Esse foi o dia mais intenso de todos. Um misto de ansiedade e expectativa nos dominava. Mesmo assim, tudo era motivo de muito riso. Tomamos café logo cedo contando os minutos que antecediam nossa partida para a Venezuela.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Após o check-out, descemos com as malinhas para receber nossos guias que chegaram para nos buscar. Um deles, o Ivan Tepedino, é um guia experiente de observação das aves venezuelanas, inclusive havia guiado alguns amigos brasileiros meus recentemente e me foi muito bem recomendado.
Ricardo Brassington, parceiro de trabalho do Ivan, é o responsável por toda a logística da nossa expedição, inclusive os deliciosos lanches da hora do almoço no meio do mato. Juntos formam uma excelente e prestativa dupla.
Fizemos algumas fotos do grupo, enquanto Ricardo colocava nossas bagagens no carro.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Passamos pela fronteira com tranquilidade. Ricardo conhecia todas as pessoas dos postos policiais de checagem de documentos. Percorremos mais 15 km até a primeira cidade no país vizinho, Santa Elena do Uiarén, onde fizemos uma paradinha básica para comprar umas coisitas, como por exemplo umas latinhas de cerveja.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Fizemos ainda algumas rápidas paradas, uma para foto numa placa e outra numa ponte para apreciar uma cachoeira.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Chegamos na pousada onde íamos nos hospedar pelos próximos dias. Um lindo lugar chamado Rápidos de Kamoiran.
O local oferece um excelente serviço de atendimento, comida deliciosa, quartos relativamente confortáveis, com banheiros, porém atente para esse detalhe: não há chuveiro elétrico e a água no local é realmente bem gelada.
Por isso, logo ao chegar do mato eu já tomava banho, pois se esperasse o corpo esfriar ficaria inviável, aí só no lencinho. 🥶🧊🙃😅
Além disso a conexão wi-fi e energia eram limitadas. Mas não vi problema nenhum em ser assim. Quando a energia se desligava eu já estava no décimo sono. E ao acordar ela era religada. Wi-fi? Prá que? Eu só preciso de sossego e passarinhos.
Fizemos uma foto com a bandeira do COA/RR enquanto nossas coisas eram descarregadas, todos já prontos para ir para o mato atrás dos passarinhos.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Ganhamos do Ricardo uma sacolinha contendo lanches e sucos para nosso rápido almoço no mato antes de passarinhar a tarde toda.
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Apesar de não fazer ideia do que faríamos o resto do dia, partimos passarinhar e demos muita sorte nesse dia.
Inauguramos a passarinhada com uma das aves mais lindas e esperadas: o belo e emblemático dançador-de-crista (Ceratopipra cornuta).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Logo um bando misto de aproximou e foi um desfile de “aves novas” para mim:
No quadro abaixo podemos ver nessa sequência:
caraxué-dos-tepuis (Turdus murinus),
saíra-pintada (Ixothraupis guttata),
saíra-de-barriga-amarela (Ixothraupis xanthogastra), e
dançador-do-tepui (Lepidothrix suavissima).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Abaixo mais quatro "aves novas":
joão-do-tepui (Cranioleuca demissa),
ferreirinho-ferrugem (Poecilotriccus russatus),
abre-asa-do-tepui (Mionectes roraimae), e
brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Parecia até um sonho. Além deles ainda registramos muito bem, com foto de quadro, falo da subespécie de saíra-de-cabeça-preta (Stilpnia cyanoptera whitelyi), que não era novidade nem para mim nem para Viviane. Eu havia registrado o casal nas montanhas de Santa Marta na Colômbia em abril de 2024, só a subespécie Stilpnia cyanoptera cyanoptera.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Ainda vimos sabiá-una (Turdus flavipes), fim-fim-grande (Euphonia xanthogaster), sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), piuí-boreal (Contopus cooperi) e curica (Amazona amazonica). Muitas aves locais são subespécies das que ocorrem em grande parte do resto do Brasil, então é sempre bom ter pelo menos o registro.
De repente nosso guia Ivan deu um alerta, atravessando a pista lá “embaixo” uma raridade pouco avistada no mundo ornitológico.
Ou melhor quase nunca avistada, fomos o primeiro grupo a registrar um tepui tinamou (Crypturellus ptaritepui) atravessando a estrada, pelo menos na plataforma e-Bird.
Basta
conferir no e-Bird para entender o que estou dizendo. As fotos que eu fiz são sofríveis, mas o avistamento valeu um tesouro.
