segunda-feira, 29 de julho de 2019

MT - Expedição Fazenda Anacã 2019

Minhas andanças pelo Mato Grosso, tendo a Fazenda Anacã como pano de fundo.

06 de junho de 2019

O Mato Grosso é um Estado que faz parte da minha vida desde a minha infância, ainda quando era um único Estado. Tenho muitas recordações e passagens por ele. Mas foi na minha fase adulta que ele tornou-se deveras marcante, graças a sua magnífica avifauna e amigos maravilhosos que encontrei durante as várias passagens que fiz em busca de registrar penosinhos. Todas foram incríveis e somente a primeira que menciono abaixo foi contada aqui no bloguinho.

A falta de tempo e o "depois eu escrevo e posto" foram fazendo eu ficar em débito comigo mesma. Eu pretendia colocar tudo em dia neste mês de julho, mas devido a acontecimentos inesperados e a grande perda que sofri, (a partida do meu "papis") novamente vou postergar um pouco mais.

Vou aproveitar a oportunidade para mencionar todas elas nesse post e quando o tempo e a inspiração me permitirem, pretendo descrevê-las, uma a uma, com maiores detalhes.


Olha só quanto red-ball-lifer eu já fiz no Estado do MT

O MT reúne vários biomas e por isso possui uma fauna invejável, embora em alguns lugares a falta de consciência ecológica (em nome do progresso) seja evidente e entristecedora, em outros a conservação impera. Pessoas como Fernão Prado, dono da Fazenda Anacã, fazem a diferença quando conseguem demonstrar que é possível equilibrar progresso e natureza. Atitude digna de muitos aplausos. Vale a pena conhecer as ações que ele vem implementando ao longo dos anos.

Mas para não perder o fio da meada, este post será dedicado somente à Expedição Fazenda Anacã, que fiz recentemente, até porque ela teve um componente marcante e que a diferenciou das demais: um evento sobre a observação de aves voltado para cidadãos de Alta Floresta. É apenas uma sementinha lançada, mas tenho certeza que fará diferença na vida de quem participou e, por conseguinte, na conservação das nossas florestas.

Vick, Fernão, Sara, eu e Dionísio

Segue uma breve listagem das minhas idas ao Mato Grosso

Agosto de 2011 - Poconé
A primeira vez que fui para o MT fotografar aves foi em 2011, com as amigas Carmen Bays e Mônica Ruiz, pouco depois de eu iniciar na atividade. O primeiro tuiuiú a gente nunca esquece.


Essa primeira grande viagem está contada aqui no bloguinho e você pode acessar a seguir.
MT - Diário off-road de três “birdwatchers” no Pantanal

Agosto de 2013 - Cuiabá, incluindo Poconé até Guarantã do Norte 
Viagem muito produtiva e cheia de novidades, com os amigos Carmen Bays e Jarbas Mattos. Fomos guiados pelo amigo Valdir Hobus em Claudia e acompanhados por Maickel Sand e Lisa Miron em Sinop. Em Poconé encontramos os amigos Mike Bueno e Ernane Junior.


Junho 2015 - Cristalino em Alta Floresta 
Nessa oportunidade fui conhecer Alta Floresta com o guia e amigo Rafael Fortes, acompanhada dos amigos Rose e Hermínio Almeida, Fernanda Fernandex e Cida Copriva. O guia local que nos acompanhou foi Jorge Lopes. Porém antes fizemos um pit stop em Poconé.


Agosto de 2017 - Poconé e São José do Rio Claro 
Após conhecer a amiga Jeanne Martins no Avistar Brasília, fui conhecer seu reduto em Cuiabá, de onde partimos para Poconé e nos hospedamos em Porto Jofre para eu ver onças pela primeira vez na natureza. Depois seguimos para São José do Rio Claro para eu tentar clicar o raro tiê-bicudo e comemorar o meu aniversário. Ficamos hospedadas na Pousada Rio Claro e Pouso Alegre (Poconé), e posteriormente no Jardim da Amazônia (São José do Rio Claro), onde ganhei uma festa de aniversário surpresa organizada pela Jeanne e pelos proprietários Dona Carmelita e Sr. Zanchet.


Fevereiro de 2018 - Aripuanã
Denominada Expedição Dardanelos, uma viagem mais do que fantástica e extremamente cheia de alegria. Fui com a amiga Jeanne e o amigo Wagner Fiorentino até Aripuanã, no extremo noroeste, divisa com Rondônia, onde conheci os amigos Manoel Pinheiro, Cleverson Veronese e Dalmir Zenere. E na volta ainda passarinhei em Santo Antônio do Leverger com a Jeanne e o amigo Vitor Piacentini.


Outubro de 2018 - Poconé e Chapada dos Guimarães 
Viagem muito intensa e festiva com os amigos Jeanne Martins, Teté, Claudia Brasileiro, Rodrigo Agostinho, Rafael Bornhausen, Rozane Koerich, Bob e Hudson Martins. Depois segui para um local maravilhoso chamado Jamacá das Araras, na Chapada dos Guimarães, propriedade do amigo e hoje esposo da Jeanne, Mario Friedlander. Foram momentos muito especiais, daqueles que você jamais esquecerá, de muitos encontros com amigos de todos os cantos, como o Adrian Rupp, Valdo Almeida, Gustavo Mallaco, Lawrence Wahba e Adriane Kassis, dentre outros.


*Ainda não consegui tratar e postar todas as lindas fotos das aves que fiz no MT em 2018.

Junho de 2019 - Fazenda Anacã em Alta Floresta.
Em 2019, fiz mais duas viagens incríveis ao MT, a primeira para a Fazenda Anacã em Alta Floresta no mês de junho, que será objeto desse post logo abaixo.


Julho de 2019 - Barra do Bugres
A convite dos amigos Leila Esteves e Victor Castanho, fizemos um bate e volta com a finalidade exclusiva de registrar o Uiraçu no ninho, chamada Expedição Pássaro Grande. Viagem fantástica também e muito festiva, recheada de risos e aventuras do começo ao fim. Um ABSURDO de viagem.


A Fazenda Anacã.

Mas vamos à Fazenda Anacã, conforme prometido. Vou começar contando como conheci o Fernão Prado, proprietário desse portal do paraíso.

