segunda-feira, 15 de outubro de 2018

CE - Um pulinho ali em Paracuru pra ver "30R"

Lições de vida que aprendo durante minhas viagens.


Seguindo os conselhos de um grande jornalista e apaixonado incondicional da natureza, meu novo amigo Davi Abreu, de Fortaleza, vou continuar a escrever muito e sempre com o coração, porque quem se der ao trabalho de ler, vai conseguir enxergar bem mais do que um simples relato informativo de viagem. Vai me conhecer um pouco mais porque o que escrevo é o reflexo do que sou. Então vem comigo pra mais uma aventura letrada.

os "Humanlifers" como diz meu amigo Anderson Sandro de Xinguara/PA

Cheguei na noite de sexta-feira do Ceará. Não foi uma viagem longa. Aterrissei no final da segunda dia 08 e dia 12 já estava chegando em casa. Abrir a porta de casa é tudo de bom, o duro é quando a alma teima em não vir junto, deixando um pedaço de você para trás.

Cheguei com o coração partido. Aí você está se perguntando: - Nossa, Silvia, o que houve? Da mesma forma como aconteceu em Carajás (leia o relato desta viagem aqui), foi tanto amor e carinho que recebi, tanta amizade espontânea, tanto aconchego, que óbvio, mais uma vez voltei em lágrimas, mas com o coração abarrotado de amor e carinho, a cabeça cheia de pensamentos e a barriga cheia de tapiocas kkkkk.

Dizem que toda pessoa é um quebra-cabeça de carência e é só achar a peça que falta e pronto. Ela se entrega. Quando essa peça se encaixa ela se sente completa. E a peça que me completou é a que está faltando nas pessoas hoje em dia. Amor. Falta amor em tudo. Não falo só amor entre duas pessoas não. Amor no sentido geral. Amor real, o pacote completo que inclui a amizade, o carinho, o respeito e a admiração. As pessoas estão desaprendendo de como amar seu semelhante. Amar apenas por amar, amar por ter o coração cheio de amor pra dar. Às vezes até ama, mas não demonstra o suficiente para a outra saber. Só o amor ajuda a superar as dificuldades, afinal quem não as tem, né?

Depois a luz da vida se apaga e aquela pessoa que estava ali, disposta a dar e receber amor foi relegada a segundo plano, porque você estava sempre ocupado, nunca achava tempo disponível, porque você não concordava com o jeito dela ser e pensar e se afastou, relegou para um segundo, terceiro, quarto, até mesmo nenhum momento. E aí bate aquele arrependimento de não ter dado mais amor a ela, não ter abraçado mais vezes, não ter segurado suas mãos entre as suas, não ter lhe ouvido, não ter falado olhando nos olhos ou até mesmo superado a distância usando os meios de comunicação disponíveis, por puro desleixo. Aí será tarde. Não adianta levar flores no túmulo.

Por isso quando você viaja e vai para um lugar estranho, conhece pessoas que nunca viu e é tratada com tanto carinho e amor, você se derrete toda. Volta pra casa com a alma flutuando, com o coração leve. Você percebe qual pecinha estava faltando e que no momento em que ela se encaixou fez toda a diferença.

Pessoas que sobrevivem a muitas coisas, desenvolvem um jeito meio durão de ser, um pouco seco e ríspido em alguns momentos. Mas não se engane, fazemos isso apenas para se proteger nesse mundão, por vezes cruel e impiedoso. Quem me conhece sabe que sou bobona total e quando se trata de emocionar, choro até em inauguração de supermercado.

Outro dia conversava com uma irmã de coração sobre minha vida pessoal. Ela dizia que eu precisava abrir meu coração. E eu, assustada como um coelhinho, respondi prontamente, nem morta. E mais que depressa completei: - As pessoas que entram querem apenas machucar, deixar mais cicatrizes. E ela carinhosamente disse palavras lindas de se ouvir. Desde então não parei de pensar nisso. E cheguei a conclusão de que o medo acaba com o amor, no entanto, só o amor acaba com o medo. Somente ele pode transpor barreiras, porque quer queira, quer não, todo coração nasceu do amor.

Enfim, é isso! Feito esse desabafo, vamos à viagem que serviu de inspiração para escrever este post.

