segunda-feira, 17 de setembro de 2018

PA - Carajás e suas lindas aves

Essa expedição para Parauapebas, região de Carajás, estava prevista fazê-la já fazia um bom tempo. Acho que desde 2016 quando recebi um convite de amigos e não tive como ir. Sabia que tinha bichos bacanas pra ver por lá, mas sempre vinham outros compromissos que impediam a sua realização. Aos poucos ela foi tomando corpo e finalmente aconteceu.


Todos que me conhecem sabe que eu adoro curtir três momentos de uma viagem: o antes, o durante e o depois. Desde os primeiros contornos, o planejar, o sonhar, e depois materializar tudo isso, até tratar as fotos e escrever o relato sobre o dia-a-dia da viagem.

É difícil falar de uma expedição sem lembrar os momentos que a antecederam. Essa viagem à região de Carajás/PA, que começou dia 02/08/2018, era tipo uma "viagem gezuismeodeozmesalva", sem roteiro predefinido, aliás sem quase nada definido, o que me angustiou até o último momento antes de entrar no avião. Cheguei a pensar em cancelar. Mas quem conhece minha teimosia, sabe que eu ia “pagar” pra ver. Ignorar, deixar quieto, "xápralá", é o que de melhor podemos fazer nessas horas. Tinha tudo pra não dar certo. Mas antes que você desista de ler, saiba que essa foi uma das melhores viagens que já fiz.

Enfim, a hora chegara. Por intermédio do amigo Luiz Matos, os primeiros contatos pra tratar do assunto foram iniciados. Junto ao guia Filho Manfredini, que eu só conhecia de nome, definimos as datas. O Luiz indicou dois amigos da região de Carajás para me ajudar na logística, uma vez que estaria impossibilitado por razões de trabalho. Hoje só posso agradecer por tudo que fizeram por mim. Foi crucial, conforme vocês verão no decorrer deste post.

De amigos virtuais, se tornaram grandes amigos do coração. Raimundo Carvalho e Anderson Sandro (incluindo suas respectivas famílias), sempre que puderam, estiveram presentes nos principais momentos dessa tour - (a minha sorte foi o Raimundo estar de férias.). Me acolheram em suas residências e fizeram com que eu me sentisse em casa. Nem vou falar da mousse de "cupu" (cupuaçu) que a Aliane (esposa do Raimundo) preparou se não todo mundo vai querer quando for a Parauapebas. 😂🤣😃😄😆

E o que dizer do Filho Manfredini. Um super guia, que conhece todos os lugares e aves do local, competente, calmo, atencioso e que também se tornou um grande amigo do coração.

Meninos, aqui fica meu recado: mi casa su casa! Aguardo vocês para o Avistar Brasil 2019.

Filho Manfredini, Raimundo Carvalho, eu e Luiz Matos

Mas voltemos ao início. Diferente das outras vezes, alguns desencontros de informações ou falta delas me deixaram apreensiva quanto ao sucesso dessa tour. Eu não sabia onde iria me hospedar, se alguém, além do guia, iria me acompanhar, se haveria deslocamento de cidades, de hotel, se eu devia alugar um carro por todo o tempo ou não. Enfim, eu estava carente de detalhes para saber o que fazer ou como agir. De certo apenas, havia o compromisso do amigo Raimundo em me buscar no aeroporto. Dali em diante, estava nas mãos do destino.

O amigo André Briso, que tinha acabado de vir de lá, após eu lhe dizer as minhas angústias e dúvidas, me tranquilizou, dizendo que tudo ia dar certo, para eu não esquentar a cabeça e nem pensar em desistir, que valia muito a pena. Também foram bastantes tranquilizadoras as conversas às vésperas da viagem com os amigos Raimundo, Anderson e com o guia Filho. Então, com um gelinho na barriga, arrumei as malas e parti para uma expedição sem saber muito bem como seria. Mas quer saber como foi? Então não pare de ler.

OBS¹: A expressão "Lifer" é usada no meio para espécie de ave (livre na natureza) que é avistada pela primeira vez.
OBS²: Ao fim do relato de cada dia, você pode acessar o link para a(s) lista(s) diária(s) de aves no site e-Bird.
OBS³: Acesse aqui o meu perfil do Wikiaves caso queira ver as fotos de aves neste site.

Dia 02/08/2018 - quinta-feira

Cedinho lá estava eu em Cumbica, uma chuva forte deixava o chão encharcado. Pouco tempo depois, com uma rápida conexão em BH, já estava aterrissando no aeroporto de Carajás, que fica no município de Parauapebas*.

Da janela do avião

O que me surpreendeu antes de descer foi a extensão e o tamanho das minas, mas em seguida, veio a surpresa maior: o verde! Matas e mais matas, infindáveis extensões de verde, que me fizeram sentir o equilíbrio entre a mineração e a conservação que a Vale pratica. Percebe-se que a mineração, nesse caso, contribuiu de forma decisiva para manter a floresta viva.

Fora das áreas protegidas, o que se percebe no nosso país, ressalvada algumas exceções, é que a ocupação humana e atividades econômicas como a pecuária, soja, cana-de-açúcar, provocam desmatamento sem qualquer tipo de compensação ou preservação, destruindo tudo por onde passam.

Da janela do avião

*Parauapebas é um município brasileiro do estado do Pará, no norte brasileiro, com uma população que ultrapassa 200 mil habitantes. O município é conhecido por estar assentado na maior província mineral do planeta, a Serra dos Carajás. O nome do município é uma referência ao Rio Parauapebas. "Parauapebas" é um termo de origem tupi que significa "afluente raso do rio grande", através da junção de pará (rio grande), 'y (rio) e peb (achatado).

Turismo e lazer:  Parque Zoobotânico de Carajás, Grandes Serras, Tribo indígena Xicrin (Kayapó), Complexo Industrial de Mineração, Mirante da mina de ferro, Vegetação de Canga, única no planeta, Cavernas: A região da Serra dos Carajás apresenta a maior concentração de cavernas no Brasil, com aproximadamente 20% de todas as cavernas oficialmente cadastradas no país,  Cavernas Ferríferas, Trilhas na floresta (FLONA), Trilha Lagoa da Mata, Observação de Aves, Cachoeira Águas Claras, Lagoas Pluviais, Canoagem nos rios do interior da FLONA, Camping, Serra Sul.

Fonte de pesquisa: Wikipedia

Mapa by Raphael Lorenzeto de Abreu 

Conforme o combinado, o Raimundo me apanhou no aeroporto. Na hora que cheguei, ele me informou uma novidade: eu iria dormir a primeira noite em sua casa e depois no fim-de-semana ele iria comigo, o Filho e o Luiz para Águas Claras, onde dormiríamos para passarinhar bem cedo. Saída prevista logo após a palestra. Toca alterar todas as reservas que eu fizera às vésperas de viajar.

No caminho de ida para a casa do Raimundo passamos no Parque Zoobotânico, um local muito agradável e bem cuidado, administrado pela Vale, sendo integrado à FLONA de Carajás. Vi muitos primatas e algumas aves. Realizei parte do sonho de ver as panteras negras (ou onça pintada melânica - Panthera onca). Estavam dormindo e um pouco distante dos meus olhos. Há também um espaço muito bem cuidado e controlado, onde ficam muitas aves, em geral oriundas de tráfico/apreensão ou quaisquer outros problemas. As pessoas podem entrar no recinto e ficar muito próximas a elas. Bem interessante. Há nas lagoas muitas aves livres, que costumam frequentá-las e até mesmo se estabelecer devido à abundância de alimento. 

bichos que vivem em espaços apropriados

anhuma (Anhima cornuta) - ave livre

Depois fomos a uma trilha onde eu quase fiz  o meu primeiro "lifer": uru-corcovado. Estava muito escuro e ele não saiu da brenha.

