mãe-de-taoca-de-cauda-barrada (Gymnopithys salvini) |
É preciso muita disposição,
inspiração e dados para montar um bom e agradável relato de viagem para postar
no bloguinho. Sou muito exigente e para postar mal feito prefiro não postar.
Porém nem sempre a gente consegue conciliar disposição com inspiração. Antecedendo essa última ida para Manaus,
lembro exatamente como eu estava: ansiosa, chateada com alguns fatos pessoais
na minha vida e sofrendo com a abstinência de passarinhada.
Porém, durante e
após a viagem é que eu tive a noção do tanto que é importante para mim fazer uma
bela e feliz passarinhada. Sim, minha alma necessita dos encantos e sonhos que
só as florestas e seus rios podem proporcionar. Além do que, estar entre bons
amigos é essencial e faz muito bem para a saúde.
Passarinhar é bom demais, cura
todos os males, inclusive dores de amor, dores de cotovelo, da coluna, dos joelhos e
até dor de barriga rs rs rs. Ver passarinhos engrandece a alma!
Essa viagem foi idealizada e
planejada para eu ir sozinha devido às espécies ainda não vistas serem
difíceis demais, o que demandaria roteiros complicados e bem específicos. Mas
que graça tem se uma viagem não for recheada de alegrias, muitos risos, dividida com os
verdadeiros amigos? Sorte minha que a amiga Viviane de Luccia resolveu aceitar meu
convite. Ela é uma super companheira, sempre alegre e
bem-disposta. Eita, que assim que é bom. Esta foi minha terceira viagem ao
Amazonas, sempre guiada pela Vanilce e/ou Luiz Fernando, (veja relato da última aqui 📌). Lembrando que em outros momentos também adentrei terras amazônicas, como quando fui à
Rondônia em expedição organizada pelo amigo Bruno Rennó (relato aqui 📌).
Vou tentar ser menos metódica
e prolixa, mas não prometo nada. Tentarei mencionar tudo o que eu achar
relevante nessa deliciosa expedição nominada “Mãe-de-taoca”. Você deve estar se
perguntando que nome é esse...para quem não passarinha difícil entender mesmo.
São 11 espécies aves que ocorrem no Brasil e levam esse nome, em decorrência de
sua associação com as formigas de correição ou taocas. Formiga-correição,
tauoca, tanoca ou taoca é a designação comum a cerca de 200 espécies formigas
carnívoras, notórias por organizarem expedições periódicas de milhares de
indivíduos. Não constroem colônias e têm um modo de vida em constante
movimento. Algumas aves seguem regularmente essas expedições, aproveitando os
insetos e outros pequenos animais que tentam escapar do ataque das formigas.
(Wikipedia)
É uma mais linda
que a outra e todas de difícil registro, por isso fazem parte do sonho de
consumo ornitológico de qualquer passarinheiro. Até hoje só consegui registrar duas delas,
uma nessa viagem, e outra em Rondônia. São elas: mãe-de-taoca, mãe-de-taoca-dourada,
mãe-de-taoca-avermelhada, mãe-de-taoca-bochechuda, mãe-de-taoca-de-garganta-vermelha,
mãe-de-taoca-de-cauda-barrada, mãe-de-taoca-de-cara-branca,
mãe-de-taoca-arlequim, mãe-de-taoca-papuda, mãe-de-taoca-cristada e
mãe-de-taoca-cabeçuda.
As 11 mães-de-taoca |
Foram nove dias de expedição.
Acordávamos em torno de 4:00h da manhã e saíamos sempre em busca das aves mais
difíceis sem menosprezar as mais comuns que cruzavam nosso caminho. Afinal,
metade das espécies do Brasil podem ser encontradas no Estado do Amazonas.
Tivemos dias chuvosos, de sol, nublado, céu azul, muita comida boa, cerveja
gelada e sorvetes. Fomos a vários ambientes diferentes, passando por florestas, várzeas,
campinas, campinaranas, igapós, rios, paranás, lagos, etc. Foram inúmeros os nossos deslocamentos, nem sempre por lugares cheios de luz, até pelo contrário, alguns eram puro breu.
Algumas trilhas complicadas de caminhar e até de penetrar. São muitas as dificuldades
para fotografar aves na Amazônia, ISO da câmera sempre nas alturas (o que significa muito ruído nas imagens), aves sempre no último andar da floresta, ora colaborando, ora infernizando, ou então entranhadas, deixando um único buraquinho minúsculo, que
mal você enxerga o bicho. Mas eu posso afirmar que vale cada desafio.
Quando
você consegue uma boa foto ou uma espécie nova é um prazer orgástico. Foram 37
novas espécies, isso é muito para quem já fotografou mais da metade das
espécies do Brasil (1344 de 1919).
Além disso, nada passou despercebido dos nossos olhos e lentes, foram muitas flores pelo caminho, fungos coloridos, insetos e animais diversos. Mas
acima de tudo, muita alegria, paz, amizade e infindáveis belezas de
encher os olhos e os cartões. Momentos mágicos e únicos, quase indescritíveis.
Mas vamos ao diário (ao final de cada dia, link para lista no e-Bird):
28/06/2017 - Chegada ✈
Chegamos em Manaus por volta
de 14:15h, Vanilce foi nos buscar, paramos lanchar e depois nos dirigimos ao
INPA para tentar ver os aracuãs-pequenos que costumam frequentar os comedouros
do local. Esses estavam entalados na garganta, pois são bichos relativamente
fáceis de ver e, na primeira vez eu não vi, na segunda mal vi, mas não
consegui foto e fiquei pensando se dessa vez eu conseguiria. Não vimos nenhum e em seguida fomos fazer check-in no hotel. Dormimos cedo, após uma rápida refeição, pois no
dia seguinte iríamos pro Careiro, ou Careiro Castanho, como é mais conhecido.
Eu e Viviane em Cumbica aguardando a chamada do nosso voo |
Vanilce, eu e Viviane no INPA |
Eu no INPA |
1º dia - 29/06/2017 - Careiro
Saímos muito cedo, eu, Vanilce
e Viviane. Fomos pra balsa, que é sempre um momento muito bacana. E depois,
direto pro mato...
Na balsa |
Pra destravar os dedos, começamos clicando um bando de marrecas-cabocla (Dendrocygna autumnalis), pousadas numa cerca na beira da estrada. Aí foi pegar a lista e correr atrás dos "cascudos". Mas como a gente não deixa passar nada sem registro, que tal começar com os azuizinhos? Uma cotinga-azul (Cotinga maynana) e um saí-de-perna-amarela (Cyanerpes caeruleus). Acho que eles pensavam (aliás, passarinho pensa? kkkkk) "O que eram aqueles três seres estranhos caminhando por aquela estradinha cheia de lama?"
marrecas-cabocla, cotinga-azul, saí-de-pernas-amarelas e polícia-inglesa-do-norte |
Mas lá fomos nós adentrando as matas, subindo morrinhos, desviando dos galhos, folhas e espinhos, numa escuridão de dar dó do motor das câmeras, que teriam que trabalhar muito pra fotografar bem. Primeiro lifer do dia, uma única foto prestável daquela que deu origem ao nome da nossa expedição: mãe-de-taoca-de-cauda-barrada (Gymnopithys salvini). Acabei que nem usei essa foto, pois no dia seguinte, tentamos ela de novo, e aí sim deu fotão.