Todo ano quando os bandos de trinta-réis * migram do hemisfério norte, passando sobre o Ceará, o amigo, até então virtual, Rômulo Guerra me avisa que eles estão na área. Sempre coincidia com outra viagem e eu acabava perdendo a oportunidade. Esse ano quando a oportunidade surgiu, tive que decidir entre um destino e outro, mas vários fatores me fizeram optar pelo Nordeste. Decisão mais acertada impossível. Combinamos tudo por Wapp, comprei as passagens e fiquei aguardando ansiosamente o dia chegar.

*A família de aves Sternidae inclui cerca de 44 espécies  de aves distribuídas pelo globo terrestre. São conhecidas como andorinha-do-mar, gaivina ou garajau. Dessas, 18 ocorrem em território brasileiro. Quase todas aqui levam o nome de trinta-réis (exceto a grazina).  A plumagem do grupo é monótona, em tons de preto, cinzento e branco. As espécies são muito semelhantes entre si, o que complica a observação. Possuem plumagem de acasalamento e diversos estádios juvenis. (fonte Wikipedia e Wikiaves)

Logo no primeiro dia 6 espécies de trinta-réis foram fotografadas por mim

08/10/2018 - segunda-feira

Saí de Sampa com chuva e frio, 15 graus. A previsão de chegada em Fortaleza era para o final da tarde. O voo foi rápido e pontualíssimo. A Gol disponibiliza wi-fi e uma programação bacana de filmes e assim fui assistindo filminho até chegar lá. A temperatura havia dobrado e gostosos 29 graus me aguardavam no aeroporto.

O avião que ia me levar, chegando em Congonhas...

O Rômulo e a Ana Clara, sua filha, de quem sempre fui fã, lá estavam para me recepcionar. De lá seguimos para Paracuru, onde sua esposa Célia já me aguardava com um big lanche que incluía tapioca, bolo, frutas e suco. Depois de muito papear, fui me instalar no amplo e confortável quarto e arrumar as coisas para o dia seguinte.

09/10/2018 - terça-feira

Após um café substancioso, preparado pela Célia, eu e o Rômulo saímos para o Porto do Pecém. O Porto do Pecém é um terminal portuário, inaugurado em 2002, localizado no distrito de Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante, litoral oeste do estado do Ceará, dentro da Região Metropolitana de Fortaleza.

Fica a cerca de 60 quilômetros, por rodovia, da capital. A condição geográfica do Porto de Pecém, com o menor tempo de trânsito entre o Brasil, os Estados Unidos e a Europa funciona como um dos atrativos para conquistar os armadores e impulsionar as exportações brasileiras. A concepção do terminal, de buscar águas profundas, bem como preservação das condições ambientais, fez com que as instalações para atracação de navios fossem implantadas a certa distância da costa, usando-se uma ponte de interligação entre os "piers" de atracação e as instalações em terra. (Fonte: Wikipedia)



Eu, Rômulo e Célia Guerra

Nas imediações do Porto há uma grande extensão de areia, com águas meia turbulentas, mas muito límpidas, com abundância de vida marinha. Muitas lagoas salobras são formadas pelas marés, produzindo alimentos para as aves marinhas, talvez por isso, seja um local onde podemos encontrar centenas delas. 

Olha um dos bandos ao fundo

Andamos pelas areias, ora fofas, ora durinhas, o que aumentava ou diminuía a dificuldade e o esforço físico. O primeiro bicho que cliquei foi um Maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus). Em seguida começamos a avistar os primeiros bandos de trinta-réis. Esses, aos meus olhos, eram todos iguais, apenas penosos com 50 tons de cinza, preto e branco, no entanto, o Rômulo, pouco a pouco, foi me mostrando as diferenças entre um e outro.

maçarico-de-bico-torto

O Trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) se destacava por ser bem maior que os demais. No meio deles também havia outros grandões, os Trinta-réis-real (Thalasseus maximus), que a princípio confundimos com os de bando. O Trinta-réis-miúdo (Sternula antillarum) era fácil também, visto que é bem pequenino. Já os Trinta-réis-boreal (Sterna hirundo), Trinta-réis-róseo (Sterna dougallii) e os Trinta-réis-ártico (Sterna paradisaea) era duro distinguir.

