segunda-feira, 21 de outubro de 2019

SP - Albatroz à vista

"Fabiooo, albatroz, albatroz à frente." 


Quando ouvi isso, minha mente se libertou do torpor do sono e disse: "Epa!!! Acho que já amanheceu. Boralá?" Foi assim que acordei de sexta pra sábado no dia 19 de outubro p.p a bordo do barco Capitão Ximango.

Ainda não eram nem 5 horas da manhã, estava escuro e, mesmo assim, eu pulei do beliche, em um espaço minúsculo, onde várias pessoas ainda dormiam e lá fui eu, aos tropeções, preparar a câmera para as emoções do dia.

Amanhecer majestoso.

Mal cheguei no convés, pude sentir o delicioso cheiro de café sendo passado no coador pelo Marcelo, um dos tripulantes do Capitão Ximango.



Mas vamos dar um “replay” e “começar do começo”.  Kkkkkk

Estou eu nos confins do Acre, numa aventura das mais fascinantes possíveis, (clique aqui para saber sobre essa aventura), e recebo uma mensagem de São Paulo, direto da Organização do Avistar. Não foi bem um convite, mas uma “quase intimação”. (kkkkkkk). Queriam saber se eu podia dar uma palestra no Festival de Aves de Ilhabela. Além da minha participação como palestrante, eu teria o privilégio de fazer uma saída pelágica somente para convidados. Woo Woo!!!! Tô nessa! Eu sempre estou né?


Pá de lá pá de cá, eis que o dia chega. E lá fui eu com o Ruber Ramphocelus, meu possante Duster cor de sangue, até a ilha levando junto os queridos amigos Guto Carvalho, Fabio Olmos e Rita Souza, ouvindo rock & roll da melhor qualidade. (veja amostra ao final desse post) 


Paradinha pro café, quase conseguimos fazer igual meu Avatar, né Guto?

Havia um lifer (registro de ave nunca avistada) possível no caminho e como “Lifer is life” kkkkkkkkkkkk, demos uma paradinha em Caraguatatuba, onde o amigo Pedro Caetano Santos se prontificou a tentar este lifer para mim. Falo da famigerada saracura-do-mangue, que, pra minha tristeza, nem se dignou a aparecer pra uma fotinho meia boca (mas "I will be back"). Porém, a saída não foi infrutífera, eu ganhei um livro do Pedro e conheci uma área muito especial de Caraguá.
 
Guto, eu, Pedro, Rita e Fábio

Voltemos mais um pouco. Durante a semana que antecedeu a saída pelágica tivemos muitas informações preocupantes sobre as condições do tempo: o barco vai sair, num vai mais, pode ser que sim, pode ser que não, tem muitos ventos, frente fria chegando, mar revolto, melhorou, piorou, enfim, muita previsão, a maior parte sinistra, mas como a própria palavra diz: previsão é previsão e não ciência exata. Assim como eu dizer que Santa Clara me protege e sempre me ajuda, me proporcionando o melhor clima e tempo para minhas passarinhadas, também não absurdo, é fato kkkkkkkkkkk.

Foi uma novela dramática, daquelas que você morre de tanta ansiedade ao ver as cenas dos próximos capítulos. Dependíamos não apenas da boa vontade do Capitão Gustavo, mas de uma avaliação fria sua acerca dos reais perigos envolvidos. Só ele poderia nos dizer se se valia a pena ou não empreendermos a viagem até as proximidades da Plataforma de Mexilhão, a 130 km do centro de Ilhabela, lugar com até 172 metros de profundidade, onde de acordo com os especialistas (no nosso caso o Fabio Olmos), os bichos marítimos migratórios e cascudos estariam nos esperando.


Plataforma de Mexilhão, ou PMXL-1 

A Plataforma de Mexilhão, ou PMXL-1 — e seus gasodutos pertencem à Petrobrás. A PMXL-1 está instalada a aproximadamente 145 quilômetros da costa de Caraguatatuba (SP), em profundidade de 172 metros. (Fonte: Petrobrás)

Enquanto estávamos prestigiando as palestras do Festival, uma informação chegou: “iremos antecipar a saída, por conta das previsões climatológicas. Saída às 21 horas, impreterivelmente. Impreterível nem tanto, porque só saímos em torno das 23 horas. O motivo foi esse: como eram muitos convidados e alguns estavam fora da Ilha, dependendo inclusive da travessia da balsa, tiveram maior dificuldade em chegar a tempo. 

Com isso, minha palestra prevista para às 20 horas, devido ao atraso de alguns palestrantes anteriores, e dessa novidade no “front”, ficou mais resumida ainda, sequer pude terminar com calma a cerveja e os pastéis com os amigos Luiz Mascaranhas e Gabriel Tieri da Rosa e “da Dora”, que vieram de São Sebastião exclusivamente pra me ver e assistir. Amei encontrar vocês, meus queridos.
 