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Foto com crop Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Foto sem crop Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas quando se tem muitas aves passando ao mesmo tempo, a gente fica meio doido da cabeça e não foca da forma necessária, ou melhor, a d. câmera e sua operadora não focam e a segunda fica estressada. 😆😵🥴🤬
Isso aconteceu comigo neste dia. Um pula-pula-de-duas-fitas (Myiothlypis bivittata roraimae) deu as caras e por mais que eu tentasse, só deu uma “meleca” de foto. Sabe como os pula-pulas são né? Não é à toa esse nome. Perdi de fazer pelo menos um registro razoável e postável no Wikiaves dessa ave nova. Quem nunca né?
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Vendo meu estado irritado, o Ivan disse algo do tipo: Tranquila, "Silivia", esta ave es común y la veremos en muchos sitios.
Eu respondi que muitos guias já haviam me dito que uma ave era comum e fácil de ver e ela não apareceu nenhuma vez mais. E foi o que aconteceu com esse pula-pula-de-duas-fitas.
Enfim, seguimos, fazia anos na minha vida que eu não via tanta ave nova num dia só e perder de registrar uma espécie era o de menos.
Esse dia tinha muito o que comemorar, não só eu, mas o grupo todo.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E também para guardar esse momento Leilinha fez essa foto minha com o Ivan. Espia a carinha de felicidade dos dois.
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Mas o sonho não acabou por aí. Toda vez que pensei em ir para Roraima e ou Venezuela, o meu cérebro só vislumbrava uma ave da família que mais gosto. Alguém adivinha qual?
Sim, uma coruja. Das 25 que ainda existem no Brasil, só me faltavam duas, e uma delas podia estar por ali, bem pertinho de mim. Será? 🦉🦉🦉🦉🦉
Eu fiquei de pernas bambas quando o Ivan falou que a gente ia esperar escurecer um pouco e tentar a tão almejada logo mais. Era o meu principal target da viagem. Justo nessa tarde eu nem pensei em levar minha big hiper super lanterna. Mas Ivan e Ronilson estavam prevenidos.
Só lembrando que esse dia era uma sexta-feira 13, dia de lua cheia. Felizmente, a crença de que esse dia costuma trazer azar é pura superstição. Há até quem evite passar embaixo de escadas, quebrar espelhos e até abrir o guarda-chuva dentro de casa de medo. 🌕🍀🤷🤷♀️1️⃣3️⃣😁😂
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas eu, que sou discípula de algumas amigas bruxinhas digo e afirmo: Sexta-feira 13 com lua cheia traz sorte no amor, e quem tem amor no coração tem é sorte pra dar e vender, inclusive com as aves, principalmente corujinhas.
Todo mundo brinca que eu sou bruxinha e encantadora de aves, mas no fundo eu só aproveito os benefícios que me são oferecidos pela natureza e pelos bons guias.
E assim, sob a luz do intenso luar, por volta das 19 horas, entramos na mata escura e ficamos em absoluto silêncio. Eu sequer respirava. Ivan fez sua mágica e de repente, depois de um tempo, eis que ela surge à frente das nossas lentes.
E foi assim que a minha tão desejada, sonhada, almejada ...
Olha o suspense ...
Sim – a corujinha-de-roraima (Megascops roraimae) olhou para mim e fez pose para minha lente.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Apesar de não contar com a minha amada lanterna, tentei fazer o melhor possível. E a bichinha colaborou. Acho que sentiu nossa energia boa e todo nosso amor por ela.
Mas nem todos fizeram ela nesse dia. Viviane, por já ter fotografado ela em 2015 numa das expedições do Jacomelli e, sentindo dores fortes nas costas, disse que voltaria ao carro e lá nos aguardaria com o Ricardo.
O carro estava um pouco distante do espaço onde estávamos, um pouco mais do que ela deduziu. Estava chuviscando e ela colocou uma capa semitranslúcida esbranquiçada.
Depois nos contou que ao ver carros e motos passarem por ela, curiosos, colocava o capuz, abaixava o rosto e tentava andar mais rápido.
Com isso começamos a brincar com ela do porque todo mundo se afastou rapidinho, na verdade, correram de medo dela. Era a "mulher de branco". 💨🤍
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by bing create por minha solicitação |
Não sei se na Venezuela tem, mas no Brasil, a lenda da mulher de branco tem várias versões e manifestações. É considerada uma figura misteriosa que aparece em estradas desertas, assustando os viajantes, caminhoneiros, etc.
Apesar de nossa preocupação com a Vivi no dia, essa história nos deixou rindo até dizer chega por muitos dias.
Mas o maior problema é que ficamos mal-acostumados com tanta ave nova e foto bonita nesta primeira tarde.
14 dez 2024 – sábado
O sábado amanheceu chovendo. A chuva deu uma trégua e logo após o delicioso café da manhã, onde desfrutamos de deliciosas arepas*, saímos em busca de passarinhos.