Em  fevereiro de 2014, já então amigos virtuais, Fernão, um fotógrafo de natureza e eu começamos a trocar ideias, após o amigo comum Cal Martins falar de um pro outro. Fernão, oriundo de Jaú, morava e trabalhava em São Paulo. Então me contou que estava com um novo projeto e que se mudaria para o Mato Grosso. Conversamos sobre a Fazenda Boca da Onça, em Apiacás, que pertencia ao pai dele e que o Cal havia falado um montão e eu morria de vontade de conhecer. O Fernão tinha projeto de transformá-la em pousada e em hotspot de observação de aves. Infelizmente, após problemas de saúde, o pai dele vendeu a propriedade. Foi a partir dessa venda que surgiu o novo projeto do Fernão em Alta Floresta.

O pai dele tinha uma área de 130 hectares ao lado do aeroporto e doou para ele. A ideia do Fernão era montar uma pousada com seis suítes, e pensando como fotógrafo, planejou que os quartos teriam uma bancada bem grande com MUITAS tomadas. E num é que ele implantou desse jeitinho mesmo. Amei essa parte. Fernão me contou que ele e a sua namorada a Viviana Biondi (Vick para os íntimos e hoje sua esposa) estavam se mudando para lá, que ela iria cuidar do cardápio da futura pousada. Recebi dele fotos do projeto e do local onde iria reformar, bem como informações durante a reforma.

Plantas e fotos do início.

A ideia inicial era chamar-se Portal da Amazônia Expedições. Depois virou Fazenda Anacã. A história desse nome é engraçada, ele e a Vick passarinhavam pela Fazenda, quando ela viu um bicho legal pousado numa árvore, na contraluz, e o Fernão disse que era um anu, ela disse que não parecia com anu, e então ele correu, pegou a câmera no carro e viu que tratava-se de um Anacã, um dos papagaios mais bonitos do Brasil, ave que sempre povoou os sonhos dele. Fernão me disse que só achava possível ver o bicho em mata bem preservada, mas foi ali na sua propriedade, ainda em fase de reflorestamento, que ele a viu pela primeira vez. Daí surgiu o batismo. Melhor que Fazenda Anu, né Fernão?

Como o sonho se materializou ...

Naquela época que conversamos, a fazenda, apesar de ser pequena, tinha um matinha (hoje bem reflorestada e ampliada pelo que pude constatar quando estive lá, formando um extenso corredor para as aves). Ele também já havia estabelecido duas parcerias com áreas bem bacanas próximas à Fazenda. E essas parcerias continuam se ampliando desde então, conforme vou contar depois.

Fernão sempre foi fotógrafo e conservacionista. Cuidar de boiada nunca foi seu forte, mas hoje mostrou que sabe equilibrar o meio ambiente que tanto ama com a criação de gado de onde tira o seu sustento e de sua família. Os melhores funcionários da fazenda do seu pai o acompanharam até Alta Floresta. Um deles, o Gilberto Tavares, além de ajudar na lida com a Fazenda, tornou-se um grande guia, após receber treinamento do querido guia Cal Martins, que ajudou o Fernão no levantamento da avifauna da Anacã e parceiros.

Uma semana depois do nosso primeiro bate-papo pelo Messenger, marcamos uma conversa ao vivo num barzinho aqui na Paulista, onde duas amigas (Tietta Pivatto e Claudia Komesu) participaram e deram conselhos sobre a futura pousada também. Depois passarinhamos juntos em Intervales (março de 2014) num evento do amigo Edson Endrigo. Em 2015 ele apresentou seu projeto no Avistar Brasil aqui em São Paulo, onde também conheci a Vick.

Fernão e Marco Silva e a turma toda em Intervales
Eu e Vick / eu e Fernão no Avistar 2015

Estande da Fazenda Anacã no Avistar

Embora eu brincasse que quando me aposentasse da Caixa, iria ser sua gerente, foi somente este ano que fui conhecer a Anacã. Porém sempre acompanhei as notícias de lá pelas redes sociais. Em dezembro de 2018, num bate papo, o Fernão me intimou a conhecer a Anacã. Combinamos que junho/2019 era o melhor mês, já que é época de transição do clima. Propus a ele fazermos uma palestra sobre observação de aves para as pessoas no local e ele topou. Comprei minhas passagens e fiquei só aguardando a data chegar.

Mas a história não parou por aí. Durante o primeiro semestre de 2019 uma outra história paralela surgiu na minha vida. Uma pessoa que eu conhecera em outubro de 2015 num rápido encontro no meio de uma floresta, à noite, em Linhares/ES, acabou se tornando um amigo na vida real. A vida e seus meandros inexplicáveis.

Naquela noite de 2015, cansados e no escuro, eu, Gustavo Magnago, Tietta Pivatto e Fred Dentello, dentro da Reserva da Vale, paramos para conversar com pessoas que cruzaram nosso caminho num carro. Eu e o motorista trocamos algumas palavras. Eu perguntei se ele já tinha fotografado os bacuraus na estrada e ele disse que não, aí eu falei pra ele ir devagar que tinha muitos e eram passíveis de serem atropelados. Foi quando ele fez a primeira foto de um bacurau. Perguntei se ele postava as fotos em algum lugar e diante de sua negativa, eu indiquei o Wikiaves.

Depois disso, nos cruzamos rapidamente no Avistar 2018 e na sequência em Ubatuba no seu Jonas, onde trocamos apenas algumas palavras.

Essa pessoa começou a postar no Wikiaves e não parou mais. Em dois momentos, sua 900ª e sua 1000ª espécies fotografadas ele menciona meu nome em agradecimento ao meu incentivo. Fiquei muito feliz. No entanto, ao me citar na sua milésima eu o convidei para comemorarmos esse importante feito em Dourado onde eu iria me encontrar com o amigo e guia Cal Martins.

Foi assim que eu e o José Dionísio Bertuzzo realmente nos tornamos grandes amigos. Isso foi no final de março desse ano. Conversando sobre o prazer de viajar, paixão que nos une além das aves, eu o convidei para me acompanhar à Fazenda Anacã. E ele topou e ficou inclusive de participar como palestrante do evento que eu propusera ao Fernão.