Dormi a primeira noite na casa do Raimundo. Não tive problemas nenhum em alterar a reserva do Hotel Vale da Serra, muito bem indicado pelo André Briso e Filho Manfredini. Aliás recomendadíssimo. Tem café especial para madrugadores, preparado com todo carinho pelas funcionárias Ivonete e Zenaide. E o gerente Francisco José Rocha, sempre muito atencioso e gentil, nada deixou faltar.

Na casa do amigo Raimundo, antes de dormir, fizemos um brinde consolidando a amizade que nascia.

Um brinde à amizade (eu, Aliane e Raimundo)

e-Bird - Parque Zoobotânico de Carajás, Pará, BR

Dia 03/08/2018 - sexta-feira

Acordei muito cedo, já com uma mini bagagem no carro, preparada para as três atividades do dia: iniciar a passarinhada com o Filho, fazer palestra à noite e pegar estrada para Águas Claras onde iríamos passar o fim-de-semana.

Quase todas as passarinhadas são realizadas dentro da FLONA de Carajás*. Para isso existe uma burocracia danada e o Filho depende dela para formular o roteiro dos clientes. É necessário estar de posse de autorização do ICMBio para passar, inclusive, por algumas das barreiras nas estradas.

*FLONA de Carajás - Floresta Nacional de Carajás. Criada em 1998, é uma área de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a mineradora Vale. Possui quase 412 mil hectares. Está inserida no Sistema Hidrográfico Tocantins-Araguaia. A principal cobertura vegetal da região é a Floresta Ombrófila Aberta, com variações locais, a maioria associada a mudanças no relevo. Nas áreas escarpadas predomina a "Floresta com cipó", que se caracteriza por uma biomassa mediana, com baixa densidade, permitindo forte penetração de luz no seu interior, associada à alta incidência de cipós, formando emaranhados que dificultam o deslocamento no seu interior. Nos platôs a floresta é mais densa, dificultando a penetração de luz, e por isso o sub-bosque é bastante limpo. As áreas de mata são interrompidas por clareiras naturais onde há afloramento rochoso de ferro, chamado genericamente de "Canga". Nestas clareiras ocorre um tipo de vegetação com biomassa reduzida e de terminologia não bem definida (controversa), denominada como "Campo rupestre", "Savana metalófila" ou simplesmente "Vegetação de canga". (Fonte: Wikipedia)

Raimundo e eu saímos cedo do Núcleo de Carajás, onde ele reside e fizemos uma paradinha básica na barraca da d. Nega para um café com tapioca e biscoito de arroz, localizada em uma das "barreiras" (tudo tem barreira para entrar e sair, tipo guarita de pedágio, onde anotam nome e placa do carro e checam autorizações quando necessárias).

Uma das muitas barreiras

Eu, passando por uma barreira em um dos dias

Buscamos o Filho em Parauapebas, que doravante chamarei de Peba, como os moradores carinhosamente a apelidaram. Seguimos para o Assentamento Tapete Verde, que espero que um dia alguém transforme em Parque ou RPPN, antes que sua bela e rica mata seja destruída e o joão-do-norte desapareça. No caminho, paramos para registrar uma coruja-buraqueira, super escura, diferente e linda, como toda coruja.

Passarinhando no Assentamento Tapete Verde (a minha foto à esquerda foi feita pelo Raimundo)

De cara, fiz dois "melhoraifers", o pinto-do-mato-de-cara-preta (Formicarius analis) e ariramba-da-mata (Galbula cyanicollis). Tentamos o famoso e raro joão-do-norte, que compareceu, mas não deu mole pra foto. Ah! Bicho endiabrado. Nem mal recebeu batismo e já causa! Sim, ele causa...causa cansaço, frustração, dor-de-cabeça e raiva. Eu o batizaria de Synallaxis diabolus, porque, vô ti contar...deu trabalho e muita vontade de torcer ele pelo pescocinho....kkkkkk brincadeirinha. Eu só consegui fazer uma fotinha razoável dele ao final da terceira ida ao local.

No retorno da trilha os primeiros "lifers". Dois arapaçus endêmicos do Xingu: arapaçu-barrado-do-xingu (Dendrocolaptes retentus) e arapaçu-de-bico-curvo-do-xingu (Campylorhamphus multostriatus). De quebra, outro "lifer", categoria "encardídeo" (= bicho difícil de fotografar): limpa-folha-de-cauda-ruiva (Anabacerthia ruficaudata).


Voltamos pra cidade onde fui cuidar da locação de um carro, já que havia cancelado a reserva que fizera antes de viajar. Decidi pela Movida, pois além do preço ser melhor, o atendimento foi nota mil. E ainda ganhei uma amiga em Peba, a atendente Isolda Gois.

Aluguei um Duster automático como o meu, só que zerinho. E olha, fez muita diferença na hora de enfrentar as curvas das serras com caminhões andando a 10 k/h nas subidas. O carro seria retirado na segunda-feira, dia 6, depois de voltarmos de Águas Claras.

Eu e Isolda, na Movida

Almoçamos e seguimos direto para o supermercado, onde fizemos umas "compritas" para a aventura do dia seguinte.

Raimundo, Filho e eu

Na parte da tarde, seguimos para a Trilha do Rio Parauapebas, onde a estrela da tarde foi a maria-bonita (Taeniotriccus andrei), com destaque também para o formigueiro-de-cara-preta (Myrmoborus myotherinus). Depois deixamos o Filho na casa dele e seguimos para o Núcleo a fim de se preparar para o evento noturno.


Evento com palestras sobre felinos e aves

Ao longo dos meses que antecederam a minha ida, o amigo Raimundo, junto com o pessoal da Cooperture Carajás, organizou um evento local, com o objetivo de reunir fotógrafos, observadores de aves e pessoas que curtem a natureza, cujo sucesso, fez surgir ideias para, no futuro, realizarmos o Avistar Carajás em 2019, que eu tenho certeza, caso se materialize, será também um grande sucesso.


Esse evento local contou com palestras da querida nova amiga Mayla Feitoza Barbirato falando coisas incríveis sobre felinos, do Filho Manfredini falando sobre as aves de Carajás, principalmente o endemismo Xingu, e seus biomas especiais e a minha, sobre a magia de passarinhar, onde abordo, com bom humor, toda minha trajetória e experiência em viajar para fotografar aves.

Quando chegamos no local, eu estava só o pó, como costumo dizer quando estou no limite da resistência e do cansaço. Duas noites seguidas acordando às 4 da manhã, uma baita tensão pré-viagem, só com muito café para me manter ligada.


Mesmo assim consegui desenvolver minha palestra a contento e fiquei muito feliz porque as pessoas parecem ter gostado um bocado. Foi um evento enriquecedor. Deixo um agradecimento especial à Thays Sodré, presidente da Cooperture e ao Gilberto Vieira, pelo empenho para que o evento fosse realizado. Ao Raimundo eu nem preciso dizer nada, pois ele sabe que a gratidão será eterna.