*As arepas são um alimento de origem pré-colombiana; muito tempo antes da chegada dos colonos, não se sabe exatamente a data, os nativos já as consumiam. Trata-se de um pãozinho achatado preparado com farinha de milho pré-cozida, água, sal e um pouco de óleo. Servidos com uma variedade de recheios diferentes.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Saímos todos animados e eu jurando que teríamos um dia com tantas aves fáceis, na altura dos olhos, com boa luz, como no dia anterior.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Leila brincando com uma corda que ela achou na frente dos quartos Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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foto com camiseta personalizada Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Só que nem todas as aves dos nossos desejos eram fáceis. A primeira a ser mostrada estava muito no alto, mais de 30 metros, tinha cor de nada, e não “garrava” foco de jeito nenhum.
Ressalte-se que até hoje ainda estou no 10x0 com minha nova câmera mirrorless Canon R7. Eu nunca sei se a culpa é dela ou minha. A gente nem sempre consegue "conversar" direito". 😂😂😂
Mal e porcamente saiu um borrãozinho do chorozinho-de-roraima (Herpsilochmus roraimae). E quando dava foco... ai ai ai. Numa dessa eu fui ficando craque em focar bundinha de passarinho.
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Olho ele lá no centro, um pouco acima do sinal do laser do guia. Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Depois de um crop (recorte) enorme, eu finalmente consegui ter um registro.
Esclarecendo, quando a gente diz "fiz apenas um registro" significa uma imagem que só serve para identificar a ave e postar.
Quando dizemos fiz uma foto, fotão ou fotaço, significa que conseguimos fazer algo bem melhor que um borrão e que nos enche de orgulho como fotógrafos.
Abaixo um registro do difícil chorozinho com crop (recorte) e a seguinte mostrando o tamanho do recorte.
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com crop (recorte) Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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a mesma foto sem crop - assinalando o crop no aplicativo Arquivo pessoal Silvia Linhares |
No caminho, vimos um gavião diferente, ao longe o que parecia um gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus), era na realidade um gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus), o que não deixou de ser um importante registro e lifer para o Climério.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Em seguida fomos para um lugar muito ensopado, alagado, difícil de se locomover e muito apertado para conseguir fotografar um bichinho que pelo pouco que conheço de sua família, as antpittas - Grallariidae, sem ser cevadas, não costumam facilitar.
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O início do caminho já bem alagado, mas aberto ainda e fácil de caminhar. Arquivo pessoal Leila Esteves |
As lindas fotos que fiz pelo Equador, Colômbia, Peru e Brasil dos gralarídeos (família Grallariidae) foi porque eles foram educados de forma a não temer humanos, conquanto ganhassem um petisco em troca. Alguns ganham até nome, como Cidão, María, Andreíta, Shakira, Willi, etc e atendem pelo nome quando chamados.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas são realidades diferentes. O minúsculo torom-de-peito-pardo (Myrmothera simplex) da Sierra de Lema não viu nosso chamamento como algo positivo.
Entendo que ali naquele tipo de floresta, no meio da Serra, fica difícil treinar uma ave que é sempre tão arisca como esta.
Confesso que quando vi o local percebi que as chances de fotos eram mínimas, mas ia tentar.
Cheguei a ouvir a “assombraçãozinha” cantar, gravei o som, vi seu vulto, e depois nada. Só lembro de que disseram que ele passou correndo do outro lado, e não sei quem deles, além do Ronilson conseguiu um borrão do carinha.
Depois entramos mais pra dentro da mata, onde o "alagado engolidor de pés" estava nos esperando de boca aberta. Embora eu tenha noção que estava dentro de uma floresta rica e linda, cheia de musgo, de uma beleza ímpar, meu cérebro e meus pés só me pediam para sair dali.
Só consigo lembrar deles (meus pés) me dizerem: “saí dessa vida, Silvia, você está nos matando de dor com essas galochas novas. Aqui tá cheio de plantas carnívoras e elas vão devorar os nossos dedos“. 😹🙈🙉🙊😹😵💫🥴🦶🦠
Nem dois lifers nesta trilha me fizeram relaxar, as fotos ficaram horríveis, pois eu sequer conseguia firmar as pernas do chão ou a câmera nos braços de tanta tensão.
Mas pelo menos a plantinha foi lifer. Drosera roraimae é uma espécie vegetal pertencente à família Droseraceae, endêmica da região dos Tepuis e Gran Sabana, na Venezuela. São carnívoras.
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as carnívoras Drosera roraimae Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Hoje dou risada ao lembrar de tudo isso, mas no dia, só pensava em chorar e voltar pro carro.
