logo no início do dia, a realização de um sonho para alguns de nós se materializou.

Ivan vinha buscando ele o tempo todo e nesse dia os seus esforços e a sorte sorriram para nós. Falo do lindo cricrió-de-cinta-vermelha (Lipaugus streptophorus). Prefiro o nome em inglês: Rose-collared Piha. Tem mais a ver com as cores da ave, lembrando que apenas o macho tem o colar rosado. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Logo em seguida o pequenino asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus) deu um show novamente, desta vez ficou cochilando pousado num galhinho. No local tinha muitas flores, mas não vislumbramos outros beija-flores no lugar, apenas esse, infelizmente.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


E teve tico-tico (Zonotrichia capensis), mas não o que eu queria, e nisso eu brincava o tempo todo, quando Ivan dizia, vamos tentar o bicho tal, bicho tal, eu complementava - "e o tico-tico também, né?" 

Ele dizia qualquer coisa e o pessoal me arremedava, em seguida batendo palma em coro: tico-tico, tico-tico!!

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Um carro com passarinheiros passou e parou para conversar com a gente, era a belga Agnes Coenen - The crazy Parrotlady, como ela se intitula, acompanhada do guia venezuelano Pedro Cabello. Após um oi e algumas selfies seguimos nosso caminho e eles o deles em busca de psitacídeos.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Depois mudamos de lugar para tentar outros bichos. Eu deixei o pessoal ir de carro e fui caminhando pela trilha para clicar umas ruínas que tinha achado legal. Ronilson foi junto.

Ronilson pegou umas pedras e fez um montinho, de acordo com ele, estava rezando para os deuses da natureza, pedindo proteção e com certeza pedindo para alguma “deusa” mostrar os passarinhos dos nossos sonhos para a gente.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


A pilha de pedrinhas que ele fez é chamada de Moledro, pequenos montículos de pedras, erigidos por humanos, uma forma fácil, rápida e sem qualquer custo para assinalar um local ou trajeto, com recursos disponíveis no local. De origem desconhecida o termo pode ser comparado ao proto-celta *mol-eje/o(?) que significa louvar.

Se vimos alguma coisa? Muitas andorinhas-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca), e depois que entramos na mata propriamente dita, além de uma bonita vegetação, e muitos galhos atravessando o caminho, a “deusa” nos deu as costas. Nada, nada, nada, nenhuma ave. Tico-tico nem pensar. 🟡🟤🟠

Arquivo pessoal Silvia Linhares


O caminho que a gente entrou atrás do tico-tico-do-tepui era um pouco difícil, com muitos galhos perigosos e a gente tinha que redobrar o cuidado para caminhar. 

Fiz a foto abaixo às 8:44h, ela ficava bem no início da famigerada trilha onde andamos pela manhã. A foto mostra galhos serrados que deixam 10 a 20 cm de ponta disfarçado, por isso nunca olho pro alto e sempre para o chão, mesmo assim uma vez numa trilha em Ilhabela/SP me distraí e quase quebrei umas costelas, mas pelo menos salvei a câmera e lente ao cair. Eu sempre digo, fotógrafo é tudo louco.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Tentamos diversos pontos mas só um surucuá-mascarado (Trogon personatus) e um Pica-pau-barrado (Celeus undatus) deram o ar da graça.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


De repente estou buscando melhorar o brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys) e a saíra-de-barriga-amarela (Ixothraupis xanthogastra) ao lado do Ronilson e das meninas, e de dentro da trilha Ivan grita: "Silivia, Silivia, tico-tico, tico-tico, ven, ven, ven aquí, corre."

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Saí correndo, desci o tal barranco cheio de galhos pontudos, mesmo sem ajuda, aos pinotes, sempre olhando os galhos retorcidos no chão para não cair e ...

... lá estava o tico-tico-do-tepui (Atlapetes personatus), lindo, dando mole, na altura do olho, estilo Dani Maia. (brincadeira que um dia a amiga Dani fez um dia descrevendo a foto ideal).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

O triste foi que Leilinha também saiu correndo, tropeçou num desses galhos pontudos e machucou a perna feio de ver. A dor não a impediu de continuar e fazer fotão. Mas o Ivan não se salvou dessa, Leila deu uma dura nele por ele só chamar meu nome, sendo que era lifer pra mim e pra ela. Essa amiga é mesmo uma fortaleza! 