Mordomia pouca é bobagem...

Eu by Rômulo Guerra

O Rômulo, após examinar com o binóculo, ia me indicando quem era quem graças a sua vasta experiência em observá-los todos os anos. É muito sutil a diferença entre eles. Muitos dos róseos estavam anilhados, então facilitava. Só ressaltando, restam no mundo menos de 2500 casais reprodutores dos róseos, por isso é considerada uma espécie ameaçada. O Rômulo ficou muito feliz por ver muito mais indivíduos este ano do que nos anos anteriores.

Rômulo e eu nas dunas do Porto do Pecém

Mas com o tempo fui me acostumando e já conseguia saber qual era um e quais eram os outros, pois quando você se aproxima bem, consegue ver melhor as diferenças. Nesse dia, cheguei a tirar as botas e andar nas mornas e deliciosas águas para tentar uma aproximação maior. Ao ver os trinta-réis se banhar naquelas águas tépidas e límpidas, fiquei morrendo de vontade de fazer o mesmo. Pena que não fui preparada para isso.

Coletânea de fotos - veja ao final de cada dia a lista completa no e-bird com fotos e identificação de cada ave

Almoçamos num self-service da cidade e, em seguida, fomos ao Jardim Botânico da Parada, que fica ali mesmo em São Gonçalo do Amarante. Este possui quase 20 hectares. É aberto ao público todos os dias, com entrada gratuita. Há uma variedade de vegetação muito grande, muita delas raras, da época dos dinossauros. Há mais de mil espécies da flora nacional. Na Mata de Tabuleiro são preservadas árvores nativas, como o pau d´arco e o cajueiro. No ambiente deparamos com palmeiras, cactus, vegetações de cerrado, restinga e caatinga, bromélias, orquídeas e samambaias, além de jardins de fragrâncias e plantas medicinais, sem faltar as flores, esculturas e praças, tudo muito bem distribuído. (Fonte: pesquisa no Google).  

Eu gostei muito do local. O projeto paisagístico é do discípulo de Burle Marx, o arquiteto Ricardo Marinho. Existem mais de 100 espécies de aves catalogadas e lá fiz umas fotos bem bacanas, com destaque para a choca-do-nordeste (Sakesphorus cristatus), choca-barrada-do-nordeste (Thamnophilus capistratus), surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui) e chorozinho-da-caatinga (Herpsilochmus sellowi).



Retornamos às praias do Pecém em busca de mais trinta-réis, mas só encontramos alguns bandinhos um pouco mais ariscos que na parte da manhã. Nesse dia, bati meu record fotográfico: 3889 cliques. Pelo sim, pelo não eu saí disparando, vai saber, no meio de tanto bichinho parecido não quis deixar escapar nenhum.

"O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano. Mas o que seria o oceano se não infinitas gotas? "
Isaac Newton

De volta à pousada, já ao cair da noite, um lanche substancioso preparado com carinho pela Célia (agora com tapioca doce também hummmm), muita conversa jogada fora, arrumação das coisas pro dia seguinte, banho e cama, rotina que prevaleceu nos dias seguintes.

Ao final de cada dia relatado você pode acompanhar as aves clicadas nos links das listas no meu perfil no site e-Bird ⬇


10/10/2018 - quarta-feira

No dia seguinte, acordamos bem cedo, e seguimos para Paraipaba/CE, uns 30 km de Paracuru/CE. O Rômulo havia combinado com um amigo passarinheiro de passarmos o dia por lá. Chegando lá fui apresentada ao simpaticíssimo Almir Távora, que eu só tinha conhecimento por meio do Wikiaves.

Amir, Eu e Rômulo

Seguimos para um lugar muito bonito dentro da Fazenda Muriti, de propriedade do Almir (eu brinquei que o nome da Fazenda era mistura de murici com buriti kkkkkk).


dunas dentro da fazenda


Fizemos muitos bichinhos legais. Muitos endêmicos do Nordeste como o picapauzinho-da-caatinga (Picumnus limae), além de outros muito bonitos como a guaracava-de-topete-uniforme (Elaenia cristata), sebinho-rajado-amarelo (Hemitriccus striaticollis) e sabiá-da-praia (Mimus gilvus). E um curioso arapaçu-de-bico-branco (Dendroplex picus) queria sair na foto de todo jeito ficou nos seguindo mata adentro.