Conheci várias pessoas super legais. A surpresa gostosa da noite foi contar com a presença dos amigos Luiz, Anderson e seu filho Daniel Santos (que agora é meu xodozinho). Eles viajaram quilômetros para isso. Luiz veio de Canaã dos Carajás e o Anderson de Xinguara. Rolou um coffe-break após o evento. Foi uma pena não ter rolado um barzinho naquela preciosa noite para uma confraternização mais longa.

Momentos do evento no salão do Hotel Mardan

Findo o Coffee Break, seguimos para o nosso próximo destino: Águas Claras.

e-Bird - Vila Tapete Verde
e-Bird - Trilha do Rio Parauapebas

Dia 04/08/2018 - sábado

Percorremos mais de 80 km até chegamos ao nosso "pseudo" acampamento. Porque eu o descrevi assim? Porque trata-se de um alojamento do ICMBio dentro da Flona, super 10, porém detonado. Se não estivesse carente de manutenção, seria quase um hotel 5 estrelas (exagero!!!), mas que daria uma pousada maravilhosa não tenho dúvida.


Apesar de termos chegado bem tarde e mesmo com uma mínima estrutura utilizável, nos ajeitamos como pudemos. Ainda deu tempo de ligar o gerador de luz na bateria de um dos carros. Assim pudemos ter luzes para nos instalarmos melhor.

Uma vista geral, minha cama, a cozinha e o refeitório com nossas coisas espalhadas

O quintal do alojamento (foto by Raimundo Carvalho)

O Luiz montou sua barraca na varanda. Eu, Filho e Raimundo nos ajeitamos no amplo refeitório. Eu e Filho usamos colchão de ar sobre bancos de madeiras. Raimundo dormiu numa rede que trouxe. Cervejinha, muitos risos e um lanche rápido fecharam a noite. 

Estava MUITO, mas muito frio e se não fosse a Aliane preparar cobertores e lençóis pra gente, eu teria congelado, uma vez que sou friorenta de doer. E olha que ainda dormi de moletom, toda encolhida e enrolada nas cobertas. Lembrando que uma das laterais do refeitório é totalmente aberta e só possui uma tela, permitindo o vento frio "rodopiar" pelo salão e "enregelar" nossos corpos. Mas nem precisa dizer que eu não dormi, eu simplesmente "apaguei", de tão cansada que estava.

Acordamos cedo e o café da manhã foi improvisado como deu, porém serviu pra despertar. Depois de grandes esforços, os meninos conseguiram ligar a bomba d'água e saímos pra passarinhar.

Filho arrumando a caixa d´'água

O plano era, em princípio, eu e o Filho ficarmos no solo e o Raimundo e o Luiz em uma plataforma elevada, que eu nem me arrisquei subir, pois era um treco esquisito demais, feito para observação de um antigo ninho de harpia.

Luiz no alto da torre

Logo cedo nos arredores o primeiro "lifer": pica-pau-de-garganta-branca (Piculus leucolaemus), sempre no alto, saltitando de uma árvore para outra, não fiz fotão pra quadro, mas já valeu a manhã.


Parece que o movimento na torre estava fraco e pouco depois o Raimundo juntou-se à gente no solo. Fiz mais um "lifer": cabeça-de-prata (Lepidothrix íris). Destaque ainda para o pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus lineatus) e anambé-branco-de-máscara-negra (Tityra semifasciata).


Tentamos o falcão-críptico e nada dele dar as caras, sequer respondeu. Depois o Filho me posicionou para "pegar" um  inhambu-relógio e uma azulona que estavam vocalizando na área. Cheguei a vê-los de relance no meio da brenha. Os bichos são fantasmas. Andam pela floresta com tal destreza que mal conseguimos por os olhos neles, que dirá o foco da lente. Mas as mutucas nos enxergam muito bem, e adoram "lamber" nossos repelentes e pele expostas, com "deliciosas ferroadas". Ô bichinho infernal. 😀😂🤣😃😄😆

Quando eu já não aguentava mais, o Filho me reposicionou na estrada, crente que o bicho atravessaria, mas diferente do que a gente imaginou, ele, o inhambu-relógio, não saiu caminhando. Já saiu da mata voando e passou sobre minha cabeça como um tiro. Fiz um borro-lifer que não serviu pra nada.

Para quem não percebeu, a seta aponta para um inhambu-relógio voando rs rs rs

Aliás, se alguém acha que é fácil fazer um fotão desse tipo de ave, sabe nada, coitadinho. É tanta dificuldade, que vou dizer, viu, tem que gostar muito e ser bastante insistente. Mas eu sempre digo, essa é a graça da coisa, o desafio, a adrenalina e todas as sensações que nos assaltam a mente e o corpo antes, durante e depois. E não existe um momento igual ao outro. Essa é a grande magia.

Voltamos para a sede, onde o Filho e o Luiz prepararam o almoço. Como este ultimo diz: a fome é o melhor tempero. Nem preciso falar mais, né!? Dá só uma olhada no rango. Não vou chamar de gororoba pra não ofender os meninos, até porque eu não sei cozinhar, mal frito um ovo. 😂🤣😄

A comida e os cozinheiros... 

Após a "soneca da beleza" (aquela absolutamente necessária para recuperar as energias e o bom humor) e muitas brincadeiras, lá fomos nós "simbora" pro mato de novo.

Uma geladinha e um leque pra espantar o calor (foto by Raimundo Carvalho)

E o leque fez sucesso...id, por favor: seriam marios-leque-do-norte????? rs rs rs...

Na parte da tarde, talvez pelo calor excessivo e sei lá mais o que, os bichos pareciam intimidados, era um silêncio só. Nenhuma resposta, em que pese os esforços do Filho e do Luiz. Pude melhorar fotos de duas espécies e só: tiriba-de-hellmayr (Pyrrhura amazonum amazonum) e cancão (Ibycter americanos).

Tiriba e cancão (antigo gralhão)

Enquanto os bichos não vinham...

...a gente se divertia fazendo "selfie"...

Retornamos e vamos ao banho. Há um banheiro só pras meninas, mas com chuveiro gelado e algumas pererecas saltitantes grudadas nas paredes. A água fria, naquele momento, foi agradável devido ao calor excessivo da tarde, mas se eu deixasse pra tomar antes de dormir, era congelamento na certa.  

Jantamos e saímos corujar. Foi só um passeio, pois nenhuma coruja se atreveu a nos brindar com sua presença. Exceto que um pouco antes de dormirmos, o Filho gravou um corujão ressonando na nossa varanda. 😂🤣😃😄😆


Silêncio...gravando!!! rs rs rs

Muitos risos e diversões sobre os acontecimentos do dia marcaram nosso final de noite. E lá veio mais uma noite fria.

e-Bird - Águas Claras - manhã
e-Bird - Águas Claras - tarde

Dia 05/08/2018 - domingo

Acordamos cedo, café da manhã rapidinho. Enquanto o Luiz foi novamente para a plataforma, eu,  Filho e Raimundo saímos para as trilhas. Desta vez o falcão-críptico (Micrastur mintoni) apareceu e deu foto dele, não fotão-fotão, enfim, "lifer é lifer".

Ainda deu pra ver mais uma novidade, o barranqueiro-do-pará (Automolus paraenses), que apesar da pouca luz, facilitou pra uma foto bem legal.


Eu e Filho (by Raimundo) e esse à direita, fazendo lista? Será? ... rs rs rs 


Rodamos mais um pouco, vimos alguns bichinhos legais e voltamos para a sede. Nisso, chegou uma turma de turistas para fazer uso da cachoeira. Almoçamos todos no mesmo espaço, onde fiz um novo amigo, o Guilherme Guedes Lobo, que estava se mudando recentemente para Parauapebas para trabalhar na Vale.

