Vamos falar de Joinville/SC. Não foi a primeira vez que
fui até lá fotografar aves. Já tinha estado lá em outra oportunidade, a convite da grande irmã de coração Carmen Bays, onde vi espécies raras e fiz
muitos fotos legais.
Nos últimos tempos o amigo passarinheiro Vilde Florêncio, além de excelente fotógrafo, tem encontrado pontos super quentes para fotografar bichos difíceis. Aqueles
que eu chamo de fantasminhas da floresta. O processo foi trabalhoso. Ele ajeitou
um cenário, o mais natural possível e passou a por grãos para os bichos. Eles vem em
busca de alimentos e se expõem para fotos. Mas ele foi além, criou abrigos camuflados,
com banquinhos, onde é só sentar, armar o tripé, a câmera e esperar. A espera pode ser cansativa, mas os bichos vem. Uma hora vem. Aí é só clicar.
Abrigo camufladíssimo (foto by Vilde) |
19/02/2016 (sexta)
Em fevereiro deste ano fui com o amigo Emerson
Kaseker para Joinville. Chegamos na sexta na hora e fomos para o hotel. De lá o Vilde nos
levou ao ponto quente onde "suas crianças" vem buscar os grãozinhos. Você senta,
monta a câmera no tripé e aguarda. Não pode conversar nem ficar se
movimentando. As aves só aparecem quando o silêncio é total.
Chegam com
timidez, passinhos inseguros, olhando para todos os lados, pegam um grão e
olham de novo, até ganhar confiança e começar a comer calmamente, mas sempre vigilantes. Aí você
pode fotografar a vontade.
Apesar do calor insuportável, da umidade ao extremo
e a paciência se esgotando, eis que chega o primeiro. Um inhambuguaçu
(Crypturellus obsoletus), tranquilo, então pude fazer fotos muito lindas dele. Quase
um lifer, pois a foto que eu tinha, era um borrão, que não deu nem pra ver
direito, lá em Águas da Prata.
Não demorou muito e veio uma pariri (Geotrygon
montana), uma das pombas mais bonitas que já vi, e foi uma oportunidade dupla,
pois deu para fazer o macho e a fêmea. Depois uma saracura-do-mato (Aramides
saracura) apareceu para comer. Essa ficou vários minutos parada, olhando ao
redor como quem não quer nada..espantou todos os bichos menores que a gente
queria ver. Já tarde, voltamos pra cidade, jantei e fui dormir, na expectativa de ver mais fantasminhas no dia seguinte.
inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus) |
pariri (Geotrygon montana) |
saracura-do-mato (Aramides saracura) |
20/02/2016 (sábado)
Acordei cedo e fomos ver se as aves estavam mais colaborativas. Fazia muito mais calor que o dia anterior.
Não rendeu o que a gente esperava. As belezas que costumam frequentar o local desapareceram. Para não dizer que não teve nada um pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis), um juriti-gemedeira
(Leptotila rufaxilla) toda com as penas "descabeladas" deram o ar da graça.
juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla) |
pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis) |
E pra ajudar a saracura-do-mato (Aramides saracura) voltou
e espantou todas as aves ... No fim a pariri (Geotrygon montana), meio com dó
de mim, deu as caras e só faltou dizer, "vai me fotografar? estou aqui pra te
consolar". No fim do dia a contabilidade foi baixa, fiquei tristinha.
pariri (Geotrygon montana) |
21/02/2016 (domingo)
Acordei cedo e fui encontrar no salão do café a amiga Carmem Bays e o amigo Adrian Rupp, que estavam hospedados no mesmo hotel. Foi super legal encontrá-los e tomar café da manhã com eles.
Voltamos lá no domingo, pois como sempre digo, desistir é
para os fracos. Logo no início a tovaca-campainha (Chamaeza campanisona) deu umas voltinhas rápidas pela passarela. Ficou pouco tempo e estava muito escuro. E quem apareceu? Quem? A
sem-vergonha da saracura-do-mato (Aramides saracura). Ainda bem que se mandou rapidinho. Aí
começou a chover e forte. O abrigo tinha algumas goteiras. Parecia que o dia ia ser
perdido, só que não. Logo após a chuva, os bichos começaram a desfilar. Aí
sim, a coisa começou a ficar pra lá de boa.
Primeiro o inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) cantou,
depois apareceu timidamente, apenas dez clics e ele se foi. Espécie fotografada
nº 1150. Ai como eu queria ver esse bichinho, é muito lindo, ficou poucos
segundos no local, mas valeu pela realização do meu desejo.
inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) |
Não demorou muito, o inhambuguaçu (Crypturellus
obsoletus) veio se mostrar, ainda com gotículas de chuva em seu dorso. Só
fotão. Um casal de pariri (Geotrygon montana) apareceu para a gente melhorar a
foto.
E quando a gente não dava mais nada, eis que o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus) deu as caras. Desconfiado, sorrateiro, belo. Bicho que há muito eu queria ver. Achei até que não ia rolar, mas o bichinho veio e desfilou na nossa frente. Ficou comendo desconfiado, depois fez que ia embora, mas se arrependeu, voltou e comeu mais um pouco. Logo em seguida já era hora de ir embora.
inhambuguaçu (Crypturellus obsoletus) |
jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus) |
pariri (Geotrygon montana) - fêmea |
pariri (Geotrygon montana) - macho |
E o que posso concluir? Que valeu cada uma das trinta e
poucas picadas de pernilongo, borrachudo e mutuca, onde repelente nenhum
conteve as investidas por sobre a roupa. Que não importou ter ficado horas e horas sentada
de vigília, quase cochilando em alguns momentos, com um calor torturante, e
nesse dia, com baitas goteiras na hora da chuva, na casinha camuflada preparada
pelo Vilde. O resultado foi maravilhoso.
Enfim, foi um fim de semana super gostoso.
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Que privilégio! Belas fotos, como sempre.
ResponderExcluirAdorei!!! O que foi colocado para as aves, farelo de milho?
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