Já perto da hora do almoço, fomos nos encontrar com Ricardo no nosso "bat-local" onde ele sempre preparava nossos gostosos lanches. 
Aproveitamos e fizemos uma intensa comemoração ao "momento tico-tico".

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Leila Esteves


De tão feliz que eu estava e de tanto rir dos meus amigos tirando onda comigo por conta do tico-tico, acabei derrubando o prato de comida no chão, coisa que nossa photo-maker Leilinha não perdeu a oportunidade de registrar.

Arquivo pessoal Leila Esteves


Agnes e Pedrito tinham estacionado o carro deles próximo da gente, onde também fizeram seu lanche. Acabou que logo depois os dois grupos tiveram um bocado de interação, principalmente Viviane que fala bem a língua inglesa.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Leila Esteves


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


 Depois seguimos para uma trilha próxima. E mais uma ave nova para mim: iraúna-da-guiana (Macroagelaius imthurni), embora na contraluz e de cor difícil de fazer foto bonita, “deu bom”, como diz meu amigo João Victor, de Ilhéus.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Nessa tarde eu vi uma ave dentro da floresta e mostrei pro Ivan e ele disse que era o sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys), como não era novidade pra mim, deixei a galera entrar na frente, para que pudessem se aproximar e fazer uma boa foto.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Fiquei por trás do grupo. Estou ali tentando fazer uma foto também, quando alguém sem querer esbarrou em mim e eu perdi o equilíbrio. Quase despenco ribanceira abaixo, ainda bem que Ivan estava atento e conseguiu me apoiar para que eu não caísse. 

Foi uma sensação bem desagradável. Por isso sempre falo, as pessoas precisam estar sempre atentas umas às outras. Estar sempre antenado é fundamental.

Para compensar teve um momento prazeroso em seguida, pude fazer foto de quadro do dançador-do-tepui (Lepidothrix suavissima). 

O mais engraçado foi conciliar o momento do clique com o verde-vagalume do laser do Ivan indicando onde a ave se encontrava. Ou seja, quase sempre tudo virava motivo de muito riso entre a gente.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Abaixo como disse o Ronilson, esse dançador comeu 2 vagalumes.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Ao chegar na pousada, Ivan nos mostrou um caboclinho-lindo (Sporophila minuta) próximo de onde estavam nossos quartos e pudemos fazer bonitas fotos.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


E para terminar o dia fomos mostrar a cachoeira dos fundos da Kamoiran para a Vivi e Leilinha. Levamos algumas cervejas e eu aproveitei para tirar as botas e as meias de compressão e colocar os pés nas águas geladíssimas do Rio Kamoiran. Uma delícia.

Arquivo pessoal Leila Esteves


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Leila Esteves


Já escurecendo subimos para degustar o delicioso jantar preparado pelas meninas Romelia e Yula. E teve comemoração com um delicioso vinho.

Arquivo pessoal Leila Esteves


Arquivo pessoal Silvia Linhares

Brindamos muito, à amizade, às aves, ao dia e principalmente ao tico-tico. E o vinho aberto pelo Ronilson chamava-se Alicia en el país de las uvas.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Como dito por ele: "O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. E então, só então que estarás no país das maravilhas."

Enfim, resumindo a gente estava no país das maravilhas. A gente cresce, fica adulto, mas a criança que nos habita não nos deixa nunca. De vez em quando temos umas recaídas "brabas".

E depois dessa festa toda, fomos nos preparar para dormir. Como eu disse, a gente acordava muito cedo e por isso nos recolhíamos o mais cedo que dava. 

Nossos quartos eram bem distantes da recepção e restaurante. As portas dos quartos davam para um imenso corredor aberto e logo em seguida para o estacionamento.

arquivos by Google (Tripadvisor)

arquivo by Campamento Rápidos de Kamoiran

Ao irmos para os nossos quartos dormir, uma família de 5 pessoas, dois casais e uma criança, haviam se hospedado no quarto que ficava entre o meu e o da Leila/Vivi. 