Foto by Guilherme Guedes

Em seguida, arrumamos nossas coisas para retornamos à cidade.

Uma selfie antes de retornar

Coisa mais deliciosa do mundo era chegar do mato e ganhar o abraço carinhoso do Diego (filho da Aliane e do Raimundo). E antes dele dormir, a gente batia altos papos. Ô criaturinha encantadora.


e-Bird - Águas Claras

Dia 06/08/2018 - segunda-feira

Eu havia dormido mais uma noite da casa do Raimundo. Repetimos o mesmo esquema do dia 03. Saímos cedo, passamos na d. Nega para o café e a tapioca, pegamos o Filho na casa dele e lá fomos nós para o Tapete Verde. O bacana da coisa foi ver as pessoas da redondeza se aproximarem para acompanhar nossa atividade com bastante interesse.

Filho abraçando o Cabeludo, eu, Raimundo e dois moradores locais

"Onde? Onde? Alá, ó!"

O objetivo era o joão-do-norte e o ferreirinho-da-capoeira (Poecilotriccus Sylvia). Aliás, que bonito o nome científico deste último, né? O Filho foi direto ao ponto do ferreirinho. Poecilotriccus Sylvia checked.

ferreirinho-da-capoeira (Poecilotriccus Sylvia)

O destaque da manhã foi o pica-pau-de-coleira (Celeus torquatus), "lifer" pro Filho e Raimundo. ô bicho bonito, viu! Mas o "S. diabolus", o famigerado joão-do-norte , nem respondeu.

Fiz mal e porcamente a  maria-picaça (Poecilotriccus capitalis). Mas foi uma manhã bem proveitosa, rolou foto bacana do ferreirinho-estriado (Todirostrum maculatum), jacupiranga (Penelope pileata), papa-formiga-de-sobrancelha (Myrmoborus leucophrys) - macho e fêmea, torom-torom (Hylopezus berlepschi). E o bonitinho do pinto-do-mato-de-cara-preta (Formicarius analis) ficou passeando bem pertinho da gente, deixando longe o trauma que eu tinha dele numa "bad occurrence" em 2014 no Acre.

E mesmo no escuro e apesar de não ter facilitado muito, rolou mais um "lifer" pra mim, o lindo rendadinho-do-xingu (Willisornis vidua).


No fim da manhã, almoçamos na casa do Cabeludo, apelido do morador local que nos preparou uma bela galinhada.


Momento de enternecer o coração (fotos by Raimundo Carvalho)

No retorno, passamos por Peba, peguei o carro na Movida e o Raimundo deixou o dele pra lavar. Subimos a serra e fomos ao Parque Zoobotânico. Fiz mais um super lifer: arapaçu-de-loro-cinza (Hylexetastes brigidai) e algumas fotinhas bem legais. Sob os olhos do papai ou mamãe, os filhotinhos de pato-do-mato (Cairina moschata) desfilaram para minhas lentes em "modus" fofurice total.



Já no Núcleo Urbano de Carajás, foi a vez do bando de uru-corcovado (Odontophorus gujanensis), chegar bem pertinho, permitindo fazer foto bem bacana. Ainda demos umas voltas em alguns lugares e conseguimos ver três mutuns-de-penacho (Crax fasciolata) no meio dos jardins das casas e um bico-reto-cinzento (Heliomaster longirostris) dando show numa árvore florida.


Raimundo, eu e Filho

Deixei o Raimundo em casa e voltei para Peba. Levei o Filho em casa. Fiz check-in no Hotel Vale da Serra, que, como eu disse no início, é um excelente hotel. Fiz uma refeição bem leve no próprio hotel e depois de arrumar as coisas pro dia seguinte, dormi o sono dos justos.

e-Bird - Vila Tapete Verde
e-Bird - Parque Zoobotânico de Carajás
e-Bird - Núcleo Urbano de Carajás

Dia 07/08/2018 - terça-feira

Chegamos ao ápice da nossa passarinhada. Dia de buscar a araponga-da-amazônia (Procnias albus), meu "grande sonho de consumo ornitológico". Tomei café de madrugadinha no hotel, deliciosamente preparado pelas queridas Ivonete e Zenaide. Mas como Filho precisava de um café, no caminho, passamos na D. Nega para o já "tradicional" café da manhã. Ela nem perguntava mais o que eu queria e já ia logo me dando um copo de café sem açúcar e a minha tapioca fresquinha.

Eu, Ivonete e Zenaide

Barraca da D. Nega

Seguimos para a Trilha do Rio Parauapebas, onde aproveitei para fazer fotos da tiriba-do-xingu (Pyrrhura anerythra). Essa eu jurava que nunca tinha fotografado. Aí o Filho me disse: mas ela não consta da sua lista. Pensei eu: ixi, tô caducando, eu não lembro de ter feito esse bichinho não.

Depois esclareci o mistério. Quando eu fotografei a tiriba-pérola, em 11/08/2013 - Claudia/MT, ela ainda era uma pérola. Em 2015 alcançou status de espécie plena. Depois de uma revisão no Wikiaves, a minha pérola passou a ser a do xingu. A alteração foi feita pelos próprios moderadores, embora conste meu nome como autora da mudança. Faz sentido o que eu disse: eu nunca fotografei a tiriba-do-xingu, eu fotografei a tiriba-pérola, que depois virou tiriba-do-xingu. "Cruizis", que confusão. Mas deixa prá lá. Pelo menos agora eu sabia o que estava fotografando. 😂🤣😃😄😆


Passamos parte da manhã buscando o torom-do-pará (Hylopezus paraenses). Sabe aquela emoção quando o guia para e põe a mão no ouvido para apurar o som. Aí ele te olha, abre um sorriso e diz: tá respondendo, bora entrar na mata. E você vai adentrando, sem pensar nos carrapatos, mutucas, galhos espinhentos, cobras, buracos, etc. Bem assim, você tenta caminhar o mais silenciosamente possível, seguindo o guia bem de pertinho, aí ele para, acha um lugar legal e pede que você não se mexa. Esse pedido vale por um decreto. kkkkkkkkkk

Aí você fica ali, quase sem respirar, espiando por todos os galhinhos possíveis, aguardando a aproximação do bicho, que sempre é aquém do esperado. Aí, o guia aponta uma direção, e lááá, beeeeeeem longe, você vê um vultinho se movimentando, passando de uma moitinha pra outra feito um foguete.

Aquele borrão ali no meio é ele...

Ele fica brincando com seus nervos, se esconde o tempo todo, e quando você acha que ele vai parar num galhinho no limpo, pimba, ele pula atrás de uma pedra ou folha.


Você fica tentando, tentando, vasculha por entre as frestas mínimas, no escuro, vai conversando ao mesmo tempo com a luz (isso metaforicamente significa: confere se a configuração da câmera está adequada para a quantidade de luz do local - detalhe: nunca está rs rs rs.).

E de repente ele te dá uma chance. Pronto, clic, clic, clic e tome clic, e você consegue algo, até razoável, apesar do ISO bem alto, na casa dos 8 mil. Aí o bicho se manda e você se contenta com o que conseguiu. Isso quando consegue! Se conseguir já é motivo de abrir um sorrisão. Se vai prestar ou não, aí são outros quinhentos. 😂🤣😃😄😆

A foto original pronta para ser processada no LR

Foto pronta para postar...

