domingo, 20 de novembro de 2022

SP - Guatapará - Um dia para ficar na história

Quanto custa fazer um lifer?*
* Lifer = espécie nunca antes avistada
Depende! Qual? 
Aquele que você procura anos e anos e nunca encontra.

Esse...
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Eu te digo: custa um tanque de gasolina, 150 reais de pedágio, quase 300 km pra chegar, mais 300 pra voltar. Tudo num único dia. Mas além disso, custa muita vontade de ir e disposição não só minha, como dos amigos em me levar até ele.

Tão bom quanto o lifer é o bônus quando você ganha human-lifers juntos. Ou melhor, ganha novos amigos e ainda solidifica os já existentes.

Mas saiba que não tem nada que se compare a uma encarada dessas do seu lifer.

Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Já deixo aqui os meus mais carinhosos agradecimentos a todos que cito nesse post, entre outros que deixarei de citar mas que fizeram parte dessa saga.

Mas bora esclarecer o mistério.

Busco esse lifer faz um tempão. Eu e o grande guia e amigo Raphael Kurz andamos muito atrás dele em Tavares/RS há um ano (leia depois como foi aqui) e nada. Lembro-me como se fosse hoje. Quantos maçaricos eu não cliquei achando que fosse ele. 🤪🙃😂😂😂

No último dia 12/11 (sábado), após bater um super papo com o Raphael, recebo uma mensagem na hora do almoço do querido amigo Leonildo Piovesan, do Rio Grande do Sul, que esteve aqui com o Raphael e o Fabiano Souto no final de junho, onde eu os levei passarinhar e passear aqui pertinho de casa. 

Raphael, Fabiano e Leonildo
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Ele disse: "Oi, Sílvia. Sabe o que acabei de registrar em Tavares? Maçarico-de-bico-curvo. E olha os pisa-n'água. Essa eu fiz de dentro do carro. Tirei com celular. Posso te ligar?" Respondi que podia e ainda brinquei: "Te odeio kkkkk isso é ornitobullying!"

Conversamos muito e pá de lá, pá de cá, lembro dele dizer algo do tipo: "Guria, pega o primeiro voo pra cá, os bichinhos estão aqui te esperando e não sei até quando ficam"

Ele estava almoçando junto com o amigo Eloir Rodrigues da Silva (sim, ele mesmo, o artista que produz aquelas lindas miniaturas de aves), que nesse dia estava guiando o Leonildo. Eu lembro de responder e pedir aos dois que amarrassem meus dois lifers por lá até eu chegar para palestrar no Festival de Aves Migratórias no dia 24/11.

Aguenta coraçãozinho!!! Faltavam só 12 dias.

Só que ... 

Eis que na quinta-feira, dia 17 de novembro, quando acordo e pego o celular para dar aquela "olhadinha básica" nos grupos de WhatsApp, deparo-me com a seguinte mensagem: "Bom dia... achamos o Pisa-n'água (Phalaropus tricolor) em Guatapará SP." Era do amigo agora "presencial" Julio Filipino

Eu perguntei onde ficava essa cidade. E ele respondeu que era perto de São Carlos, caminho bem conhecido por mim, pois costumo ir passarinhar em Dourado, com o guia e grande amigo Cal Martins, que é perto de São Carlos.

O tal pisa-n'água é uma ave migratória e que passa pelo Brasil apenas em determinadas épocas e locais. Geralmente aparece pelo Rio Grande do Sul em novembro. O duro é achá-la. Normalmente, não pousa perto da água do mar, preferindo poças e lagoas costeiras que apresentam pouca quantidade de sal. Possui de 18 a 23 cm de comprimento. Apresenta distinção na plumagem conforme a época do ano, apresentando padrão de descanso quando está no Brasil.
(Fonte: Wikiaves)

Imagem: site birdsofbolivia.org

Fiquei tentada a ir. Em outro grupo chegava uma informação de que havia um pisa-n'água no Parque Linear Nove de Julho aqui em São Paulo, na Represa Guarapiranga.

Acionei meio mundo por isso e depois soube que a mensagem estava equivocada, era um ornitofake.🤪🙃😂😂😂

Na realidade o alerta da plataforma eBird para os usuários era sobre o pisa-n'água de Guatapará mesmo e não Guarapiranga.