Enquanto isso, dá-lhe
florzinha, sapinhos e libélulas. E o próximo lifer veio em dupla, o casal, mas
a foto ficou um terror: chororó-preto (Cercomacroides serva). Fizemos uma
pausa, check-in no hotel, almoço e retornamos. E fomos pro meio do mato de
novo, aí o chororó-preto, deu nova chance, foto de quadro cheio, que seria perfeita se não fosse uma folhinha na frente..., mas, nem por isso nos deixamos
abater. E "bora" andar e buscar mais bichinhos. Vanilce sempre tocando o
play-back na esperança que alguns dos nossos desejados cascudos respondessem.
chororó-preto (Cercomacroides serva) |
Eis que ela, que tem uns ouvidos que, "minha nossa, o que que é
isso", ouve ao longe uma "sapiroca-de-coleira" (essa tem história rs rs rs) digo, saripoca-de-coleira
(Selenidera reinwardtii). O bicho chega mais próximo só que sempre muito no alto, empaca
lá em cima da copa, ajeita suas penas e nos ignora totalmente lá embaixo.
Nisso vejo um bichinho bonitinho, daqueles cor de merdinha de neném, meio amarelo, esverdeado, penso que é uma maria qualquer coisa, talvez a de olho branco ou de barriga branca, fotografo e volto minha atenção à saripoca, que continua fazendo pouco caso da gente. Só muito depois descobri que a coisa verde-amarelada era uma "pipra", ou melhor, um uirapuruzinho (Tyranneutes stolzmanni).
uirapuruzinho (Tyranneutes stolzmanni) |
Começamos bem a nossa expedição, três lifers, embora nenhum com fotão. Mas comemoramos muito. E olha que essa não foi minha primeira ida ao Careiro atrás da saripoca. Ano passado um temporal se aproximando no fez desistir de buscá-la.
Fazendo charme no meio da estrada |
Com sol ainda |
...fazendo gracinha, deitando no asfalto para fotografar... |
O dia findando trouxe cores
douradas deslumbrantes e muitos risos pra nossas bocas e mentes bobonas. A
alegria era tanta que a gente ria só de olhar uma pra outra, fosse lembrando
as dificuldades enfrentadas dentro da mata, uma fofoca que a gente lembrava,
fosse qualquer besteira que a gente falava.
Fim de tarde |
2º dia - 30/07/2017 - Careiro
Novamente pulamos cedo da cama
e fomos pra cozinha do hotel tomar café e preparar nosso lanche do almoço. Caia
uma chuva feia, mas não desanimamos, sabia que seria passageira.
piscina do hotel pra mostrar a chuva caindo |
Após colocar no isopor o nosso lanche, incluindo pão com ovo 🍳🍳 (comida que vai salvar o mundo, de acordo com a Vanilce), lá fomos nós até Beruri, mais ao sul, atrás do chorozinho-esperado (Herpsilochmus praedictus), que pra nosso desespero, não estava esperando a gente. Ele vocalizou muito, mas traduzindo, ele quis dizer: "tô nem aí, tô nem aí".
Fizemos um ou outro bichinho,
só pra não dar tristeza e retornamos pra estradinha do dia anterior. A chuva
foi embora, mas deixou um lamaçal de dar gosto, ou melhor, desgosto. Paramos o
carro bem no início, quase no asfalto e seguimos a pé. Novamente entramos na
matinha e Vanilce apontou um tronquinho fino e disse: vou chamar a
mãe-de-taoca-de-cauda-barrada (Gymnopithys salvini), ela gosta de tronquinho
assim...Fotometrei o tal tronquinho e de repente, a bichinha veio no exato
lugar que ela apontou. Pimba! Fotão.
mãe-de-taoca-de-cauda-barrada (Gymnopithys salvini) |
Retornamos para a estradinha embarreada e seguimos em frente, caminhando. Vanilce continuou a chamar os bichos e nada. De repente estou com o olhar perdido e vejo sair um bichinho com cara de galinhinha do meio do mato, só deu tempo de eu dizer: ai...e ele atravessou feito bala de revólver e se foi dentro do mato. Era nada mais nada menos que um inhambu-preto, meu sonho. Se eu fotografei? Não deu nem tempo de pensar em levantar a câmera, que dirá fotografar.
Seguimos mais um pouco e eu
vejo algo atravessar a estrada voando baixo..."Vanilceeeee, o que é
aquilo?" - "Pareceu uma mãe-de-taoca-cabeçuda (Rhegmatorhina
melanosticta)". E era, e mais uma, mais outra, e por fim, quatro
mãe-de-taoca-cabeçuda atravessaram a estrada. Chegamos próximo do local, uma
correição atravessava a estrada e adentrava a mata. Eu pensei: "é
hoje!" Que nada, o local era intransponível. Buraco, alagado, mata
completamente fechada, eu diria "murada". Pro meu desespero, elas não paravam de
vocalizar, mas não vinham na borda nem por decreto. Que peninha, não foi o dia
delas desta vez.
O dia não estava pra peixe,
melhor, pra ave. Nenhum lifer, mas teve melhoraifer do lifer de ontem, então
tínhamos que comemorar. E rindo que nem três abestadas, fizemos uma homenagem
ao amigo ornitólogo Fernando Straube (quem viu a postagem dele no face no grupo
OBrA, vai entender o porquê dessa homenagem. 🤣🤣🤣🤣🤣
Resolvemos ir até Manaquiri
ver se tinha alguma coisa pelo caminho, chegando lá, tinham muitas andorinhas e a lua no fundo, e vai eu tentar clicar uma andorinha passando na frente da lua...coisa complicada, não consegui nenhuma. Decididamente!
Que dia! 😤😤😤
Chegamos... |
Bem no centro da agitada Manaquiri |
O melhor que eu consegui... |
E mais maluquice pra terminar o dia... |
3º dia - 01/07/2017 - Careiro e Careiro da Várzea
Voltamos ao mesmo local do dia
anterior. Alguns bichinhos mais comuns foram aparecendo e finalmente o
pica-pau-chocolate (Celeus elegans) respondeu e compareceu. Ufa! Não que eu
goste de chocolate (argh!), mas esse aí eu queria e muito! Também veio um arapaçu-de-barriga-pintada
(Hylexetastes stresemanni) e a choquinha-de-garganta-clara (Isleria hauxwelli).
Foram 03 lifers numa só manhã.
O que mais tinha eram borboletas pelo caminho e uma delas se encantou com a Viviane.
No caminho de volta paramos para uma linda Hydrodynastes gigas atravessar a estrada. Muito linda. Fascinante!