E muitas vezes a busca e/ou o encontro são improdutivos. Tal qual aconteceu com o arapaçu-de-spix (Xiphorhynchus spixii). Deu um baile danado na gente e a foto ficou um terror. Nem aparecia a carinha dele. Sabia, pela minha experiência, que estava impostável. Tentamos o bichinho mais umas tantas outras oportunidades e nada, só no último dia, pouco antes de ir para o aeroporto que eu consegui o danado. Depois você olha lá no dia 13.


Dali do rio subimos a serra até a Trilha da Lagoa na Mata. Foi um dos momentos mais sensacionais da tour. Eu confesso que faltou pouco para eu me desidratar, porque as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.

Foi assim, entramos na trilha e da trilha fomos pro meio da mata. Com aquele jeitinho calmo, o Filho me posicionou num local onde eu ficasse meio camuflada, me mostrou o local onde o bichinho provavelmente iria pousar. Foquei no ponto e fiquei imóvel. Ponto cirúrgico, como diz o amigo e médico Marco Guedes. Poucos minutos depois o danadinho respondeu. Senti os batimentos acelerarem. O corpo recebe aquela carga de adrenalina misturada com endorfina, que é difícil descrever. Permaneci concentrada.

De repente ouvi um fremir de asinhas. E pimba, ele pousou no galhinho que o Filho havia apontado. No limpo, como eu queria e ainda ficou alguns segundos parado, o suficiente pra eu apreciar sua beleza e fazer fotos dos sonhos, que vão virar quadro, com certeza.

Obrigada Filho, obrigada pinto-do-mato-carijó (Myrmornis torquata), por me proporcionarem esse momento espetacular.


Feliz feito criança num parque de diversões, com um sorriso cansado, mas radiante, seguimos almoçar no restaurante Tarantela.


Mas você acha que as emoções pararam por aí? Logo depois do almoço, buscamos o Raimundo e seguimos para a N1 - uma estrada que conduz até uma mina de cobre da Vale. Um lugar muito louco, com grandes máquinas transitando, agitado feito um formigueiro. Mas um pouco além, há muitas matas. Fomos em busca da estrelinha da tour. A belíssima e "sui generis" araponga-da-amazônia (Procnias albus).

(Foto by Filho Manfredini)

O tempo foi passando. Estávamos naquele marasmo insano que acompanha as esperas intermináveis, um calor sufocante, que parecia que ia nos cozinhar, mesmo sem estarmos num caldeirão. Eu precisava de um cochilinho. A mina é de ferro, mas eu não sou 😂🤣😃😄😆

Só um cochilinho... (foto by Raimundo Carvalho)


(foto by Raimundo Carvalho)

Enquanto ela não vinha (sim, ela tem horário, dá o ar da graça somente ao cair da tarde), realizei um sonho, ver meu primeiro jacamim: o jacamim-do-xingu (Psophia viridis interjecta). "O primeiro jacamim ninguém esquece". 😂🤣😃😄😆

Eis que nosso incansável guia avisa que havia um bando de jacamim. Pronto, parecia que uma garrafa de café expresso havia sido despejada dentro de mim. O que? Onde? Uns segundos antes tinha acabado de passar um carro a toda, deixando um poeirão tremendo. E fim, mal deu tempo de se aprumar e o bando atravessou correndo ainda em meio ao pó e nada de foto. Só uns borro-lifers

Olha os bichinhos ali ...

Consegue ver aquela poeirinha bem no centro? É um jacamim, vamos combinar, tá?

Mas o Filho disse: fiquem aqui, vou atrás deles, mas fiquem atentos. Ele entrou no meio da mata contornando o bando. E de repente o chefão sai da mata e atravessa a estrada voando, pousa numa árvore na contraluz e fica vigiando. Foco nele? Nem rezando de joelhos. 




Mas pelo chão, o primeiro deles se atreveu a atravessar, meio tímido e muito rápido, aí veio mais um e mais um e mais outro, esgueirando-se e com uma luz aquém do ideal. Mas pronto:  jacamim-do-xingu checked.


Mas cadê a araponga-da-amazônia (Procnias albus)? Aquela bichinha que parece ter uma cobrinha pregada no bico*? Sim, isso mesmo.
*O macho da espécie apresenta um apêndice carnudo com origem na base do bico e pendurado para baixo geralmente pendente no lado direito do bico. (fonte Wikiaves).

E a vocalização*?  De repente a gente escuta seu som característico bem longe.
*É uma vocalização bem marcante, bastante incomum para uma ave, semelhante a um alarme robótico, ou o som de conexão da antiga internet discada ou, ainda algum instrumento musical indiano, a qual pode ser ouvida à boa distância (fonte: Wikiaves).

E o Filho, como um doido, começou a ir de um lado para o outro procurando o bicho, que fica bastante alto pro meu gosto, (deu vontade de ter um drone, juro). Aí ele achou a danada num poleiro às margens da estrada, um pouco mais adiante de onde estávamos. Com tripé montado, eu consegui clicar à vontade.


Eu e Raimundo até filmamos um pouco. Foi emoção pra ninguém botar defeito. Ô dia esplendoroso, do começo ao fim, embora quente e extenuante. Aumente o volume e curta o vídeo a seguir:

Felizes da vida, voltamos rindo, brincando e ouvindo música. Eu chamo a atenção aqui para as passagens de nível, todas com semáforo temporizador para esperar a vez.


Fotos by Filho

Voltando (fotos by Raimundo e Filho, ora um, ora outro)

Deixei o Raimundo no lugar onde o carro dele ficara para lavar no dia anterior, o Filho em sua casa e segui pro Hotel. Quando cheguei no hotel foi que vi o tanto que estava cansada. Nem consegui jantar tamanho era o peso no corpo. Tomei banho, petisquei umas bobagens que tinha na mochila e caí na cama, com um sorriso nos lábios. Não deu nem tempo de pensar com o que eu iria sonhar, se com o torom, o pinto-do-mato ou a araponga. Só sabia de uma coisa: estava muito, mas muito feliz.

e-Bird - Trilha do Rio Parauapebas
e-Bird - Trilha da Lagoa na Mata
e-Bird - N1 - Estrada

Dia 08/08/2018 - quarta-feira

Nesse dia, acordei muito cedo, pois eu e Filho íamos percorrer mais de 80 km até Pojuca. A ideia era ir atrás de um passarinho marrom chamado puruchém (Synallaxis cherriei). Só que sempre tem um que não colabora nem com "reza braba". E esse era um deles. Procuramos, mas nem sombra.

E aí o Filho ouviu o inambu-relógio (Crypturellus strigulosus) vocalizar.  Me posicionou pra tentar fazer o tinhoso bichinho. É meio traumático espreitar e fotografar esses danados. Não vou nem falar das super mutucas de Parauapebas, alimentadas com ferro, cobre e manganês, (só pode 😂🤣😃😄😆).  Mas apenas dos inhambus e seus congêneres.

Eles não dão muita chance, ficam sempre super camuflados na vegetação, são praticamente monocromáticos, tem sempre um obstáculo entre eles e sua lente, e, além disso, a Canon jura que não fez esse equipamento para fotografar inhambus e similares. (brincadeirinha).

Depois de "horas" esperando no mato, que pareceu uma eternidade e muitas mutucas perturbando as ideias e interrompendo os cochilos involuntários, eu consegui registrar o bicho, mal e porcamente.