Depois de perder um tempão conversando com os amigos, eu tinha que tomar uma decisão: ou ia de imediato ou não ia. Só lembrando que ando bem cansadinha nos últimos dias. Fiquei me remoendo e fazendo conjecturas mil. Era pegar ou largar. 

Decidi ir, mas ainda tinha uma dúvida, iria no dia seguinte ou no outro. Chamei alguns amigos pra ir junto, mas infelizmente ninguém tinha disponibilidade. Chamei o Cal Martins para me acompanhar, mas ele também não podia, pois estava aguardando alguns clientes chegarem. Ele me incentivou a ir logo, o mais rápido possível, pois esse é o tipo de ave que não permanece no mesmo lugar por muito tempo.  

Então decidi ir no dia seguinte, sexta-feira (18/11). Consultei o amigo Julio, que trabalha à noite e este disse estar livre pela manhã e que fazia questão de me acompanhar. Me deu todas as dicas para chegar lá e deixamos tudo combinado.

Não deu outra. Quase nem dormi direito. Eram quinze para as cinco eu já estava de pé na. Tomei café, peguei a tralha, coloquei no carro e toquei para o ponto que o amigo Julio disse que estaria me aguardando. 

Mandei para ele a minha localização em tempo real. Segui tranquilamente pela rodovia que mais gosto aqui no Estado que é a Bandeirante. Ela tem um limite máximo de velocidade de 120 km/h, mas raramente passo de 100. Fiz um único pit-stop, bem básico (banheiro e cafezinho). Este último levei numa garrafinha térmica, pra não perder tempo com esperas desnecessárias. Eram 7:37h quando parei.

eu e eu 😂😂😂
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

O GPS me levou direitinho para o ponto combinado. Quando vi o carro de longe e gente camuflada ao lado, não tive dúvidas que era o Julio me aguardando. 

Ao chegar, o Julio e a esposa dele, Magda Filipino, falaram um oi rapidinho e ele disse: "me segue e vamos direto para o ponto". 

Parei o carro próximo aos lagos ondem é cultivada uma planta da família das lótus (ou tanques ou espelho d'água, não sei como são chamados). 

Soube que dois amigos da região haviam vindo mais cedo e já estavam lá monitorando as aves e tentando localizar "minha vítima" ou seria "meu algoz"? 🤪🙃😂😂😂 

Eram 9:37h e eu já estava clicando um maçarico no alagado (o de perna-amarela), mas de olho antenado em tudo. É muita lagoa num lugar só. 🤣🤣🤣

maçarico-de-perna-amarela (Tringa flavipes) 
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Os dois amigos, também virtuais até então, Luiz Eduardo Gerardi e Celso Queiroz avisaram então que o sujeitinho estava em dos tanques de lótus. 

Saí em disparada com o coração acelerado, quase sem respirar. E no meio de dezenas de aves lá estava o pequenino pisa-n'água (Phalaropus tricolor). 

Eram 9:52h, ou seja, 15 minutos depois que eu cheguei já tinha o lifer no cartão. Ele estava meio longe, bem no meio do laguinho.

Arquivo pessoal de Magda Filipino

Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Depois coloquei meu Extender 1.4x e sob o lindo céu claro e brilhante, consegui melhorar as fotos. Veja abaixo algumas das fotos que fiz do "precioso".

pisa-n'água (Phalaropus tricolor)
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Fiz um mundaréu de foto, centenas mesmo. Enquanto isso batia papo com meus novos amigos presenciais. Nem me dediquei a fotografar as outras aves do local, de tão envolvida que estava. Fiz um ou outro registro apenas. Mas bem que podia ter umas "florzinhas" de lótus, aí daria foto de quadro.

Falando em quadro, o quadrinho abaixo mostra algumas das demais aves que cliquei, entre elas, maçarico-de-perna-amarela (Tringa flavipes), jaçanã (Jacana jacana), caraúna (Plegadis chihi), gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), maçarico-de-colete (Calidris melanotos), pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus melanurus), maçarico-de-sobre-branco (Calidris fuscicollis) e urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus)

Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Eu já tinha obtido meu intento e não queria chegar tarde em Sampa City para não pegar trânsito pesado. Também não queria atrapalhar a rotina dos meus amigos, no caso do Júlio, que trabalha à noite, havia a necessidade de dormir. Os outros dois amigos precisavam ir pois tinham compromisso com suas famílias e trabalho.