Eram umas pessoas esquisitas. Passei entre elas algumas vezes antes de ir me deitar.  Pessoas sem noção nenhuma, bebendo, fumando, falando alto, rindo muito, e isso na varanda na frente das nossas portas. Com um lugar tão grande, custava terem se afastado um pouco, né? Talvez por terem trazido sua própria comida e bebida preferiram não ir gastar no restaurante da Kamoiran.

Essas pessoas não tiveram o mínimo respeito com a gente. Já tarde da noite, Ricardo teve que vir até eles pedir por um pouco de silêncio, se não ninguém iria conseguir dormir.

16 dez 2024 – segunda-feira


O mistério da chave

Acordei às 4:00h, como fazia todos os dias e não fiz tudo "pé ante pé" como costumo fazer em respeito a hóspedes que se avizinham do quarto onde me hospedo. Esses não mereciam. Eu havia dormido mal e não estava de bom humor ao acordar. 

Saímos do quarto para ir para o café, perto das 5:00h. Um dos hóspedes desse quarto levantou e saiu pra fora de pijama ver o que estava acontecendo. Ele me olhou com cara feia, e cara feia pra mim é fome, como diz o ditado popular. 

Tomamos café e ao voltar ao quarto para pegar nosso equipamento e ir pro mato, misteriosamente a chave do quarto das meninas desapareceu. Procuramos em todos os cantos até perto do cachorro que Leila e Vivi costumavam adular quando estávamos por lá.

Viviane tinha lembrança de que tinha colocado a chave sobre a mesa do café, mas ali nem sombra. E só tinha a gente na sala do café.

Vimos os hóspedes barulhentos se movimentarem na porta do quarto deles nos observando com atenção. Isso nos fez aventar a uma "teoria de conspiração maligna". 😂😂🤬🤔👿

Eles poderiam estar esperando a gente sair para entrar no quarto e mexer nas coisas das Leilinha e Vivi. A gerência conseguiu abrir o quarto e ajudamos as meninas a esvaziá-lo levando tudo para o quarto do Ronilson. Depois eu conto o desfecho.

Embora parecesse que estávamos ali há uma semana, esse era o 3º dia da nossa expedição em terras venezuelanas. As emoções, aves e lugares visitados faziam parecer que estávamos ali há mais de uma semana. E lógico, o cansaço por tantas atividades começou a cobrar seu preço.

E nada melhor do que começar o dia com uma ave difícil: uma cambacica (Coereba flaveola).  Acha que estou sendo irônica né? Sim e não. 😁😁😁

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Veja só, temos 41 subespécies de cambacica espalhadas pelo mundo e 5 delas ocorrem no Brasil. E juro, tem até uma que sonho em ver, pois ela é uma cambacica muito especial, a cambacica aterrima (Coereba flaveola aterrima) que ocorre apenas num local do Caribe.

by e-Bird

Depois de uma fotinha do sempre distante piuí-de-topete (Contopus fumigatus), fiz foto do brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys), que sempre sumia no alto de uma árvore e do asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus) que não deixava suas flores por nada. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Depois fomos dentro da mata tentar o flautista-do-tepui (Microcerculus ustulatus). Um lugar apertado, escuro e cheio de galhos. Ivan posicionou todos um ao lado do outro. Ficamos imóveis e em silêncio. A ave respondeu e começou a se aproximar. Tenso! 

Ela então fez uma passagem digna de um carro F1, cliquei, mas mesmo rápida, minha câmera e eu não demos sorte, um galho na cabeça na primeira foto, e na segunda só o rabo, sem foco, isso aconteceu em um nanosegundo.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Ivan pediu calma, e disse que ele estava dando a volta, todos pularam de onde estavam para um lugar mais alto por orientação do Ivan, e eu e Leila, as últimas do grupo, não tivemos espaço e não conseguimos foto.

Viviane e Ronilson conseguiram clicar e já postaram, mas o momento novamente me deixou muito desgostosa. Primeiro você pensa em se culpar, depois culpa a câmera, as circunstâncias, o guia, sei lá. Eu tento sempre respirar fundo nessas horas, lembrar que sou cardiopata e me acalmar usando sempre o meu princípio: Estressar pra que, é só passarinho.