Almoçamos e seguimos viagem, porém demos uma passadinha no Careiro da Várzea, onde no ano passado eu andei de carro, desta vez estava tudo alagado e só se chegava de barco. E havia um barquinho. Mas barquinho "mesmo", não cabia sequer nós três e o barqueiro. Então uma ia ter que ficar e ir depois. Eu encarei de primeira. E alguns metros dentro de uma ilhota, um papa-formiga-do-igarapé (Sclateria naevia) cantava deliciosamente.
pica-pau-chocolate, arapaçu-de-barriga-pintada e choquinha-de-garganta-clara |
O que mais tinha eram borboletas pelo caminho e uma delas se encantou com a Viviane.
No caminho de volta paramos para uma linda Hydrodynastes gigas atravessar a estrada. Muito linda. Fascinante!
Almoçamos e seguimos viagem, porém demos uma passadinha no Careiro da Várzea, onde no ano passado eu andei de carro, desta vez estava tudo alagado e só se chegava de barco. E havia um barquinho. Mas barquinho "mesmo", não cabia sequer nós três e o barqueiro. Então uma ia ter que ficar e ir depois. Eu encarei de primeira. E alguns metros dentro de uma ilhota, um papa-formiga-do-igarapé (Sclateria naevia) cantava deliciosamente.
Sentei com cuidado, porque
dava medo do treco emborcar... Vanilce foi sentada na frente, chegamos no local
onde o bicho vocalizava, como que esperando por nós. Fez pose, pose, pose, e
foi clic, clic, clic! Deu... bora voltar. Queria que a Viviane aproveitasse a
chance que o bichinho estava dando. Em menos de cinco minutos a gente estava de
volta.
papa-formiga-do-igarapé (Sclateria naevia) |
E prá comemorar cantamos: "Ô papa-formiga dos meus sonhos... ôôô... viximaria. É muito gostoso. É muita alegria. É muita melodia!!!!!!"
Então Vanilce e Viviane (parece até nome de dupla sertaneja rs rs rs) entraram no
barco e saíram, só que ao invés de pararem no local, foram descendo, descendo a
correnteza. Fiquei sem entender. Não sabia se era porque o bicho mudara de
ponto ou se estava acontecendo algo. Desapareceram atrás da vegetação e nada
de voltarem. Fiquei preocupada sem saber o que fazer. De repente conseguiram
voltar e pararam pra fotografar o papa-formiga. Depois que voltaram contaram o
drama. O barquinho desgarrou na correnteza e o motorzinho não tinha força pra
se segurar e foram arrastados. Até que num dado momento Viviane teve que trocar
de lugar dentro do barco, em meio à correnteza, pra fazer contrapeso e
conseguirem voltar, tudo isso com risco de cair com equipamento e tudo na
água...afff!
Bom, ainda vimos um lindo pica-pau-de-peito-pontilhado (Colaptes punctigula). Depois do perrengue superado, foi só alegria... voltamos pra Manaus rindo à toa, parando até pra fotografar carcará.
Descendo para ver o bicho |
já de volta, depois do sufoco... |
Viviane feliz com o lifer e aliviada depois do susto... |
Bom, ainda vimos um lindo pica-pau-de-peito-pontilhado (Colaptes punctigula). Depois do perrengue superado, foi só alegria... voltamos pra Manaus rindo à toa, parando até pra fotografar carcará.
pica-pau-de-peito-pontilhado (Colaptes punctigula) |
carcará (Caracara plancus) |
Lista no e-Bird do 3º dia - Careiro da Várzea - clique aqui 📌
4º dia - 02/07/2017 - Ilha da Marchantaria e Ramal do Pau Rosa
Pular da cama cedo, tomar café
correndo. Sair direto para embarcar rumo à Ilha da Marchantaria e fazer o delicioso passeio que no ano passado ficou prejudicado por conta de um temporal. O dia
amanheceu lindo e prometia muitas aves.
Desta vez fomos guiadas pelo casal. Vanilce e Luiz Fernando juntos é sinônimo de passarinhada com sucesso em dobro rs rs rs.
Não eram nem 7 horas da manhã e o primeiro lifer estava na mão, melhor, no cartão. Olha o formigueiro-preto-e-branco (Myrmochanes hemileucus) aí, gente!
Alguns eram lifer só pra Viviane e para mim apenas "melhoraifer", como o joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus). Fiz foto dele daquelas de ver o brilhinho no olho! Deu gosto! Mas sempre tem um galhinho ou folhinha pra atrapalhar! kkkkk A foto que eu mais gostei dele, que foi quando mais nos aproximamos, infelizmente, uma folhinha ficou bem na frente.
"Se essa casa fosse minha, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas de diamante..." |
Desta vez fomos guiadas pelo casal. Vanilce e Luiz Fernando juntos é sinônimo de passarinhada com sucesso em dobro rs rs rs.
Vanilce, Viviane, Eu e Luiz Fernando |
Não eram nem 7 horas da manhã e o primeiro lifer estava na mão, melhor, no cartão. Olha o formigueiro-preto-e-branco (Myrmochanes hemileucus) aí, gente!
formigueiro-preto-e-branco (Myrmochanes hemileucus) |
formigueiro-preto-e-branco (Myrmochanes hemileucus) |
Alguns eram lifer só pra Viviane e para mim apenas "melhoraifer", como o joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus). Fiz foto dele daquelas de ver o brilhinho no olho! Deu gosto! Mas sempre tem um galhinho ou folhinha pra atrapalhar! kkkkk A foto que eu mais gostei dele, que foi quando mais nos aproximamos, infelizmente, uma folhinha ficou bem na frente.
joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus) |
joão-da-canarana (Certhiaxis mustelinus) |
E as mungubeiras (Pseudobombax munguba) estavam lindas e lotadas de periquitos-da-campina (Brotogeris versicolurus), nome que ficou estranho na última mudança do CBRO, eu sinceramente, prefiro o antigo nome: periquito-de-asa-branca.
periquito-da-campina (Brotogeris versicolurus) |
mungubeira (Pseudobombax munguba) |
mungubeira (Pseudobombax munguba) |
mungubeira (Pseudobombax munguba) |
E começou o desfile:
ferreirinho-estriado (Todirostrum maculatum), curicaca (Theristicus caudatus),
joão-de-peito-escuro (Synallaxis albigularis), curutié (Certhiaxis
cinnamomeus), caneleiro-cinzento (Pachyramphus rufus), maria-preta-ribeirinha
(Knipolegus orenocensis). Veja alguns a seguir.
curutié (Certhiaxis cinnamomeus) |
maria-preta-ribeirinha (Knipolegus orenocensis) |
De repente a gente viu um bando maravilhoso de iratauá-pequeno (Chrysomus icterocephalus). Deu pra fazer foto de encher quadro e os olhos, do jeito que sempre sonhei. Essa ave é muito especial. Em 2011 quando comecei a observar aves, eu me encantei com uma das fotos vencedora do concurso Avistar 2011 - Categoria Primeiras Aves.