Embora o Ivan fosse todo atencioso comigo nessas horas e eu já ter passado por dentro de florestas mais intransponíveis do que esta, algo deu errado comigo nessa manhã e achei que ia acabar desistindo de passarinhar pro resto da expedição, e se bobeasse até pelo resto da vida (coisas de Silvia 😂😂🤪🫣).
Meus nervos de aço se estilingaram como borrachinha velha. Nessa hora eu só lembrava de um amigo meu que ao me ver descontrolada assim dizia que eu era a rainha do drama, mas que ele me conhecia e sabia que passava.
Leilinha, que me conhece bem também, me abraçou no retorno da trilha e veio conversando comigo, o que me acalmou um pouco. Ressalte-se que o amigo Ronilson também me ajudou muito nessa hora.
Mas ao sair dali e irmos para um local mais tranquilo, aberto, com chão firme, tudo voltou ao normal. Ivan brincou muito comigo, me exorcizando com um galhinho e, além disso, eu pude tomar um café delicioso o que ajudou a repor as energias.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Logo depois que as energias voltaram, as aves também retornaram.
A pipira-olivácea (Mitrospingus oleagineus) deu show. Mas ela foi meia mal educada comigo e virou a bundinha também. 😂😂😂😂
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Depois vimos o lindo
joão-de-roraima (Roraimia adusta), para mim uma das aves mais lindas do dia. Foi foto de quadro.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E tome mais bicho bonito e foto boa, o fofo ferreirinho-ferrugem (Poecilotriccus russatus) e a linda saíra-pintada (Ixothraupis guttata) voltaram para encher meus cartões.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas quem se destacou mesmo nesse dia foi a linda e colorida mariquita-de-cabeça-parda (Myioborus castaneocapilla).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Abaixo um momento do maravilhoso e delicioso do lanche preparado pelo Ricardo e servido no meio do mato com toda pompa do mundo.
Se faltou algo? Sim, faltou eu levar uma calça com um número maior, pois ao longo dos dias, a minha estava choramingando ao tentar ser abotoada. 👩🦳😵💫😬👖⚖️
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Nessa tarde fomos a um jardim a céu aberto, lotado de flores e óbvio com beija-flores, inclusive o fofucho do asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus), uma novidade para mim.
Só senti falta do desejado e esperado topetinho-pavão (Lophornis pavoninus). Uma vez que não havia floração neste jardim das preferidas dele, ele desapareceu do local e seguiu para lugares incertos em busca do seu alimento, conforme explicou o Ivan.
asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus)
Arquivo pessoal Silvia Linhares
Nesse local uma linda choca-de-roraima (Thamnophilus insignis) se fez de difícil, deu trabalho mas saiu um registro. Essas aves raramente facilitam o trabalho da gente. E com muitas aves para se procurar, não dava pra ficar perdendo tempo à mercê do humor dela.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas para compensar dois indivíduos de
fura-flor-grande (Diglossa major) se alimentando na beira da estrada, encheram meus cartões. Essa era outra espécie que eu desejava muito ver e fotografar.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Alguns de nós queriam muito fotografar a linda
saíra-de-cabeça-castanha (Tangara gyrola), mas essa não quis muita conversa e disse: - “ei, vão fotografar minhas colegas, num tô a fim de posar hoje não”.
E acho que dia nenhum ela estava a fim, mas enfim, ... paciência né? Passarinho tem personalidade, uns são mais acessíveis e outros não. A gente aprende isso ao longo do tempo.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Outra ave que eu queria muito era o tico-tico-do-tepui (Atlapetes personatus). Ivan disse que era muito comum e com grandes possibilidades de encontrá-lo em todos os lugares. Mas até então nada dele, nem sombra.
Isso acabou virando tema para conversa e motivo de muita brincadeira. Eu virei a Tico-tico Lady, pois aonde parávamos eu já perguntava se ali tinha tico-tico (do tepui tá).
Quem fechou o dia com honras foi o casal de surucuá-mascarado (Trogon personatus). A fêmea deu foto de quadro.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Mas teve muita florzinha linda pelo caminho. Quem me conhece sabe que herdei o gosto da minha mãe por flores. A diferença é que ela as cultivava em vasos e jardins, principalmente orquídeas, e eu as fotografo na natureza. Depois pego cada foto e posto na plataforma iNaturalist.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
No fim do dia, ao retornarmos à Kamoiran e descemos até a cachoeira nos fundos, onde o rio que passa por lá dá nome à pousada. Tomamos uma relaxante cervejinha, entre um bate papo e outro e depois retornamos, jantamos e cama pra que te quero.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
15 dez 2024 – domingo
Mais um dia acordando muito cedo. Logo no início do dia, a realização de um sonho para alguns de nós se materializou.