1 - Avistar 2018 
2 - Dourado com Cal Martins 2019
3 - Minas com Cal e Tania Mara 2019
4 - Anacã 2019 

E depois de muitos acontecimentos que uma hora eu escreverei aqui (viagens ao chaco sul-mato-grossense, México e o evento Avistar Brasil 2019) e uma bem sucedida passarinhada para eu fazer um lifer a muito esperado, (leia mais aqui) eis que o momento chegou. E lá fomos nós para a Anacã.

Guiar uma pessoa como eu, que detém mais de 80% das espécies da atual lista de aves do Comitê Brasileiro de Ornitologia não é pra qualquer um. A preocupação inicial do Fernão era que minha lista de lifers era muito difícil. Mas como eu afirmei a ele, meu objetivo é um pouco maior que isso. Não é o meu foco principal, eu busco paz, alegria, saúde, comunhão com a natureza, bem estar, fotos bonitas e deixar uma luzinha por onde passo, iluminando algumas pessoas para lutar pela conservação. Como diz um queridíssimo amigo meu: "Isso é realmente perceptível para a gente que se relaciona com vc, diferente de muitos que ficam paranoicos em busca da melhor foto ou de lifers."

Mesmo assim, fiz cinco lifers nesta Expedição, só bicho "cascudo", coisa que nem eu mesma acreditei, mas que me deixou extremamente feliz. Lifer é sempre bom, é como sapato novo, sempre tem um espacinho no armário pra ele. Ultimamente tenho feito viagens de quase duas semanas e conseguido apenas um único lifer, ou até mesmo nenhum. Faz parte da brincadeira.

*Lifer = jargão utilizado na observação de aves para denominar ave avistada pela primeira vez.

A Fazenda Anacã é muito mais do que um lugar para se pernoitar e seguir viagem para o norte do MT, é um hotspot muito possante para avistar e fotografar várias espécies difíceis. Alguns que eu venho procurando por toda a região Norte do Brasil e nunca encontrei, além de clicar pela primeira vez, eu pude registrar o mesmo em dois momentos distintos graças ao guia e agora amigo Gilberto Tavares (Giba para os íntimos): falo do uirapuru-veado (Microcerculus marginatus).

Agora fique esperto, a Vick faz regime de engorda com a gente. A comida é tão deliciosa que tive que pedir para ela diminuir pela metade a quantidade do meu prato e sobremesa para eu não voltar rolando pra São Paulo. Vick, Ângela e Paulina, vocês são demais.

Aqui só uns exemplos das guloseimas da Vick

E olha, Vick e Fernão, já aviso, eu ainda realizo o sonho de vocês dois serem meus padrinhos, não sei  se será da forma como vocês queriam, mas a gente inventa qualquer coisa para vocês me chamarem de afilhada (chorando de rir ao lembrar dos nossos bate-papos). 

Brincadeiras a parte, vamos contar um pouco de como foi o dia a dia da Expedição Fazenda Anacã.

03 de junho de 2019 - segunda-feira

A companhia que nos leva à Alta Floresta é a Azul. Saí de São Paulo e o Dionísio de Campinas. O tempo entre a chegada em Cuiabá e a conexão é muito curto e devido ao mau tempo em São Paulo e região, nossos voos atrasaram, foi tenso, mas a Companhia fez o possível para dar tudo certo. Dessa forma não tivemos maiores problemas, a Azul esperou todos estarem em terra para dar prosseguimento ao próximo voo.

E como diz o amigo Andre de Luca sobre o tal do "mundinho pequeno" e "coincidências aeroportuárias", é muito bom encontrar amigos queridos durante essas andanças.

Eu, André, Fernão e Dionísio no aeroporto de Alta Floresta

Ao chegarmos na Fazenda, conhecemos um pouco do espaço que seria nosso habitat durante vários dias, e já saímos passarinhar um pouquinho, vendo bichos que já avistei diversas vezes em outras oportunidades, mas que para alguns ainda é um sonho como um dia foram para mim: ariramba-do-paraíso (Galbula dea), saíra-de-cabeça-azul (Tangara cyanicollis) e saíra-de-bando (Tangara mexicana).


A Pousada é um deslumbre, extremamente bela, de muito bom gosto, pensada nos mínimos detalhes, super confortável, estando preparada para atender até pessoas muito exigentes. Mas esse não é o seu único diferencial. O lado humano dispensado pelos proprietários aos clientes é o que conta mais. Você se sente parte da família. Eu sou suspeita pois sou amiga do casal, mas alguns amigos que lá estiveram recentemente podem atestar o que estou falando, né mesmo Susana e Wagner Coppede, Tania Stoffa, Rita de Cássia Garcia, Silvia Maria Botacini e Públio Rodrigues?

Após um reconhecimento de área, que culminou com um belo entardecer, fui para a beira da piscina tomar a primeira cerveja para comemorar nossa chegada. Afinal ninguém é de ferro. 


Confira ao final de cada dia relatado a lista das aves no site eBird.

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta
https://ebird.org/view/checklist/S57309665

04 de junho de 2019 - terça-feira

Acordamos muito cedo e, após um café da manhã reforçado, eu, Dionísio e Chimbinha, capitaneados pelo nosso guia Giba, seguimos para uma área parceira localizada na Fazenda Santa Helena em busca do socoí-zigue-zague (Zebrilus undulatus), num alagado onde ele costuma aparecer. Embora seja um lugar magnífico, o bicho, infelizmente não se dignou a dar as caras. 

nosso amanhecer na Fazenda Santa Helena


Eu registrei em meus cartões 30 espécies, nenhuma nova, mas fiquei encantada por avistar tantos rapinantes e psitacídeos num só lugar. Eu vi gavião-tesoura (Elanoides forficatus), gavião-belo (Busarellus nigricollis), gavião-preto (Buteogallus urubitinga), cauré (Falco rufigularis), anacã (Deroptyus accipitrinus), arara-canindé (Ara ararauna) e maracanã-guaçu (Ara severus). 