Luiz Mascaranhas, eu e Gabriel

Até o garçom me achou importante e pediu uma foto comigo. by Gabriel Tieri da Rosa

Minha palestra - foto by Adriana Barrionuevo

Vamos falar um pouco do barco Capitão Ximango. É um barco grande, com a seguinte capacidade:
Pesca - 15 passageiros
Passeio - 27 passageiros
Mergulho - 20 passageiros
Birdwatching - 10 a 15 passageiros malucos para navegar atrás de aves difíceis de avistar, deixando o Capitão louquinho (isso foi eu que incluí aqui kkkkk)

Foto do site http://barcocapitaoximango.com.br/

Possui uma excelente infraestrutura e muitos utilitários. São 16 acomodações, banco com encostos, toilet, ducha, churrasqueira, sonda, GPS, passaguá, bicheiro e toda segurança a bordo (Salvatagem completa e Kit primeiro socorros).

A comida servida durante nosso trajeto foi super gostosa e preparada com muito capricho pelo Marcelo, um dos tripulantes. De ceviche, risoto de camarão a pão de queijo saindo quentinho na hora do café da tarde, não faltou nada. 

Momentos registrados durante nossas refeições

Enfim, conseguimos embarcar todos e se "ajeitar" do melhor jeito possível. 

Cayo Môra, Patrick Pina, Rita e Fabio, Eu, Patrícia Belo e Paulo Oliani.

Animação total - Cayo Môra, Patrick Pina, Rita e Fabio e Eu
  
A turma quase toda, preparadíssima para zarpar - Foto by Suzi Camargo

Foto by Suzi Camargo

E lá fomos nós, rumo à Plataforma ... como disse o Fabio Olmos: “A Plataforma foi a terra prometida onde nunca chegamos”... Sim, acabamos não chegando até as proximidades da Plataforma, que era o nosso objetivo, ficando nossa lista de aves do Global Big Day um pouco aquém do esperado. 

Estávamos até próximos da “Terra prometida” ou melhor da “Água prometida”. Pelo que soubemos, chegamos a 100 km da costa, poucos km da sonhada Plataforma. Mas quando a ansiedade faz você parar no caminho pra qualquer par de asas voando, na expectativa de ser um bicho novo, não tem como seguir em frente. No final deste texto, você poderá ver os links no e-Bird para as listas produzidas pelo nosso grupo.


Ponto 1 - saída do canal
Ponto 2 - onde foi avistada a baleia
Ponto 3 - o mais distante que chegamos 
Ponto azul (direita) - Plataforma de Mexilhão

Resumindo, não conseguimos chegar no ponto que gostaríamos, mas vamos voltar ao primeiro parágrafo desse post:  - Albatroz, Albatroz, Fábio, Albatroz. Estava escuro ainda, mas assim que o Guto gritou isso, foi aquele corre-corre. Eu que julgava estar quase na “Água prometida”, levantei correndo e fui para o convés em busca dos albatrozes e outras raridades que eu esperava ver. Havia alguns atobás e alguns albatrozes aparecendo, sem luz suficiente para fotografar, o jeito foi me concentrar no café.

Começou a clarear e jogamos alguns peixes. Isso propiciou algumas fotos muito bacanas, mas nada novo para quem já navegou algumas milhas em busca de aves marinhas. 

Eu e a querida Rita Souza nos beneficiando do sol e vento no convés.

E nossa ansiedade fez com que, ao invés de seguirmos direto para a Plataforma, passássemos a seguir um barco de pesca nas proximidades. Seguimos esse barco por cerca de quase uma hora, mas o mesmo, sem demonstrar estar pescando, aparentemente, começou a se distanciar de nós, não respondendo ao rádio e apresentando uma atitude evasiva meia esquisita. Perdemos um tempão ao nos desviar da nossa rota inicial. 

Nisso, a Rita, esposa do Fabio, com seus potentes binóculos, avistou uma comedia ou comedio com muitos Golfinhos-pintado-do-atlântico (Stenella frontalis) e aves. (“comedia” conhecida como sardinhas que faz com que os peixes grandes se aglomerem junto das sardinhas e as aves se juntem em revoada frenética para se alimentar, aproveitando a muvuca). Como disse o Guto Carvalho: "foi incrível encontrar esse comedio nada comedido!!" Aliás, diga-se de passagem, foi um dos melhores momentos da expedição. Tinha uma quantidade enorme de bichos e golfinhos.
 
Comedia - Foto by Fabio Olmos

Havia albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos), muitos atobás-pardo (Sula leucogaster),  pardelas-sombria (Puffinus puffinus), antigo bobo-pequeno, e enfim, uma novidade para mim: alma-de-mestre (Oceanites oceanicus), vista e apontada pelo mestre Guto Carvalho. Embora muito longe, voando ligeiro, deu registro.

Albatroz, atobá, pardela e fragata (tesourão)

alma-de-mestre (Oceanites oceanicus)

O duro foi perder um lifer difícil de registrar, o mandrião-pomarino (Stercorarius pomarinus), que só consegui foto quando ele já tinha virado de costas e quase sumido no horizonte.
 
mandrião-pomarino (Stercorarius pomarinus)

Pior ainda foi o caso da pardela-de-barrete (Ardenna gravis), antigo bobo-grande-de-sobre-branco (Puffinus gravis), lifer para mim, que o Fabio avistou, porém o bicho já estava sumindo no horizonte. Infelizmente não retornou mais. E eu nem vi, só ouvi o comentário dele. Chuif snif, talvez todos tivessem se juntado na "Água prometida", mas agora não temos mais como saber.