Ivan vinha buscando ele o tempo todo e nesse dia os seus esforços e a sorte sorriram para nós. Falo do lindo cricrió-de-cinta-vermelha (Lipaugus streptophorus). Prefiro o nome em inglês: Rose-collared Piha. Tem mais a ver com as cores da ave, lembrando que apenas o macho tem o colar rosado.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Logo em seguida o pequenino asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus) deu um show novamente, desta vez ficou cochilando pousado num galhinho. No local tinha muitas flores, mas não vislumbramos outros beija-flores no lugar, apenas esse, infelizmente.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E teve tico-tico (Zonotrichia capensis), mas não o que eu queria, e nisso eu brincava o tempo todo, quando Ivan dizia, vamos tentar o bicho tal, bicho tal, eu complementava - "e o tico-tico também, né?"
Ele dizia qualquer coisa e o pessoal me arremedava, em seguida batiam palma em coro: tico-tico, tico-tico!!
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Um carro com passarinheiros passou e parou para conversar com a gente, era a belga Agnes Coenen - The crazy Parrotlady, como ela se intitula, acompanhada do guia venezuelano Pedro Cabello. Após um oi e algumas selfies seguimos nosso caminho e eles o deles em busca de psitacídeos.
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Depois mudamos de lugar para tentar outros bichos. Eu deixei o pessoal ir de carro e fui caminhando pela trilha para clicar umas ruínas que eu tinha achado legal. Ronilson foi junto.
Ronilson pegou umas pedras e fez um montinho, de acordo com ele, estava rezando para os deuses da natureza, pedindo proteção e com certeza pedindo para alguma “deusa” mostrar os passarinhos dos nossos sonhos para a gente.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
A pilha de pedrinhas que ele fez é chamada de Moledro, pequenos montículos de pedras, erigidos por humanos, uma forma fácil, rápida e sem qualquer custo para assinalar um local ou trajeto, com recursos disponíveis no local. De origem desconhecida o termo pode ser comparado ao proto-celta *mol-eje/o(?) que significa louvar.
Se vimos alguma coisa? Muitas andorinhas-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca), e depois que entramos na mata propriamente dita, além de uma bonita vegetação, e muitos galhos atravessando o caminho, a “deusa” nos deu as costas. Nada, nada, nada, nenhuma ave. Tico-tico nem pensar. 🟡🟤🟠
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
O caminho que a gente entrou atrás do tico-tico-do-tepui era um pouco difícil, com muitos galhos perigosos e a gente tinha que redobrar o cuidado para caminhar.
Fiz a foto abaixo às 8:44h, ela ficava bem no início da famigerada trilha onde andamos pela manhã. A foto mostra galhos serrados que deixam 10 a 20 cm de ponta disfarçado, por isso nunca olho pro alto e sempre para o chão.
Mesmo assim uma vez numa trilha em Ilhabela/SP me distraí e quase quebrei umas costelas, mas pelo menos salvei a câmera e lente ao cair. Eu sempre digo, fotógrafo é tudo louco. 😁😂
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Tentamos diversos pontos mas só um
surucuá-mascarado (Trogon personatus) e um
Pica-pau-barrado (Celeus undatus) deram o ar da graça.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
De repente estou buscando melhorar o brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys) e a saíra-de-barriga-amarela (Ixothraupis xanthogastra) ao lado do Ronilson e das meninas, e de dentro da trilha Ivan grita: "Silivia, Silivia, tico-tico, tico-tico, ven, ven, ven aquí, corre."
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Saí correndo, desci o tal barranco cheio de galhos pontudos, mesmo sem ajuda, aos pinotes, sempre vigiando os galhos retorcidos no chão para não cair e ...
... lá estava o tico-tico-do-tepui (Atlapetes personatus), lindo, dando mole, na altura do olho, estilo Dani Maia. (brincadeira que um dia a amiga Dani fez um dia descrevendo a foto ideal).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
O triste foi que Leilinha também saiu correndo, tropeçou num desses galhos pontudos e machucou a perna feio de ver. A dor não a impediu de continuar e fazer fotão. Mas o Ivan não se salvou dessa, Leila deu uma dura nele por ele só chamar meu nome, sendo que era lifer pra mim e pra ela. Essa amiga é mesmo uma fortaleza!
Já perto da hora do almoço, fomos nos encontrar com Ricardo no nosso "bat-local" onde ele sempre preparava nossos gostosos lanches. Aproveitamos e fizemos uma intensa comemoração ao "momento tico-tico".
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
De tão feliz que eu estava e de tanto rir dos meus amigos tirando onda comigo por conta do tico-tico, acabei derrubando o prato de comida no chão, coisa que nossa photo-maker Leilinha não perdeu a oportunidade de registrar.