O show mesmo ficou por conta dos pequenos como a choca-d'água (Sakesphorus luctuosus), choca-cantadora (Pygiptila stellaris), ferreirinho-estriado (Todirostrum maculatum), tinguaçu-ferrugem (Attila cinnamomeus), bentevizinho-do-brejo (Pitangus lictor), anambé-pombo (Gymnoderus foetidus), anambé-branco-de-máscara-negra (Tityra semifasciata), saíra-de-bando (Tangara mexicana)  e beija-flor-de-veste-preta (Anthracothorax nigricollis), entre outros.


Retornamos para o almoço e eu fui para a deliciosa piscina me refrescar, após conhecer as duas pequenas da casa, Sara e Anita, dois encantos de meninas. Enquanto isso, aguardei o sino tocar chamando para o almoço.

Sara e Anita

Este sino anunciava a hora de "encher a pança" com a cozinha gourmet da Vick

eu curtindo a piscina antes do almoço

Após o sono da beleza (aquele cochilinho após o almoço para repor as energias) assim que o calor diminuiu, seguimos para a mata que tem na Fazenda, que hoje compõe um corredor com outras matas vizinhas. A ideia era encontrar um lifer muito especial, o rabo-branco-cinza (Phaethornis hispidus). Esse reside no local, porém, facilita para alguns e para outros não. Nesse dia deu um rasante na testa do Dionísio, mas permitir foto, nem por decreto. Eu sempre digo que passarinho tem dia e hora pra aparecer, e esse dia não era o dia desse pequeno símbolo de alegria e energia aparecer para a gente. 

Permanecemos buscando alguns bichinhos legais com destaque para o formigueiro-de-peito-preto (Myrmophylax atrothorax) e arapaçu-de-listras-brancas-do-leste (Lepidocolaptes layardi). Tentamos o inhambu-preto (Crypturellus cinereus) hoje chamado de inambu-pixuna, outro dos lifers possíveis para mim, mas o bicho é fantasmagórico mesmo, cantava a poucos metros da gente, mas sequer se dignava a mostrar pelo menos o rabicó. 

 Assim que escureceu pude fazer uma foto bem legal do urutau-grande (Nyctibius grandis), mas a que eu queria foto de quadro, não colaborou muito, ficando meia distante de onde a gente queria que ela pousasse. Falo da bela coruja-de-crista (Lophostrix cristata).


Retornamos para jantar, se não o "General" Fernão ia dar uma bronca na gente (brincadeira que faço com ele por nos cobrar pontualidade nas refeições)... Passarinheiro é tudo igual, vê um bicho legal, se distrai e esquece da vida e até de comer. kkkkkkkkkk, mas perder o jantar da Vick tem que ganhar castigo mesmo, ô coisa deliciosa. O pior é que ela nos dava opções para o cardápio do dia, eita dúvida cruel...cada prato gourmet (haute cuisine). Isso sem contar a alegria que nos contaminava nessa hora, enquanto íamos contando as aventuras do dia. 

eBird Fazenda Santa Helena

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

05 de junho de 2019 - quarta-feira

Repetimos o roteiro da manhã do dia anterior. Dessa vez o famigerado socoí-zigue-zague (Zebrilus undulatus) até respondeu, mas estava num lugar que não permitia o barco entrar e a pé o acesso era impossível. Examinamos todas as possibilidades, procuramos em cada lugar do alagado e nada.

Seguimos para um outro ponto onde tinha muitas aves legais, entre elas ariramba-do-paraíso (Galbula dea), arara-canindé (Ara ararauna), rapazinho-estriado-do-leste (Nystalus torridus), xexéu (Cacicus cela), pica-pau-de-barriga-vermelha (Campephilus rubricollis), araçari-castanho (Pteroglossus castanotis). Enfim, foi uma manhã bem gostosa, apesar do bicho mais desejado não dar as caras novamente. 


Ao chegar na Pousada, uma surpresa, o amigo e guia Hudson Martins tinha vindo com seus clientes se hospedar na Pousada. E os clientes nada mais eram do que o meu amigo querido Rafael Bornhausen e seu ex-cunhado Renato Sá.

O Hudson me disse assim: "o Rafa está na piscina te aguardando com uma geladinha." E eu lá sou de recusar um convite desses. Passei no meu quarto, vesti rapidamente um biquini e lá fui eu me encontrar com eles. Depois de muito papear, retornamos para o almoço assim que o sino tocou e eu ainda parei pra ganhar uma lambeijoca da Pepa no caminho. 


Na parte da tarde nós fomos clicar na mata da Fazenda e fizemos alguns registros bem bacanas, como o gavião-pedrês (Buteo nitidus), gaviãozinho (Gampsonyx swainsonii), mãe-da-lua-gigante ou urutau-grande (Nyctibius grandis), papagaio-moleiro (Amazona farinosa) e capitão-de-saíra-amarelo (Attila spadiceus).

E um pouco mais tarde fomos todos, incluindo os amigos que haviam chegado, tentar fazer fotão da coruja-de-crista (Lophostrix cristata), e num é que quase deu. Tudo certinho, exceto que ela pousou em cima da minha cabeça, do Dionísio e do Giba, e o pessoal se desesperou pra se posicionar melhor e passou por baixo dela correndo e ela se foi e não voltou, exceto para o Hudson e o Fernão que voltaram lá depois do jantar, sendo o Hudson o único a fazer fotão da bichinha. Anotado na planilha, viu Fernão. Mas pra compensar eu consegui foto da coruja-buraqueira (Athene cunicularia) no limpo, tá!!? E um registro da lua super louco (depois de sofrer uma edição no LR kkkkkkk).





Nessa noite, brindei com os amigos, ganhei uma taça de vinho do novo amigo Renato Sá, e uma cerveja do amigo Dionísio. Assim a intriga da oposição vai achar que sou alcoólatra. kkkkkk Deixa pensar... quem me conhece sabe que eu enchi a cara mesmo, mas do maravilhoso suco de cupuaçu que a Vick e as meninas preparavam todos os dias. No mínimo dois copos em cada uma das refeições, além do café da manhã. kkkkkkkkkkkk


eBird Fazenda Santa Helena

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

06 de junho de 2019 - quinta-feira

Partimos muito cedo para a outra parceira da Anacã, a Fazenda Bom Jesus. O caminho é sensacional e paramos pra fazer fotos. Porém, o dia não estava pra peixes, digo pra aves. kkkkkkkkkkkk


O lugar é magnífico. Fizemos um reconhecimento da área, e retornamos para o almoço. Não rendeu quase nada. Apenas asa-de-sabre-cinza (Campylopterus largipennis) e garça-vaqueira (Bubulcus íbis). Ficamos de retornar no dia seguinte e permanecer mais tempo para tentar os bichos difíceis que tem por lá.