Em seguida, no horário combinado, definido com base na tábua de marés, apanhamos o Sr. Roberto na cidade e partimos de buggy direto para a Praia da Lagoinha. Nosso objetivo principal era achar o Trinta-réis-negro (Chlidonias niger). Não perca tempo imaginando como seria o paraíso, basta ir até a Lagoinha. Você não tem noção da beleza do lugar. Encantada é pouco.






Me faltam adjetivos para dizer o que eu achei do lugar. Assim, em deliciosa companhia, fomos percorrendo quilômetros e mais quilômetros, muito bem guiados pelo Sr. Roberto. Esse tem tanta perícia para andar nas dunas que faz inveja até para piloto de rally.

Na última foto: Rômulo, eu e o Sr. Roberto

Falando em inveja, quem invejou de doer os trinta-réis tomando banho fui eu, que mais uma vez não se preparou pra entrar no mar.


O Sr. Roberto tinha as manhas de colocar a gente com luz favorável para foto, ao lado dos bichinhos sem que eles voassem. A gente fotografava sem descer, sentada confortavelmente no buggy.

Mas teve um momento que o amigo Almir desceu e chegou tão perto de um Trinta-réis-ártico (Sterna paradisaea), que não dava pra acreditar. Ter um excelente motorista ali fez toda a diferença. 


Não encontramos o trinta-réis-negro (Chlidonias niger), mas me fartei de clicar assim mesmo.


Na volta paramos um pouco para descansar na casa do Almir, onde tomamos água de coco, ganhei mangas e cajus deliciosos. Aprendemos um pouco sobre a vegetação do local. Ele tem até um baobá no quintal. Mais um amigo que ganhou lugar no meu coração.



Retornamos a Paracuru, apanhamos a Célia e a Ana Clara e seguimos almoçar no Restaurante Fórmula 1, na beira-mar. Comer um peixe maravilhoso com um visual divino, ao lado de pessoas tão queridas, "não tem mastercard que pague", até porque paguei com visa kkkkkkk. Retornamos à Pousada, tirei um cochilo pra recuperar a beleza (porque cochilo após o almoço é tudo de bom).


O Rômulo fez sugestão de lugares pra irmos ver passarinhos, mas eu disse que queria apenas andar na areia um pouco e ver o por do sol na praia. No caminho encontramos um lindo urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus) e eu fiz muitos cliques dele e de outros bichinhos do caminho também. 


Deixei a câmera no carro e subimos bem no alto de umas dunas, com um visual pra lá de magnífico. Foto só de celular. O que eu queria mesmo era deixar meus olhos se embriagarem de luz e minha alma se impregnar de paz.







Depois, descemos e fomos até uma pracinha ver o sol se por, onde registrei tudo até o último raio.










11/10/2018 - quinta--feira

No dia seguinte, o Rômulo havia combinado de passarinharmos com alguns passarinheiros da região, entre eles o Lindemberg Caranha, meu amigo virtual num grupo do wapp. O objetivo era eu fazer melhoraifer da araponga-do-nordeste (Procnias averano) em Pacatuba/CE. Por motivos de trabalho o Lindemberg não pode ir, o que foi uma pena.

Saímos cedinho e fomos encontrar com os amigos Davi Abreu e Ricardo Leite e de lá subimos uma serra, para tentar a ave mais icônica do nordeste, pelo menos para mim. Embora não fosse lifer (novidade), tem bichos que a gente não enjoa de ver. O mais legal foi descobrir que eu e o Ricardo Leite nos conhecemos virtualmente desde os idos 2006, 2007, no âmbito do Digiforum. Sequer imaginávamos que um dia iríamos nos reencontrar no mundo real, por meio dos passarinhos.


Ricardo, Rômulo, Davi e eu

Mal chegamos no alto da serra e já começamos ouvir as arapongas vocalizando, talvez umas quatro. Havia muita neblina e a gente não conseguia focar a bichinha no topo de uma árvore alta. O céu começou abrir e o sol começar a se mostrar, embora um pouco tímido. Apesar de muitas nuvens eu consegui fazer a fotinho bem de longe e continuamos andando focados na busca pelas arapongas. O Rômulo sempre tentando atraí-la para mais perto.

