Tem passarinhos que passam anos sem que a gente consiga
um simples registro deles. Mas tem alguns que se parecem com um espinho enfiado na
garganta e só nos dá alívio quando a gente se livra deles. A guaracava-de-crista-branca
(Elaenia chilensis) vinha me dando um olé desde março de 2014, onde durante uma
passarinhada organizada pelo amigo Edson Endrigo, ela foi avistada de longe,
porém não consegui um registro postável. Depois disso, sempre teve um amigo ou guia
avisando onde essa migratória criaturinha chilena estava passando, mas nunca dei a sorte de ter vaga na agenda pra ir tentar. Como ela é só uma Elaenia sem
gracinha (entendedores entenderão kkkkkkkkkk), a gente não se esforça muito.
Em outubro de 2016, em Belo Horizonte, juntos das amigas Fernanda Fernandex e Claudia Rodrigues, na Serra do Curral, eu cliquei e gravei um "amarelídeo" com cristinha branca, que supus ser a famigerada guaracava-de-crista-branca. Cheguei a subir como "E.chilensis", mas depois de pedir uma avaliação para o amigo Wagner Nogueira, ele constatou que era um simples Chibum, "E. chiriquensis" e não a "E. chilensis". E de "E. chilensis" ela acabou sendo batizada por mim de "E. chechelensis", de chilensis + chechelenta kkkkkkkkk.
chibum (Elaenia chiriquensis) |
Este ano eu resolvi que ia riscar ela da minha lista de
lifers, custasse o que custasse. O amigo Bob Jefferson me avisou que em abril
e maio elas estariam chegando lá em Potengi/CE. Seria uma boa chance, mas a minha agenda intensa não me
permite sequer cogitar uma ida para lá nesse período.
*Ela reproduz-se entre novembro e fevereiro no sul da Bolívia, norte da Argentina, Terra do Fogo e Chile. Migra para o norte a partir de fevereiro e março e inverna no norte do Brasil (Costa Atlântica e Amazônia) todos os anos.
*Ela reproduz-se entre novembro e fevereiro no sul da Bolívia, norte da Argentina, Terra do Fogo e Chile. Migra para o norte a partir de fevereiro e março e inverna no norte do Brasil (Costa Atlântica e Amazônia) todos os anos.
Parque Estadual Serra do Mar Núcleo Curucutu
A primeira tentativa foi dia 12 de março. Segui com os
amigos Guto Carvalho e Marco Silva até o Parque Estadual Serra do Mar Núcleo
Curucutu, localizado na Estrada Bela Vista, Emburá do Alto SP, onde o amigo Fabio Schunk faz um trabalho de monitoramento da espécie por lá todos os anos.
Parando pra tomar café numa padaria. Eu, Guto e Marco Silva |
Por uma obra do destino, o GPS nos conduziu errado e após a terceira tentativa do Marco em subir uma ladeira barrenta, o meu carro ficou preso num buraco, sendo necessário acionar a seguradora, que, após uma hora e meia, me informou que estavam com problemas para encontrar um guincho disponível.
Um
morador local foi a nossa salvação, fez a gentileza de tirar o carro com seu trator e deixa-lo em local seguro. E sem cobrar nada por isso. Por
essa e outras que acredito que a humanidade ainda tem salvação.
Lá no Curucutu, um lindo lugar que ainda pretendo voltar
outras vezes, (sem chuva, é lógico) o amigo Fabio Schunk anilhava aves como faz todos os anos. Ele
contou que nos últimos dias havia anilhado umas 90 guaracavas-de-crista-branca.
Passamos o resto do dia por lá, e pasmem, em que pesem nossos esforços e a água
das trilhas entrando pelas minhas botas e molhando minhas meias, nenhuma "chechelensis" para remédio. Mas me diverti bastante. E foram altos aprendizados. Ah! e meu amigo e cinegrafista Havita Rigamonti estava lá e disse que conseguir imagem dos bichinhos estava muito difícil. O tempo estava muito instável.
A única coisa que trouxe de lá, foram muitos risos com os amigos, uma boa experiência com anilhamento de aves, preocupação com o Ruber (meu carro) e uma gripe que me pegou de jeito. Kkkkkkkkkkk
Fabio com um passarinho na mão |
Neblina e trilha lamacenta |
Rindo muito com os amigos Marco e Guto |
Serra do Mar – Núcleo Santa Virgínia
Aí, dia 28 de março, a três dias de uma grande expedição
para o chaco sul-matogrossense, a convite do amigo Marco Cruz, segui para Taubaté
e no dia seguinte fomos para São Luiz do Paraitinga. Ficamos na Pousada Oikos, do
amigo Josiel Briet, onde, bem próximo dali, a Elaenia "chechelensis",
havia sido registrada.
Eu, o Marco e o Andreas Oberhuber andamos pelas matas o dia todo e nada. Até o tuque-pium, antiga guaracava-de-bico-curto (Elaenia parvirostris) apareceu pra me confundir. Em que pese a deliciosa estadia por lá, os amigos maravilhosos, muitas risadas e fotos sensacionais que fiz da tesourinha-da-mata (Phibalura flavirostris), chupa-dente (Conopophaga lineata) e caneleiro-preto (Pachyramphus polychopterus), entre outros, voltei frustrada de novo.