Novamente o inambu-pixuna ou inhambu-preto (Crypturellus cinereus) nos fez perder um tempão tentando registrá-lo. Cheguei a vê-lo por três vezes (sim, ele existe), mas só um vulto, muito rápido. Nem uma paradinha pra registrar que fosse o biquinho. Podiam ser como as flores, que a gente faz quantas fotos tem vontade e ainda escolhe o ângulo e a incidência da luz, kkkkkkkk.


É assim que se fotografa florzinha e borboleta... ainda bem que tem um amigo por perto e nos registra, né mesmo. Obrigada pelas fotos, Dionísio, adorei.


Na parte da tarde, retornamos às matas da Anacã, principalmente ao redor da represa. Ficar um tempo admirando a vida selvagem do mirante, que é um "must", não tem preço. É puro deleite. Só faltou ter um garçom ali pra servir uma geladinha. Vimos alguns bichinhos ao redor, mas nem sombra dos que a gente estava buscando.

Destaque para as seguintes espécies: rabo-branco-rubro (Phaethornis ruber), urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), gavião-pedrês (Buteo nitidus) arara-vermelha (Ara chloropterus)


O resultado de você perder horas e horas à procura de um bicho difícil é que não sobra tempo de fazer os mais fáceis. Isso é ruim e é bom. O desafio de conseguir uma ave difícil é prazeroso e indescritível, é a figurinha carimbada que falta no álbum (leia-se lista do CBRO), por outro lado, por exemplo, se eu tivesse me dedicado a fazer fotos só de psitacídeos, teria ido para lugares diferentes daqueles que precisei ir pra tentar os cascudos e as fotos seriam as "the best". 

Por isso é importante demais definir o que você objetiva pra saber lidar com mais ou menos frustração, sem deixar o mau-humor tomar conta nessas horas. É preciso curtir as flores, o caminho, os mamíferos como esse macaco-aranha da foto.

Falando nisso, nessa expedição o bom-humor imperou o tempo todo. De rir de doer a barriga. A gente sempre terminava a noite curtindo um bom papo, regado a cerveja e muitas gargalhadas. Nesse dia eu tomei uma misturada com aperol, olha, fica uma delícia. Eu recomendo. Aprendi isso aqui num conceituado bar paulistano.


eBird Alta Floresta--Fazenda Bom Jesus (acesso restrito)

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

07 de junho de 2019 - sexta-feira

Hoje era o nosso "dia D". A gente ia voltar na Bom Jesus e não desistir até encontrar algum dos bichos cascudos que faziam parte da minha lista. Quem viaja comigo sabe que tenho uma regra antiga, quem faz mais lifers no dia paga a cerveja. Atendendo a reclamações, nos dias atuais se eu fizer um lifer no dia eu pago uma rodada. O Dionísio disse que não aguentava mais me pagar cerveja e pediu pro Giba se esforçar pra por pelo menos um lifer na minha frente. (brincadeirinha).  

Saímos bem cedinho. O dia amanhecia lindamente, não tinha como não dar nenhuma paradinha. Estava irresistivelmente dourado. Um espetáculo de deixar os olhos brilhantes e o coração sereno. 


Começamos bem com uma cujubi (Pipile cujubi). Sem pressa, fomos fotografando tudo pelo caminho, até quero-quero (Vanellus chilensis). Destaque para o casal de papagaio-campeiro (Amazona ochrocephala) super fotogênico. E também para o chincoã-de-bico-vermelho (Piaya melanogaster), chora-chuva-de-cara-branca (Monasa morphoeus), cancão (Ibycter americanus) e tiriba-de-barriga-vermelha (Pyrrhura perlata), entre outros. E pasme, depois de consultar amigos pedindo confirmação, os andorinhões que eu cliquei no dia tinha um lifer pra mim. Era o andorinhão-da-amazônia (Chaetura viridipennis). Mas na hora nem comemorei, pois não tinha certeza pelo visor da câmera.


Eram quase 9 horas e o Dionísio e o Giba estavam penando atrás de uma polícia-do-mato (Granatellus pelzelni), lifer apenas pra ele. Eles iam entrar mata adentro e para não atrapalhar, eu disse que ficaria na estrada mesmo. 

Comecei a caminhar e admirar aquela mata exuberante e, de repente, ouço uma vocalização mais ou menos conhecida, salvo engano grandes possibilidades de ser um rabo-branco-cinza (Phaethornis hispidus). Então eu toquei o som dele que tinha no celular, e...eis que ele surge diante de mim, ficou parado de frente, me olhando. Eu me emocionei dum tanto que quase não consigo fotografar. Ele parou por milisegundos e dançou na minha frente. Fotografar um beija-flor assim, de frente, foi um desafio que uma pessoa querida um dia me fez na EBMAR/ES. Hoje ele não está mais entre nós, mas finalmente consegui. Essa eu fiz lembrando de você André Ruschi. Pronto, lifer, agora era minha a rodada de cerveja. Assim que fiz algumas fotos, saí correndo atrás dos dois amigos que já estavam vindo na minha direção. 

rabo-branco-cinza (Phaethornis hispidus)

Um pouco mais tarde, nós fomos descansar sob as frondosas sombras da floresta. Vick preparara nossa matula com coisas que dariam para alimentar dez pessoas. O mais gostoso foi o tradicional pão com o ovo. Você já experimentou comer um pão com ovo durante uma passarinhada? Posso afirmar, com certeza, que não tem melhor. E mais gostoso ainda é rolar aquela sonequinha depois de encher a pança. E o duro é quando seu amigo se esconde atrás do carro e te clica dormindo... kkkkkkkkkkkk Mas eu me vinguei e fiz foto dele se abanando com o leque. 


Eu dormindo by Dionísio

Monsieur Bertuzzo

Eis que chega a tarde, a gente começou a andar, parando aqui e acolá quando ouvíamos qualquer piozinho. E lógico, a gente não dispensa nada de bacana ou bonito que aparece pelo caminho. 