Enquanto isso bati muito papo com o Davi que me incentivou demais a escrever um livro sobre minhas andanças. Ele disse ter gostado muito do meu bloguinho. Fiquei muito feliz por isso. E  pá de lá, pá de cá, a bichinha começou a vocalizar mais perto, mas para vê-la teríamos que subir um pouco mais e adentrar a mata. O Rômulo descobriu um bom ângulo, que dava pra fazer fotos bem legais. E até consegui pegar o céu azul no fundo.



De repente eu só lembro do Rômulo falar: foge que tem abelhas aqui.  E nos vimos cercados por um monte de abelhas "zumbizando" nas orelhas. Comecei a sentir picadas no bumbum. Eu fiquei alguns segundos sem reação, quando então resolvi "picar a mula" ladeira abaixo. Fui virar para poder descer e o Rômulo na tentativa de me ajudar acabou escorregando e perdendo o equilíbrio. A bateria da caixinha de som caiu dentro da casinha das abelhas em polvorosa. Pensa na situação. Ele levou diversas picadas. Ainda bem que nada grave aconteceu, nenhum equipamento danificado ou surto alérgico. 

Óbvio que a "desbussolada" aqui desembestou na direção errada. Só lembro de ouvir o Rômulo dizer: - a trilha é pro outro lado. E eu respondi: - assim que não tiver nenhuma abelha atrás de mim eu acho o rumo. E toque descer longe. O Davi, que estava um pouco acima de onde estávamos, veio descendo calmamente e se juntou a nós, perto da entrada na mata. Nem sequer viu as abelhas. O Ricardo disse que ouviu o barulho lá em cima e estava tentando imaginar o que estava acontecendo. Depois que passou ficamos rindo muito.

Retornamos e nos despedimos. Na parte da tarde, após almoçar num self-service muito bom em Fortaleza, o Rômulo me levou conhecer o Lago Jacarey, no meio da cidade. Um lugar incrível. Até os pombos-doméstico (Columba livia) eram muito bonitos e brilhosos. O nosso foco era fazer melhoraifer da paturi-preta (Netta erythrophthalma), que eu só tinha bem de longe. Ela não decepcionou. Eu fiquei parecendo criança diante de um balcão de doces.  



Era tanta bicho bonito que eu não sabia se clicava os frangos-d'água-azul (Porphyrio Martinica) no meu pé ou os lindos irerês (Dendrocygna viduata).

Mas aí vinham chegando as marrecas-cabocla (Dendrocygna autumnalis) e as marrecas-caneleira (Dendrocygna bicolor), que ficaram fazendo charme pras minhas lentes.

O mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) estava lindo, mas foi o mergulhão-pequeno (Tachybaptus dominicus) que me deu trabalho, pois estava caçando freneticamente nas bordas no meio das folhas. Mas não resistiu ao meu charme e de repente, parou na minha frente, no limpo e tome clique.

Primeiro eu me abaixei, aí dói os joelhos, né?

Então sentei na borda...
Depois fiquei só admirando
(sequência by Rômulo Guerra)

Por mim não ia embora dali tão cedo, mas o Rômulo disse que é um lugar um pouco perigoso. Ficamos pouco tempo, o suficiente para encher um cartão de 64 GB. Voltamos para a Pousada e, em pouco tempo, eu havia caído na cama e apagado.

Um pouquinho da Pousada da Família Guerra (abaixo meu quarto)


12/10/2018 - sexta-feira

Acordei e após o farto café da manhã, eu,  Ana Clara, nossa Birding Girl no Nordeste, saímos junto com seu pai e  fomos fotografar numa fazenda que o Rômulo conhece o dono em São Gonçalo do Amarante. Fomos muito felizes na escolha, pois os bichinhos estavam colaborativos e bem variados, tinha hora que eu não sabia qual eu escolhia para fotografar.