Por conta de condições climatológicas adversas, tivemos que retornar na hora do almoço, o que inviabilizou maiores buscas. Durante nossa navegação ainda foi possível registrar albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), Tesourão (Fregata magnificens) e trinta-réis-boreal (Sterna hirundo). 

Para quem nunca saiu em busca desses bichos, deve ter um pensamento assim: "ai, como a Silvia é exigente!". Num é bem assim, é que já naveguei outras vezes e pude vivenciar momentos incríveis, como mais de 200 albatrozes num único espaço. E o Fabio já navegou muito mais do que eu e viu bichos que eu nem sonho. Então ... a gente queria muito enriquecer a nossa lifer-list pessoal e a Big-Day-list do Brasil.

Após tanta tensão que antecedeu essa saída, meu organismo deu "piti" e vomitei todo o café da manhã, tão bem preparado pelo Marcelo. A recuperação foi rápida e logo pude almoçar, sem maiores transtornos.
 
de pezinhos pra cima, esperando o mal-estar passar

O retorno foi tranquilo, acompanhado de muito bate papo, tanto com os "velhos" amigos, quanto com os novos. E já estamos planejando uma nova saída, mas dessa vez com objetivo claro e sem paradinhas pelo caminho, até a Plataforma de Mexilhão.

Mas dessa vez vamos ter em mente uma coisa: para se chegar até a sonhada Água Prometida (Plataforma), acima de tudo, não seja ansioso. Resista a qualquer par de asas no horizonte. E torça pra ter sorte, lembrando sempre da minha clássica frase:  "É só passarinho!"

Ah! E mesmo que leve seus potentes binóculos, não faça como eu, não tenha preguiça em usá-lo. Foi graças a ele que a amiga Rita conseguiu avistar o comedio que possibilitou eu fazer um lifer precioso.

A Rita sempre atenta com seu binóculo a postos.
O retorno à Ilhabela - Foto by Pedro
Uma tarde com uma luz bonita e muitas nuvens diferentes.

E assim, nossa expedição terminou. Cansados, mareados, porém felizes.

Chegada registrada pelo querido Julio Cardoso. Abaixo um vídeo feito por ele




No domingo, até porque os hotéis da Ilha tem por padrão não servir café da manhã cedinho (no nosso caso era a partir das 7:45h), eu acordei tarde, decidida a não passarinhar. Estava tão cansada, mas tão cansada, que sequer vi uma das minhas companheiras de quarto chegar e sair, a queridíssima Sylvia Paraty, a quem deixo um abraço aqui. Mas felizmente pude tomar café bem acompanhada, obrigada amigas de coração Adriana Barrionuevo e Cristiane Gardim.
 
Adriana, eu e a Cris

Para compensar, ao pegarmos o rumo de casa, eu, Fábio e Rita nos deparamos com dois papagaios-moleiros (Amazona farinosa), super colaborativos. Fizemos fotos lindas enquanto se alimentavam tranquilamente numa calma rua de Ilhabela.



Finalizo parabenizando toda a organização do evento, toda tribulação do barco Capitão Ximango (Gustavo, Pedro e Marcelo) que tão bem nos receberam, todas as pessoas de Ilhabela que compraram essa ideia maravilhosa de fazer o Festival de Aves na cidade. Agradeço demais o convite recebido e o carinho de todas as pessoas que, ou faziam, ou passaram a fazer parte do meu círculo de amigos.

Eu havia feito minhas próprias listas no eBird, mas deletei e aceitei o compartilhamento das listas mais completas feitas pelo Fabio Olmos para o grupo, que seguem o protocolo para saídas pelágicas
Eu recomendo: façam listas no eBird, sempre.

eBird
Sáb 19 out 2019 05:14 - https://ebird.org/checklist/S60801656
Sáb 19 out 2019 06:15 - https://ebird.org/checklist/S60801684
Sáb 19 out 2019 07:17 - https://ebird.org/checklist/S60802844
Sáb 19 out 2019 08:17 - https://ebird.org/checklist/S60802770
Sáb 19 out 2019 09:20 - https://ebird.org/checklist/S60802742
Sáb 19 out 2019 10:17 - https://ebird.org/checklist/S60802733
Sáb 19 out 2019 13:15 - https://ebird.org/checklist/S60802723
Dom 20 out 2019 08:39  https://ebird.org/checklist/S60802145


Deixo ao final um pouco de rock mongol, apresentado a mim pelo Fabio Olmos no Acre, durante nossa expedição que terminou no dia 09/10/2019

The HU Band - Yuve Yuve Yu (Official Music Video)



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2 comentários:

  1. Espetacular, Silvinha! Adorei sua Trip! Espero que vocês voltem ligo e consigas os lifers desejados! Há e esse rock mongol...um show! Valeu! Bjo.🦜🦅🐥🐦🦃🦆🥰😘

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