Mas numa dessa, o Giba para e diz: "ouvi o torom-de-alta-floresta (Hylopezus whittakeri). Está naquela direção". E apontou e já começou a andar e a gente atrás dele. Meu coração quase saindo pela boca. Esse bichinho foi um dos que estavam no topo da minha lista de desejos.

Entramos na mata, o Giba carregando um pedaço de tronco. Ele o depositou no chão num ponto onde achava perfeito para montarmos o blind. E assim nós ficamos ali atrás do blind, paralisados, quase sem respirar.

Então... suspense total ... ele começou a se aproximar, a gente percebia pelo canto, mas nada de se mostrar... de repente... com seus passinhos saltitantes, pulou em cima do tronco que o Giba colocara com todo cuidado. Parou, olhou, e cantou, indo de um lado pro outro. Ai, nem tenho como descrever essa emoção. A única preocupação era conseguir foco e velocidade suficiente para fazer uma boa foto. 

Acredita se eu te disser que as fotos foram feitas com essas configurações e sem tripé? Pode olhar no exif da foto no Wikiaves clicando aqui ou aqui.

Informações técnicas
Tempo de Exposição: 1/30 e 1/25
Abertura: F/5.6
Velocidade ISO: 6400

Eu juro, quando terminou, eu tive vontade de dar um grito bem alto, pular, sapatear, rolar no chão. E indescritível. É uma sensação do outro mundo. Parecia criança que acabara de ganhar a primeira bicicleta no dia do aniversário.


E depois disso tudo, missão cumprida, só nos restava voltar para a sede da Fazenda e comemorar até dizer chega (cervejas por minha conta, pagas com gosto) e degustar a maravilhosa refeição surpresa que a Vick iria nos oferecer.

eBird Alta Floresta--Fazenda Bom Jesus (acesso restrito)

08 de junho de 2019 - sábado

Pela manhã seguimos para as matas de mais um parceiro da Anacã, a Fazenda Rancho Novo, cujas terras situam-se nos limites de dois municípios (Alta Floresta e Paranaíta), separados por uma ponte, ou melhor, pelo Rio Santa Helena. Lugar bastante preservado e com muitas aves. A manhã já começou com belas cores, só pra não perder o costume, sendo um presente para os olhos.


A ponte que divide um município do outro.

E logo em seguida começou o desfile de aves. Havia alguns araçari-de-bico-riscado (Pteroglossus inscriptus) dando um verdadeiro show de cores, um deleite para os olhos e um sofrimento para as lentes e câmera que não conseguiam parar de trabalhar.

araçari-de-bico-riscado (Pteroglossus inscriptus)

Mas havia muito mais, eram aves que não paravam mais de chegar, você não sabia nem pra onde olhar. Havia muitas saíras e saís como a saíra-de-cabeça-azul (Tangara cyanicollis), sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), saíra-diamante (Tangara velia) e saíra-ouro (Tangara schrankii), saí-andorinha (Tersina viridis), saí-de-máscara-preta (Dacnis lineata) e saí-amarela (Dacnis flaviventer) embora muito longes e no alto, era muito gostoso observá-las se alimentando nas embaúbas. Flagrei até um anambé-pombo (Gymnoderus foetidus) na embaúba, ave que acho maravilhosa e nunca me furto de registrá-la.


Bandos de psitacídeos e pica-paus pousavam ao redor para se alimentar. Foram horas de muito prazer, tipo, "não dá vontade de sair daqui".

A gente clica tanta coisa que começa a enxergar coisas (o tal efeito mandrakiano - brincadeira que fizemos na viagem até Aripuanã em 2018). Eu jurava que tinha um bicho estranho nessa embaúba, mas ao olhar, era um simples galho...concorda que é no mínimo um galho estranho...kkkkkkkkkkkk


E olha o resultado quando um fotógrafo clica o outro ...

Mas tínhamos um cronograma planejado e eu tinha certeza que o bichinho mais aguardado do dia estaria me esperando nas matas ao redor do Rio Santa Helena.

OBS: Ah! Não esqueça de conferir as listas no eBird que posto ao final de cada dia relatado, assim você conhece um pouco mais das aves de cada local.

Ao chegar na beira do rio, conseguimos clicar muitos bichinhos difíceis, cujo reencontro me fez ficar muito feliz como a choca-canela (Thamnophilus amazonicus), choquinha-estriada-da-amazônia (Myrmotherula multostriata), bentevizinho-do-brejo (Pitangus lictor), urubu-da-mata (Cathartes melambrotus), surucuá-de-coleira (Trogon collaris) e o lindo pica-pau-de-coleira (Celeus torquatus), entre outros.

Eram quase 9 horas e ainda tínhamos um bicho muito desejado para buscar: o uirapuru-veado (Microcerculus marginatus). E depois de um tempo que parecia uma eternidade, eis que ele surge com seu canto magistral e foi assim, cheia de emoção, que consegui o quarto lifer nessa expedição. Eu só posso dizer que esse é daqueles bichos que fazem a gente chorar.


o uirapuru-veado (Microcerculus marginatus) no centro

E assim cheios de alegrias retornamos à sede para comemorar mais esse achado. Em homenagem a uma bela Calliandra que cliquei no caminho, coloquei um vestido combinando e depois de fazer suspense com o Fernão, mostramos o bicho no LCD da câmera e o "nosso torcedor de carteirinha" comemorou muito com a gente.

comemorando o uirapuru-veado (Microcerculus marginatus

Calma, o dia está na metade ainda. Depois do breve descanso, saímos ao redor da sede e realizei um desejo, após dica do Fernão. Clicar o raro Sagui-de-Snethlage (Mico emiliae). E mais algumas flores e borboletas que adoro. Isso sem desprezar os passarinhos pelo caminho.


No caminho clicamos periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus), araçari-castanho (Pteroglossus castanotis), um lindo gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus) e a conhecida coruja-buraqueira (Athene cunicularia) que parecia me esperar todos os dias fazendo pose e me encarando, tipo, vai ou não me fotografar. kkkkkkkkkkk


Um pouco antes do jantar nós seguimos ao ponto da "cristuda" (coruja-de-crista), mas para tentar outra bichinha que eu queria muito ver de novo. No caminho até lá, uma paradinha para mais um clique do urutau-grande (Nyctibius grandis). Depois com um pouco de jeito e de habilidade do nosso guia, eis que a lindinha fluffy coruja-do-mato (Strix virgata) pousa bem na nossa frente. 