Tentamos outro ponto e nada. Nem sinal. No almoço, após deliberação com o guia, decidimos voltar no início da manhã do dia seguinte para os que não conseguiram tentarem de novo.

Como eu já disse, o cansaço cobrava seu preço. A energia foi acabando e as aves pareciam preferir se esconder.

Tínhamos muitas aves que eu não tinha feito, poderíamos procurar, mas nenhuma era fácil. Eu tinha até uma listinha delas: periquito-dos-tepuis (Nannopsittaca panychlora), barbudinho-do-tepui (Phylloscartes chapmani), guaracava-dos-tepuis (Elaenia dayi), filipe-do-tepui (Scotomyias roraimae), guaracava-serrana (Elaenia olivina), bico-de-lança (Doryfera johannae), tucaninho-verde (Aulacorhynchus whitelianus), barranqueiro-de-roraima (Syndactyla roraimae), bacurau-de-roraima (Hydropsalis roraimae), maria-preta-de-cauda-ruiva (Knipolegus poecilurus) e o pula-pula-de-duas-fitas (Myiothlypis bivittata roraimae), etc, etc. 

Talvez um dia eu volte para procurá-las. Quem é que sabe. Indiscutivelmente, o que não falta são matas bonitas para procurá-los. Você se arrisca a subir por aí comigo? Espia o tamanho do nosso carro lá embaixo na curva.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


O mais engraçado foi o Ricardo colocar a mão em seu próprio bolso, em dado momento e descobrir uma coisa muito louca. A chave do quarto das meninas, que tanto tinha causado pela manhã, estava ali, com ele, o tempo todo. 🔑🤣

Ele deve ter se confundido ao ver a chave sobre a mesa do café. Isso, além do alívio, só nos deu motivo de muito riso ao lembrar da "hipótese de conspiração" referente aos estranhos vizinhos de quarto.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Leila Esteves


Abaixo uma brincadeirinha para nos servir de lição.


Voltemos aos passarinhos. Acabei fazendo boas fotos da subespécie de sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys gularis) em outro ponto. O que eu tinha era o Cichlopsis leucogenys leucogenys, feito na Bahia com o grande guia Ciro Albano.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Também rolou foto muito bonita da sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), cujo bando e suas lindas cores alegraram muito o nosso dia.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Fizemos muitas fotos de flores, Ivan tem um grande conhecimento sobre botânica e nos deu uma grande aula, o que nós, mulheres, adoramos. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Chega uma hora que os olhos da gente começam a ver coisas e a imaginação viaja. Eu acabei vendo dois bracinhos e mãozinhas saindo de mangas bufantes nessa orquídea abaixo. 

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Eu ainda não tinha conseguido foto do vite-vite-do-tepui (Vireo sclateri) e Ivan insistiu comigo para tentarmos. A ave minúscula, ficava por volta de 30 metros de altura, e eu só ouvia o Ivan dizer, arriba, arriba, abajo, abajo, e o laser piscando pra baixo e pra cima, feito um bando de vagalume. 🤣😵‍💫🤯

Arquivo pessoal Silvia Linhares


bando de vagalume rindo de mim 
by bing create por minha solicitação


Eu juro, clicava tentando ver movimento, mas até baixar as fotos não sabia se tinha feito ou não. Ao vasculhar as centenas de fotos no computador em casa, eu achei. Diria que dei sorte em algumas, pois ver, ver mesmo, confesso que não vi.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

O combinado era retornar para a pousada por volta de 17:00h, pois a gente tinha que arrumar as tralhas. O dia seguinte seria um bocado curto para passarinhar, pois às 10 horas, o grupo teria que deixar a pousada e retornar à Pacaraima.

A tarde estava linda. Fizemos uma parada no caminho antes do retorno à Kamoiran. Rolou foto do tepui ao longe e do grupo com a bandeira. Aproveitei para uma foto solo minha com a bandeira do COA/RR. Aliás adoro o téu-téu-da-savana que ilustra a bandeira.

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Enfim chegamos à Kaimoran e o jeito foi arrumar tudo para partir no dia seguinte. Aproveitei o jantar para agradecer à Romelia e Yula pelo carinho, atenção e deliciosos pratos. Essa noite teve sopa, que caiu muito bem, diga-se de passagem.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Arquivo pessoal Silvia Linhares


Tem acontecimentos que não merecem menção, então bora passar uma borracha e deixar para lá. 