Essa foto vencedora foi postada no meu blog em 2011 📌 e é de autoria de Pedro Nassar, que eu tive o prazer de conhecer a pouco tempo aqui em SP. Ela povoou meu imaginário durante muito tempo e me fez sonhar fazer uma foto pelo menos parecida. Sonho realizado nessa terceira viagem ao Amazonas. Pena que o Pedro não pode nos encontrar em Manaus. Essa foto eu deixo aqui em homenagem a ele por me inspirar com sua bela imagem.
o bando de iratauá-pequeno (Chrysomus icterocephalus) |
a foto dos sonhos: iratauá-pequeno (Chrysomus icterocephalus) |
Embora o iratauá não fosse lifer, foi um momento tão inesquecível, mas tão inesquecível que vai virar quadro na parede de casa. Sem contar a alegria do bando, nesse caso, bando de amigos presentes nesta hora. E bota alegria nisso. Mas o dia estava só começando. Muitas emoções ainda por vir.
... eu e a filhota ... |
Eu, Viviane, Luiz Fernando e Vanilce |
De vez em quando, iguanas mergulhavam do alto das árvores nos dando um baita susto. Eu olhava aquele bicho enorme, pendurado numa árvore e imaginava como seria na época dos dinossauros...
E o desfile de lifers continuou: guaracava-do-rio (Elaenia pelzelni), figuinha-amazônica (Conirostrum margaritae), beija-flor-pintado (Leucippus chlorocercus), arredio-de-peito-branco (Cranioleuca vulpecula).
destaque para o lindo beija-flor-pintado (Leucippus chlorocercus) |
No período da tarde fomos até o Ramal do Pau Rosa e rolou uns bichos bem legais como o arapaçu-barrado (Dendrocolaptes certhia), maria-fiteira (Lophotriccus vitiosus), uirapuru-estrela (Lepidothrix serena). Mesmo quase sem luz e mata super fechada, até que deu para registrar os bichos.
uirapuru-estrela (Lepidothrix serena). |
pipira-de-bico-vermelho (Lamprospiza melanoleuca) |
Já num ponto da estradinha um rabo-branco-de-bigodes (Phaethornis superciliosus), mesmo na contraluz, deu um show, quando tentei melhorar a posição, entrando no meio do mato, passando por cima dos espinhos, pra pegar com a luz melhor, ele se mandou, pois já estava de barriguinha cheia.
rabo-branco-de-bigodes (Phaethornis superciliosus), |
Mas aí surgiu um anacã (Deroptyus accipitrinusao) e percebi que no céu havia uma lua que eu podia me posicionar de um jeito que a lua ficasse bem atrás dele... mas foi complicado. No exato ponto onde a lua ficava no lugar certinho, havia um arbusto alto, e não tinha como eu tirar ele do meu caminho, mas fiz o que eu pude, me torci, entortei, fiquei na ponta do pé e consegui o que deu.
anacã (Deroptyus accipitrinusao) |
anacã (Deroptyus accipitrinusao) |
"Que haverá com a lua que sempre que a gente olha é com o súbito espanto da primeira vez (Mario Quintana)" 🌕🌖🌗🌘🌑
Bom, eu tenho uma história cármica com
o aracuã-pequeno (Ortalis motmot), como disse no início. Ele é muito comum na região, até
em área urbana, mas desde a primeira vez que fui passarinhar no Amazonas, não
consegui avistar um nem pra remédio. Na segunda vez, até apareceu um bando que
se mandou antes que eu conseguisse uma fotinho (tem uma meia boca total). Mas
nessa tarde, já sem luz, um bando apareceu na brenha, lógico, sem facilitar
minha vida. Consegui registrar no susto a cabecinha de um mais curioso, então
eles foram pra mata escura. O Luiz Fernando disse: topa entrar na mata? Bora!
Não vou desistir agora, e num é que deu pra fazer foto. Eles bem no alto, da
cor do tronco. Eu chamo de foto meia-boca, feita pra desencanar, pois parece
que depois que registro o bicho a primeira vez, ele retorna algum dia, formoso
e belo, no limpo, com a luz perfeita, pra que eu possa fazer aquele fotão...tenho fé nisso. Kkkkkkkk
aracuã-pequeno (Ortalis motmot) |
aracuã-pequeno (Ortalis motmot) |
Saldo do dia: dia 8 lifers. É mole ou quer mais?
Lista no e-Bird do 4º dia - Ilha Marchantaria - clique aqui 📌
5º dia - 03/07/2017 - Presidente Figueiredo
E lá fomos nós bem cedinho pra mais uma aventura, em um lugar que eu já havia estado antes e guardava boas e nem tão
boas experiências. Começamos
com arapaçu-de-bico-vermelho, comendo um bichinho, mas dada as condições do
tempo fechado e falta de luz, as fotos deixaram muito a desejar.
Mas nossa ida lá tinha um fim específico: o uirapuru (Cyphorhinus arada). Esse tem história. Chegamos no local embaixo de um tempo feio, escuro, chuvoso, pensamos que não daria sequer pra fotografar. Fiquei com uma sensação de “déjà vu”, pois no ano anterior tinha tido a passarinhada interrompida no local devido a uma grande chuva. Partimos em direção ao ponto onde Vanilce e Luiz Fernando haviam localizado o bichinho numa busca anterior.
No caminho fomos abordados gentilmente pelo amigo André De Luca, que nos solicitou permissão para ir junto até o local com um grupo de suecos que estava guiando. Conversamos entre nós e, por unanimidade, decidimos que o pessoal não atrapalharia. Em consideração ao gesto educado do André, muito querido por todos, pedimos que o pessoal nos acompanhasse. Vanilce ficou encarregada de posicioná-los de forma que ninguém saísse prejudicado.
Os gringos até duvidaram que com chuva o bichinho apareceria, mas ele não faltou e deu show...showzaço pra dizer melhor. Era lifer pra amiga Viviane e para mim, apenas mais um momento de deleite. Não é só por ver o bichinho cantar, mas por apreciar a alegria dos gringos ao verem essa preciosidade. Foram muitos os “OBBIRIGADO” e “Thanks you very much”. Dava pra sentir os corações das pessoas palpitando de felicidade. Esse era um dos objetivos do grupo e graças a essa parceria todos saímos satisfeitos.
Mas nossa ida lá tinha um fim específico: o uirapuru (Cyphorhinus arada). Esse tem história. Chegamos no local embaixo de um tempo feio, escuro, chuvoso, pensamos que não daria sequer pra fotografar. Fiquei com uma sensação de “déjà vu”, pois no ano anterior tinha tido a passarinhada interrompida no local devido a uma grande chuva. Partimos em direção ao ponto onde Vanilce e Luiz Fernando haviam localizado o bichinho numa busca anterior.
No caminho fomos abordados gentilmente pelo amigo André De Luca, que nos solicitou permissão para ir junto até o local com um grupo de suecos que estava guiando. Conversamos entre nós e, por unanimidade, decidimos que o pessoal não atrapalharia. Em consideração ao gesto educado do André, muito querido por todos, pedimos que o pessoal nos acompanhasse. Vanilce ficou encarregada de posicioná-los de forma que ninguém saísse prejudicado.
