O tempo é um bocado cruel. Mas o que é o Tempo? Somente a duração dos fatos? A maneira como contamos os momentos as horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, os aniversários, etc?
Ou somente uma grandeza física fundamental? De fato, o conceito de tempo é bastante relativo, não apenas em um contexto cronológico, mas também dentro dos próprios paradigmas vigentes.
Porque digo isso, porque ao mesmo tempo que reclamo de sua passagem, eu também reclamo que nunca tenho tempo para nada, embora faça inúmeras atividades com o tempo que tenho disponível.
Mas o pior que o tempo nos faz é causar esquecimentos. Ele vai passando e com eles os fatos e os acontecimentos vão ficando arquivados numa biblioteca imensa chamada memória. E muitas vezes permanecem escondidinhos lá no fundão.
Por isso é importante escrever e ter essas memórias disponíveis. Seja num diário de papel, como fiz a minha vida toda, quando nem se sonhava com os meios eletrônicos, seja por meio de um e-Diário hoje no celular. Ou mesmo num bloguinho como este.
Hoje cedo tomei uma decisão. Qualquer passarinhada que eu fizer a partir de agora, vou registrar aqui, mesmo que em poucas linhas e com apenas algumas fotos. E quando possível, vou recuperar as histórias das passarinhadas antigas e transcrevê-las aqui.
Dentro deste meu novo objetivo, começarei aqui a contar minha primeira passarinhada de 2025, mas antes um preâmbulo do lugar.
Observação de Aves em Monte Alegre do Sul/SP e a Pousada da Fazenda.
Monte Alegre do Sul é uma pequena cidade situada no “Circuito das Águas Paulista” e distante 150 km da minha casa aqui na capital de São Paulo. A região foi muito devastada no final do Séc. XIX, início do Séc. XX pelo do plantio de café, mas teve boa recuperação ambiental e o turismo, principalmente o rural, ganhou força.
Pousada da Fazenda - link aqui 👈
Construída há mais de cento e vinte anos, a Fazenda Santa Isabel, onde fica a Pousada da Fazenda, preserva ainda a casa principal, que hoje abriga o restaurante, o terreiro usado para secagem dos grãos de café, algumas casas de colonos e um pombal inclinado como a Torre de Pisa. 🙃🤔🙄
A Pousada da Fazenda é um excelente destino turístico, por seu valor histórico e pelo apoio que presta para a observação de aves no local e no município.
A lista de aves do município já conta, atualmente, com 311 espécies registradas, com fotos ou gravação de voz no site Wikiaves.
Na Pousada podem ser vistas muitas espécies de beija-flores, entre essas o estrelinha ametista (Calliphlox amethystina) e o bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus).
Também podem ser encontradas lá a suindara (Tyto alba) e, um pouco mais difícil, a murucututu-de-barriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana).
Na zona rural do município podem ser vistos o urubu-rei (Sarcoramphus papa), o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), o pica-pau-rei (Campephilus robustus), o tangará (Chiroxiphia caudata) e o gaturamo-rei (Euphonia cyanocephala).
Como eu conheci a Pousada da Fazenda
Em 2011 eu me filiei ao Centro de Estudos Ornitológicos - CEO, onde considero que comecei oficialmente a observar e fotografar aves.
Só destacando que meu encantamento e "start" na observação de aves se deu em bebedouros e comedouros um pouco antes (2010 - Ubatuba).
Ficar observando aves em jardins com comedouros e bebedouros é uma das coisas mais prazerosas do mundo da observação de aves. Adoro!!!!! Poder ver, apreciar e registrar momentos tão belos das aves que eu amo muito, bem de pertinho, não tem preço.
No CEO eu sempre procurava participar das expedições mensais programadas.