Dava pra ter caprichado mais, mas a danada da comoção que te ataca na hora, faz tudo ficar mais difícil. Eu ficava dizendo pra minha lente: "foca filhinha, foca filhinha, mas ela desobediente como sempre, num quis "garrar" foco no tal "relógio" dijeinenhum". Vai pensando que é fácil.


Momento em que ele sai do mato ...


Ele começa a correr desesperado e eu mais desesperada ainda, tentando focar


E então eu, ele e o mato na frente dele... fim desse triângulo não tão amoroso. rs rs rs

Então sobrou mais um borro-lifer pra coleção. Mas menos mal, eu nunca consigo ver nenhum inhambu, pelo menos eu vi um. Não foi fácil. Principalmente quando a gente sente o coração na boca quando ele aparece. Ele existe, não é lenda. E o Filho Manfredini quase colocou ele no meu pé. Ele é "o Kara".

E da próxima vez, mais experiente, a tal comoção não me pega mais. Já estou vacinada. 😂🤣😃


As fotos menos pior...

A parte da tarde foi razoavelmente improdutiva, voltamos à Trilha do Rio Parauapebas, principalmente por conta do arapaçu-de-spix (Xiphorhynchus spixii) e outros que faltavam da minha lista. Porém nenhum dos bichos que a gente procurou mostrou as caras. Tivemos encontros com um picapauzinho-avermelhado (Dryobates affinis) e um pica-pau-chocolate (Celeus elegans). Eu juro, as aves pareciam ter sido abduzidas.



Eu e o Filho na beira do Rio Parauapebas

Rio Parauapebas

Lembro do meu amigo Ricardo Plácido, guia de aves no Acre, falar sobre uma tal convecção convectiva, ou algo assim. Ele dizia que a convecção é a responsável por boa parte das condições meteorológicas adversas do mundo e quando esse processo ocorre, os passarinhos somem todos.

Eu tenho uma teoria, embora nunca tenha estudado isso. Somos sensíveis à mudança da pressão atmosférica. A gente pressente as mudanças do ar. Muitas vezes nos pegamos dizendo: "nossa, como o ar está pesado, acho que vai chover".

Num é mesmo? Eu penso que as aves sentem isso com mais intensidade. Não sei se isso procede, mas que é certo que quando o tempo fica "pesado", os passarinhos desaparecem todos.

Bom, bora aprender o que é pressão atmosférica: "é a força exercida pelo peso do ar sobre uma determinada superfície em razão da influência da gravidade da Terra. Influencia o clima tanto nas temperaturas quanto na movimentação dos ventos e na formação de chuvas.

Assim, quanto maior é a temperatura, menor é a pressão; e quanto maior é a pressão, menor é a temperatura. Isso ocorre porque, sob baixas temperaturas, o ar fica mais pesado e comprime o ar que está por baixo, elevando, assim, a pressão atmosférica. Já a relação entre a pressão atmosférica e a precipitação (chuvas) ocorre da seguinte forma: em ambientes com baixa pressão atmosférica e, portanto, calor, o ar aquecido tende a subir e, ao alcançar altitudes maiores, condensa-se, forma nuvens e precipita-se.

"Tendeu?" (pesquisei isso no Google, mas é bem confuso pros meus neurônios captarem corretamente a ideia 😂🤣😃😄😆, prefiro meu "achismo" mesmo)



Enfim, eu acredito que quando o calor aumenta e a pressão cai, as aves "ficam caídas" com ela. Desistem de voar, procuram abrigo e ficam silenciosas, como se fossem esconder da chuva. Talvez por sentirem desconforto, migram para áreas onde a pressão atmosférica é maior. E o que eu e o Filho percebemos nos dias que ele me guiou foi que o calor sufocante estava aumentando dia a dia e as aves sumindo, enquanto nuvens escuras se formavam no céu, mas chuva que é bom, nadinha...

Bom, teorias à parte, lá fui eu me preparar para o último dia passarinhando com o grande Filho Manfredini. Muito embora eu tenha feito todas as chantagens possíveis com ele, no sentido dele me guiar até o dia 13 (dia da minha volta), não obtive sucesso. O cara é um dos guias mais comprometidos com os clientes que já conheci. E com a agenda super cheia, diga-se de passagem.

e-Bird - Pojuca
e-Bird - Trilha do Rio Parauapebas

Dia 09/08/2018 - quinta-feira

Acordei muito cedo, bem antes das 5,  e as queridas meninas do hotel, Ivonete e Zenaide, me fizeram comer até dizer chega. Cada coisa deliciosa!!! E muito café pra acordar.




brincadeirinha rs rs rs (era um enfeite do refeitório do Hotel)

Busquei o Filho e seguimos para o Tapete Verde. Era o dia D. Dia "DE" achar o joão-do-norte - Synallaxis [undescribed Amazonian form] de qualquer maneira. Como eu disse, a tal "convecção convectiva", seja lá isso o que for, não estava dando folga. E os bichinhos não estavam muito colaborativos. Mesmo assim, eu consegui melhorar os registros da maria-picaça (Poecilotriccus capitalis) e de outros bichinhos simpáticos.


Mas simbora atrás do diabinho do joão-do-norte. Tentamos vários pontos, e nada. Até que num deles houve resposta. O Filho me posicionou e ficamos na expectativa. Lembro de cada minuto de agonia, até que ele começou a se mostrar. Pensa num bicho que fica ricocheteando de um lado pro outro. E quando para, é sempre atrás de alguma coisa.

Esperto é pouco pra esse camaradinha. Uma ou duas vezes ele chegou a pousar no limpo, mas pensa num zeptosegundo (menor divisão de tempo já registrada: um trilionésimo de bilionésimo de segundo). Era isso que ele se demorava parado. A minha lente e eu ainda achamos que um segundo é a menor medida de tempo pra conseguir ver, setar a câmera e conseguir um foco minimamente razoável. Menos que isso, eu já considero o sujeito que consegue um gênio da fotografia, uma pessoa excepcional.

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Consegue ver o joão-do-norte aí? Nem eu, mas ele estava aí rs rs rs
 
Agora consegue?
 
Mas, enfim, fiz o que deu. E fiquei feliz demais, pois era a terceira e última tentativa. Ninguém vai eleger a minha foto a melhor da espécie no Wikiaves, mas o que conta mesmo foi eu estar ali, frente a um bicho ameaçado, cascudo e raro. É uma satisfação e felicidade que vou levar pro resto da vida.

João-do-norte - foto sem corte
 
João-do-norte - foto com corte

Comemorando o joão-do-norte 

 Depois de almoçar e de tirar a soneca da beleza, naquele horário que os bichos "são abduzidos do planeta terra" ou pela "convecção convectiva", seguimos para a Trilha da Lagoa da Mata no cume da serra.

E finalmente um bichinho que a gente vinha procurando desde o primeiro dia apareceu, um não, mas três indivíduos (macho, fêmea e jovem). Falo da bela pipira-de-asa-branca (Lanio versicolor). Essa me escapou em Aripuanã/MT no início do ano, mas dessa vez, tive a alegria de enquadrá-la no meu visor. E assim eu e o Filho encerramos nossa primeira passarinhada. Que venham muitas!!!

Na volta passamos na casa do Raimundo e pude degustar, melhor dizendo, me lambuzar com um delicioso creme de açaí. Do verdadeiro açaí e não dessas águas sujas que vendem aqui em São Paulo e chamam de açaí.