Os gringos até duvidaram que com chuva o bichinho apareceria, mas ele não faltou e deu show...showzaço pra dizer melhor. Era lifer pra amiga Viviane e para mim, apenas mais um momento de deleite. Não é só por ver o bichinho cantar, mas por apreciar a alegria dos gringos ao verem essa preciosidade. Foram muitos os “OBBIRIGADO” e “Thanks you very much”. Dava pra sentir os corações das pessoas palpitando de felicidade. Esse era um dos objetivos do grupo e graças a essa parceria todos saímos satisfeitos.
Suecos e brasileiros felizes |
Ei, faltou eu na foto!!! |
uirapuru (Cyphorhinus arada). |
uirapuru (Cyphorhinus arada). |
Além desse, outro cantor das florestas veio espiar o que se passava no local, esse era lifer para mim e pra Viviane: uirapuru-de-asa-branca (Microcerculus bambla). Bichinho lindo, porém da cor dos troncos e muito difícil de enxergar e focar. Mas, mesmos com condições adversas, consegui uma boa foto dele.
uirapuru-de-asa-branca (Microcerculus bambla) |
Entre o intervalo de uma ave e outra, ia registrando os fungos que via pelo caminho pois são lindos. E mais um marronzídeo para a coleção: Flautim-oliváceo (Schiffornis olivácea), difícil de fotografar que só ele, só vem no alto, suas cores não facilitam e ainda por cima, não para quieto. Mas pelo menos "desencanei". Um dia ele vai me favorecer.
E por último, um senhorzinho quase invisível das florestas, minúsculo, cores que o camufla muito bem entre os galhos, e voi-là, fiz o que deu: choquinha-de-barriga-ruiva (Isleria guttata) ... eu brinco com a Vanilce, que tudo que tem a fonética xó no nome (choquinha, chororó, chorozinho, choca, choro) é altamente irritante pra fotografar. Pior que elas só os famigerados e endemoniados "Synallaxis".
Mas não acabou ainda, tinha
outro bicho complicado para procurar: o "yo soy terrible do norte" 😈
Sim estou falando dele, o estalador, no caso, o estalador-do-norte (Corythopis torquatus). A gente ouvia sua vocalização, mas nada de vê-lo. Geralmente no escuro o que melhor funciona na minha visão é o sensor de movimento. Qualquer folhinha se mexendo eu consigo detectar. E como choveu, gotas batiam nas folhas, e meus olhos perscrutavam para ver do que se tratava, em cada buraquinho, que dá licença.
De repente, uma gota que parecia insistir em cair numa folhinha no chão, ganhou minha atenção. Olho com a câmera e vejo, num único e miserento buraquinho o sr. "terrible". Foco manual, contando com os braços e milagres da Canon para conseguir um único registro, eis que sai um borrão um pouquinho melhor.
Deixa eu explicar uma coisa: quando falo que depois de um registro precário, eu desencano, significa que num próximo encontro, desprovida da peculiar tensão que acompanha a busca e encontro de um lifer, tudo flui com mais facilidade. Aí vem o que eu chamo de melhoraifer, conforme coloquei em outro post aqui no blog 📌.
E por fim, quase parecendo noite um dançarino-de-crista-amarela (Heterocercus flavivertex) resolveu testar se a minha câmera conseguia registrar com uma luz absurda de ruim e bem no alto. Se eu fosse um pouquinho mais exigente, eu postaria poucas das fotos que faço em mata com luz assim.
Sim estou falando dele, o estalador, no caso, o estalador-do-norte (Corythopis torquatus). A gente ouvia sua vocalização, mas nada de vê-lo. Geralmente no escuro o que melhor funciona na minha visão é o sensor de movimento. Qualquer folhinha se mexendo eu consigo detectar. E como choveu, gotas batiam nas folhas, e meus olhos perscrutavam para ver do que se tratava, em cada buraquinho, que dá licença.
De repente, uma gota que parecia insistir em cair numa folhinha no chão, ganhou minha atenção. Olho com a câmera e vejo, num único e miserento buraquinho o sr. "terrible". Foco manual, contando com os braços e milagres da Canon para conseguir um único registro, eis que sai um borrão um pouquinho melhor.
estalador-do-norte (Corythopis torquatus) |
Deixa eu explicar uma coisa: quando falo que depois de um registro precário, eu desencano, significa que num próximo encontro, desprovida da peculiar tensão que acompanha a busca e encontro de um lifer, tudo flui com mais facilidade. Aí vem o que eu chamo de melhoraifer, conforme coloquei em outro post aqui no blog 📌.
E por fim, quase parecendo noite um dançarino-de-crista-amarela (Heterocercus flavivertex) resolveu testar se a minha câmera conseguia registrar com uma luz absurda de ruim e bem no alto. Se eu fosse um pouquinho mais exigente, eu postaria poucas das fotos que faço em mata com luz assim.
E assim o dia acabou, jantamos
e fomos dormir, porque o dia seguinte prometia ser puxado. Eu sempre digo,
depois de metade da expedição, o desgaste físico e mental começa a se instalar
e para contornar isso, só muita alegria, comida e bons sonhos...😁🍲🍚🍕🍨😴
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6º dia - 04/07/2017 -
Manacapuru
Fomos diretos para um ramal
onde eu já estivera antes, (reconheci os barquinhos rs rs rs). Nosso café foi no mato mesmo.
De cara um gavião-azul (Buteogallus schistaceus), que aparentava estar procurando uma presa, se apresentou para a foto.
Depois foi a vez de um encardidinho, um flautim-pardo (Cnipodectes subbrunneus) naqueles buraquinhos impiedosos. Já na hora do almoço, um capitão-de-fronte-dourada (Capito auratus) fazia poses para as nossas lentes, o duro foi ele dividir nossas atenções com o bando de araçari-de-bico-de-marfim (Pteroglossus azara), na fruteira ao lado. Estava difícil decidir.
Lagartos fosforescentes andavam pelo chão caçando seu almoço, enquanto aguardávamos o nosso.
Depois fomos pra mata, e um danado de um saurá-de-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis), vocalizando todas, ficou nas alturas e só me deu chance de vê-lo voando...foto decente que é bom, nada...
Tomando café no mato... |
De cara um gavião-azul (Buteogallus schistaceus), que aparentava estar procurando uma presa, se apresentou para a foto.
gavião-azul (Buteogallus schistaceus) |
Depois foi a vez de um encardidinho, um flautim-pardo (Cnipodectes subbrunneus) naqueles buraquinhos impiedosos. Já na hora do almoço, um capitão-de-fronte-dourada (Capito auratus) fazia poses para as nossas lentes, o duro foi ele dividir nossas atenções com o bando de araçari-de-bico-de-marfim (Pteroglossus azara), na fruteira ao lado. Estava difícil decidir.
capitão-de-fronte-dourada (Capito auratus) |
araçari-de-bico-de-marfim (Pteroglossus azara) |
Lagartos fosforescentes andavam pelo chão caçando seu almoço, enquanto aguardávamos o nosso.
