sábado, 25 de julho de 2020

SP - Peruíbe/SP (Mochileiros)

Peruíbe/SP


Alguns dias atrás, o Fábio Barata, guia e proprietário do Mochileiros Hostel e Observação de Aves, havia comunicado que a saracura-do-mangue (Aramides mangle), lifer que eu vinha procurando há algum tempo, com resultados sempre frustrantes, estava aparecendo em Peruíbe. 

Eu queria muito ir e, por essas coincidências do destino, duas queridas amigas (Viviane De Luccia Leila Esteves) estavam agendadas para ir lá. Não havia data disponível para mim, então a Leilinha conversou com o Barata e ele permitiu que eu as acompanhasse durante o day-use na última segunda (11).

Chegamos lá e após cruzar com a querida Elisa Focante, única hóspede da pousada, fomos até o local da saracura. O Barata colocou nós três sentadinhas em cadeiras e pediu silêncio e atenção. Como há um comedouro num muro nas cercanias, havia muitos passarinhos para nos distrair. 

Entre eles três espécies de sabiás: sabiá-branco (Turdus leucomelas), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e sabiá-poca (Turdus amaurochalinus). E alguns bem coloridos como o tiê-sangue (Ramphocelus bresilius) e a maravilhosa saíra-sapucaia (Stilpnia peruviana). O show ficou também por conta de uma avezinha que não se importa de usar máscara: a lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta). Deu foto de quadro.

A Leila, de repente, procurou o celular no bolso e não achou. Imaginou que ficara no carro, mas se saísse dali para procurar poderia perder a saracura. O Barata foi até lá. Dito e feito, quando ele voltou a bela já estava desfilando na nossa frente. Ela costuma vir comer frutas que caem no chão do comedouro do muro vizinho.

Só lembro da Leila, sem se mexer, dizer algo do tipo, "tá vindo" e a lindona colocou a cabeça pra fora do mangue. Pé ante pé, se esgueirando, um olhar de soslaio em nossa direção e outro para a banana no matinho, ela acabou caminhando sem medo, indo se deliciar enquanto a gente só metralhava. Bem tranquila, virou pra gente e ainda fez pose, para a nossa felicidade e do amigo Barata, que aguardava de longe.  


arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Só teve uma parte ruim, a gente comemorou muito, mas não pode se abraçar como é nosso costume. A gente tentava manter sempre a distância onde dava. 

arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Finalizamos a parte da manhã com muitas fotos legais além do hiper mega super lifer. Destaque para a figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor), tachuri-campainha (Hemitriccus nidipendulus), dentre outros, mas o bichinho que eu queria muito fazer uma boa foto, o bico-assovelado, (que até hoje não sei porque foi rebatizado com um nome que parece marca de refrigerante vagabundo) não saiu bem na foto, infelizmente o chirito (Ramphocaenus melanurus) vai ficar para a próxima.

arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

Depois de comer uma peixada deliciosa num restaurante local, voltamos para os comedouros da pousada, onde a querida Elen, esposa do Barata, nos aguardava com café quentinho. Sentada de pés para cima, fiz fotos até dizer chega ou enquanto a luz permitiu. 

Eu por Fábio Barata

Dois lindos pica-paus fizeram a gente dar pulos de alegria: pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens) pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros). Mas quem coloriu a nossa tarde foram os seguintes "passarinhos"tiriba (Pyrrhura frontalis), gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), saíra-de-chapéu-preto (Nemosia pileata), saíra-sete-cores (Tangara seledon), saíra-militar (Tangara cyanocephala), saí-azul (Dacnis cayana) e saí-verde (Chlorophanes spiza).

arquivo pessoal Silvia Faustino Linhares

A despedida - Foto by Leila Esteves

Aqui as listas da passarinhada em Peruíbe:

Voltamos pra São Paulo parecendo três crianças. Com o mesmo sentimento de dever cumprido que voltamos da África do Sul. Dormi feito anjo, mais de 9 horas, sem aquela agitação que eu percebia no meu corpo nas noites da semana anterior. E confesso, nem vi a semana passar.

Conclusão

Passarinhar faz bem para o corpo e alma. Pode não curar ou evitar o Covid-19, mas aumenta a felicidade e, com isso nossa sagrada imunidade. O resultado é o nosso bem estar geral, fazendo os efeitos colaterais do isolamento social e estresse desaparecerem por completo.

Eu estava a 120 dias dentro de casa, praticamente quase sem por o pé para fora do portão. Saí raríssimas vezes. Malhei, comecei a estudar inglês, tratei fotos, fiz poemas, mas estava no limite do limite. Eu sei viver bem sozinha, mas uma vez que estou sempre viajando, dificilmente estou sem pessoas ao meu redor.

Sim, nesses último tempos o que mais fiz foi refletir sobre a vida, e devo refletir mais um bocado ainda. Teve dias aqui que eu me senti uma idiota completa. Isso por conta de ter deixado de fazer muitas coisas que eu tive oportunidade e vontade de fazer. Sim, nenhum arrependimento do que fiz, mas muitos do que não fiz.

Mas isso vai mudar pra 2021. Pode ter certeza. A vida é um sopro, e nunca se sabe quando ela vai nos abandonar. A gente nunca gosta de pensar essas coisas. E, mesmo eu já tendo enfrentado uma UTI e ter ficado entre a vida e a morte ou, pior, uma cadeira de roda, acho que ainda não tinha adquirido a consciência que tenho hoje. Mas sempre é tempo de reconectar-se, de procurar por coisas que se perderam nas areias do tempo e recomeçar.

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