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
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Agnes e Pedrito tinham estacionado o carro deles próximo da gente, onde também fizeram seu lanche. Acabou que logo depois os dois grupos tiveram um bocado de interação, principalmente Viviane que fala bem a língua inglesa.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Depois seguimos para uma trilha próxima. E mais uma ave nova para mim: iraúna-da-guiana (Macroagelaius imthurni), embora na contraluz e de cor difícil de fazer foto bonita, “deu bom”, como diz meu amigo João Victor, de Ilhéus.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Nessa tarde eu vi uma ave dentro da floresta e mostrei pro Ivan e ele disse que era o sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys), como não era novidade pra mim, deixei a galera entrar na frente, para que pudessem se aproximar e fazer uma boa foto.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Fiquei por trás do grupo. Estou ali tentando fazer uma foto também, quando alguém sem querer esbarrou em mim e eu perdi o equilíbrio. Quase despenco ribanceira abaixo, ainda bem que Ivan estava atento e conseguiu me apoiar para que eu não caísse.
Foi uma sensação bem desagradável. Por isso sempre falo, as pessoas precisam estar sempre atentas umas às outras. Estar sempre antenado é fundamental.
Para compensar teve um momento prazeroso em seguida, pude fazer foto de quadro do dançador-do-tepui (Lepidothrix suavissima).
O mais engraçado foi conciliar o momento do clique com o verde-vagalume do laser do Ivan indicando onde a ave se encontrava. Ou seja, quase sempre tudo virava motivo de muito riso entre a gente.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Abaixo como disse o Ronilson, esse dançador comeu 2 vagalumes.
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Ao chegar na pousada, Ivan nos mostrou um
caboclinho-lindo (Sporophila minuta) próximo de onde estavam nossos quartos e pudemos fazer bonitas fotos.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E para terminar o dia fomos mostrar a cachoeira dos fundos da Kamoiran para a Vivi e Leilinha. Levamos algumas cervejas e eu aproveitei para tirar as botas e as meias de compressão e colocar os pés nas águas geladíssimas do Rio Kamoiran. Uma delícia.
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Já escurecendo subimos para degustar o delicioso jantar preparado pelas meninas Romelia e Yula. E teve comemoração com um delicioso vinho.
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Brindamos muito, à amizade, às aves, ao dia e principalmente ao tico-tico. E o vinho aberto pelo Ronilson chamava-se Alicia en el país de las uvas.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Como dito por ele: "O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. E então, só então que estarás no país das maravilhas."
Enfim, resumindo a gente estava no país das maravilhas. A gente cresce, fica adulto, mas a criança que nos habita não nos deixa nunca. De vez em quando temos umas recaídas "brabas".
E depois dessa festa toda, fomos nos preparar para dormir. Como eu disse, a gente acordava muito cedo e por isso nos recolhíamos o mais cedo que dava.
Nossos quartos eram bem distantes da recepção e restaurante. As portas dos quartos davam para um imenso corredor aberto e logo em seguida para o estacionamento.
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arquivos by Google (Tripadvisor) |
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arquivo by Campamento Rápidos de Kamoiran |
Ao irmos para os nossos quartos dormir, uma família de 5 pessoas, dois casais e uma criança, haviam se hospedado no quarto que ficava entre o meu e o da Leila/Vivi.
Eram umas pessoas esquisitas. Passei entre elas algumas vezes antes de ir me deitar. Pessoas sem noção nenhuma, bebendo, fumando, falando alto, rindo muito, e isso na varanda na frente das nossas portas. Com um lugar tão grande, custava terem se afastado um pouco, né? Talvez por terem trazido sua própria comida e bebida preferiram não ir gastar no restaurante da Kamoiran.
Essas pessoas não tiveram o mínimo respeito com a gente. Já tarde da noite, Ricardo teve que vir até eles pedir por um pouco de silêncio, se não ninguém iria conseguir dormir.
16 dez 2024 – segunda-feira
O mistério da chave
Acordei às 4:00h, como fazia todos os dias e não fiz tudo "pé ante pé" como costumo fazer em respeito a hóspedes que se avizinham do quarto onde me hospedo. Esses não mereciam. Eu havia dormido mal e não estava de bom humor ao acordar.
Saímos do quarto para ir para o café, perto das 5:00h. Um dos hóspedes desse quarto levantou e saiu pra fora de pijama ver o que estava acontecendo. Ele me olhou com cara feia, e cara feia pra mim é fome, como diz o ditado popular.
Tomamos café e ao voltar ao quarto para pegar nosso equipamento e ir pro mato, misteriosamente a chave do quarto das meninas desapareceu. Procuramos em todos os cantos até perto do cachorro que Leila e Vivi costumavam adular quando estávamos por lá.