Rômulo procurando os bichinhos

Chamando "a mamãe"


Destaque para o Bico-chato-amarelo (Tolmomyias flaviventris), Surucuá-de-barriga-vermelha (Trogon curucui), Vite-vite-de-olho-cinza (Hylophilus amaurocephalus), Gralha-cancã (Cyanocorax cyanopogon), entre outros.


Mas o maior destaque de todos ficou por conta da minha amiguinha Ana Clara, que me acompanhou nesse dia. Ela está em outra "vibe", digamos "mais oriental". Muito dedicada aos estudos, acabou por deixar a observação e fotografia de aves um pouco de lado. Mas acredito que tudo tem seu tempo. O conhecimento que ela tem das aves é muito grande e jamais será perdido. 


Vou guardar esse momento pra sempre: duas "Birding Ladies" passarinhando juntas. Duas gerações que amam as aves e a natureza. Obrigada Ana Clara Guerra por ter me acompanhado em busca dos bichinhos da sua região. Foi muito divertido, amei. 🐧🐦🐥🐤🐣


Retornamos a Paracuru. E quase na porta da Pousada dos Guerras, está um dos locais mais bonitos de se percorrer com a maré baixa. A Barra do Rio Curu, onde mar e rio se encontram, formando uma paisagem deslumbrante, muito abundante em aves. Quando eu voltar, devo me dedicar mais tempo a esse local.




Fizemos alguns bichinhos e voltamos, pois eu queria ir para o aeroporto tentar antecipar meu voo para chegar mais cedo em casa.


A Célia preparou um lanche rápido pra mim e nos abraçamos na cozinha. Lágrimas vieram aos olhos, a voz embargou e quase engasguei com a tapioca kkkkkkkkkkkk


Malas prontas, fomos todos para o aeroporto. Consegui antecipar e viajei de volta pra casa, feliz e sentindo uma leveza sem tamanho. Vim escrevendo sobre a viagem. O tempo passou que nem vi.

O maior trabalho que tive foi manipular as mais de dez mil fotos que fiz na viagem, identificar e montar cada lista no e-bird para compor esse post.

Meu recado final é dizer que serei eternamente grata por todos esses dias que passei conhecendo belíssimos lugares, pessoas incríveis, além de é lógico fazer cliques espetaculares.

Mas na minha mente e no meu coração, repito o que disse acima, foi a amizade e o carinho recebido de todos que permanecerá para sempre comigo. Nem vou dizer que já estou sentindo falta das tapiocas e dos eteceteras engordativos deliciosos porque são 22:29h desse domingo dia 14/10 e não comi nada até agora desde o almoço. Sacanagem.

kkkkkk. Mal cheguei e não vejo a hora de voltar. 😁😂
Amei conhecer vocês todos.😍😘


Obrigada a você que se deu ao trabalho de chegar até aqui no final de mais um relato de viagem. Espero que tenha gostado e que vá conhecer Paracuru o mais breve possível. Tenho certeza que irá adorar.
Vai uma musiquinha pra finalizar? Então aumenta o som...

14 comentários:

  1. Parabéns... Amei e assino em baixo.. família Guerra, Paracuru e o Ceará é uma energia maravilhosa... Simples e muito Amor.

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  2. Silvia, obrigado por compartilhar suas "birdwatching trips" . São leituras deliciosas, carinhosamente escritas, instigantes e muuuiiittooo incentivadoras.

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  3. Parabéns pelo recorte transparente de sua visita ao Ceará, muito bom!

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  4. Muito bacana seus relatos, Silvia!!! dá vontade de arrumar tudo e cair na estrada... só falta a grana...kkkkk

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    1. Obrigada querido Serginho. Nem sempre o dinheiro chega na hora certa, mas uma hora chega... beijos no coração.

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  5. Ficou incrível! Super bem feito! Obrigado por tudo! Estamos todos com saudades

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  6. Feliz em conhecer esse lugar maravilhoso pelos teus relatos e fotos. Deliciosa leitura, viajei contigo! Obrigada por compartilhar!

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  7. Você é uma mulher incrível, ser humano, pessoa🤍 querida! Amei ver as "duas "Birding Ladies" passarinhando juntas. Duas gerações que amam as aves e a natureza." Convide Ana Clara Guerra para fazer parte do nosso "grande bando misto"! 💙🤍

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