Depois fomos pra mata, e um danado de um saurá-de-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis), vocalizando todas, ficou nas alturas e só me deu chance de vê-lo voando...foto decente que é bom, nada...
olha a pontinha do saurá-de-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis) ali... |
pausa para descanso |
Após uma tarde onde os passarinhos relutaram em dar mole para as fotos, voltando pra sede, de repente o Luiz Fernando viu um beija-flor e disse, meio desesperado, fotografem, fotografem... é lógico que fotografamos, e durante as fotos vimos que era um topetinho, mas qual? Tratava-se do primeiro topetinho-verde (Lophornis chalybeus verreauxii) para o Estado do Amazonas, mas não é só isso não, é uma subespécie que pelo Hand Book World já virou espécie: Butterfly Coquette (Lophornis verreauxii) e em breve irá ser alçado à espécie no Brasil pelo CBRO. De todas as fotos que esta foi uma das que me trouxe mais satisfação.
topetinho-verde (Lophornis chalybeus verreauxii) |
topetinho-verde (Lophornis chalybeus verreauxii) |
E quando eu me dirigia ao quarto para me preparar para o jantar, uma fêmea de benedito-de-testa-vermelha (Melanerpes cruentatus) fez biquinho pra mim, quase implorando uma fotografia. Seria a benedita?
benedito-de-testa-vermelha (Melanerpes cruentatus) |
Após o delicioso jantar, nós fomos curtir um pouco na beira da piscina natural. E muitas risadas e caipirinhas depois, nos retiramos para um sono dos anjos.
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7º dia - 05/07/2017 - Manacapuru e Novo Airão
Aí você acorda num lugar lindo
de morrer e antes do seu café, um lifer se aproxima para uma fotinha. E dá lhe
foto do sr. picapauzinho-do-amazonas (Picumnus lafresnayi), que se alimentava
na nossa cara, tranquilamente. A vontade que deu foi ficar a manhã toda procurando
passarinhos ali nas fruteiras, mas precisávamos ir para a trilha atrás dos
cascudos nas trilhas.
Saímos pra trilha, mas os bichos estavam se escondendo do calor escaldante. Na pousada tinha uma sauna e fiquei me perguntando se algum dia ela seria usada. Passarinho tudo meio escondido, mas havia aranhas e pau-pombo! Isso havia muito. Mas preste bem atenção: quando eu digo que tinha pouco passarinho, isso se refere aos bichos cascudos que a gente estava procurando.
Mas uma choquinha resolveu se animar. E quem se animou fomos nós, pois era lifer. Obrigada por colaborar, choquinha-do-rio-negro (Epinecrophylla pyrrhonota).
Não era lifer, mas é sempre um prazer enorme deparar com um bando de curica-de-bochecha-laranja (Pyrilia barrabandi) ou um cabeça-branca (Dixiphia pipra).
E matas assim bem preservadas tem muito arapaçu, como esse lindinho do arapaçu-bico-de-cunha (Glyphorynchus spirurus), mas quando é lifer, eles endemoniam, e não me deixam fazer fotão. Como é o caso do arapaçu-ocelado-do-norte (Xiphorhynchus ocellatus) e do arapaçu-rabudo (Deconychura longicauda), este último num ramal depois que deixamos a pousada. Lugar dos bons, ainda rendeu uma maria-de-olho-branco (Hemitriccus zosterops).
Tentamos vários bichos ao longo do caminho até Novo Airão, mas o calor estava sufocante. Olha a pinta de retirantes da galera...
Encerrei o dia com uma borboleta trapezista e um sanhaço-da-amazônia (Thraupis episcopus) no quintal da próxima pousada, onde dormiríamos para ir no dia seguinte navegar em Anavilhanas.
picapauzinho-do-amazonas (Picumnus lafresnayi) |
picapauzinho-do-amazonas (Picumnus lafresnayi) |
Saímos pra trilha, mas os bichos estavam se escondendo do calor escaldante. Na pousada tinha uma sauna e fiquei me perguntando se algum dia ela seria usada. Passarinho tudo meio escondido, mas havia aranhas e pau-pombo! Isso havia muito. Mas preste bem atenção: quando eu digo que tinha pouco passarinho, isso se refere aos bichos cascudos que a gente estava procurando.
Bora pra trilha gente!! |
Uai! Onde estão os bichos? |
medonha!!! |
Mas uma choquinha resolveu se animar. E quem se animou fomos nós, pois era lifer. Obrigada por colaborar, choquinha-do-rio-negro (Epinecrophylla pyrrhonota).
choquinha-do-rio-negro (Epinecrophylla pyrrhonota) |
Não era lifer, mas é sempre um prazer enorme deparar com um bando de curica-de-bochecha-laranja (Pyrilia barrabandi) ou um cabeça-branca (Dixiphia pipra).
curica-de-bochecha-laranja (Pyrilia barrabandi) |
cabeça-branca (Dixiphia pipra) |
E matas assim bem preservadas tem muito arapaçu, como esse lindinho do arapaçu-bico-de-cunha (Glyphorynchus spirurus), mas quando é lifer, eles endemoniam, e não me deixam fazer fotão. Como é o caso do arapaçu-ocelado-do-norte (Xiphorhynchus ocellatus) e do arapaçu-rabudo (Deconychura longicauda), este último num ramal depois que deixamos a pousada. Lugar dos bons, ainda rendeu uma maria-de-olho-branco (Hemitriccus zosterops).
arapaçu-bico-de-cunha (Glyphorynchus spirurus) |
Luiz Fernando, Vanilce e Viviane |
Encerrei o dia com uma borboleta trapezista e um sanhaço-da-amazônia (Thraupis episcopus) no quintal da próxima pousada, onde dormiríamos para ir no dia seguinte navegar em Anavilhanas.
sanhaço-da-amazônia (Thraupis episcopus) |
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8º dia - 06/07/2017 - Novo
Airão e Iranduba
Logo cedinho, lá vamos nós nos
encontrar com o "Ceará", nosso piloteiro e sair pelas águas de Anavilhanas procurando passarinhos.
Anavilhanas é um lugar que me enche de paz e luz. Nessa hora eu lembrei de Fernando Pessoa, “Navegar é preciso; viver não é preciso”. ⛵⛵⛵
Envolvida pelos encantos do rio
Negro, as palavras começaram a surgir no meu pensamento, e foram registradas no celular durante a navegação.