Só uma observação, como o eBird adota a taxonomia do Clements (Cornell), e ainda não aceitou a transferência da Ciccaba virgata para o gênero Strix, não estranhe se ver na minha lista a coruja-do-mato como Ciccaba virgata e não como Strix (esclarecimentos prestados pelo amigo Carlos Gussoni). 


E na hora do jantar recebi a visita de um amigo muito querido, o Manoel Pinheiro, de Aripuanã. Após muito o que lembrar e colocar em dia as novidades, dei um relaxada na varanda com a Pepa e fui descansar porque o dia seguinte prometia. O Manoel iria participar das atividades no dia seguinte com a gente.


eBird Fazenda Rancho Novo (única lista contendo obs. Alta Floresta ou Paranaíta)

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

09 de junho de 2019 - domingo

Quando combinei com o Fernão a minha ida, sugeri abrir um espaço durante minha estadia para ministrar palestra sobre aves para os cidadãos de Alta Floresta. Partindo da minha experiência em Carajás, sabia que era uma ação extremamente importante para implantar a importância da observação de aves. Inicialmente, o Fernão pensou em estudantes de biologia apenas e um almoço depois trocando mais ideias concluímos que seria legal estender o evento a mais convidados e oferecer um café da manhã, a exemplo do Vem Passarinhar que ocorre hoje pelo Brasil. Posteriormente, o amigo Dionísio juntou-se ao grupo para palestrar também.

O evento iniciou-se com uma passarinhada reunindo 40 ou mais pessoas, a maioria estudantes de Biologia, alguns Biólogos, Professores, pessoas ligadas ao meio ambiente, alguns participantes do Clube de Observadores de Aves de Alta Floresta, alguns vizinhos e amigos pessoais, que lideradas pelo grande Giba, percorreram um pequeno trecho da Fazenda observando aves, alguns fotografando, outros anotando, alguns de binóculos, outros simplesmente acompanhando e curtindo. 

Alguns momentos da passarinhada matinal

Logo depois todos foram convidados a degustar um maravilhoso café da manhã, preparado pela Vick e pelas meninas, onde pudemos confraternizar um pouco mais.

As guloseimas e a galera 

Inicialmente distribuímos cartilhas "Protegendo os Caboclinhos", elaborada pelo Centro de Estudos Ornitológicos (CEO), gentilmente cedidas pelo amigo Luiz Fernando Figueiredo.

Você pode baixar a cartilha clicando aqui.

Protegendo os caboclinhos

Em seguida o Fernão fez a abertura e iniciamos com uma excelente palestra do amigo Dionísio falando sobre fotografia de aves, com muitas dicas preciosas.


Fotografando Aves por Dionísio Bertuzzo

Em seguida eu apresentei a palestra que fiz no Avistar Brasil 2019 chamada "A magia de Passarinhar", onde conto como comecei a observar aves e como isso mudou a minha vida.


A magia de passarinhar, por Silvia Linhares

Em seguida fizemos o sorteio de vários brindes, inclusive um binóculo que me fora doado em São Paulo. Foi um momento de muita descontração e brincadeiras.

Sorteando o próximo...

Finalizando a manhã, fizemos uma foto com os presentes e nos despedimos do pessoal, esperando que todos tenham gostado. Depois aproveitei para presentear o amigo Manoel com uma foto da anhuma que ele me levou fazer quando estive em Aripuanã.


Presenteando o amigo Manoel

No período da tarde, eu, Dionísio e o querido amigo Manoel fomos com o Giba passarinhar na Fazenda Rancho Novo. E lógico, o uirapuru-veado (Microcerculus marginatus) foi a estrela novamente, colaborando muito pra foto.

Vibrando pelo uirapuru-veado (Microcerculus marginatus)

As aves da tarde

À noite seguimos tentar novamente melhorar a foto da "cristuda" - coruja-de-crista (Lophostrix cristata). Embora fosse lifer para o amigo Manoel, eu ainda não fiquei satisfeita com a foto, pelo que terei que retornar à Anacã para tentar de novo. kkkkkkkkkkkkk (coisa ruim, né?). Ah! E teve um bacurau (Nyctidromus albicollis) pra fechar a noite.


eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta - Evento

eBird Fazenda Rancho Novo (única lista contendo obs qdo é Alta Floresta ou é Paranaíta)

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta


10 de junho de 2019 - segunda-feira

O dia na Anacã começa sempre assim, em tons dourados, laranjas, rosas e vermelhos. E lógico, a buraqueira da portaria sempre está por ali para me cumprimentar.


Após chegarmos na Fazenda Bom Jesus, fomos tentar o inambu-pixuna ou inhambu-preto (Crypturellus cinereus) que, pra variar, me deixou a ver navios. Para brincar um pouco, desenhei meu sentimento para com ele no vidro do carro, uma frigideira no fogo e ele depenadinho. kkkkkkkkkkkkkkkkk

Ele só escapou da panela por pouco, porque minha vontade era depená-lo todinho e fritar pedacinho por pedacinho até torrar... kkkkkk (brincadeirinha). Falo isso, porque o bicho é tinhoso, canta quase no seu pé, mas não se mostra de jeito nenhum. Deve ter alguma mágica pra fotografá-lo. Lembro de um dia no Amazonas, estar numa estradinha e ele atravessar correndo, tão correndo que não tive sequer tempo pra reagir, que dirá fotografar. Ele está na minha black list faz muito tempo. Um dia ele vai posar pra mim, ah! Se vai.

"Homenagem" ao inambu-pixuna ou inhambu-preto (Crypturellus cinereus)

Mas para me compensar, era dia dos "Micrastur" (da família dos falcões) fazerem nossa alegria. Falo dos rapinantes que habitam florestas densas e que são muito difíceis de encontrar, que dirá de fotografar. Primeiro foi o lindo falcão-críptico (Micrastur mintoni) e depois um casal de tanatau (Micrastur mirandollei), esse último lifer pra nós.


