terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BA - Parte 9 - Tour Nordeste 2014 - Reserva Serra Bonita - Camacan/BA


08/10/2014 (quarta-feira) Boa Nova/BA para Camacan/BA 

Foram quase 250 km e perto de quatro horas de viagem de Boa Nova/BA para Camacan/BA. O mais engraçado foi um local em frente aonde paramos para almoçar em Camacan: uma Pousada chamada Beverlly Rios... muito criativo.

Beverlly Rios
Camacan é um município pequeno. Foi considerado na década de 70 um dos maiores produtores de cacau, mas, no entanto, a praga da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) devastou e destruiu sua lavoura no ano de 1989.

Nosso destino era Serra Bonita, localizada nos municípios de Camacan e Pau-Brasil, um dos últimos fragmentos remanescentes de Mata Atlântica de Altitude do Corredor Central da Mata Atlântica, também conhecida como “Mata de Neblina” ou “Floresta Submontana Úmida”. Abrange uma área de 7.500 hectares, localizada no coração da região cacaueira, a 130 km de Ilhéus e 526 km da capital da Bahia, Salvador.

Serra Bonita é também extremamente rica em diversidade animal. É uma área de reconhecida importância para os pássaros, segundo avaliação do programa Important Bird Areas (IBA) da organização Birdlife/SAVE Brasil.

Chegando na Reserva Serra Bonita

O Instituto Uiraçu mais conhecido como Reserva Serra Bonita ou Serra das Torres, é uma organização não governamental, de caráter sócio-ambiental. Possui alojamento com oito apartamentos e capacidade para 32 pessoas e mais de 10 km de trilhas. O casal Vitor e Clemira são extremamente simpáticos e não medem esforços para que a gente se sinta em casa.

O alojamento
É um local muito bonito, verde, úmido e recheado de passarinhos, que nem sempre facilitam a nossa vida de fotógrafo. São poucos os que aparecem no baixo ou num galho limpo. Dificilmente há fartura de luz, isso quando a neblina ou a chuva não tomam conta. Mas isso faz parte e é apenas uma questão de preferência. Apesar da mata atlântica ter aves lindas, não é o meu lugar preferido para fotografar, mas aí ressalto dificuldades pessoais e nem discuto.

Assim que chegamos fomos direto para o comedouro. Estava bem colorido e cheio de aves, algumas bem fáceis de encontrar no Sudeste, mas que sempre nos encantam com suas cores, graça e beleza, como a Saíra-sete-cores (Tangara seledon), Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violácea), Beija-flor-preto (Florisuga fusca), Saíra-militar (Tangara cyanocephala), Sanhaçu-de-encontro-azul (Tangara cyanoptera), Tiriba-de-testa-vermelha (Pyrrhura frontalis), Saí-verde (Chlorophanes spiza) e Ferro-velho (Euphonia pectoralis).


Beija-flor-preto  (Florisuga fusca)
Ferro-velho (Euphonia pectoralis)
Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violácea)
Sanhaçu-de-encontro-azul (Tangara cyanoptera)
Saí-verde (Chlorophanes spiza)
Saíra-militar  (Tangara cyanocephala)
Tiriba-de-testa-vermelha  (Pyrrhura frontalis)
Saíra-sete-cores (Tangara seledon)
A novidade para mim veio com o temperamental Tempera-viola (Saltator maximus), desculpa o trocadilho, mas o bichinho é mesmo temperamental, é desconfiado que só e não dá muita chance para uma boa foto mais perto como as outras espécies que frequentam o comedouro.

Tempera-viola (Saltator maximus)
O encanto final para fechar o dia, veio com o Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster), que aos poucos ganhou confiança e não saiu mais do comedouro, muito parecido com o fim-fim e com o gaturamo-verdadeiro, tem suas peculiaridades, principalmente a vocalização. E, como todos da família, é muito gracioso.

Fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster)

Já meio no escuro clicamos o Papa-moscas-cinzento (Contopus cinereus). E para fechar o dia um Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) veio ver se tinha alguma sobra no comedouro.

Papa-moscas-cinzento (Contopus cinereus)
Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous)
09/10/2014 (quinta-feira) - Camacan/BA

Acordei bem cedo e ao olhar na varanda do meu quarto para ver como estava o tempo, dou de cara com um pequenino que depois o Ciro identificou como Olho-falso (Hemitriccus diops).


Olho-falso (Hemitriccus diops)
A varanda do meu quarto
O primeiro lifer do dia foi o Vissiá (Rhytipterna simplex), mas com foto muito no alto e bem ruim, até já descartei. A luz estava péssima, tinha chovido durante a noite. Não parecia que ia render. Finalmente cruzamos visualmente com a Borboletinha-baiana (Phylloscartes beckeri). Essa é um caso a parte, alguns conseguem foto boa dela em Camacan, outros, como eu, nem tanto. Não teve jeito de ela se aproximar para uma foto decente. E olha que insistimos. Paciência. É um daqueles registros que a gente posta com aquela frase em forma de desculpa: “Registro apenas para minha lista pessoal.” rs rs rs

Deixo aqui nesse parágrafo uma foto com as gotas de chuva nas plantas, que estavam muito bonitas.

A beleza após a chuva
Para compensar, o terceiro lifer do dia deu um show. Nada mais nada menos do que o  Picapauzinho-avermelhado (Veniliornis affinis).Também conhecido por pica-pau-fura-laranja, devido ao fato de eventualmente frequentar pomares e se alimentar dos frutos, recebeu o nome de fura-laranjas. Existem quatro subespécies e essa é o Ssp. Affinis que ocorre no Leste do Brasil de Pernambuco ao Espírito Santo.

Picapauzinho-avermelhado (Veniliornis affinis)
Paramos um pouco para apreciar alguns ninhos, afinal estávamos na primavera, destaque para o Teque-teque (Todirostrum poliocephalum), na porta de uma das casas da Reserva e de um Beija-flor-cinza (Aphantochroa cirrochloris), num galho sobre nossas cabeças na estrada de acesso. 

Logo em seguida uma dupla do barulho fez uma festa para nossos ouvidos e lentes. Era o Catatau (Campylorhynchus turdinus), ave que eu gosto muito da vocalização e que eu julgava que só ocorria no pantanal.

Catatau (Campylorhynchus turdinus)
Teque-teque (Todirostrum poliocephalum)
Logo mais saímos para o Morro das Torres. Numa das trilhas que levam às torres um bando de  Andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea) virou a atração das nossas câmeras. Elas desciam até uma poça para apanhar barro, bem pertinho da gente numa graça típica da família.

Andorinha-doméstica-grande (Progne chalybea)
Ainda pudemos clicar o Araçari-poca (Selenidera maculirostris) e mais alguns lifers para a a minha lista: Araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus), que eu tinha tentado muito em Campos do Jordão, porém sem sucesso, e o Vite-vite (Hylophilus thoracicus), de cores suaves e muito simpático.

Araçari-poca (Selenidera maculirostris)
Araponga-do-horto (Oxyruncus cristatus)
Vite-vite (Hylophilus thoracicus)
Chegamos às torres e ficamos procurando gaviões e falcões. Chegávamos perto das 10:00h, o tempo abriu num sol de rachar, um calor danado, abafado. Em que pese nossa tentativa, nossa espera infrutífera. Não rolou nada, então voltamos para o almoço. 

O Fernando clicando a paisagem
Eu, Rosemarí, Ciro, Claudia e Fernando
O pessoal foi direto para o comedouro e eu resolvi ir até o alojamento com o Ciro. No caminho o Vissiá (Rhytipterna simplex) me deu uma nova chance, parando quase na cara. Agora sim!