Em uma delas, em setembro de 2013, fomos para Monte Alegre do Sul, onde fomos guiados pelo amigo e membro do CEO Luis Gonzaga Truzzi (Zaga), proprietário da Pousada. Nessa ocasião contei com a companhia dos também amigos Claudia Oliveira, Adilson Amaral (in memoriam), Luiz Fernando Andrade Figueiredo, Evaldo Cesari e Sandra Cesari, Frederik Brammer, Aray Sotto Maior, Claudia Monferrari e Luciano Monferrari.
Inclusive era aniversário da Sandra e o Evaldo fez esse registro, além de ter encomendado um delicioso bolo para comemorarmos.
- tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa),
- tico-tico-do-mato (Arremon semitorquatus),
- rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome),
- taperuçu-velho (Cypseloides senex), e
- bacurau-tesoura (Hydropsalis torquata).
Eu tive a oportunidade, pela primeira vez, de ver um ninho de seriema (Cariama cristata) e registrar ela perambulando pelo quintal da pousada. Lembro que fiquei encantada com "a maquiagem" que essa princesa do cerrado usa. Consegui ver ela de muito pertinho. Foi extasiante.
Em 23/02/2020 participei de um encontro com os queridos amigos Ruy Cardoso de Almeida (in memoriam), Leila Esteves, Thomaz T. Raso, Odair Villela e Edu Veríssimo. Esse encontro tinha um grande objetivo fotográfico.
Tudo culpa do amigo Ney Matsumura, graças a uma foto que ele postou nas redes sociais do estrelinha ametista (Calliphlox amethystina) feita no dia 15/02/2020.
Eu vi a foto dele e me apaixonei. Ele me explicou como fez, usando as cores das flores ao fundo, o que com DOF curto, ficou mais do que especial. DOF o que? Ã? Como é que é?
Se você fotografa e já estudou fotografia, deve ter ouvido falar em Profundidade de Campo e DOF. Às vezes nos deparamos com fotografias com o fundo da foto desfocada. Nesse caso o fotógrafo trabalhou a baixa profundidade de campo. Quando encontramos fotos com nitidez em todos os planos dizemos que é uma foto com grande profundidade de campo.
E o tal DOF? Pois é, Depth Of Field - traduzindo significa Profundidade de Campo. É comum encontrarmos fotógrafos dizendo que fez uma foto com um DOF longo ou DOF curto, que significa respectivamente grande profundidade de campo ou baixa.
Aprendi isso quando fiz curso de fotografia no SENAC, mas a internet está cheia de textos ensinando como trabalhar isso.
Abaixo a foto dele com DOF curto ou Profundidade de Campo baixa.
Arquivo pessoal Ney Matsumura |
Após ver a linda foto do Ney, não deu uma semana lá estava eu onde fiz a foto abaixo, que hoje enfeita uma das paredes do meu quarto e me alegra todas as manhãs.
E agora passado um tempo, quase cinco anos, eis o danadinho de novo dando show na Pousada da Fazenda.
Cinco anos? Sim, quase. E falando no Ney, no último sábado (11/01/2025) era o aniversário dele. Eu e ele tínhamos um combinado de passarinharmos juntos e onde fomos? Na Pousada da Fazenda, lá no amigo Zaga, onde ele, sua esposa e a sua prestativa equipe tão bem nos receberam.
Acordei por volta de 3 horas da manhã. Pouco tempo depois pegamos estrada até a casa do Zaga onde aumentamos o calo do dedo indicador/disparador de tanto clicar.
Durante o dia tive tanto sono, que tomei um café atrás do outro. Em solidariedade aos meus quase cochilos, os beija-flores cochilavam juntos. (brincadeirinha). 🥱🙄😴🫠🙃🙂
Em seguida fomos para a sede da Pousada onde um delicioso desjejum nos esperava.
Depois teve até cerveja com café e cacau que eu levei para comemorar o aniversário do Ney. Na foto abaixo, uma fotinha da deliciosa mesa e na direita, eu, Zaga e Ney comemorando.