Mas vou deixar uma frase para fechar este dia: Eu nunca cometo o mesmo erro duas vezes...Cometo três, quatro, só pra ter certeza que errei mesmo! 😉🤪🙈🙉🙊

17 dez 2024 – terça-feira


Ainda tínhamos um pouco de tempo para tentar uns passarinhos antes de pegar a estrada de volta. E como sempre começamos o dia bem cedo.

Ivan tentou mais uma vez o flautista-do-tepui (Microcerculus ustulatus). Apenas eu e Leilinha o acompanhamos, mas dessa vez o bichinho não deu sequer um pio. Quem fez, fez, quem não fez, um dia pode ser que consiga voltar e fazer.

Rodamos muito tentando achar o tucaninho-verde (Aulacorhynchus whitelianus), mas nem sinal. 

O que parecia uma pomba-de-coleira, no alto e bem longe era um sabiá-de-cabeça-preta (Turdus olivater). Ele estava bonito com uma frutinha no bico, mas muito longe das nossas lentes para uma foto de quadro.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Consegui melhorar minha foto do dançarino-oliváceo (Xenopipo uniformis) e do caraxué-dos-tepuis (Turdus murinus).

Arquivo pessoal Silvia Linhares

E já batendo na trave, o tempo previsto se esgotando, eis que o anambé-dos-tepuis (Pipreola whitelyi) apareceu, infelizmente, muito longe e no alto. Com calma, Ronilson conseguiu me direcionar para onde a fêmea estava. 

Não deu foto bonita como eu gostaria, mas enfim estava feito o registro. O macho estava no local, mas não se dispôs a sair do emaranhado, em que pese todos os esforços do Ivan.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Ainda gastamos mais um tempo tentando ver se o pica-pau-oliváceo (Colaptes rubiginosus) saía no limpo, mas o adiantado da hora nos fez retornar para fazer o check-out na pousada.

Aproveitei e adquiri lindos brincos artesanais de psitacídeos vendidos na recepção. Sei o tanto que é difícil fazer essas peças, pois meu hobby antes do meu AVCi era produzir bijuterias com contas e miçangas.

 Creio que se a Agnes Coenen tivesse visto os mesmos, ela teria levado todos, afinal ela é a Crazy Parrotlady do nosso mundo de observadores de aves.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Já na saída, reunimos todo mundo na frente da pousada para uma foto de despedida. 

Arquivo pessoal Leila Esteves


Durante o nosso retorno, fizemos uma paradinha básica no salto Kama Meru. Um lugar muito bonito e turístico. O arco-íris produzia uma iluminação muito especial em suas águas. Faltou umas aves no local, para passarinheiro nenhum colocar defeito.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante


Seguimos um pouco mais, de vez em quando, parando para registrar algum tepui semi encoberto pelas nuvens. Eram muitos nomes e informações para que meu cérebro sonolento assimilasse. 😁🤫🥴😴  

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Leilinha fez uma foto muito marcante para nossa história, que com certeza irei guardar com muito carinho. Abaixo as mana-amigas Vivi, Leila e eu.

Arquivo pessoal Leila Esteves

E finalmente uma paradinha, a meu pedido, na fronteira do Brasil com a Venezuela, onde em 2018 eu tinha estado com Francisco Diniz e feito uma foto emblemática, que eu queria muito repetir. 

E assim foi feito. Percebe-se pelas duas fotos que o lugar sofreu algumas mudanças de layout de 2018 para 2024. Mas somente comparando as fotos foi que percebi isso.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Pronto, missão cumprida. A expedição à Venezuela chegara ao fim, correspondendo às minhas expectativas. Ela teve um valor muito grande para mim pelas diversas razões que coloquei no início desse post.

Além disso foram 23 aves novas na Venezuela para minha Life List (de ocorrência na nossa Lista CBRO). Todas já postadas no 👉 meu perfil no Wikiaves. 👈

A maioria com foto bonita. Isso sem contar o raríssimo tepui tinamou (Crypturellus ptaritepui) que não faz parte da lista brasileira, mas que nos causou muita emoção.