Vissiá (Rhytipterna simplex)
Logo após o almoço, ficamos pelas redondezas da sede ora clicando uma flor, ora vendo o Pelé se divertir. Já íamos sair passarinhar mais um pouco, mas tivemos a maior trabalheira para tirar o Pelé de dentro do carro, pois ele queria muito ir com a gente. rs rs rs

Pelé (Alouatta guariba guariba)
O Pelé é uma subespécie do bugio-ruivo que ocorre ao norte do rio Jequitinhonha. É um Alouatta guariba guariba, espécie criticamente ameaçada de extinção. Essa subespécie é listada como em perigo crítico pela IUCN, pois sua distribuição geográfica está extremamente restrita e conta com apenas 250 indivíduos no total.

Pelé (Alouatta guariba guariba)
De acordo com o Ciro Albano: "mataram a mãe dele pra comer e enjoaram de criar o filhote que foi doado para o Instituto. Depois de muito tempo conseguiram uma fêmea, mas ele é muito novo e não deu conta, aí a fêmea se mandou pra mata." Pronto, lá ficou o bichinho sem namorada, sem companhia, acho que por isso ficou tão travesso...não para um minuto. Com isso, ele "gruda" nas pessoas e exige toda nossa atenção.

Pelé se aninhou ao lado do Ciro e não quis nem saber
Depois fez festinha com o Fernando
Eu e o Pelé by Claudia Brasileiro
O Pelé "grudando" na Claudia (foto cedida pela Claudia)

O Pelé é muito dengoso - (foto cedida pela Claudia Brasileiro)

Olha que fofura (foto cedida pela Claudia Brasileiro)

No período da tarde, ficamos um tempão apreciando e clicando o Sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys). Tive que usar o flash, pois a mata onde ele estava era muito escura e estava difícil focar.

Sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys)
Um último clique e registrei o posudo Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius), destacando o seu belo bico, responsável pelo seu nome popular, primeiro registro para Camacan no Wikiaves, onde mantenho meus registros. 

Arapaçu-de-bico-torto (Campylorhamphus falcularius)
Terminamos o dia vendo uma família de Pacas (Cuniculus paca) que veio se alimentar no quintal em uma das edificações da propriedade. Eu nunca tinha visto uma e não imaginava que fosse tão pequena. Legal "pacas"! rs rs rs

O Ciro e a pequena Paca (Cuniculus paca)

10/10/2014 (sexta-feira) – Camacan/BA

Com as malas no carro, partimos da Reserva Serra Bonita, mas antes passamos em mais alguns lugares. Lugares muito bonitos, conforme se vê das fotos.


Camacan/BA
Camacan/BA
Nesse ínterim,  fiz foto do belíssimo Furriel (Caryothraustes canadensis). Ave que eu queria ter visto mais de perto, mas bicho de copa é fogo, ainda mais quando a copa é bem alta...eh eh eh ... Ele não baixou do alto das copas de jeito nenhum, mas seu tom de amarelo se destacava na vegetação e consegui um boa focagem, podendo cropar bem posteriormente. Ainda deu para curtir a passagem-relâmpago do Pica-pau-anão-de-pintas-amarelas (Picumnus exilis). Ele nem deu uma chance de foto melhor...foram dois cliques meia boca, e o bicho sumiu... pena, pois é tão fofinho...  

Furriel (Caryothraustes canadensis)
Em contrapartida, o calmo Macuru-de-barriga-castanha (Notharchus swainsoni) passou um tempão se deixando fotografar. Tem a barriga bem mais clarinha do que os três que já avistei até hoje no Estado de São Paulo (Ribeirão Grande, Itanhaém e Teodoro Sampaio). Alguns passarinhos são tão temperamentais, outros não, ainda bem ... rs rs rs

Macuru-de-barriga-castanha (Notharchus swainsoni)
O ponto alto dessa manhã foi o encantador Tangará-rajado (Machaeropterus regulus). Suas listras no peito e barriga parecem um bordado em alto relevo, o que torna ele muito especial. É muito lindo. Ele deu um verdadeiro show para a gente. Fez todas as poses possíveis. O lugar era escuro e tive que colocar o ISO lá nas alturas...mesmo assim, adorei o espetáculo...