Foi uma festa de tanta ave e foto bonita. Teve até suindara (Tyto furcata), uma das minhas corujas preferidas. Ela tem carinha de coração ou de maçã, dependendo do ângulo. ❤️🍎🦉
Acredita que teve até fila para registrar ela? Mas super bem organizada pelo Zaga. Tudo para não estressar o casal que habita o lugar. Eu fui a última a chegar, pois no caminho demorei clicando uns sovis (Ictinia plumbea) voando no alto do céu.
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Quem deu um verdadeiro show, além do já conhecidíssimo estrelinha-ametista (Calliphlox amethystina), foi o beija-flor-de-orelha-violeta (Colibri serrirostris). Aliás foi o que motivou essa nossa ida pra lá neste mês de janeiro.
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas além desse meu "target" sempre tem outras espécies de beija-flores que encantam. Desta vez só fiquei a ver navios com os "Phaethornis" ou rabo-branco-qualquer-coisa. Eu mal vi o rabinho de um, literalmente, mas lá tem, viu!! 🙃🤔🙄🤣
Na sequência no quadro abaixo temos:
- beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura),
- bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus),
- beija-flor-de-peito-azul (Chionomesa lactea),
- estrelinha-ametista (Calliphlox amethystina),
- beija-flor-de-banda-branca (Chrysuronia versicolor),
- beija-flor-de-fronte-violeta (Thalurania glaucopis),
- beija-flor-preto (Florisuga fusca),
- besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus), e
- Phaethornis.sp 🙃🤔🙄🤣
Mesmo estando em pleno verão, onde comedouros e bebedouros costumam receber menos visitas, principalmente das saíras e outros traupídeos, eu ainda registrei, conforme você pode ver no quadro abaixo:
- avoante (Zenaida auriculata),
- cambacica (Coereba flaveola),
- canário-da-terra (Sicalis flaveola),
- saíra-amarela (Stilpnia cayana),
- pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros) ,
- sabiá-barranco (Turdus leucomelas),
- fim-fim (Euphonia chlorotica),
- gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea), e
- rolinha-roxa (Columbina talpacoti).
O mais legal foi poder explicar a diferença do dois machos de Euphonias (fim-fim e gaturamo) para uns hóspedes que estavam apreciando as aves junto com a gente.
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
O sabiá-do-campo (Mimus saturninus) era o mais "aparecido" de todos. Toda hora vinha roubar bananas dos pequeninos e aproveitava para fazer pose para a minha lente.
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas teve um bichinho que me deu uma dura, se sentindo preterido, por eu ter considerado ele um alado "comum" (isso tem história contada num dos meus últimos posts - o da Venezuela.) 😂😂😂
"- Ei, d. Silvia, você esqueceu de mim no quadro, mas saiba que eu, o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), sou o lindão do pedaço. Além disso atente-se para isso: posso ser comum, mas meu nome científico lembra a fruta que você mais gosta, a pitanga. 🍒"
E lógico, num jardim cheio de muitas flores não faltam é borboletas. Até um teiú-gigante veio nos fazer uma visita, mas se assustou com a gente e saiu correndo rapidinho.
A gente nem conseguiu sair pra almoçar. Lembro que foi quando nossos cartões estavam quase cheios (eu fiz mais de 3.500 cliques em algumas horas) que resolvemos voltar para casa.
Por volta das 16 horas, paramos em Bragança Paulista, onde um pé de linguiça nos aguardava.
A fome e a felicidade fazem coisa com a gente. 🤣🤣🤣 Principalmente diminuir o tamanho das roupas. 😁😁😁
A gente comeu com vontade. Que delícia!!!! 🍔🌭😋
Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E assim encerrei a minha primeira passarinhada do ano. Eu digo que não preciso ir longe para ser feliz. Basta ter ao meu lado bons amigos, passarinhos, café e cerveja.
As listas de aves podem ser vistas clicando aqui. 👈
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