Porém, o mais importante de tudo isso foi realizar o sonho que perdurou por mais de 10 anos: conhecer a Gran Sabana! 🏔️

Outro destaque foi conseguir o clique de uma das últimas corujinhas que me faltavam! 🦉

O que mais conta, no entanto, é o fortalecimento da amizade com os amigos bem como fazer novos amigos. ❤️‍🩹❤️💝

E viva a Gran Sabana. Obrigada, Ronilson, Leilinha, Vivi, Climério, Ivan, Ricardo. Foram dias de muitas emoções, produção fotográfica e realização de sonhos.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Ops! Está quase acabando, aguenta firme e segue lendo mais um pouquinho.

O táxi nos aguardava em Pacaraima e assim o grupo retornou para Boa Vista. Eu e o Ronilson voltamos no carro dele sempre vigiando as águas represadas para ver se a gente via alguma novidade para o resto do grupo. 

E deu certo. Conseguimos avistar e o Climério pode fazer mais um importante lifer para ele: o iratauá-pequeno (Chrysomus icterocephalus).

Já em Boa Vista, fomos jantar no Restaurante Recanto da Peixada, comida boa, mas local lotado e barulhento. Eu estava dormindo sentada. Sequer consegui participar das conversas em que pese as duas filhas lindas do Ronilson estarem presentes. Flávia e Fabrícia, mil perdões.

18 dez 2024 – quarta-feira - manhã


E acorda cedo e lá mamos nós de novo ver se achamos o tal esmerilhão. Nadinha. Dali fomos pro Kantinho da Konchita tomar um delicioso café da manhã com direito à uma saborosa tapioca recheada. 

Acabei ganhando um presente dela, uma xícara muito linda, que agora faz parte da minha coleção.

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Passeamos um pouco, passamos em alguns lugares bonitos na beira do Rio Branco. Aliás, eu acho que Boa Vista deveria se chamar Rio Branco e a capital do Acre, Rio Branco, se chamar Rio Acre. É só estudar um pouquinho os rios do Norte e vai entender o que estou dizendo. 

Mas por curiosidade fui entender o porque dos nomes das duas capitais: o nome da capital de Roraima, Boa Vista, surgiu da vista que se tinha do Rio Branco, o principal do estado. E a capital do Acre, Rio Branco, recebeu o seu nome em homenagem ao Barão do Rio Branco, diplomata brasileiro que anexou o Acre ao Brasil. Nem sempre a lógica vence. 
🖖🤣

Arquivo pessoal Leila Esteves

Depois fizemos comprinhas, onde eu destaco a aquisição da minha big super mega coruja que hoje enfeita minha sala. Veio com chapéu e tudo. Ela sempre vai me lembrar do momento em que eu realizei meu sonho de clicar a sua priminha, a corujinha-de-roraima.

Arquivo pessoal Silvia Linhares


Meu conselho para essa expedição: escolha bem as pessoas com quem você irá dividir a mesma, prepare-se emocionalmente para registrar muitas aves, para acordar muito cedo e dormir muito cedo, pois é emoção que não acaba mais. 

Combine com o guia Ivan e vá fora da época de chuva, e o principal, faça um regime antes de ir, pois a quantidade de coisa gostosa que você vai comer vai impactar nas suas roupas e na balança quando voltar.

Abaixo uma homenagem especial às minhas "mana-amigas", "amigas forever", ou simplesmente,  "amigas de coração".

Colecionamos infinitos momentos de desfrute juntas, seja com passarinhos, fazendo viagens longas ou curtas, tomando café, chá, cerveja, drinks, comendo guloseimas diversas, principalmente o bolo de maçã e canela divino da Diva.

Que esses momentos possam sempre prevalecer e que venham muitos mais. Nem sei mais o que dizer, meninas. Obrigada por tudo, por tudo mesmo!!!

Arquivo pessoal Silvia Linhares

Finalizando, a galera foi embora para o aeroporto e eu fiquei me preparando para mais algumas aventuras onde Ronilson ia mais uma vez me ajudar.

Estas serão contadas separadas no próximo post. Acesse aqui.

 
















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