Eu e Filho retornamos à Peba e à noite marcamos de jantar no restaurante do hotel. Foi nossa despedida, onde eu comemorei os 21 lifers registrados e a nossa recente amizade. Aproveitamos para trocar ideias sobre um possível Avistar Carajás 2019, que eu espero que aconteça de fato. Com certeza será um sucesso.

Eu e Filho Manfredini: a despedida 

Fui dormir tranquila, sabendo que eu tinha o dia seguinte inteiro para descansar. Pera! Ainda não acabou.

e-Bird - Tapete Verde
e-Bird - Lagoa da Mata

Dia 10/08/2018 - sexta-feira

No plano inicial feito o ano passado com o Luiz, ele iria me acompanhar após o fim da passarinhada com o Filho. Por isso eu marquei a volta somente para o dia 13. Diante da impossibilidade dele, eu estava disposta a antecipar meu retorno para o dia 10. A ideia, no começo, era conhecer a Fazenda Porangaí em Xinguara, onde reside e trabalha o amigo Anderson Sandro. Fica mais ou menos uns  150 km de Parauapebas. A sugestão do Luiz de eu ir sozinha seguindo o GPS, por uma estrada desconhecida, onde o celular não pega, sem nada no caminho, não era nenhum pouco atraente. Na minha visão, sequer viável.

Mas quando a gente tem amigos de verdade, esses nos trazem a solução de bandeja. E o querido amigo Anderson Sandro fez isso por mim. Se prontificou a sair da Porangaí, vir me apanhar no hotel e depois me trazer de volta. Muito embora eu achasse que isso seria um transtorno para ele, ele insistiu e eu aceitei, pois queria muito conhecer o lugar.

E uma sexta-feira sem passarinhar pede pra ficar fazendo nada. Eu dormi até tarde. Levantei e tomei um lauto café da manhã. Bati papo com as meninas da cozinha. Fiz fotos da janela do salão do café. Conversei com alguns hóspedes que chegaram pro desjejum. Contei o que eu viera fazer ali, e que estava tristinha naquela manhã porque não tinha ninguém para passarinhar comigo.


Saí para devolver o carro na Movida e, enquanto aguardava o Uber, fiquei contando para minha nova amiga Isolda minhas aventuras pela região. Ela adorou e prometi levar ela passarinhar quando eu voltasse.


No hotel, o gerente Francisco José Rocha permitiu que eu estendesse minha hospedagem até o fim do dia, sem custos extras, a fim de aguardar o Anderson vir de Xinguara me buscar. Ele ficou batendo papo comigo e até pediu pra fazer uma selfie comigo.


Enfim, um dia que eu achei que não teria nada pra fazer, foi um dia cheio - cheio de risos, bate papos e muito descanso. Depois eu fiquei no quarto baixando e olhando as fotos que havia feito e descansei um bocado.

Ainda bem que o pé estava limpo rs rs rs


E no meio da tarde o amigo Anderson chegou, com o Daniel, seu filho. Após despedir do pessoal do hotel, seguimos em direção a Porangaí, batendo altos papos dentro do carro.

Fiquei impressionada com o Daniel. Ao olhar as aves que posto no Instagram, cujas cópias eu mantenho no celular, ele sabia o nome de todas as aves que ocorrem no Brasil, de norte a sul, sem sequer tê-las visto pessoalmente. É um jovem passarinheiro iniciante, cuja experiência, baseada em estudos, deixa muito marmanjo morto de inveja.



Ao chegarmos próximos ao nosso destino, um carro emparelhou com o nosso e nos abordou de forma estranha. Eu fiquei assustada, já viu, né, paulista tem medo até da sombra. Mas entre gargalhadas e brincadeiras, os ocupantes dos dois carros se cumprimentaram. Na realidade eram o pai e irmão do Anderson. Olício pai e filho, cuja empatia foi instantânea.

Seguimos todos para a casa do Anderson, onde Francisca, sua esposa nos aguardava. Tinha cerveja gelada nos esperando e depois um gostoso jantar, entremeado de muito bate-papo e risos. E por fim, hora de ir pra caminha e tirar um merecido descanso. Dormi feito pedra no quarto do alojamento para visitantes, especialmente preparado para mim.

Sem listas no e-Bird no dia de hoje

Dia 11/08/2018 - sábado

Acordei bem cedo e no caminho para o banheiro, cruzei com um sapo. Tão bonitinho que não resisti, voltei e peguei a câmera para fotografá-lo. Ainda bem que não experimentei dar um beijo para ver se ele se transformava num "princeso", porque esses dias descobri que esse sapo na verdade era uma perereca. Já pensou se beijo?  🐸👑🤴💔 kkkkkkkkkkkkkkk

Trachycephalus typhonius (Linnaeus, 1758). Nome popular : Perereca-babenta 

 Após um gostoso café da manhã preparado pela Francisca, eu, Anderson, Daniel e Olício, irmão do Anderson, fomos passarinhar.


Eu e Anderson entramos numa trilha e talvez por conta da tal "convecção convectiva", não tinha nenhum bicho. O Daniel e o tio dele foram pra outros lugares e deram de cara com uma azulona. Com sua camerazinha, o Daniel conseguiu fazer algumas fotos. Fogo né? Você querendo ver o bicho a tanto tempo e ele pula na frente do seu amiguinho e você nem por perto está.

Mas apesar da mata silenciosa e dos bichos não estarem dispostos a se mostrarem, vimos uma linda anta, que ficou me olhando com aquela cara de "ei, aqui é minha casa, dá licença, tá!"


Eu e o Anderson, olha só a cara preocupada dele porque os bichos não respondiam

Já retornando à sede, paramos num laguinho, onde, para nossa surpresa, havia muitos bichinhos dando mole. Fizemos um monte de foto bonita. Duas anhumas (Anhima cornuta) passeavam calmamente pela estrada à nossa frente. Voaram para perto de uma árvore florida, pena que foi na contraluz (inimigo nº 2 dos fotógrafos).



Havia um bando enorme de gavião-tesoura (Elanoides forficatus) sobrevoando sobre nossas cabeças. Mas quem fez pose pra minha lente foi um fofíssimo picapauzinho-escamoso (Picumnus albosquamatus). O arredio-do-rio (Cranioleuca vulpina) também estava disponível para um ensaio e eu aproveitei. Fotografei qualquer bichinho com penas e foi muito legal, clicar assim, ao lado dos amigos, em paz, sem nenhuma preocupação. Dentre outros bichinhos, destaco a choca-d'água (Sakesphorus luctuosus) e uma bem legal: a maria-te-viu (Tyrannulus elatus), que eu só tinha visto no Peru e a foto que eu tinha era bem feia. Ela veio na cara. Que festança de foto bonita.


Não fiz nenhum "lifer", mas houve novidade para a fazenda e para meus amigos. O que a princípio parecia um caneleiro era na verdade um jovem tijerila (Xenopsaris albinucha). Foi uma alegria só.



Na hora do almoço, na varanda da casa do Anderson, ainda me diverti com os bichinhos que vinham no comedouro.


A tarde conheci Guilherme, filho dos proprietários e falei sobre a importância dos trabalhos de conservação que eles fazem na Fazenda.  E que isso deveria ser apresentado num Avistar. Contei o que era o Avistar e sobre nossas ideias de um Avistar Carajás.