A riqueza que busco para o meu coração está no ouro que reluz ao amanhecer. É o que engrandece a minha alma, me traz esperança e muita paz. 💛🌞💛💛🌞💛💛🌞💛
Segue meu poema matinal: 🌼🌸🌺🌼
Vanilce, Viviane, Luiz Fernando e o "Ceará" |
Anavilhanas é um lugar que me enche de paz e luz. Nessa hora eu lembrei de Fernando Pessoa, “Navegar é preciso; viver não é preciso”. ⛵⛵⛵
A riqueza que busco para o meu coração está no ouro que reluz ao amanhecer. É o que engrandece a minha alma, me traz esperança e muita paz. 💛🌞💛💛🌞💛💛🌞💛
Segue meu poema matinal: 🌼🌸🌺🌼
"O barco segue o rio e os
meus olhos acompanham o céu ...
...interpretando os mistérios dos tons que se formam em sua junção...
...interpretando os mistérios dos tons que se formam em sua junção...
A brisa beija meu rosto,
enquanto o sol faz um carinho na minha pele e aquece meu
coração...
É o seu jeito de me dar bom
dia, de acordar meus sentidos, e de me mostrar coisas que às vezes eu
esqueço...
... fecho os olhos e quase adormeço...
... fecho os olhos e quase adormeço...
O barco segue e meus
pensamentos mergulham,
se misturam aos sons dos papagaios cortando o ar,
se misturam aos sons dos papagaios cortando o ar,
Haveria muiraquitãs no fundo
do rio?
Para saber, eu teria que em suas profundezas mergulhar...
Para saber, eu teria que em suas profundezas mergulhar...
Mas é uma imensidão... e pode ter escuridão...
deixo a alma livre para escolher e ir além, buscando o infinito...
deixo a alma livre para escolher e ir além, buscando o infinito...
Eu me sinto paralisada, é tudo
cada vez mais bonito... (suspiro)...
Pela enésima vez o sonho dourado invade meus devaneios...
...sem receio...
Voo junto com as araras que
passam ao longe... minha alma transgride o tempo ...
O barco segue seu rumo levando pra longe os meus tormentos...
E de repente...
De repente, dois gralhões pousados, ui, meu corpo apruma, a mente dá um salto e me traz rapidamente de
volta, aponto a câmera, enquanto o barqueiro se aproxima devagar ...
Clic clic clic, e outro tipo
de magia se inicia. A magia que só as aves podem nos proporcionar."
cancão ou gralhão (Ibycter americanus) |
cancão ou gralhão (Ibycter americanus) |
Seguimos margeando. E começa a vez dos pequeninos: um lindo amarelinho (Inezia subflava) aparece bem pertinho. E o seu "Ceará" tem as manhas pra colocar o barco bem aprumadinho, pra gente fazer foto bem bonita. Muitos papagaios-da-várzea (Amazona festiva) enfeitavam o céu, seguidos por muitos andorinhões, que apareciam e sumiam num piscar de olhos, (ai que inveja)!
E prosseguimos na incansável busca das aves difíceis. Mais pequeninos no pedaço:
poiaeiro-de-pata-fina (Zimmerius gracilipes), choquinha-do-tapajós
(Myrmotherula klagesi) e choquinha-de-peito-riscado (Myrmotherula cherriei). E Vanilce e Luiz Fernando atentos a cada movimento de asas.
poiaeiro-de-pata-fina (Zimmerius gracilipes) |
choquinha-do-tapajós (Myrmotherula klagesi) |
choquinha-de-peito-riscado (Myrmotherula cherriei) |
Já o flautim-ruivo (Schiffornis major) deu mais trabalho. Tivemos que entrar embaixo do emaranhado de floresta alagada. Mas num é que todas as manobras radicais feitas pelo "Ceará", sob o comando da Vanilce e do Luiz Fernando valeu a pena. Olha aí, 👇👇👇
E lá vamos nós atrás do rabo-branco-do-rupununi (Phaethornis rupurumii), bichinho tão pequeno, que quase não dava pra enxergar. Mas ele foi colaborativo, até se espreguiçou...coisinha mais linda. E mais uma vez, óbvio que a luz no local deixou a desejar.
Ainda deu foto do lindo rabo-de-arame (Pipra filicauda), da choca-preta-e-cinza (Thamnophilus nigrocinereus) e do solta-asa-do-norte (Hypocnemoides melanopogon).
flautim-ruivo (Schiffornis major) |
E lá vamos nós atrás do rabo-branco-do-rupununi (Phaethornis rupurumii), bichinho tão pequeno, que quase não dava pra enxergar. Mas ele foi colaborativo, até se espreguiçou...coisinha mais linda. E mais uma vez, óbvio que a luz no local deixou a desejar.
rabo-branco-do-rupununi (Phaethornis rupurumii) |
Ainda deu foto do lindo rabo-de-arame (Pipra filicauda), da choca-preta-e-cinza (Thamnophilus nigrocinereus) e do solta-asa-do-norte (Hypocnemoides melanopogon).
rabo-de-arame (Pipra filicauda) |
choca-preta-e-cinza (Thamnophilus nigrocinereus) |
solta-asa-do-norte (Hypocnemoides melanopogon) |
Saindo do passeio fomos conhecer o trabalho com os botos-cor-de-rosa ou vermelho (Inia geoffrensis). Esse projeto é sensacional e pode se saber mais clicando aqui 📌. Foi ímpar, ver os bichinhos pedindo comida e carinho, como crianças em festa. A tratadora chama cada um por nome. Uma super e emocionante interação.
boto-cor-de-rosa ou vermelho (Inia geoffrensis) |
De acordo com a lenda, um boto cor-de-rosa sai dos rios nas noites de festa junina. Com um poder especial, consegue se transformar num lindo jovem vestido com roupa social branca. Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e disfarçar o nariz grande. Com seu jeito galanteador e falante, o boto aproxima-se das jovens desacompanhadas, seduzindo-as. Logo após, consegue convencer as mulheres para um passeio no fundo do rio, local onde costuma engravidá-las. Na manhã seguinte volta a se transformar no boto. Acredita-se que a lenda do boto é usada para justificar a ocorrência de uma gravidez fora do casamento.
rouxinol-do-rio-negro (Icterus cayanensis chrysocephalus) |
Entramos por um ramal, onde as águas tinham subido muito e engolido a estrada, impossibilitando irmos adiante. Lá estava uma linda garça-branca-pequena, mas nem bem eu tinha feito lindas fotos dela, o Luiz nos posicionou pra fazer belas fotos da guaracava-de-penacho-amarelo (Myiopagis flavivertex). Ela colaborou. Chegou a virar o penachinho pra fotografarmos. Retornamos a Manaus e fomos pro hotel nos preparar para o dia seguinte.
garça-branca-pequena |
guaracava-de-penacho-amarelo (Myiopagis flavivertex) |
guaracava-de-penacho-amarelo (Myiopagis flavivertex) |
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9º dia - 07/07/2017 - MUSA/Manaus e Ramal do Pau Rosa
O último dia de uma
passarinhada, quando ela é muito produtiva e corre tudo nos conformes, deixa
uma sensação estranha no peito, tipo, "mas já?". Levantamos cedo e
Vanilce já nos esperava no saguão do hotel. Após o café, fomos para o Jardim
Botânico de Manaus, famoso MUSA, que tem a torre mais fantástica do Brasil.