Mas não pense que clicar o tanatau (Micrastur mirandollei) foi mole. Primeiro o Giba ouviu muito longe. E tentou atrai-lo com playback. Depois de entrarmos mata adentro, ele avistou. E tentou mostrar. Veja abaixo se consegue vê-lo no primeiro quadrinho. Clareando a imagem até que dá, né? Mais ou menos. De repente, não menos ou mais que de repente, eles passam por sobre nossas cabeças voando. Reação? Qualé, mano, meu cérebro não funciona tão rápido assim. kkkkkkk

Aí o bicho pousa, voa, se mexe, vira pra trás, vira de frente, mas tem folha na frente, tem galho na frente, e sempre muito longe. Mas seu cérebro tenta controlar tudo isso e você comanda sua câmera pra tirar o melhor, e com um guia atencioso que vai te puxando pra deixar o seu corpo em posição de onde pode ver o bicho no limpo, fica menos difícil. Pensa que é fácil, é? Olha abaixo o resultado do bicho depois de "trucentas" tentativas e processamento no Lightroom.

Cenas que antecederam a foto abaixo
tanatau (Micrastur mirandollei)

Antes do jantar pudemos comemorar o tanatau com os amigos Silvia Maria Botacini e Públio Rodrigues, que haviam chegado na Pousada com o guia e amigo Adrian Rupp.

Públio, minha xará Silvia, Adrian, Dionísio e eu

eBird Alta Floresta--Fazenda Bom Jesus (acesso restrito)

eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

11 de junho de 2019 - terça-feira

Aí é seu último dia em Alta Floresta, as malas estão prontas para partir, o dia te brinda com cores divinas e o guia chega e diz, vamos dar um pulinho ali perto da porteira pra fazer algumas fotos. Topamos na hora. E meus cartões mais uma vez receberam mais de duas mil fotos de encher os olhos em menos de duas horas de observação. E você vê, embora muito no alto e longe da lente, cenas de arrepiar, dois araçaris-de-bico-riscado predando ninhos de andorinhas e levando carreirões delas. Queria ter filmado, mas não consigo fazer isso, só deu para clicar muito e registrar com a mente. 


Foram muito colorido e lindas aves de encher os olhos.

Cenas no alto de uma árvore seca.

Ao retornar à sede, vi as meninas brincando no parquinho, aí fiquei com vontade e fui para lá deixar a minha criança sentir o gostinho de novo. Na mala guardei com carinho muito especial, alguns mimos que ganhei durante aa Expedição. O vidro de palmito de Aripuanã que ganhei do Manoel, uma corujinha-de-crista de madeira dada pelo Fernão, talvez pra sair da planilhinha, né? E uma taça feita com ouriços de castanha, encontrados no mato pelo Dionísio e parafusados pelo Giba, que hoje enfeita minha sala guardando cristais como cianita azul e pirita.



É chegada a hora que menos gosto. A da despedida. É uma alegria triste, pois tem dois sentimentos antagônicos se digladiando no coração, um de saudades de casa e outro do apego e da vontade de ficar mais um pouco. Foram muitas fotos, muitos risos, muita paz, tudo com muita intensidade. 11.111 fotos na câmera (nem conto as do celular) que levaram dias para serem selecionadas e processadas, conforme abaixo. Momentos que irão fazer parte da minha memória e do meu coração por todo o sempre.

Obrigada queridos amigos Fernão Prado Viviana BiondiJosé Dionísio Bertuzzo, grande parceiro de passarinhada e Gilberto Tavares (nosso grande guia) pelos dias incríveis que passei aí na Fazenda Anacã.


a quantidade de fotos antes e depois do processamento 
eBird Fazenda Anacã- Alta Floresta

Termino esta Expedição de oito dias na Fazenda Anacã com uma overdose de Psittacidae (algumas integrarão o meu calendário de 2020). Todas feitas em áreas da própria fazenda ou de seus parceiros. Esse era um dos meus objetivos e confesso que fiquei "quase" satisfeita, porque tenho certeza que se me dedicasse unicamente a esse objetivo eu teria feito muito mais fotos espetaculares. Sem contar que eu não consegui focar a marianinha-de-cabeça-amarela (Pionites leucogaster) que passou voando muito mais rápido do que minha reação para clicar.

São elas: 

anacã (Deroptyus accipitrinus)
araracanga (Ara macao)
arara-canindé (Ara ararauna)
arara-vermelha (Ara chloropterus)
maitaca-de-cabeça-azul (Pionus menstruus)
maracanã-do-buriti (Orthopsittaca manilatus)
maracanã-guaçu (Ara severus)
papagaio-campeiro (Amazona ochrocephala)
papagaio-moleiro (Amazona farinosa)
periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus)
periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri)
tiriba-de-barriga-vermelha (Pyrrhura perlata)
tiriba-do-madeira (Pyrrhura snethlageae)




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9 comentários:

  1. Lindo post! Parabéns Silvia, sempre muito bem relatadas suad expedições!

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  2. Riqueza de detalhes é apelido!!! Você me fez reviver esses dias tão especiais! Obrigada pela palavras e ainda espero ver o post da 2ª Expedição Fazenda Anacã!!! Que venha!!! Que sabe na próxima conseguimos te apadrinhar?!?! rs Um beijo, Silvia!!!! Adorei seu bloguinho!!! ��

    Vick

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    1. Obrigada Vick querida por tão carinhosas palavras. Esse post só nasceu, cresceu e ganhou vida graças aos maravilhosos dias que passei com vocês.

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  3. Muito bom relato como sempre Silvia. Quase sempre dou uma passada por aqui para avivar a vontade de conhecer essas belezas aladas do Brasil mais distante. Um abraço !

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  4. Um texto que me deixou encantada!Amei conhecer a Anacã através de suas palavras e já estou fazendo planos para conhecê-la pessoalmente no próximo ano.
    Vamos? Beijos em seu coração

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  5. Puxa, muitos detalhes! Alta Floresta é um lugar fantástico, todo passarinheiro precisa conhecer, voltar pela segunda vez, terceira... Espero em breve conhecer a Fazenda Anacã, assim como outros lugares da cidade.

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