"Seu" Olício, Guilherme, Olício Jr, Daniel, eu e Anderson

Na parte da tarde saímos passarinhar, mas nenhuma novidade. Em que pese os esforços do Anderson, os bichos não estavam com vontade de colaborar.  Tô "garrando nojo" dessa tal "convecção convectiva".
Mesmo assim, dentro da mata, embora muito no alto, um arapaçu-de-lafresnaye (Xiphorhynchus guttatoides) estava se alimentando - do que eu gostaria que fosse uma mutuca para me sentir vingada kkkk - e consegui uma sequência legal.

Mas aí vem um bicho e salva o dia com sua beleza ímpar, padrão "quadro na parede". falo do formigueiro-de-cara-preta (Myrmoborus myotherinus), que veio na cara.



À noite tentamos ver corujas, mas só a corujinha-do-mato (Megascops choliba) apareceu para uma única foto e se mandou. Depois desse dia intenso, nada melhor do que uma cervejinha, um bom papo e um sono dos anjos em seguida.


e-Bird - Fazenda Porangaí

Dia 12/08/2018 - domingo

Fomos para a trilha de novo. No caminho um urubu-rei (Sarcoramphus papa), um dos mais belos do gênero, super lindo e que eu adoro, nos olhou lá de cima com uma cara de "tem café aí? Não!!! Então, xispa!"


Logo depois entrei na mata com o Danielzinho dessa vez, que possui um conhecimento ímpar para a idade dele. Acho que irá se tornar um grande guia. O dia não estava pra aves, tal qual o dia anterior.  Nenhum bicho deu mole. O estalador-do-norte chegou a cantar pertinho. Cheguei a vê-lo caminhando pelo chão,  mas quando pensei em me posicionar pra clicar, ele levantou voo e passou por nós feito um raio.



Eu e Daniel No retorno, passamos no laguinho e novamente fizemos fotos super legais. Eram os mesmos bichos do dia anterior, mas é sempre um prazer enorme fazer boas fotos deles. Logo em seguida retornamos à sede.


Fui convidada a conhecer os proprietários d. Cecília e seu Maurício. Eles queriam saber mais sobre o tal Avistar que o filho contara para eles, o que expliquei com o maior prazer. Havia bandos de araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) no quintal da casa deles. Eles mantêm comedouro e bebedouro para elas. As bichinhas e outros penosinhos adoram...E eu adorei fotografá-las.

Após o delicioso almoço, preparado pela Francisca, conheci a amiga da família, a enfermeira Christiane Carvalho, uma moça super simpática. Despedidas de praxe, volto eu, o Anderson e Daniel pra Peba onde o amigo Raimundo iria nos encontrar no shopping da cidade.
Durante a volta ainda fiz dois "municipal-lifer" no caminho: uma anhuma (Anhima cornuta) em Eldorado dos Carajás e um pombo-doméstico (Columba livia) em Curionópolis.

Chegando no shopping, após a altos papos e as despedidas, que nem sempre são fáceis, segui para o Núcleo com o Raimundo, onde passaria a última noite em Peba e embarcaria para casa no dia seguinte. Eu, Raimundo e Aliane saímos à noite para uma última cervejinha, num lugar bem legal. Foi especial.
e-Bird - Fazenda Porangaí

Dia 13/08/2018 - segunda-feira

Acordei um pouco mais tarde do que de costume, nada daquela doideira de levantar ainda no escuro. Tomamos café e Raimundo e eu fomos rodar por umas trilhas próximas a fim de encontrar o uirapuru-veado, um dos que eu e Filho havíamos tentado mas que não se dignou a dar as caras. E continuou sem dar as caras. Nem responder, respondeu.


No entanto, havia um bicho que estava entalado fazia dias e a foto que eu fizera era muito ruim, praticamente impostável. Eu e o filho já havíamos tentado de novo outras vezes, porém, sem sucesso. Sim, falo do arapaçu-de-spix (Xiphorhynchus spixii).

Sabendo disso, o Raimundo tocou o som do bicho. O cérebro e o coração entraram em modo espera. Sabe aquele momento meio angustiante, onde os olhos ficam indo de um lado pro outro, os ouvidos ficam antenados e sua cara de "aigizuismeodeozseráqueelevirá". Bom, e aí? Aí, alívio momentâneo, ele respondeu. Para nossa surpresa era um casal. Pá de lá,  pá de cá, e num é que deu foto boa. Considero que "laifei", ou melhor, "relaifei". E dessa forma, essa manhã fechou a minha passarinhada em Peba com chave de ouro.


Almocei na casa do Raimundo e, de sobremesa, tome mais da deliciosa mousse de cupu, a melhor do mundo, preparada com muito carinho pela Aliane.

Malas prontas, é chegada a hora de ir.

Outro dia eu falava pra um amigo que nem todas as viagens que faço são super maravilhosas, a maioria sim, felizmente. E ele me perguntou como eu chegava a essa conclusão, quais eram as boas e quais não. Eu respondi: simples assim, as que eu queria logo voltar pra casa não foram tão boas, e as que eu queria ficar mais tempo, significa que foram maravilhosas.

E essa se encaixa na segunda categoria. Eu queria ficar mais, juro. Por inúmeras razões. Não só porque foi muito bom ser guiada pelo Filho, nem tampouco pelas lindas e raras aves que ele me mostrou. O que me fez encantar foi o modo como as pessoas me receberam. Ser tratada com carinho e atenção faz toda a diferença numa viagem, principalmente quando você está longe de casa, prescindindo das suas coisas, da sua cama, do seu espaço, das pessoas com quem você convive no dia a dia, etc.


A última foto que fiz em Peba - dia 13/08 na Trilha do Hospital de Carajás
Fui pro aeroporto, com uma única certeza, eu vou voltar. Sabe aquele sentimento de "tenho muito o que ver, conhecer e vivenciar ainda". Foi assim que me despedi. Com lágrimas nos olhos. A chuva enfim chegara, como que para se despedir de mim e não me deixar chorar sozinha. Você percebe que seu corpo embarcou, mas que sua alma, resiste e quer ficar no lugar por mais algum tempo.


"Ah! Silvia, pára de chorar, muda de assunto!" E antes que me perguntem sobre moscas, carrapatos ou micuim, eu já vou logo dizendo, as mutucas são chatinhas - ficam a maior parte zuando nas suas orelhas e tentam te picar de todo jeito, até por cima das roupas, mas carrapato e micuim e picada de muriçocas, saí zerada, porque eu uso o máximo de proteção sempre, todos os dias: gel com icaridina no corpo todo antes de vestir a roupa, mangas longas, luvas sempre e meias sobre as barras da calça, além das imprescindíveis perneiras. 

e-Bird - Trilha Do Hospital de Carajás


Bora finalizar com agradecimentos a todos que participaram dessa expedição, direta ou indiretamente, sem citar nomes. Fecho com um texto que escrevi um dia sobre as borboletas.
Eu sempre menciono que quando estou feliz sinto borboletinhas fervilhando na minha barriga.
Sinto borboletinhas quando fotografo um passarinho.
Também as sinto quando arrumo as malas pra viajar.
E da mesma forma, quando retorno cansada de viagem e traspasso a porta do meu doce lar.
Sinto borboletinhas quando tomo um café, um copo de cerveja e jogo conversa fora,
Eu as sinto quando penso em beijos na boca, em carinho, chamego e no agora!
Eu sinto elas em festa quando recebo um sorriso, um bom dia, um festejo qualquer.
Eu viro uma menina grande, uma mistura de adolescente com uma mulher madura que sabe o que quer.
(by Silvia Faustino Linhares)

todas essas fotografadas em Parauapebas/PA

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