Tangará-rajado (Machaeropterus regulus)
Andando mais um pouco vimos um bando de Jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus). São lindas de morrer, mas estavam um pouco distantes das nossas lentes, pena mesmo, ainda assim foi um grande momento. A atenção das Jandaias foi roubada por um bando de Saíra-pérola (Tangara cyanomelas). Como a maioria das saíras, ela tem cores de deixar qualquer um de queixo caído. O primeiro colar de pérola, mulher nenhuma esquece e o mesmo se aplica à Saíra-pérola, a primeira é inesquecível...o mais legal é que foi o primeiro registro no Wikiaves para Camacan.

Jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus)
Saíra-pérola (Tangara cyanomelas)
Outra ave que eu queria muito ter visto mais de perto foi a Tiriba-de-orelha-branca (Pyrrhura leucotis), só que não ... o bando tomava banho uma bromélia bem no alto de uma árvore. O Ciro explicou que é muito difícil elas descerem, fazer o quê, né? "Só tem tu, vai tu mesmo!" rs rs rs

Tiriba-de-orelha-branca (Pyrrhura leucotis)
Observar os dois Araçaris-de-bico-branco (Pteroglossus aracari) foi muito legal. Eles tomaram um carreirão dos bem-te-vis, o que foi muito engraçado. Pena que não deu pra registrar esse momento. Foi um belo espetáculo.

Araçari-de-bico-branco (Pteroglossus aracari)
 Paramos para almoçar e comemorar os lifers do dia.

Eu, Ciro, Claudia, Rosemarí e Fernando
Continuamos o nosso caminho por mais uns 200 km até a região de Porto Seguro. Chegamos por volta de 16 horas na Reserva Veracel, onde ficamos alojados. A Reserva fica na vizinha cidade de Santa Cruz Cabrália.

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Links para as demais partes

Parte 1 - Tour Nordeste 2014 - Viagem colírio para os meus olhos e delírio para as minhas lentes
Parte 2 - Tour Nordeste 2014 - Delta do Parnaíba/PI
Parte 3 - Tour Nordeste 2014 - Serra do Baturité - Guaramiranga/CE
Parte 4 - Tour Nordeste 2014 - Quixadá/CE 
Parte 5 - Tour Nordeste 2014 - Chapada do Araripe - Crato/CE – Barbalha/CE
Parte 6 - Tour Nordeste 2014 - Estação Biológica de Canudos/BA 
Parte 7 - Tour Nordeste 2014 - Chapada Diamantina - Lençóis/BA
Parte 8 - Tour Nordeste 2014 - Parque Nacional de Boa Nova /BA
Parte 9 - Tour Nordeste 2014 - Reserva Serra Bonita - Camacan/BA
Parte 10 - Tour Nordeste 2014 - Reserva Veracel - Porto Seguro/BA - Santa Cruz Cabrália/BA 


Texto e a maioria das fotos: Silvia Faustino Linhares 

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3 comentários:

  1. Que demais o seu site ! Como o Brasil é lindo e especial e para fanáticos em aves um verdadeiro playground !
    Parabéns !

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  2. Muito legal, colega economiária!
    Ontem vi uma reportagem no Good News, sobre a Serra Bonita na Bahia

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  3. Belo trabalho Silvia. Tbem sou passarinheiro kkkkk e vi que vc se queixou da borboletinha baiana por não ter descido e assim fazer uma boa foto. Fica o convite pra visitar Jequié-Ba onde ela vem até o chão, como na música, kkkkkk.
    Faz uma visita em minhas fotos dela lá no WA e confira. Abraços.

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