O dia começou bonito, e de cara fomos recebidas por um bando de maracanãs-do-buriti (Orthopsittaca manilatus). O macuru-pintado (Notharchus tectus), dessa vez em casal ficou rondando a torre. E não podia faltar o tucano-de-papo-branco (Ramphastos tucanus), com sua peculiar “voz das matas amazônicas".
E, olha só, que bichinho corajoso, dividiu uma árvore com um gavião-de-cara-preta (Leucopternis melanops).
Logo em seguida chegou o chincoã-de-bico-vermelho (Piaya melanogaster), todo enfeitado pra festa. Mas quem roubou a cena foi um sanhaço-do-coqueiro (Thraupis palmarum), curioso com nossa presença, se aproximou e fez pose bonita pra foto.
De repente ao escuto um maú vocalizar (depois vimos que eram dois), e depois um saurá, foi espetacular ouvi-los ali, dentro da cidade, pena que não se habilitaram pra uma foto. Encerramos a manhã sem muitas novidades, pelo menos para mim.
Seguimos para o Ramal do Pau Rosa. Nosso objetivo era encontrar a pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus).
E lá estávamos as três, anda daqui, anda dali e nada. Um gavião-pedrês (Buteo nitidus) prestes a sair pra caçar ocupava nossas lentes, quando Vanilce disse, afoita: ela respondeu, atenção agora.
E de repente passa um bichinho voando, ai... será ele? Nãoooo, era só um sanhaço... silêncio tenebroso ... de repente outra ave cruza os céus... era ela, passou e pousou bem no alto, que emoção!!!
E com jeitinho, a Vanilce fez com que ela se aproximasse o suficiente para uma foto bonita. A felicidade não cabia dentro da gente.
Foi muita alegria. Após o almoço, ainda tentamos outros bichinhos difíceis sem sucesso. Ficamos apreciando as saíras se fartarem de frutinhas. Fiz fotos bonitas da saíra-negaça (Tangara punctata) e sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), saíra-diamante (Tangara velia) e saíra-de-bando (Tangara mexicana). Havia também muitos sanhaçus, beija-flores e marias (cavaleira e te-viu).
O dia começou bonito, e de cara fomos recebidas por um bando de maracanãs-do-buriti (Orthopsittaca manilatus). O macuru-pintado (Notharchus tectus), dessa vez em casal ficou rondando a torre. E não podia faltar o tucano-de-papo-branco (Ramphastos tucanus), com sua peculiar “voz das matas amazônicas".
E, olha só, que bichinho corajoso, dividiu uma árvore com um gavião-de-cara-preta (Leucopternis melanops).
Logo em seguida chegou o chincoã-de-bico-vermelho (Piaya melanogaster), todo enfeitado pra festa. Mas quem roubou a cena foi um sanhaço-do-coqueiro (Thraupis palmarum), curioso com nossa presença, se aproximou e fez pose bonita pra foto.
De repente ao escuto um maú vocalizar (depois vimos que eram dois), e depois um saurá, foi espetacular ouvi-los ali, dentro da cidade, pena que não se habilitaram pra uma foto. Encerramos a manhã sem muitas novidades, pelo menos para mim.
Seguimos para o Ramal do Pau Rosa. Nosso objetivo era encontrar a pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus).
E lá estávamos as três, anda daqui, anda dali e nada. Um gavião-pedrês (Buteo nitidus) prestes a sair pra caçar ocupava nossas lentes, quando Vanilce disse, afoita: ela respondeu, atenção agora.
E de repente passa um bichinho voando, ai... será ele? Nãoooo, era só um sanhaço... silêncio tenebroso ... de repente outra ave cruza os céus... era ela, passou e pousou bem no alto, que emoção!!!
E com jeitinho, a Vanilce fez com que ela se aproximasse o suficiente para uma foto bonita. A felicidade não cabia dentro da gente.
pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus) |
pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus) |
pipira-azul (Cyanicterus cyanicterus) |
Foi muita alegria. Após o almoço, ainda tentamos outros bichinhos difíceis sem sucesso. Ficamos apreciando as saíras se fartarem de frutinhas. Fiz fotos bonitas da saíra-negaça (Tangara punctata) e sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), saíra-diamante (Tangara velia) e saíra-de-bando (Tangara mexicana). Havia também muitos sanhaçus, beija-flores e marias (cavaleira e te-viu).
saíra-de-bando (Tangara mexicana) |
saíra-diamante (Tangara velia) |
Andamos pelo ramal procurando mais bichinhos lindos pra fotografar. Já encerrando o dia por entre matas, flores, ao som da floresta amazônica e com os olhos brilhando cheio de estrelas, terminamos nossa tarde brincando feito três crianças.
Foram quase 40 lifers, 🏆🐦🐤🐥🦆🦅🦉praticamente só bicho difícil, deixando aquele gostinho de quero mais, e sem a mínima vontade de se despedir.
Mas tinha que ter despedida e comemoração. Saímos pra comemorar a passarinhada e a nova CNH do Eduardo, filho da Vanilce. Nessa última noite tive o prazer de conhecer pessoalmente o amigo até então, para mim, apenas virtual, Renato Cintra. Espero na próxima poder encontrar com todos os amigos reais e virtuais da região para, igualmente, poder fechar com chave de ouro. 🍺🍺🍺🔑💥
Mas tinha que ter despedida e comemoração. Saímos pra comemorar a passarinhada e a nova CNH do Eduardo, filho da Vanilce. Nessa última noite tive o prazer de conhecer pessoalmente o amigo até então, para mim, apenas virtual, Renato Cintra. Espero na próxima poder encontrar com todos os amigos reais e virtuais da região para, igualmente, poder fechar com chave de ouro. 🍺🍺🍺🔑💥
Lista no e-Bird do 9º dia - MUSA - clique aqui 📌
Lista no e-Bird do 9º dia - Pau Rosa- clique aqui 📌
08/07/2017 - Retorno
Dia de retorno, e enquanto aguardávamos as pessoas saírem da nossa aeronave, quem eu vejo? Um dos ornitólogos que eu mais admiro: Mário Cohn-Haft ... Ele chegava do Canadá via conexão em São Paulo.
Viagem maravilhosa, bem bem relatada. Parabéns pelo espirito aventureiro.
ResponderExcluirQue viagem!
ResponderExcluirNão só a sua, mas a nossa, ao ler seu relato. 10!
Um primor esse relato, Silvia!Aliás, como todos os seus. Obrigado por nos presentear com sua experiência lá na Amazônia! Abraço!
ResponderExcluirSou um leitor assíduo das tuas publicações!!! Parabéns pelo excelente texto e por conseguir fazer com que eu me sentisse junto de vocês nessa saída!!
ResponderExcluirSe quiser, dá uma olhada no meu blog também: https://raphaelkurzbirding.blogspot.com.br/
Abração e espero que possamos nos conhecer pessoalmente uma hora dessas!! Fica com Deus
Maravilha de fotos e narração
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