Viviane tinha lembrança de que tinha colocado a chave sobre a mesa do café, mas ali nem sombra. E só tinha a gente na sala do café.
Vimos os hóspedes barulhentos se movimentarem na porta do quarto deles nos observando com atenção. Isso nos fez aventar uma hipótese. Ou melhor uma "teoria de conspiração maligna". 😂😂🤬🤔👿
Eles poderiam estar esperando a gente sair para entrar no quarto e mexer nas coisas das Leilinha e Vivi. A gerência conseguiu abrir o quarto e ajudamos as meninas a esvaziá-lo levando tudo para o quarto do Ronilson. Depois eu conto o desfecho.
Embora parecesse que estávamos ali há uma semana, esse era o 3º dia da nossa expedição em terras venezuelanas. As emoções, aves e lugares visitados faziam parecer que estávamos ali há mais tempo. E lógico, o cansaço por tantas atividades começou a cobrar seu preço.
E nada melhor do que começar o dia com uma ave difícil: uma cambacica (Coereba flaveola). Acha que estou sendo irônica né? Sim e não. 😁😁😁
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Veja só, temos 41 subespécies de cambacica espalhadas pelo mundo e 5 delas ocorrem no Brasil. E juro, tem até uma que sonho em ver, pois ela é uma cambacica muito especial, a cambacica aterrima (Coereba flaveola aterrima) que ocorre apenas num local do Caribe.
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by e-Bird |
Depois de uma fotinha do sempre distante piuí-de-topete (Contopus fumigatus), fiz foto do brilhante-veludo (Heliodoxa xanthogonys), que sempre sumia no alto de uma árvore e do asa-de-sabre-canela (Campylopterus hyperythrus) que não deixava suas flores por nada.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Depois fomos dentro da mata tentar o flautista-do-tepui (Microcerculus ustulatus). Um lugar apertado, escuro e cheio de galhos. Ivan posicionou todos um ao lado do outro. Ficamos imóveis e em silêncio. A ave respondeu e começou a se aproximar. Tenso!
Ela então fez uma passagem digna de um carro F1, cliquei, mas mesmo rápida, minha câmera e eu não demos sorte, um galho na cabeça na primeira foto, e na segunda só o rabo, sem foco, isso aconteceu em um nanosegundo.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Ivan pediu calma, e disse que ele estava dando a volta, todos pularam de onde estavam para um lugar mais alto por orientação do Ivan, e eu e Leila, as últimas do grupo, não tivemos espaço e não conseguimos foto.
Viviane e Ronilson conseguiram clicar e já postaram, mas o momento novamente me deixou muito desgostosa. Primeiro você pensa em se culpar, depois culpa a câmera, as circunstâncias, o guia, sei lá. Eu tento sempre respirar fundo nessas horas, lembrar que sou cardiopata e me acalmar usando sempre o meu princípio: Estressar pra que, é só passarinho.
Tentamos outro ponto e nada. Nem sinal. No almoço, após deliberação com o guia, decidimos voltar no início da manhã do dia seguinte para os que não conseguiram tentarem de novo.
Como eu já disse, o cansaço cobrava seu preço. A energia foi acabando e as aves pareciam preferir se esconder.
Tínhamos muitas aves que eu não tinha feito, poderíamos procurar, mas nenhuma era fácil. Eu tinha até uma listinha delas: periquito-dos-tepuis (Nannopsittaca panychlora), barbudinho-do-tepui (Phylloscartes chapmani), guaracava-dos-tepuis (Elaenia dayi), filipe-do-tepui (Scotomyias roraimae), guaracava-serrana (Elaenia olivina), bico-de-lança (Doryfera johannae), tucaninho-verde (Aulacorhynchus whitelianus), barranqueiro-de-roraima (Syndactyla roraimae), bacurau-de-roraima (Hydropsalis roraimae), maria-preta-de-cauda-ruiva (Knipolegus poecilurus) e o pula-pula-de-duas-fitas (Myiothlypis bivittata roraimae), etc, etc.
Talvez um dia eu volte para procurá-las. Quem é que sabe. Indiscutivelmente, o que não falta são matas bonitas para procurá-los. Você se arrisca a subir por aí comigo? Espia o tamanho do nosso carro lá embaixo na curva.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
O mais engraçado foi o Ricardo colocar a mão em seu próprio bolso, em dado momento e descobrir uma coisa muito louca. A chave do quarto das meninas, que tanto tinha causado pela manhã, estava ali, com ele, o tempo todo. 🔑🤣
Ele deve ter se confundido ao ver a chave sobre a mesa do café. Isso, além do alívio, só nos deu motivo de muito riso ao lembrar da "hipótese de conspiração" referente aos estranhos vizinhos de quarto.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Leila Esteves |
Abaixo uma brincadeirinha para nos servir de lição.