Mas antes, fizemos selfie pra guardar de lembrança. 

Luiz Eduardo Girardi, Eu, Celso Queiroz e Julio Filipino by Magda
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Luiz Eduardo Girardi, Eu, Celso Queiroz, Julio e Magda Filipino
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Ainda lembro de servir café da minha garrafinha térmica. Só uma pessoa do grupo aceitou. Ela curte um cafezinho sem açúcar como eu. Essa é das minhas. Obrigada Magda pela companhia e por me acompanhar no café. 

Cheias de charme e de cafezinho
Arquivo pessoal de Silvia Faustino Linhares

Eram 11h e pouco quando resolvemos nos despedir. Julio e Magda ainda me acompanharam até o posto mais próximo onde reabasteci o carro.

Peguei o rumo pra casa e novamente só parei uma vez, comi biscoito e tomei café e de quebra, mandei ver nas bananas que ganhei da amiga Magda. 

Voltei rapidinho para São Paulo. As estradas do nosso interior são boas, você anda em pista dupla (às vezes tripla ou quádrupla) a 110-120 km/h. Mas tem uns aloprados que nos ultrapassam a 160 km/h ou mais e outros que ficam cruzando de um lado pro outro como se fossem tirar a mãe da forca. 

Odeio gente que faz isso, pondo a minha vida e a dos outros em risco. Por mim seriam todos engolidos por um buraco negro e nunca mais ouviríamos falar deles.

Eu vim na minha, ouvindo música, curtindo uma sensação de felicidade única. 

Esperava que minha entrada em Sampa City se daria de forma tranquila, pois chegaria cedo por volta das 15 horas. Ledo engano, a Marginal Tietê, como sempre, estava lenta e abarrotada de carros.

Cheguei em casa por volta das 16 horas, super cansada, mas muito feliz. Esse foi mais um dia na vida da fotógrafa de passarinho Silvia Linhares. E assim conquistei, minha espécie 1.665, ou seja mais um lifer dos 307 que me faltam da lista do CBRO 2021, que possui 1.971 espécies que ocorrem em território brasileiro. Veja aqui no meu perfil do Wikiaves

*** Editando com contribuição do amigo Wagner Fiorentino. (amei isso). Tinha lugar mais perfeito para eu fotografar o "pisa-n'água" ?

Guatapará - do Tupi-guarani - >
Guatá = que caminha = pará = rio   - "que caminha no rio" - bem dizer no popular, "pisa-n'água" 🤣 

o verbo "guatá" em Tupi - guarani: Guatá é um verbo da língua Guarani, significa caminhar, andar, viajar.   E pará - rio, água , rio-mar... 

Tirei o sábado (19/11) para tratar e postar a lista e as fotos. Acesse a lista ao final.

Espero em breve, talvez em janeiro próximo, postar aqui todas as maravilhosas viagens que fiz esse ano e que não tive tempo ainda. Algumas nem as fotos tratei, outras postei pela metade. 

Mas bora que o tempo urge e torcer para minha espécie 1.666, o maçarico-de-bico-curvo (Calidris ferruginea), estar no sul me esperando. E mesmo que não esteja, muitos amigos estarão. E eu não vejo a hora.

Minha lista desse dia no eBird
Sex 18 nov 2022 - 09:37h
Local: Guatapará--Mombuca








8 comentários:

  1. Essa guria merece mesmo ser a Rainha!!!
    Assim é que se faz!!!
    Parabéns!!!

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  2. Nossa Sílvia!!! Quem diria que esse lifer tão raro e importante seria encontrado assim pertinho no mesmo Estado que você mora! Kkkkkk. As aves são sensacionais, lindas e imprevisíveis, somos abençoadas por estarmos sempre procurando estar pertinho delas, que só nos trazem coisas boas! Parabéns amiga, muitas felicidades e passarinhos sempre! Amei a história!

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  3. Muito legal ler esses relatos. Adoro. Parabéns pelo esforço, dedicação e transparência nessa jornada tão árdua que é ser a Número 1!

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  4. Pena, Silvia, que não conseguir ir com vc! Adorei o relato! Parabéns pelo lifer...beijos!

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