Eu, o Marco e o Andreas Oberhuber andamos pelas matas o dia todo e nada. Até o tuque-pium, antiga guaracava-de-bico-curto (Elaenia parvirostris) apareceu pra me confundir. Em que pese a deliciosa estadia por lá, os amigos maravilhosos, muitas risadas e fotos sensacionais que fiz da tesourinha-da-mata (Phibalura flavirostris), chupa-dente (Conopophaga lineata) e caneleiro-preto (Pachyramphus polychopterus), entre outros, voltei frustrada de novo.
Parque Central de Santo André
Dia 10 de abril eu cheguei da expedição sul mato-grossense
(em breve relato aqui no bloguinho). Assim que me vi online, uma mensagem do
amigo José Dionisio Bertuzzo me deixou quase sem respirar. kkkkkkkkkkkkkkk Ele
me fez, como ele mesmo disse, uma proposta indecente: "quer passarinhar
amanhã à tarde ou sexta de manhã?? vc não tem o bichinho." Para quem tem
mais de 1500 espécies registradas de ocorrência no Brasil, isso se chama "ornitobullying",
pois conseguir fazer um único lifer é como fazer 100.
No Uber eu havia acessado as conversas dos meus grupos e havia visto o amigo Miguel Magro informar que a "chechelensis" estava perambulando por Santo André. Logo imaginei que a proposta indecente fosse pra ir lá. E era. Será que desta vez ia dar certo? Desfiz as malas, reorganizei o equipamento e mal dormi à noite.
No Uber eu havia acessado as conversas dos meus grupos e havia visto o amigo Miguel Magro informar que a "chechelensis" estava perambulando por Santo André. Logo imaginei que a proposta indecente fosse pra ir lá. E era. Será que desta vez ia dar certo? Desfiz as malas, reorganizei o equipamento e mal dormi à noite.
No dia seguinte, conforme combinado, o Dionísio passou
aqui em casa pra me apanhar e seguimos pelos intrincados caminhos e trânsito
tumultuado até Santo André. Lá chegando, coração na mão, Miguelito nos
esperava, avisando de cara que elas estavam se alimentando perto, em umas
aroeiras do parque. Seguimos cheios de expectativas. Os olhinhos treinados do
Miguel logo localizaram duas bichinhas... Torci pra elas ficarem por ali e sair
um pouco da brenha pra uma foto legal. Não foi fotão para postar no Instagram,
mas o lifer estava feito (lifer is lifer).
Em poucos minutos eu tinha a imagem dela no cartão de memória. Logo em seguida elas sumiram pra outras paragens do parque e nós saímos andar um pouco e fomos ver outros bichinhos.
O destaque ficou por conta das maracanã-pequenas (Diopsittaca nobilis), se alimentando tranquilamente na altura dos olhos, sem se preocupar com a nossa presença. Os irerês (Dendrocygna viduata) e outros "patídeos" deram show. E depois de outros bichinhos registrados pra lista do e-Bird, o Miguel fala, olha uma saracura-do-mangue (Aramides mangle), quase enfartei kkkkkkkkkkkk Eu cliquei ela no instinto, pois mal a gente apareceu, ela voou, ficou o registro pro e-Bird, mas pra lifer no Wikiaves está impostável. Sim, era mais um lifer pra mim, mas nem por decreto ela saiu da brenha. Quem sabe numa próxima essa danada me dá uma chance de foto bacana.
Missão cumprida, eu e o Dionísio voltamos pra São Paulo, onde uma geladinha nos aguardava pra comemorar. Comemorar com café também é bom. E tomara que muitas outras ocasiões como essa se repitam. Mesmo sem lifer, o que importa é estar feliz entre os amigos. Nada faz melhor pra saúde do que momentos assim.
guaracava-de-crista-branca (Elaenia chilensis) |
Em poucos minutos eu tinha a imagem dela no cartão de memória. Logo em seguida elas sumiram pra outras paragens do parque e nós saímos andar um pouco e fomos ver outros bichinhos.
Dionisio, eu e Miguelito |
O destaque ficou por conta das maracanã-pequenas (Diopsittaca nobilis), se alimentando tranquilamente na altura dos olhos, sem se preocupar com a nossa presença. Os irerês (Dendrocygna viduata) e outros "patídeos" deram show. E depois de outros bichinhos registrados pra lista do e-Bird, o Miguel fala, olha uma saracura-do-mangue (Aramides mangle), quase enfartei kkkkkkkkkkkk Eu cliquei ela no instinto, pois mal a gente apareceu, ela voou, ficou o registro pro e-Bird, mas pra lifer no Wikiaves está impostável. Sim, era mais um lifer pra mim, mas nem por decreto ela saiu da brenha. Quem sabe numa próxima essa danada me dá uma chance de foto bacana.
saracura-do-mangue (Aramides mangle) |
Missão cumprida, eu e o Dionísio voltamos pra São Paulo, onde uma geladinha nos aguardava pra comemorar. Comemorar com café também é bom. E tomara que muitas outras ocasiões como essa se repitam. Mesmo sem lifer, o que importa é estar feliz entre os amigos. Nada faz melhor pra saúde do que momentos assim.
E para encerrar este post um clip do Titãs: Uma Coisa de Cada Vez
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Ficou muito bom, kkkk, os detalhes do convite, obrigado, valeu e até a próxima.
ResponderExcluirObrigada Dionísio. Até a próxima.
ExcluirQue maratona para encontrar a guaracava, hem?
ResponderExcluirDepois que você foi, eu fui na sua cola e tive a sorte de Miguelito a achar para mim também.
Belo relato! Parabéns pelo lifer, inedito ainda pra mim, mesmo vizinho do Central... Rsrsrs...
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