Voltemos aos passarinhos. Acabei fazendo boas fotos da subespécie de sabiá-castanho (Cichlopsis leucogenys gularis) em outro ponto. O que eu tinha era o Cichlopsis leucogenys leucogenys, feito na Bahia com o grande guia Ciro Albano.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Também rolou foto muito bonita da sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), cujo bando e suas lindas cores alegraram um pouco o nosso dia.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Fizemos muitas fotos de flores, Ivan tem um grande conhecimento sobre botânica e nos deu uma grande aula, o que nós, mulheres, adoramos.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
Chega uma hora que os olhos da gente começam a ver coisas e a imaginação viaja. Eu acabei vendo dois bracinhos e mãozinhas saindo de mangas bufantes nessa orquídea abaixo.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Eu ainda não tinha conseguido foto do vite-vite-do-tepui (Vireo sclateri) e Ivan insistiu comigo para tentarmos. A ave minúscula, ficava por volta de 30 metros de altura, e eu só ouvia o Ivan dizer, arriba, arriba, abajo, abajo, e o laser piscando pra baixo e pra cima, feito um bando de vagalume. 🤣😵💫🤯
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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bando de vagalume rindo de mim by bing create por minha solicitação |
Eu juro, clicava tentando ver movimento, mas até baixar as fotos não sabia se tinha feito ou não. Ao vasculhar as centenas de fotos no computador em casa, eu achei. Diria que dei sorte em algumas, pois ver, ver mesmo, confesso que não vi.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
O combinado era retornar para a pousada por volta de 17:00h, pois a gente tinha que arrumar as tralhas. O dia seguinte seria um bocado curto para passarinhar, pois às 10 horas, o grupo teria que deixar a pousada e retornar à Pacaraima.
A tarde estava linda. Fizemos uma parada no caminho antes do retorno à Kamoiran. Rolou foto do tepui ao longe e do grupo com a bandeira. Aproveitei para uma foto solo minha com a bandeira do COA/RR. Aliás adoro o téu-téu-da-savana que ilustra a bandeira.
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Ronilson Cavalcante |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Enfim chegamos à Kaimoran e o jeito foi arrumar tudo para partir no dia seguinte. Aproveitei o jantar para agradecer à Romelia e Yula pelo carinho, atenção e deliciosos pratos. Essa noite teve sopa, que caiu muito bem, diga-se de passagem.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Tem acontecimentos que não merecem menção, então bora passar uma borracha e deixar para lá.
Mas vou deixar uma frase para fechar este dia: Eu nunca cometo o mesmo erro duas vezes...Cometo três, quatro, só pra ter certeza que errei mesmo! 😉🤪🙈🙉🙊
17 dez 2024 – terça-feira
Ainda tínhamos um pouco de tempo para tentar uns passarinhos antes de pegar a estrada de volta. E como sempre começamos o dia bem cedo.
Ivan tentou mais uma vez o flautista-do-tepui (Microcerculus ustulatus). Apenas eu e Leilinha o acompanhamos, mas dessa vez o bichinho não deu sequer um pio. Quem fez, fez, quem não fez, um dia pode ser que consiga voltar e fazer.
Rodamos muito tentando achar o tucaninho-verde (Aulacorhynchus whitelianus), mas nem sinal.
O que parecia uma pomba-de-coleira, no alto e bem longe era um sabiá-de-cabeça-preta (Turdus olivater). Ele estava bonito com uma frutinha no bico, mas muito longe das nossas lentes para uma foto de quadro.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Consegui melhorar minha foto do dançarino-oliváceo (Xenopipo uniformis) e do caraxué-dos-tepuis (Turdus murinus).
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
E já batendo na trave, o tempo previsto se esgotando, eis que o anambé-dos-tepuis (Pipreola whitelyi) apareceu, infelizmente, muito longe e no alto. Com calma, Ronilson conseguiu me direcionar para onde a fêmea estava.
Não deu foto bonita como eu gostaria, mas enfim estava feito o registro. O macho estava no local, mas não se dispôs a sair do emaranhado, em que pese todos os esforços do Ivan.
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Arquivo pessoal Silvia Linhares |
Ainda gastamos mais um tempo tentando ver se o
pica-pau-oliváceo (Colaptes rubiginosus) saía no limpo, mas o adiantado da hora nos fez retornar para fazer o check-out na pousada.
Aproveitei e adquiri lindos brincos artesanais de psitacídeos vendidos na recepção. Sei o tanto que é difícil fazer essas peças, pois meu hobby antes do meu AVCi era produzir bijuterias com contas e miçangas.